Educação Física no centro educacional infantil: um relato de experiência La Educación Física en un centro de educación inicial: relato de experiencia |
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*Discente do curso de Licenciatura em Educação Física. ICSEZ/UFAM/Parintins **Docente do curso de Licenciatura em Educação Física. ICSEZ/UFAM/Parintins (Brasil) |
Cleucia Cruz da Silva* Deucivan Almeida Souza* Patrícia dos Santos Trindade** Marcelo Gonçalves Duarte** |
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Resumo O presente texto relata uma experiência vivida nas aulas de Educação Física, durante o período de Estágio Supervisionado, no Centro Educacional Infantil na cidade de Parintins-AM. Procurou-se levantar as possíveis causas que explicassem por que não há professores de Educação Física atuando nesse nível de ensino. Diante do exposto, nos perguntamos: Quais as conseqüências da falta de professor de Educação Física nesse nível de ensino? Assim, concluímos que, a ausência do professor de Educação Física nos Centros de Educação Infantil contribui para uma educação que não considera a importância da expressão corporal como linguagem, imprescindível para a compreensão da realidade. Ressaltamos a necessidade de professores com formação atuando nesse nível de ensino. Unitermos: Estágio Supervisionado. Educação Física. Educação Infantil.
Abstract This paper reports a lived in Physical Education classes during the period of Supervised Internship in Early Childhood Education Center in the city of Parintins-AM experience. We tried to raise the possible causes that could explain why there are no physical education teachers working at this level of education. Given the above, we ask: What are the consequences of the lack of a physical education teacher at this level of education? Thus, we conclude that the absence of a physical education teacher in Early Childhood Education Centers contribute to an education that does not consider the importance of body language and expression, essential for understanding reality. We stress the need for trained teachers working at this level of education. Keywords: Supervised. Physical Education. Early Childhood Education.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O Estágio Supervisionado I, do curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal do Amazonas UFAM Parintins, é etapa importante no processo de formação profissional do estudante que o freqüenta.
De acordo com a ementa da disciplina, tem como principal objetivo estabelecer-se como espaço da práxis, isto é, a relação teoria e prática, possibilitando a formação de profissionais, que tenham como objeto de estudo, o ser humano que se movimenta, buscando sua auto-superação, realizado de forma intencional, possibilitando a sua ação/intervenção nos diversos campos da Educação Física, visando a formação de cidadãos conscientes em direção à construção da cidadania como patrimônio civil e estabelecer-se como espaço de reflexão, do questionamento e da reelaboração das concepções relativas ao ensino da Educação Física escolar nos diversos campos de atuação, através de leituras de texto, de discussões e de elaboração de relatório de estágio.
Assim, a partir das entrevistas com as professoras da referida escola, constatamos que o problema de partida constituiu-se na inexistência de professor com formação em Educação Física atuando nos Centros de Educação Infantil, na cidade de Parintins. Essa realidade não ocorre apenas em nossa cidade, mas se repete em muitas outras, com dificuldades muito próximas das nossas. Nesse sentido, os alunos não têm oportunidade de vivenciar atividades que abordam os conteúdos específicos desta disciplina direcionados a este nível de ensino.
Assim, levantamos algumas hipóteses acerca do problema, como: 1) as expressões de movimento na escola, correr, saltar, jogar, são, tradicionalmente associados à indisciplina. Nesse sentido, Freire (2003) afirma que, as crianças dentro da escola são limitadas a meio metro quadrado, área correspondente a sua carteira, ou seja, as crianças quase não têm oportunidade de vivenciar atividades como correr, jogar, saltar, etc.; 2) as atividades motoras atrapalham o rendimento escolar do aluno, porém, alguns estudos nos mostram que restrições às expressões de movimento podem influenciar negativamente no processo de aprendizagem infantil (Brasil, 1998).
Assim, através de nossas experiências no Centro Educacional, podemos evidenciar a necessidade da Educação Física nesse nível de ensino, visto que, essas crianças caracterizam-se, basicamente, por exercitar suas funções simbólicas e motoras, uma vez que estão aprendendo a lidar com os símbolos (Freire e Scaglia, 2003).
Dessa forma, o contexto educacional infantil em Parintins é um campo aberto de atuação que poderia ser preenchido por professores formados e qualificados, que tem conhecimento das fases do desenvolvimento humano e principalmente das características psicomotoras da criança, comprometidos com a formação da criança em sua totalidade, contribuindo assim, no processo de crescimento e desenvolvimento de habilidades motoras da criança, bem como, com a formação de cidadãos críticos, conscientes de suas ações e atuantes no meio social onde estão inseridos. Nessa perspectiva, as aulas de Educação Física são de fundamental importância nesta etapa da educação.
