Hidratação no esporte de karatê La hidratación en el deporte karate |
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*Bacharel em Educação Física, CEULJI/ULBRA, Ji-Paraná, RO **Professora Adjunta do Curso de Educação Física, CEULJI/ULBRA, Ji-Paraná, RO (Brasil) |
Margarida Rosa dos Santos* Poliana Piovezana** |
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Resumo Objetivo: Identificar os níveis de hidratação antes e após atividade física e inferir acerca da estratégia adotada de reposição hídrica. Metodologia: A amostra foi constituída por 9 atletas amadores de karatê do sexo masculino e feminino (peso: 63,4 ± 14,3kg, estatura: 1,71 ± 0,09m, G%: 13,9 ± 6,3) da Academia Stillus de Karatê da cidade de Ji-paraná. Todos os voluntários incluídos no estudo passaram por uma anamnese onde relataram não apresentar problemas crônicos de saúde, e/ ou fazer uso de qualquer tipo de fármaco regular. Para a coleta dos dados foi utilizado bioimpedância para medir %G. Para medir a hidratação, foi utilizado o índice de coloração da urina segundo. Armstrong (1994). As comparações entre os dados antes e após o treino foram realizadas através do teste T pareado. Conclusão Durante o treinamento de karate shotokan, com as amostras estudadas observou-se que os atletas já estavam desidratados antes de iniciar o treinamento o que agravou o quadro de desidratação. Os relatos encontrados sobre hidratação são preocupantes apesar da maioria conservar o habito continuo de hidratar-se. Estes relatos nos mostram formas inadequadas de hidratação, deixando claro a falta de conhecimento ou de consciência dos atletas sobre importância da hidratação para uma melhor performance no esporte. Unitermos: Método Armstrong. Desidratação. Treinamento.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O karatê-Do é uma arte marcial milenar praticada em todo mundo, existem vários estilos praticados, o Shotokan foi criado por volta de 1880 em Okinawa (sul do Japão) pelo mestre Ginchin Funakoshi (1868-1957) e por seu filho, Yoshitaka Funakoshi sua derivação vem do estilo Shorin-ryu onde foi incorporada varias técnicas assim sendo modificando para Shotokan. O karate era praticado secretamente na Ilha de Okinawa por pessoas comuns que estavam proibidas de portar armas, e por isso se defendiam de mãos vazias, fazendo uso destas, dos cotovelos, joelhos e pés1.
No ano de 1933, o Dai Nippon Butokukai, órgão japonês encarregado das artes marciais, reconheceu oficialmente o Karate-Do como arte marcial. O karate-Do significa o caminho das mãos vazias. Acima de uma Arte Marcial, Defesa Pessoal, Esporte, o Karate representa uma Filosofia de Vida. “Busca de autoconfiança e disciplina através do treinamento, aprimoramento intelectual e perceptivo frente a um ataque, formação do caráter e de hábitos de saúde decorrentes da meditação Zen1”.
O Karate Shotokan é a arte marcial mais conhecida do mundo, tendo como principal característica os golpes de impacto, não utilizando nenhum tipo de arma, uma vez que a palavra Karate significa mãos vazias. A dinâmica de uma competição de Karate Shotokan é constituída de bloqueios e uma gama de golpes, através de socos e chutes, executados com os membros superiores e inferiores, que atingem as regiões do tronco e da cabeça do adversário2.
Nesta arte marcial não existe agressão, e sim domínio da agressividade, mente e mãos vazias de energia negativa, respeito com o adversário, nobreza de espírito, modéstia e perseverança. O karate antes de ser um esporte é a arte da boa conduta, o verdadeiro praticante a toma como filosofia de vida.
O karate é uma modalidade que se caracteriza como predominantemente anaeróbia, em que a força explosiva e a flexibilidade de membros superiores e inferiores são importantes para o desempenho do atleta2.
Segundo Mori et al (2002), o karate é uma modalidade que requer reações rápidas, para que o lutador não seja acuado pelo adversário, alem de exigir alta capacidade de velocidade e força para golpear o oponente3.
A hidratação esta intimamente ligada aos esportes de combates caracterizados por peso. No karate, assim como no boxe, luta olímpica e judô existe atletas que se utilizam de métodos para perda de peso rápida através da desidratação. Observando este contexto comum para estas modalidades esportivas busca-se maior entendimento sobre as conseqüências fisiológicas da desidratação para o exercício físico2.
De acordo com Maughan e Leiper (1994)4 a desidratação deve ocorrer devido à necessidade de o organismo manter a temperatura corporal próxima dos valores de repouso, cerca de 37ºC. Em ambientes de altas temperaturas o único mecanismo que faz com que o organismo perca calor é a evaporação da água na superfície da pele. Isso permite que a temperatura do corpo seja mantida, mas acaba resultando em desidratação e perda de eletrólitos.
Segundo Guyton (2000)5 a desidratação acontece de formas variadas, tais como, na transpiração, respiração, fezes, urina e também através da pele.
