Jogos, brincadeiras e gênero nas aulas de Educação Física Juegos y genero en las clases de Educación Física |
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*Mestre em Lazer (UFMG, 2012). Graduado em Educação Física (Uni-BH, 2003) Especialista em Gestão de Políticas Sociais (PucMinas, 2005). Especialista em Lazer (UFMG, 2008) Professor do curso de Educação Física da ISEAT-FHA **Graduada em Educação Física, FHA (Brasil) |
Leonardo Toledo Silva* Graziele Ferreira de Freitas** |
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Resumo A pesquisa foi realizada com o intuito de verificar se o professor de educação física reconhece a importância das brincadeiras e sua relação com o gênero nas suas aulas. Verificar se são ensinados os jogos e as brincadeiras nas aulas de educação física, identificar quais são os jogos realizados e investigar as relações de gênero nas aulas de jogos e brincadeiras. A metodologia utilizada foi a abordagem qualitativa. Desta forma utilizamos a técnica de observação simples, foi feita a observação das aulas de educação física do ensino fundamental I em uma escola da rede estadual do Estado de Minas Gerais. Através das observações foram encontrados fatores que influenciam na união e na separação dos gêneros, quais as brincadeiras em que os gêneros se separam, em qual se juntam, como a professora influencia nessas junções e separações. Mostrando que os papéis dos gêneros estão em constante mudança e que a preparação dos professores, ainda deixa a desejar mostrando que os mesmos não sabem lidar com a constante transformação dos papéis dos gêneros. Unitermos: Jogos e brincadeiras. Gênero. Educação Física.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Existem diferenças entre homens e mulheres que ultrapassam os aspectos físicos ou biológicos? Quando pensamos em gênero, logo atribuímos a cada sexo as características de acordo com a sociedade e a cultura que estamos inseridos. Homens e mulheres crescem presos às essas características, que são enxergadas muitas das vezes como regras, para os mesmos.
Provavelmente não são naturais as diferenças entre meninos e meninas. Nas observações dos jogos e das brincadeiras, podemos descobrir como são formadas as relações de gênero entre as crianças, fazendo alguns questionamentos: como são criadas as brincadeiras? Por que são criadas? Porque em algumas brincadeiras alguns alunos são excluídos e em outras são inseridos?
As brincadeiras e os brinquedos são elementos que fazem parte da cultura de um povo. O brincar sendo uma criação humana resulta em um processo de alterar a realidade, de usar a imaginação e de ultrapassar limites. Implica no reconhecimento de si e do outro, possibilitando o uso do corpo de varias formas em tempos/espaços distintos.
O foco desse trabalho foi investigar através das observações como são as brincadeiras com relação ao gênero na educação física no ensino fundamental I em uma escola da Rede Estadual de Minas Gerais e verificar se no momento das aulas as brincadeiras são separadas de acordo com o gênero.
Jogos, brinquedos, brincadeiras e gênero
Nos dias atuais o jogo não pode ser enxergado e nem comparado apenas como competição e nem ser taxado apenas como imaginação, especialmente por profissionais que trabalham com crianças. Além de uma maneira de entretenimento, o jogo também é uma atividade organizada por regras e são possibilidades que cooperam e engrandecem o amadurecimento intelectual, oportuniza a interação entre companheiros e grupos. Pela interação a criança terá contato com a cultura, os valores e os saberes formados pela humanidade (FRIEDMANN, 1996).
Assim, definimos nesse trabalho que a brincadeira é uma manifestação cultural, social e histórica, que faz parte da vida das pessoas, e que na nossa cultura esta muito vinculada ao mundo da criança. Quando a criança brinca constrói um universo próprio, mas o certo é que este universo tanto reflete quanto refrata o contexto no qual ela convive (SILVA, 2012). Podemos então referendar que:
As brincadeiras representam contextos e atores sócio-culturais, mas que o mesmo pode ser observado em diversas localidades, com traços e alterações de uma região para outra, em que mudam as regras, os locais e apetrechos, respeitando-se a diversidade sociocultural. Carvalho (2007) lembra que um repertório de brincadeiras e brinquedos também caracteriza uma cultura local, com traços específicos do contexto onde é praticado, o que fundamenta a idéia de que existe ao mesmo tempo a universalidade e a diversidade da brincadeira como prática cultural (SILVA, 2012, p.24).
