Conhecimento das mulheres em relação às interações medicamentosas entre anticoncepcionais orais e antibacterianos em município brasileiro Conocimientos de las mujeres en
relación a las interacciones medicamentosas |
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*Graduados em Farmácia, Faculdades Integradas do Norte de Minas, MG **Professora de Educação Superior, Unimontes ***Residência médica em Ginecologia e obstetrícia. Professor de Educação Superior Unimontes Docente do curso médico na Faculdades Integradas do Norte de Minas ****Acadêmica da Faculdade de Medicina Gama Filho, Rio de Janeiro *****Professor de Educação superior Unimontes ******Mestre em Ciências da saúde. Analista universitário da saúde Unimontes *******Mestre em Ciências da saúde. Docente do curso médico nas Faculdades Integradas do Norte de Minas e Faculdades Pitágoras (Brasil) |
Elane Moreira de Souza* Lucas Alves Cruz* Silvânia Magda Oliveira Silva** Laércio Fonseca Costa*** Ludimyla Mariá Ramos Costa**** Jassiara Macedo Nere***** Lúcia Maria Garcia****** Luçandra Ramos Espírito Santo******* |
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Resumo O uso não criterioso dos contraceptivos orais está relacionado à causa mais freqüente de gravidez indesejada, representando taxa de falência de 1 a 3% ao ano em mulheres saudáveis. A utilização associada de antibacterianos e contraceptivos orais pode acarretar a perda da eficácia contraceptiva e levar à gravidez. A fim de colaborar na difusão de informações, esse estudo teve como objetivo verificar se as usuárias de contraceptivos orais são devidamente orientadas e possuem conhecimento quanto às possíveis interações medicamentosas e às suas conseqüências de uma gravidez não planejada. Trata-se de uma pesquisa descritiva, prospectiva em que a população pesquisada foi 100 mulheres entre 18 a 40 anos de idade no período de agosto a setembro de 2011. As entrevistadas faziam uso de anticoncepcionais orais combinados como método contraceptivo e foram atendidas em uma rede de drogarias privada de Montes Claros. Como instrumento de trabalho foi utilizado um questionário estruturado que contemplaram dados sócio-demográficos e outras perguntas pertinentes ao tema em questão. Os resultados demonstraram que 73% das mulheres entrevistadas não obtinham conhecimento da interação. Apenas 27% tinham o conhecimento. Destas, 18,5% das mulheres obtiveram esta informação na consulta médica, 14,8% com o farmacêutico, 11,1% mencionaram a bula do medicamento, 14,8% amigos, vizinhos ou colegas de trabalho e 40,7% citaram outras fontes. Das entrevistadas uma relatou que engravidou com esta interação e outras seis relataram conhecer alguém que já engravidou. Conclui-se que é imprescindível à divulgação das informações as usuárias de anticoncepcionais orais e antibacterianos quanto a essa relevante interação medicamentosa. Unitermos: Conhecimento. Anticoncepcionais. Antibiótico.
Abstract The injudicious use of oral contraceptives is related to the most frequent cause of unwanted pregnancy, representing the failure rate of 1-3% per year in healthy women. The combined use of antibacterials and oral contraceptives can lead to loss of contraceptive efficacy and lead to pregnancy. In order to assist in dissemination of information, this study aimed to determine if the oral contraceptive users are properly oriented and have knowledge about the possible drug interactions and their consequences of an unplanned pregnancy. This is a descriptive, prospective in that the population studied was 100 women between 18-40 years of age in the period August-September 2011. The interviewed women used combined oral contraceptives for contraception and were assisted in a private drugstore chain in Montes Claros. As a working tool was used a structured questionnaire which contemplated socio-demographic and other questions relevant to the topic at hand. The results showed that 73% of women did not obtain knowledge of the interaction. Only 27% had knowledge. Of these, 18.5% of women had this information in the medical consultation, 14.8% with the pharmacist, 11.1% mentioned the package leaflet, 14.8% friends, neighbors or co-workers and 40.7% cited other sources. One of the interviewees reported that she became pregnant with this interaction and six reported knowing someone who already pregnant. We conclude that it is essential for the dissemination of information among users of oral contraceptives and antibacterials such as relevant drug interaction. Keywords: Knowledge. Drug interaction. Oral contraceptives. Antibacterial.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A utilização de fármacos para anticoncepção iniciou-se, com substâncias que traziam sérios riscos a saúde da mulher. Os primeiros fármacos continham arsênio, estricnina e mercúrio, substâncias estas que, traziam sérias reações adversas, as quais podiam levar a óbito. No ano de 1963 Rock, Pincus e Garcia principiaram os estudos de utilização do hormônio progestógeno em mulheres, o que contribuiu para a livre escolha da supressão e regularidade da ovulação resultando na prevenção de uma gravidez indesejada (Silva, 1998).