A atividade física promove maiores níveis de sudorese e conseqüentemente maior velocidade de desidratação(6). Nos esportes não poderia ser diferente, de forma que a prática destes leva a uma sudorese e em direção a níveis diminuídos de concentração de água no organismo(6). Tem-se que a desidratação pode provocar inúmeros sintomas como tontura, desequilíbrio, perda de coordenação motora, fraqueza muscular e em casos extremos perda da consciência e até a morte(6). Mesmo assim, o estímulo da sede pode não ser suficiente para manter níveis ideais de hidratação. Geralmente, as pessoas consomem líquidos em um ritmo inferior a sua taxa de perda hídrica resultando em estados de leves a moderados de desidratação(6).
Neste contexto há questionamentos de um melhor entendimento sobre hidratação nas aulas de karate ministradas em academias.
Sendo assim, o objetivo desse estudo é detectar o grau de desidratação em atletas durante o treinamento de karate shotokan.
Metodologia
Sujeitos
Foram selecionados nove atletas, do gênero masculino e feminino, da academia onde treinam os principais atletas de karate local (idade 30 ± 12 anos, peso 63,4 ± 14,3 kg, altura 171,1 ± 0,09 cm). Os atletas participantes tinham no mínimo 3 anos de prática da modalidade, critério de inclusão no estudo. Participaram três atletas de faixa verde, um da faixa roxa, dois faixas marrom, dois faixas pretas 1º Dan, e um faixa preta 4º Dan.
Todos os atletas relataram que faziam em média 3 ± 1 refeições por dia. E ingeriam 1,5 ± 1 litros de água por dia. Não há atletas fumantes, apenas um ex-fumante, e os relatos de ingestão de álcool, foram socialmente. Todos os voluntários incluídos no estudo passaram por uma anamnese onde relataram não apresentar problemas crônicos de saúde, e/ ou fazer uso de qualquer tipo de fármaco regular.
Procedimento
Antropométrico
Com o objetivo de avaliar a massa corporal foi utilizado uma balança da marca Bellaforma com precisão de 100g.
Para a coleta dos dados referentes a bioimpedância foi utilizado o aparelho de composição corporal bipolar pelo método de bioimpedância de MMSS e MMII. da marca Tecline modelo FE-068.
Hidratação
Para a verificação da hidratação desses indivíduos foi utilizado o teste de coleta de urina. A cada atleta, foi fornecido dois potes de plástico descartável para a coleta de urina. Ambos identificados para coleta antes e após o treinamento. Este procedimento nos forneceu os dados referentes ao nível de hidratação destes atletas frente ao período de treinamento.
Para medir a hidratação, foi utilizado o índice de coloração da urina que compara a cor da urina com a tabela de coloração específica. Utilizou-se o protoloco de acordo com Armstrong (1994)7.
Análise estatística
Os dados são apresentados como média ± desvio padrão. Todas as possíveis comparações entre os dados antes e após o treino foram realizadas através do teste T pareado. Para todas as análises foi adotado um nível de significância de 5% (P<0,05).
Resultados
A amostra estudada foi composta por 9 participantes, os dados amostrais são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 – Apresentação da amostra
A tabela 2 apresenta os dados referentes a massa corporal medida antes e após o treino de uma hora em alta intensidade.
Tabela 2 – Peso antes e depois do treino
Encontramos diferença estatística significativa entre a massa corporal antes e após o treinamento.
Gráfico 1 – Classificação de desidratação antes e após o treino
No gráfico 1, observa-se que o atleta 2, aumentou o nível de hidratação durante o treino, o mesmo ingeriu um volume grande de água antes de iniciar o treinamento. Os atletas 7 e 9 mantiveram o nível de hidratação bem hidratado. Enquanto que, os outros 6 atletas já encontravam-se desidratados antes do treinamento e agravaram esta desidratação após.
Discussão
O estado de hidratação tem sido amplamente discutido aos longo das ultimas décadas. No meio esportivo a ingesta de bebidas hidroeletrolíticas está bem difundida. Entretanto ainda encontramos indivíduos que não se hidratam adequadamente, concordando com o relatado neste estudo.
Bergeron (1995) relata que a maioria dos atletas são relutantes bebedores durante o exercício e não costumam ingerir líquido em taxas iguais à sua perda líquida. Este quadro acaba por desenvolver desidratação (voluntária) progressiva durante o exercício prolongado. Surpreendentemente, o nível de desidratação voluntária que se desenvolve durante o exercício é relativamente dependente da duração ou da intensidade da atividade.
O treinamento realizado durante a coleta de dados, apresentou alta intensidade, o que pode ter provocado uma desidratação voluntária maior, no grupo de atletas.
Por outro lado, é de conhecimento acadêmico que atletas devem beber líquidos antes, durante e após o exercício. A fim de combater a hipertermia, desidratação e colapso circulatório iminente8.
A Hidratação adequada durante o treino ou competição vai melhorar o desempenho, evitar que na seqüência haja estresse térmico, para tentar manter o volume plasmático, retardar a fadiga e prevenir lesões associadas com a desidratação e perda de suor9.