Para Kishimoto (2008) os brinquedos e as brincadeiras são espaços necessários para a formação do gênero. Nos processos de socialização e criação da personalidade das crianças, formam-se práticas de preferência de brinquedos e de brincadeiras por gênero, nascendo assim esses estereótipos. Para Brougére (2004), os estereótipos vêm dos pais e de indivíduos de sua convivência. Os pais criam o primeiro espaço de brinquedos da criança, antes mesmo que ela tenha capacidade para fazer suas opções. Após o nascimento, as meninas já possuem um quarto rosa com bonecas, já o quarto dos meninos é azul com carrinhos. As meninas brincam de “casinha” e desempenham o papel da mãe, enquanto que os meninos brincam de motorista.
Dessa maneira, os significados sociais diferenciam os brinquedos e seus valores para meninas e meninos. Nesse desenvolvimento de separação da formação de papéis masculinos e femininos nascem preconceitos que transparece na utilização dos brinquedos (KISHIMOTO, 2008).
Gênero, educação e Educação Física
Para Henriques (2006), quando falamos de gênero, automaticamente já falamos das características de cada sexo de acordo com a sociedade e cultura que estamos inseridos. A noção de gênero aponta para as relações sociais do feminino e do masculino. A compreensão do conceito de gênero nos permite enxergar os valores que homens e mulheres carregam. Para Louro (2003), os gêneros se produzem pelas relações de poder. A definição de homem ou mulher não se da apenas de mecanismos de repressão ou censura, é definido através de relações, formas de falar, modo de agir, entre outras coisas.
É notório que as diferenças entre meninos e meninas não são totalmente naturais. Os jogos e brincadeiras podem revelar como são construídas as relações de gênero entre as crianças, que ao mesmo tempo formam meninas, meninos, homens e mulheres (AUAD, 2006). Portanto gênero é uma classe relacional, pelo fato de levar em conta o outro sexo, em comparência ou exigüidade. E também estabelece analogia com outras classes, entretanto não somos enxergados de acordo exclusivamente com nosso sexo, ou como a cultura o construiu, porém de modo muito mais vasto: somos qualificados em conformidade com nossa idade, raça, etnia, grupo social, altura e peso corporal, capacidades motoras, entre outras (SOUSA; ALTMAN, 1999).
No ambiente escolar são criados gestos, movimentos e sentidos que “anexados” em meninos e meninas, transfigurasse em parte de seus corpos. Naquele local se aprende a olhar o outro e a si mesmo, se assimila como ouvir, a conversar e se calar; se aprende a escolher. Os sentidos são adestrados, para que cada cheiro, sabores bons ou ruins, decente ou indecente seja conhecido por cada um e cada uma, que saibam o que tocar quem eles podem e não podem tocar, limitando algumas habilidades. E todas essas preleções são cruzadas pelas distinções, elas afirmam e também criam diferença (LOURO, 2003).
Para Kunz (1993) em pesquisa sobre a constituição histórica cultural dos estereótipos sexuais, no âmbito escolar, a educação física estabelece o campo onde, por primazia, salientam-se, de forma hierarquizada, as distinções entre homens e mulheres. Diferenças, distinções, desigualdades... A escola sabe muito bem o que é isso. Na realidade, a escola cria isso. A partir de seus primórdios, a edificação escolar desempenhou um efeito distintivo. Ela necessitou ser diversa: organização, currículos, prédios, professores, normas, avaliações iriam, visível ou invisível, “garantir” e também criar a distinção entre os indivíduos. A escola restringe espaços. Usando de insígnias e códigos, ela ratifica o que é permitido e o que não é permitido fazer, ela diferencia e defini. Assim essa “naturalidade” tão fortemente criada, pode ser que nos atrapalhe a notar que, dentro das escolas contemporâneas, onde freqüentam meninos e meninas, rapazes e moças, eles e elas se mexam, transitem e se agrupem de modos diferentes (LOURO, 2003).