Nesse sentido, os jogos, enquanto conteúdo da cultura corporal tem sido uma ferramenta importante para intervenção nesse nível de ensino. Assim, o Coletivo de Autores (1992, p.72) afirma que:
“a) na educação infantil os jogos são conteúdo que implicam o reconhecimento de si mesmo e das próprias possibilidades de ação.
b) Jogos cujo conteúdo implique reconhecimento das propriedades externas dos materiais/objetos para jogar sejam eles do ambiente natural ou construídos pelo homem.
c) Jogos cujo conteúdo implique a identificação das possibilidades de ação com os materiais/objetos e das relações destes com a natureza.
d) Jogos cujo conteúdo implique relações sociais: criança-família. Criança-criança, criança-professor, criança-adultos.
e) Jogos cujo conteúdo implique o sentido da convivência com o coletivo, das suas regras e dos valores que estas envolvem.
f) Jogos cujo conteúdo implique ‘auto-organização’.”
Além dos jogos, os esportes, lutas, danças, ginásticas, também são conteúdos que devem ser disseminados na educação infantil, visto que, fazem parte da cultura corporal de movimento, isto é, a denominação dada ao amplo e riquíssimo campo da cultura que abrange a produção de práticas expressivo-comunicativas, essencialmente subjetivas externalizadas pela expressão corporal (Brasil, 1998), e que estão presentes no dia-dia da criança.
No centro de Educação Infantil onde foi desenvolvido o estágio, observamos que as crianças ficam na maior parte do tempo sentadas, decorando números e letras, desenhando ou realizando outras atividades que inibem o movimento. As crianças quase não têm oportunidade de brincar em grupo e, nesse sentido, Rodrigues e Freitas (2008) afirmam que brincando, a criança desenvolve a capacidade de domínio da linguagem simbólica, uma vez que o brincar implica discernir entre a brincadeira e a realidade que oferece conteúdo para seu desenvolvimento, entre aquilo que é imaginação e aquilo que é imitação da realidade.
Nesse sentido, cumprindo uma etapa importante do estágio no Centro Educacional, propomos algumas aulas práticas para os alunos, as regências, considerando as problemáticas levantadas, com intuito de contribuir com a mudança do cotidiano das aulas. Como a escola não disponibilizava de espaço adequado e muito menos de materiais adequados para as aulas práticas, a solução foi retirar as cadeiras da sala e improvisarmos alguns materiais, o que possibilitou mais liberdade de expressão corporal e criatividade por parte das crianças, através dos jogos e brincadeiras. Segundo Trevisan e Gomes (1999, p. 127), esses Jogos e as Brincadeiras por muito tempo eram tidos como a mais importante ferramenta para estreitar laços coletivos no interior de qualquer sociedade existente, ou seja, no Centro Educacional Infantil isso não podia ser diferente, visto que, havia uma necessidade de propor algo que viesse aproximar mais as crianças que apesar de estarem no mesmo espaço de sala de aula, pareciam bem distante entre si, pois de nenhuma forma podiam interagir. Na ocasião em que um aluno ou aluna levantava de sua carteira para interagir com algum colega, logo era impedido pela professora, tendo que retornar ao seu lugar. Ao irem ao banheiro lavar as mãos para merendar, formava-se uma fila de meninos e outra de meninas e assim eram conduzidos, idem a volta para sala de aula. Nesse sentido, ressaltamos que os conteúdos da educação física, mais especificamente os Jogos e Brincadeiras e a Cultura Corporal contribuem para a socialização das crianças, desde que seja contextualizado de acordo com a fase de desenvolvimento da criança e considerando suas características psicomotoras.
Tradicionalmente as expressões de movimento na escola têm sido associadas à indisciplina, visto que a escola tem sido um local preparado para receber a ‘mente’ e não o ‘corpo’ das crianças. Isto causa certo desconforto que por vezes a escola não tem encontrado alternativas saudáveis para resolver o problema.
“[...] da criança é cobrada uma postura de seriedade, imobilidade e linearidade, matando pouco a pouco aquilo que elas têm de mais autêntico – sua espontaneidade, criatividade, ousadia, sensibilidade e capacidade de multiplicar linguagens que são expressas em seus gestos e movimentos” (SAYÃO 2002, p.58).
No entanto, quando nos referimos à importância do movimento para a aprendizagem da criança sugere-se que restrições às expressões de movimento podem influenciar negativamente no processo de aprendizagem infantil (Brasil, 1998).
Nesse sentido, ressaltamos a importância do professor de Educação Física atuando nesse nível de ensino, não se limitando apenas ao desenvolvimento cognitivo dos alunos, mas sim, em um desenvolvimento total da criança.