Portanto esses atletas estão mais propensos a lesão que atletas melhor hidratados.
A hidratação antes do início do exercício e durante o mesmo melhora o desempenho, principalmente se o líquido a ser consumido contém carboidrato10.
Segundo Cruz MAE, (2009)11 em um estudo realizado com atletas de mountain bike, verificou-se que 80,69% dos ciclistas revelaram sempre se hidratar durante os treinamentos e 81,19% durante as competições. Um pequeno número dos atletas (aproximadamente 1%) revelou ter o costume de nunca se hidratar, outros quase nunca se hidratam e outros às vezes se hidratam nos treinamentos ou competições.
No estudo realizado com nadadores ficou claro que os grupos já apresentavam algum estado de desidratação nos momentos que antecederam os TC.(treinamento controlado) Além disso, os valores elevados dos índices apresentados após os TC caracterizam um estado de hidratação precário, independentemente do recurso líquido utilizado12.
A completa recuperação pós exercício envolve: retorno a normalidade das funções fisiológicas, diminuição da dor muscular, desaparecimento dos sintomas fisiológicos associados a fadiga (irritabilidade, falta de concentração, desorientação) e rearmazenamento de fluídos e reservas energéticas13.
Fica claro o exposto que o conhecimento e hábito de hidratação muda de acordo com a modalidade praticada. Para tanto, fica claro que a hidratação é necessária em todas as modalidades.
Conclusão
Durante o treinamento de karate shotokan, com as amostras estudadas observou-se que os atletas já estavam desidratados antes de iniciar o treinamento o que agravou o quadro de desidratação. Os relatos encontrados sobre hidratação são preocupantes apesar da maioria conservar o habito continuo de hidratar-se. Estes relatos nos mostram formas inadequadas de hidratação, deixando claro a falta de conhecimento ou de consciência dos atletas sobre importância da hidratação para uma melhor performance no esporte.
Sugestões
Se é bem administrada podendo as estratégias de reposição hídrica estar sendo planejadas de forma sub dimensionadas causando algum nível de desidratação após a participação nessas distintas atividades. Essa abordagem se torna interessante na medida em que poderíamos inferir sobre a correção das estratégias de hidratação evitando possíveis problemas acarretados pela desidratação associada a prática de atividade física.
Recomenda-se que os responsáveis pelos treinamentos dos atletas e praticantes, estabeleçam campanha de orientação que atente para a necessidade de hidratação hídrica nesta modalidade.
Referências
CAMACHO JÚNIOR, Carlos Olavo de Azevedo. O karate-do e sua historia. Disponível em: www.karate-Do.com.br SP. Acesso em: 06 set. 2012.
BRITO et al. Caracterização das praticas de hidratação em karatecas do Estado de Minas Gerais. Fitness & Performance Journal, Minas Gerais, v. 5, n. 1, p.24-30, 2006.
MORI, S.; OHTANI, Y.; IMANAKA, K. Reaction times and anticipatory skills of karate athletes. Human Mov. Sci. 21; 213-30 2002.
MAUGHAN, RJ, LEIPER, JB. Fluid replacement requirements in soccer. J Sports Sci 1994;12:S29-S34. (Maughan RJ, 1994)
GUYTON, A.C.; HALL, J.E. Textbook of Medical Physiology. 10. Ed. Philadelphia: Saunders, 2000.
BERGERON, M. F.; ARMSTRONG, L. E.; & MARESH, C. M. Fluid and electrolyte losses during tennis in the heat. Clin. Sports Med, 1995.
LAWRENCE E. ARMSTRONG, CM. MARESH, JW. CASTELLANI, MF. BERGERON, RW. KENEFICK, KE. LAGASSE, DR, Urinary Indices of Hydration Status IJSNEM Volume 4, Issue 3, 1994.
GALLOWAY, SD. Electrolytes/administration & dosage. Pubmed - Indexado Para O Medline, Escocia, n. p.188-200, 1999.
VON DUVILLARD, SP et al. Nutrição. Pubmed - Indexado Para O Medline, EUA, p. 651-6, 2004.
MONTEIRO; GUERRA; BARROS. Hidratação no futebol. Rev Bras Med Esporte, Rio de Janeiro, v. 9, n. 4, p.238-242, 2003.
MAE, Cruz; CABRAL, CAC; MARINS, JCB. Nível de conhecimento e hábitos de hidratação dos atletas de mountain bike. Fit Perf.j, Viçosa, v. 9, n. 4, p.79-89, Não é um mês valido!/Não é um mês valido! 2009.
PRADO, Seixas et al. Estado de Hidratação em Nadadores após três diferentes formas de reposição hídrica na cidade de Aracaju - Se. Fitness & Performance Journal, Aracaju, n. , p.218-225, 2009.
MEYER, F. PERRONE, C. Hidratação pós-exercício – Recomendações e Fundamentação Científica. R. Bras. Ci. e Mov., Brasília, v. 12, n. 2, p.87-90, jun. 2004.
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