Nos dizeres de Arroyo (1996), é necessário posicionar a escola na formação de um projeto político e cultural por um ideal popular que considere, juntamente, a multíplice variedade de grupos, abalizado não apenas por tratos de detrimento, de restrição, de preconceitos e separações, mas também por métodos de comprovação de autenticidade, importância, experiências e cultura. Não sendo pertinente a separação por gênero.
Metodologia
Realizamos o estudo em uma escola da rede Estadual do Estado de Minas Gerais que atende 1800 alunos, matriculados no ensino fundamental e médio. Conta com 152 professores e funcionários. Atende no horário observado o quarto e o quinto ano, são sete turmas de cada ano, sendo nesse horário um total de quatorze pedagogas, dois professores de educação física e uma, de ensino religioso.
Foi feita a observação das aulas e anotadas em um caderno de campo, constando as situações ocorridas durante as aulas. Foram observadas as aulas de duas turmas, sendo elas na terças e quartas feiras, com duração de 50 minutos, no período de 18 de abril a 18 de maio de 2012.
Utilizamos a técnica de observação simples, que abstrai de plano detalhado, e da resolução dos fins que se pretende atingir da pesquisa, devendo-se reduzi-la aos fatos em que ela verdadeiramente seja importante, portanto a observação deve ser feita por alguém que já conhece a realidade do lugar que será pesquisado, é muito apropriado para casos em que os fatos são de entendimento público, ou quando não é necessário sigilo (CRUZ e RIBEIRO, 2004).
Análise e discussão
Optamos em trabalhar com quatro categorias: atitudes da professora, brincadeiras de meninos, brincadeiras de meninas, brincadeiras de meninos e meninas juntos, que serão discutidos a seguir:
Atitudes da professora
Sempre quando a professora levava os alunos para a quadra, ela pedia que as crianças formassem duas filas, uma de meninos e outra de meninas, ao chegar à entrada da quadra, entrava primeiro as meninas, em seguida os meninos, as meninas sentavam na arquibancada de cima e os meninos de baixo.
Essa separação é incorporada como regra pelos alunos, em uma das aulas, um menino distraído sentou na arquibancada de cima perto das meninas, uma das meninas logo falou pra ele sair dali, e perguntou se ele havia virado menina, no mesmo instante o garoto desceu rápido para arquibancada de baixo, super constrangido. Nesse momento não vi nenhuma postura da professora.
Assim essa “naturalidade” tão fortemente criada, pode ser que nos atrapalhe a notar que, dentro das escolas contemporâneas, onde freqüentam meninos e meninas, rapazes e moças, eles e elas se mexam, transitem e se agrupem de modos diferentes (LOURO, 2003).
Depois dos combinados na arquibancada, ela pedia que as crianças formassem um circulo no meio da quadra, ao formar esse circulo em alguns momentos os gêneros se separavam em outros se misturavam. A professora explica as brincadeiras de forma clara, responde todas as dúvidas dos alunos sobre as brincadeiras com toda paciência.
A professora dava bastante autonomia aos alunos no momento de separar os times, os próprios alunos se organizavam, e sempre os gêneros se misturavam, aconteciam alguns fatores que mereciam intromissão da professora nos momentos das atividades, como exemplo, apesar dos times serem mistos, acontecia que, quando um aluno do sexo masculino ia tocar a bola ele preferia tocar a bola para os meninos, e as meninas preferiam tocar para as meninas acontecia uma separação de gêneros bem camuflada, os meninos em nenhum momento tocava para as meninas, somente em momentos que não tinham outra saída, enquanto que algumas meninas tocavam para os meninos. As meninas se limitavam mais, preferiam não atacar, enquanto que os meninos atacavam bem mais, se movimentando bem mais pela quadra, isso foi percebido no jogo bola ao capitão que é uma brincadeira baseada no handebol.
Os meninos nos momentos dos jogos são mais ativos, enquanto que as meninas são mais passivas, poucas se diferenciam da maioria, é como se eles já viessem com um texto a seguir e eles já soubessem como agir, e quando alguém não segue esse texto, ele é discriminado automaticamente, e quem discrimina faz sem notar, um exemplo disso foi uma situação que aconteceu no momento em que os alunos estavam no círculo no meio da quadra, um aluno menino começou a fazer uns movimentos estranhos no chão, parecendo piruetas misturadas com dança de rua, uma menina ao ver começou a imitá-lo fazendo os movimentos, a professora logo chamou a atenção da menina, mandando ela se portar como moça, a menina reclamou que o menino também estava fazendo, e por isso a professora chamou a atenção do menino também, mas ate então, se fosse só o menino fazendo os movimentos ela não teria chamado a atenção dele.