Os anticoncepcionais orais (AO) combinados (estrógenos + progestógenos) apresentam eficácia de 99,9% e efetividade 97-98%. (Fuchs et al., 2004).
A expectativa de fracasso contraceptivo, em mulheres que fazem uso de CO de forma regular e confiável é de 1% (Correia et al., 1998). Ao associar o antibacteriano e o contraceptivo oral, constitui-se em uma importante interação medicamentosa, pois esta associação pode acarretar a perda da eficácia contraceptiva e levar à gravidez inesperada (Oga & Basile, 2001).
Segundo Katzung (2005) são diversos os mecanismos pelos quais os fármacos podem interagir, sendo que a maior parte destas interações é classificada como farmacocinéticas, farmacodinâmicas ou de interações combinadas. “As interações farmacocinéticas conforme citadas ocorrem durante os processos de absorção, distribuição, biotransformação e excreção”. (Fuchs et al., 2004)
Os antibacterianos envolvidos na interação com anticoncepcionais são a rifampicina, penicilinas (amoxicilina, ampicilina), cefalosporinas, tetraciclina, eritromicina e sulfonamidas (Oga & Basile, 2001). O primeiro relato de interação entre os dois fármacos que resultou em uma gravidez foi em 1971 e envolveu o antituberculostático rifampicina, (Reimers & Jezek, 1971 citado por Corrêa et al, 1998).
Reimers et al. (1974) apud Corrêa et al. (1998) citaram que em um grupo de 88 mulheres que utilizaram, concomitantemente contraceptivo oral e rifampicina, 62 tiveram distúrbios no ciclo menstrual e 5 engravidaram, o que leva a refletir que esse número supera e muito a taxa esperada de fracasso de 1%.
Para Oga & Basile (2001) a penicilina dentro das suas respectivas classes, é a mais envolvida, a qual foi citada em grande número de relatos de gravidez indesejada entre as mulheres que a utilizavam concomitantemente com os contraceptivos orais. Ressalta-se que as penicilinas juntamente com as tetraciclinas representaram cerca de 70% do total de prescrições médicas, durante a realização deste estudo o que é bastante relevante.
De acordo Dickinson et al.(1998) estimou-se que 20% das mulheres que buscaram clínicas de planejamento familiar relataram uso deste tipo de associação (Dickinson, 2001).
O uso inadequado dos medicamentos pode trazer riscos à saúde do usuário ou tornar-se isento de ação terapêutica (Oliveira et al., 2005). Uma das estratégias para que isso não ocorra é a efetiva orientação médica, tornando-se um dos pilares que se deve trabalhar para o uso correto dos diversos tipos de medicamentos (Ministério da Saúde, 2001). Todavia diversas condições podem interferir na orientação médica para a escolha adequada do medicamento e da terapia a ser utilizada. Condições são estas concepção do profissional sobre o processo saúde-doença; a qualidade de sua formação; as fatores socioculturais e econômicas da população e as fontes de informações às quais teve acesso (Santos & Nitrini, 2004).
Com o uso inadequado ou ausência de uso de métodos anticoncepcionais, calcula-se que 10 milhões de mulheres brasileiras estão sujeitas a gestação indesejada (Curitiba, 2005). Para que isto não ocorra é necessário contar com os profissionais capacitados para auxiliar a mulher na sua opção contraceptiva ao longo de sua vida (Brasil, 2002; Carreno, et. al., 2006).
É fundamental salientar que o planejamento familiar, com conhecimento dos métodos, é uma das ações da Política de Assistência Integral à Saúde da Mulher preconizada pelo Ministério da Saúde, desde 1984. O Planejamento Familiar deve ser inserido dentro do contexto dos direitos reprodutivos, tendo, portanto, como principal objetivo garantir às mulheres e aos homens um direito básico de cidadania, previsto na Constituição Brasileira: o direito de ter ou não filhos/as (Ministério da Saúde, 2002).