Conforme Louro (2003), os gêneros se produzem pelas relações de poder. A definição de homem ou mulher não se da apenas de mecanismos de repressão ou censura, e definido através de relações, formas de falar, modo de agir, entre outras coisas. Além de outros fatores o poder induz comportamentos e desenvolve indivíduos submissos. Para Kunz (1993) em pesquisa sobre a constituição histórica cultural dos estereótipos sexuais, no âmbito escolar, afirma que a educação física estabelece o campo onde, por primazia, salientam-se, de forma hierarquizada, as distinções entre homens e mulheres.
Brincadeiras de meninos
Na escolha das brincadeiras maioria dos meninos já corriam para pegar a bola de futebol, uma das brincadeiras preferidas deles é a rebatida, uma brincadeira criada a partir do futebol. Os meninos são bem ligados ao futebol, escolhem sempre brincadeiras que se usam bola nos pés. Nesse momento da rebatida, suas posturas mudavam, agiam como pequenos homens tentavam imitar os gestos dos jogadores de futebol profissional. Eles colocaram algumas regras pelo que notei criadas em conjunto por eles para não perderem tempo.
As crianças a partir de seu nascimento, já são inseridas em um contexto social. Quando transformados em companheiros de seus jogos e brincadeiras, os adultos que convivem em sua presença, não têm consciência do valor de cada ação, de cada gesto, de cada pronúncia (PORTO, CORSINO, VASCONCELOS, 2008).
Além de brincadeiras relacionadas ao futebol, esses meninos criam brincadeiras, no intervalo de alguma brincadeira que a professora dava, eles brincavam de lutinha, eles assumiam personagens, brincavam entre si e ate sozinhos como se tivessem um oponente imaginário.
O brincar resulta em um processo de alterar a realidade, de usar a imaginação, é uma criação humana e sua intencionalidade resulta em um processo criativo. As brincadeiras são ações culturais, que possibilita a reconstrução de regras, e resultam em um processo lúdico, autônomo e criativo. A natureza dos jogos não faz distinção, pois implica o reconhecimento de si e do outro, torna possível lidar com os extremos como estímulos, e não como obstáculos. Os jogos possibilitam o uso de diversas linguagens verbais e não verbais, a utilização do corpo de variadas formas com noção do que faz, quanto ao uso de formas diferentes e conscientes, a organização, ação e avaliação coletiva. (MINAS GERAIS, 2005).
Eles misturam algumas brincadeiras também, misturam o pegador com a lutinha. Reparei que eles gostam de brincadeiras mais agressivas em que mostrem mais virilidade. No final de uma das aulas a professora teve que deixar alguns alunos de castigo, porque exageraram nas brincadeiras, estavam fazendo muita bagunça e lutinhas. No meio desses alunos que ficaram de castigo só havia meninos.
Bordo (1997) reforça esses pensamentos ao declarar que por canal da organização e instituto de nossas vidas, nossos corpos são exercitados, modelados e definidos pelo selo dos aspectos históricos preponderante de individualidade, anseio, virilidade e feminilidade.
Brincadeiras de meninas
Quando a professora liberava as crianças para as brincadeiras escolhidas por elas, a maioria das meninas logo corria para pegar a corda e a bola de borracha, gostam de estar no meio de meninas. Brincam de pular corda, cantando músicas que falam como serão seus futuros namorados, e gostam de brincar com brincadeiras em que usem a bola nas mãos, como exemplo brincar de rebater.
As meninas também criam brincadeiras nos intervalos, fazem passos de dança sem música, brincam de brincadeiras de palmas com as mãos, não vi nenhuma brincadeira que fosse agressiva. As meninas se portaram de forma mais “doce”, as brincadeiras delas eram sempre mais passiva, claro que tinha suas exceções em que uma ou outra menina ia brincar com os meninos, mas elas não eram muito encorajadas a isso.
Portanto o gênero não é alguma coisa que está definido, porém é formado social e culturalmente e compreende um conjunto de seguimentos que vão fixando aos corpos, nos fazendo distinguir o que é masculino e o que é feminino (GOELLNER, 2009). E a atitude do professor é uma menção que interfere de maneira relevante no modo como meninos e meninas atuam e se relacionam. Temos consciência que as relações de poder e distinções de gênero são procriadas em outros ambientes sociais e de socialização de meninos e meninas e inutilizar esse raciocínio é algo muito complicado e que demanda um trabalhado associado. Entretanto, se o professor está atencioso a essa dinâmica e consegue levantar temas de repercussão e discussão, já temos área significativa que surge para a modificação social (SILVA, 2009).
Brincadeiras de meninos e meninas
As turmas observadas eram bem diferentes em alguns momentos das aulas, quando a professora passava a atividade, todos jogavam juntos como já foi relatado. Juntos jogaram as brincadeiras propostas pela professora, brincou de queimada, bola ao capitão, bobinho, vinte e vários pegadores.
Como professores, possuímos dois enormes desafios: menciona o primeiro, à importância de trabalhar os jogos e as brincadeiras com classe mista sem reproduzir as conseqüências de discriminação por gênero, apontando e construindo opções de assegurar o direito ao lazer a todos, portanto as desigualdades entre meninos e meninas verdadeiramente não são naturais e são por várias vezes, fundamentos para conservar as relações de desigualdade. É necessário observar que somente mesclar meninas e meninos, sem determinar atividades que estabeleçam o rompimento com as tradicionais e hierarquizadas relações de gênero em nada coopera para acabar com as separações (SILVA, 2009).
Dentre essas brincadeiras citadas acima, das duas turmas que observei, elas agiam diferente uma da outra no momento das brincadeiras livres, dentre as brincadeiras livres que as crianças escolhiam, estavam à rebatida, o pular corda, rasteirinha com corda, bobinho. Uma turma se separava em gêneros, houve um dia que a separação foi total, as meninas brincaram de pular corda e com a bola de borracha de rebater, enquanto que todos os meninos brincaram de rebatida. Em um desses dias observados, duas meninas foram brincar com os meninos, os meninos não impediram as meninas de jogar rebatida, porém os erros cometidos por elas eram mais julgados e condenáveis, quando os meninos pegavam a bola, faziam várias artimanhas para mostrar para as meninas que eram eles que tinham habilidade. E nessa mesma turma um único menino foi brincar com as meninas, esse menino, tinha um jeito mais delicado em relação aos outros meninos e por isso era excluído e preferia ficar perto das meninas.
É notório que as diferenças entre meninos e meninas não são totalmente naturais. Através dos jogos e brincadeiras, pode ser revelado como é construída as relações de gênero entre as crianças, que ao mesmo tempo formam meninas, meninos, homens e mulheres (AUAD, 2006).
Diferente da outra turma observada, a separação na hora das brincadeiras era bem equilibrada entre os gêneros, havia quantidades de meninos e meninas equilibradas brincando de todas as brincadeiras citadas, a relação deles me pareceu ser mais de igualdade, principalmente na hora que jogavam rebatida, os meninos em nenhum momento desfaziam das meninas.
Masculinidade e feminilidade se demarcam mutuamente, notando que não permanece nenhuma idéia principal a priori definida para uma e para outra identidade. Essas definições, diferentes são criadas na cultura, não tendo uma estabilidade na sua realização. Podemos refletir que não existe uma classe denominada homem e outra denominada mulher separadamente. São indivíduos, homens e mulheres plurais (GOELLNER, 2009).
Considerações
Essa pesquisa permitiu que pudéssemos ver que as relações de gênero em alguns momentos são de total entrosamento, em outros cheios de paradigmas, perpetuados pelos alunos e também pela professora.
Os professores entendem a importância dos jogos e brincadeiras nas aulas, porém através da observação da construção de papéis que existe na escola, foi possível notar, que a professora ainda não tem consciência, como muitos outros professores, que eles são atores, com papel importante na formação dos gêneros, que às vezes sem notar acabam criando preconceitos dentro de suas aulas.