Diante do exposto com o intuito de contribuir na divulgação de orientações de forma a promover o uso adequado dos contraceptivos orais, esse estudo teve como objetivo verificar se as usuárias de contraceptivos orais são devidamente orientadas e possuem conhecimento quanto às possíveis interações medicamentosas entre estes fármacos e antibacterianos e às suas conseqüências.
Materiais e métodos
Trata-se de um estudo descritivo, prospectivo de caráter quantitativo. Local de Estudo: Este trabalho teve como cenário a cidade de Montes Claros, localizada ao norte de Minas Gerais. Possui população de 361.915 habitantes (IBGE, 2010).
A população de estudo foram 100 mulheres com idade entre 18 a 40 anos entrevistadas no período de agosto a setembro de 2011. O critério de inclusão adotado foram mulheres atendidas em uma rede de drogaria privada da região central de Montes Claros e que faziam uso de anticoncepcionais orais combinados como método contraceptivo. Como critério de exclusão adotado foram mulheres que compraram anticoncepcionais orais combinados para terceiros ou que fizeram utilização destes para outros fins.
Como instrumento de trabalho foi utilizado um questionário estruturado que contemplaram dados sócio-demográficos e perguntas pertinentes ao tema em questão. A abordagem inicial das participantes desta pesquisa foi realizada após aquisição dos anticoncepcionais orais combinados com ou sem receita médica, explicando o objetivo da pesquisa e a garantia da confidencialidade das informações. Após concordância em participar da pesquisa foi solicitado à assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Para maior privacidade das entrevistadas essas foram encaminhadas à sala de atendimento farmacêutico, onde foi aplicado questionário.
Os dados coletados foram processados pelo programa Microsoft Office Excel 2003 e os resultados apresentados em gráficos e tabelas.
Quanto aos preceitos éticos este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Associação Educativa do Brasil-SOEBRAS através do protocolo 01676/11, de acordo com a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (BRASIL, 1996).
Resultados
Os resultados demonstraram que das 100 mulheres entrevistadas 73% responderam que não obtinham o conhecimento sobre as possíveis interações entre os contraceptivos orais e antibacterianos (ATBs).
Quanto ao conhecimento das interações dos fármacos em questão os dados mostraram que 27% das entrevistadas afirmaram que apresentavam previamente este conhecimento, destas mulheres 5 (18,5%) obtiveram está informação na consulta médica, seguidas de 4 (14,8%) com o farmacêutico, 3 (11,1%) mencionaram a bula do medicamento, 4 (14,8%) indicaram amigos, vizinhos ou colegas de trabalho e 11 (40,7%) citaram outras fontes, sendo a faculdade e cursos técnicos os mais citados, onde o percentual maior das usuárias que obtinham o conhecimento foram entre acadêmicos ou profissionais da área da saúde (tabela 1).
Tabela 1. Avaliação das fontes de informações do conhecimento das mulheres á respeito da interação entre CO e os ATB, em uma Rede de Drogarias Privada, Montes Claros, 2011
Fonte: Dados coletados, Rede de Drogarias Privada, Montes Claros – MG, 2011
Neste estudo 73% das mulheres que afirmaram não conhecer as interações em questão, 50 (68,4%) são solteiras, 4 (5,4%) amasiadas, 3 (4,1%) compreende um grupo de separadas ou divorciadas e 16 (21,9%) são casadas o que aumenta as chances de uma gravidez indesejada em casos de associação com o antimicrobiano..
De acordo com tempo de utilização do anticoncepcional este estudo demonstrou que 34% das mulheres fazem uso em período menor que 1 ano, seguidas de 46% que fazem a utilização de 1 a 5 anos, 13% de 5 a 10 anos e 7% utilizam a mais de 10 anos. Observou-se que quanto maior o tempo de uso, mais provável que estas tenham utilizado o antibacteriano simultaneamente com o anticoncepcional (Gráfico 1).
Gráfico 1. Período de utilização do CO por mulheres entrevistadas em uma Rede de Drogarias Privada, Montes Claros, 2011
Fonte: Dados coletados, Rede de Drogarias Privada, Montes Claros – MG, 2011
Quando questionadas quanto a utilização concomitantemente de CO e antibacteriano observou-se que 50% das entrevistadas admitiram ter feito este tipo de associação.