Observamos as brincadeiras que os alunos dessa escola brincam, sendo as brincadeiras; o bobinho, rebatida, vinte um, pula-corda, queimada do meio, rasteirinha com a corda, bola ao capitão, queimada e diversos tipos de pegadores.
Através dos jogos e das brincadeiras vimos como é construído os gêneros nessa escola, como a quantidade de alunos na turma, influência na relação dos gêneros, quando a quantidade de ambos é equilibrada, isso contribui para que a relação seja construtiva e sem distinção.
É de extrema importância a postura do professor, no momento dos jogos e brincadeiras, sabendo a hora de interferir nas mesmas. Fazendo que os alunos sejam “livres” de preconceitos e não se prendam em paradigmas e saibam lidar com as diferenças e limitações.
E nos deixou claro que é uma pesquisa que devera ser feita, por diversas vezes pelo fato dessas construções sociais dos gêneros estarem em constante transformação. Com a mudança na estrutura das famílias e nas alterações de papéis, nascendo juntamente com isso, novas formas de educar as crianças, sem falar na possibilidade de ampliação das formações dos professores de educação física vinculadas à temática.
Referências
ARROYO, M.G. “Prefácio”. In: DAYRELL, Juarez (org.). Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: UFMG, 1996.
AUAD. D. Educar meninos e meninas: relação de gênero na escola. São Paulo: Contexto, 2006.
BORDO, S. R. “O corpo e a reprodução da feminilidade: Uma apropriação feminista de Foucault”. In: JACAR, Alison e BORDO, Suzan,R. Gênero, corpo e conhecimento. Trad. Britta Lemos de Freitas.Rio de Janeiro: Record e Roda dos Tempos, 1997 (Coleção Gênero, v. 1).
BROUGÈRE, G. Brinquedos e companhia. São Paulo: Cortez, 2004.
CRUZ, C.; RIBEIRO, U. Metodologia Científica: teoria e prática. Rio de Janeiro: Axcel Books do Brasil, 2004, 324 p.
FRIEDMANN, A. Brincar: crescer e aprender. O resgate do jogo infantil. São Paulo: Moderna, 1996.
GOELLNER, S. V. Corpo, Gênero e Sexualidade. In: _____. (Org.). Fundamentos Pedagógicos do Programa Segundo Tempo: da reflexão à prática. Maringá: UEM, 2009.
HENRIQUES, C, H., ET AL. Corpo, gênero e lazer: relações e influências. In: Seminário “O Lazer em debate”, 7, 2006, Belo Horizonte. Coletânea... Belo Horizonte: UFMG/ DEF/CELAR, 2006.p306-316.
KISHIMOTO, T. M. Brinquedo, gênero e educação na brinquedoteca. Pro-Posições, v. 19, n. 3 (57) - set./dez. 2008
KUNZ, M. C. S. “Quando a diferença é mito: Uma análise da socialização específica para os sexos sob o ponto de vista do esporte e da educação física”. Dissertação de mestrado em educação. Florianópolis: UFSC, 1993.
LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-estruturalista. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 2003.
PORTO, C, L.; CORSINO, P.; VASCONCELLOS, T. Salto para o futuro: Jogos e brincadeiras: desafios e descobertas. Rio de Janeiro. Ano XVIII boletim 07 - Maio de 2008.
SECRETARIA DE ESTADO DE EDUCAÇÃO DE MINAS GERAIS, Conteúdo Básico Comum - Educação Física (2005) Educação Básica – Ensino Fundamental (1ª a 4ª séries).
SILVA, L. T. Meninas e meninos da Serra: as oficinas de esporte/lazer do programa Agente Jovem de desenvolvimento. In: Prêmio Brasil de Esporte e Lazer de Inclusão Social, 1º Edição, 2008, Brasília. Coletânea de Premiados...Ministério do Esporte, 2009. p. 199-216.
_____. As crianças e o brincar em suas práticas sociais: o Aglomerado da Serra/BH como contexto de aprendizagem. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Estudos do Lazer da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO). Belo Horizonte, 2012, 120 p.
SOUZA, E. S.; ALTMAN, H. Meninos e meninas: expectativas corporais e implicações na educação física escolar. Caderno Cedes, ano XIX, n°48, 1999.
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