Das mulheres entrevistadas que afirmaram ter conhecimento quanto à interação, 6% relataram conhecer alguém onde ocorreu uma gravidez indesejada e uma relatou ter engravidado com a mesma.
Neste estudo, das entrevistadas 33 (45,2%) tinham renda familiar até 2 salários mínimos, 29 (39,7%) mulheres possuíam renda entre 3 a 5 salários mínimos e 8 (10,9%) 6 a 10 salários mínimos e apenas 3 (4,1%) possuíam renda acima de 10 salários mínimos (Gráfico 2).
Gráfico 2. Renda familiar das entrevistadas em uma Rede de Drogarias Privada, Montes Claros, 2011
Fonte: Dados coletados, Rede de Drogarias Privada, Montes Claros – MG, 2011
Discussão
É imprescindível advertir as mulheres quanto à interação entre os COs e ATBs. Outros estudos enfatizam que mesmo não comprovada, existem evidências suficientes que demonstram a existência da interação, a qual resultará em perda da eficácia contraceptiva (Correia et al., 1998).
Porém em estudo realizado por Paz & Ditterich (2009), observou-se que para receber orientações sobre o seu método contraceptivo as entrevistadas recorreram mais aos médicos, enfermeiros e assistentes sociais, tendo uma freqüência de 25% de cada um desses profissionais de saúde.
Apesar de que neste estudo foram entrevistadas somente clientes que fazem o uso do anticoncepcional como método contraceptivo, segundo Paz & Ditterich (2009) o estado civil das entrevistadas é importante para a pesquisa, já que as mulheres casadas são as que geralmente possuem parceiros fixos e apresentam maior preocupação com o uso dos métodos contraceptivos.
No entanto, em outro estudo estimaram que 20% das mulheres que buscaram clínicas de planejamento familiar relataram o uso simultâneo destes fármacos (Dickinson et al., 2001).
Segundo Helms et al. (1997) em seus estudos de revisão dos casos descritos das 311 pacientes dermatológicas por ano e que utilizavam o CO combinado e ATB, como a tetraciclina, penicilina e cefalosporinas, ocorreram cinco gestações tendo índice percentual de 1,6 gestações por 100 pacientes/ano. O mesmo quando comparado com um grande grupo controle ingerindo somente o CO, não se mostrou ser estatisticamente significativo, se comparado com a taxa normal de falha.
De acordo com estudo de Zaika (2004) as mulheres consideram que o número de filhos não lhes possibilita trabalhar para ajudar no orçamento familiar e que quanto maior a família mais difícil fica a sobrevivência com o salário tão escasso que vive. Corroborando com estes resultados no estudo de Paz & Ditterich, (2009) quanto ao tempo de uso do contraceptivo oral , 33% utilizavam entre 0 a 6 meses, 25% de 7 a 12 meses e 25% de 5 anos ou mais. Estes autores acreditam que quanto menor o tempo de uso do método contraceptivo, conseqüentemente menor será o conhecimento a respeito do método, portanto é de interesse feminino procurar saber a respeito do método.
Conclusão
Apesar de alguns estudos farmacocinéticos não afirmarem a perda da eficácia dos anticoncepcionais orais quando associado aos antibacterianos exceto Rifampicina, há relatos de gravidez indesejada perante esta associação. Alguns autores relatam existir um grupo de mulheres mais susceptíveis a está interação, o qual não é possível identificar.
Há poucos estudos que relatam sobre o conhecimento das mulheres a respeito da interação entre ATB e CO. Com este estudo observou-se que grande parte das entrevistadas não conheciam a interação. Assim podemos afirmar haver falhas no sistema de saúde, sendo um direito da mulher acesso as informações sobre os métodos contraceptivos. Todavia, quando abordadas pelos pesquisadores e informadas o tema da pesquisa, muitas se mostraram surpresas ao saber que o antibacteriano pode vir a diminuir o efeito contraceptivo. Com o intuito de colaborar na divulgação das informações as participantes do estudo foram alertadas sobre a associação. Portanto, cabe aos profissionais da saúde a orientação quando se fizer necessário a utilização concomitante dos medicamentos em estudo sendo imprescindível aconselhá-las a utilizar outros métodos de barreiras físicas, para que assim se possa evitar uma gravidez inesperada.
Referências
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