De acordo com Freire (1991, p.76) “o que a escola deve buscar não é que a criança aprenda esta ou aquela habilidade para saltar ou para escrever, mas que, através dela, possa se desenvolver plenamente”.
A ausência do professor de Educação Física nesse nível de ensino contribui negativamente no processo de aprendizagem dos alunos, visto que através do movimento a criança descobre a si mesma e o mundo que a rodeia.
Material e método
Este artigo foi realizado a partir de nossas vivencias no período de estágio supervisionado I no ambiente escolar do Centro Educacional Infantil no município de Parintins.
No primeiro contato com o corpo docente da escola, foram realizadas as assinaturas dos documentos legais do estágio. Em seguida, fomos designados a professora e a turma a qual iríamos permanecer no período do estágio.
Já familiarizados com a professora e a turma, o próximo passo é realizar uma entrevista, com a professora de sala de aula. Foram realizadas 04 perguntas relacionada a disciplina de Educação Física na referida escola. As respostas foram descritas de forma objetiva em um caderno de anotações.
O Estágio Supervisionado I divide-se em 03 fases: observação, acompanhamento e regências. Durante a primeira etapa, apenas observamos as aulas da professora de sala, os alunos e considerando fatores implícitos e explícitos no decorrer da aula. As anotações eram feitas em uma ficha de observação. Esta primeira etapa foi realizada no período de 32 dias.
Em seguida, na fase de acompanhamentos, além das observações, poderíamos dar assistência a professora, caso a mesma solicitasse. As anotações eram feitas em uma ficha de acompanhamento. Esta segunda etapa do estágio durou 14 dias.
A terceira e ultima etapa do estágio na escola foram as regências, onde tínhamos que aplicar 15 aulas para os alunos da turma. Optamos por escolher os conteúdos da cultura corporal e jogos e brincadeiras para a realização das aulas, por apresentarem elementos em sua estrutura, imprescindíveis no processo de desenvolvimento psicomotor e social das crianças. Todas as aulas foram adaptadas para dentro de sala de aula, visto que, a escola não oferecia espaço adequado para as aulas de Educação Física, bem como, os materiais utilizados foram confeccionados com materiais recicláveis.
Observamos que o problema estudado se refletia nas seguintes situações no cotidiano da escola; nas salas de aula, os alunos ficavam a maior parte do tempo sentado, sem oportunidade de expressão de movimento ou brincadeiras, fatores estes que são de fundamental importância nessa faixa etária, no parquinho da escola as crianças ficavam limitadas aos brinquedos, que por sua vez não atendiam a demanda de alunos da escola, as professoras que monitoravam os alunos no parquinho não ofereciam outras brincadeiras para os alunos que não tinham acesso aos brinquedos.
Resultados e discussões
Diante dos problemas detectados através da entrevista com a professora, observações e acompanhamentos, propomos, através de nossas regências, aulas que viessem contribuir significativamente para que esses problemas fossem superados. Para isso, utilizamos como conteúdos para elaboração das aulas, a cultura corporal e jogos e brincadeiras, visto que estas são ferramentas de suma importância a serem utilizada na educação infantil por oferecerem elementos em sua estrutura que podem contribuir com a socialização e educação psicomotora das crianças.
Nas primeiras aulas os alunos não demonstraram muito interesse, ficavam retidas com algumas atividades, se sentiam envergonhadas, e por algumas vezes choravam para não participar das aulas, isso, talvez, seja reflexo de ficarem a maior parte do tempo das aulas da professora sentadas em suas carteiras, apenas aprendendo o abecedário, formando palavras e outras atividades que inibem o movimento. Nesse sentido, procuramos estimular os alunos a participarem das aulas, através de cantigas de roda, brincadeiras pedagógicas, onde as crianças aprendiam o abc, formar palavras, ordem numérica, entre outras com brincadeiras lúdicas e prazerosas, sempre adaptando a linguagem de forma que as crianças viessem a compreender o que tava sendo desenvolvido na aula.
Depois de algumas aulas já realizadas, percebemos que os alunos começaram a participar das atividades e interagir com os colegas e com os professores. Outro ponto interessante foi quando as crianças começaram a criar ouras brincadeiras a partir daquelas que propomos.
Nas aulas de ginástica geral, os alunos tiveram a oportunidades de conhecer o próprio corpo e suas possibilidades de movimento, através de alguns educativos como andar imitando um caranguejo, andar na ponta do pé, equilibrar em um só pé, andar em linha reta, andar imitando um elefante, andar com passadas bem largas, com passadas curtas, fazer rolamentos, foi realizado também o basquete e vôlei com balão, onde todos os alunos participaram ativamente, tiro ao alvo pedagógico, onde os alunos teriam que acertar uma garrafa pet com diferentes imagens coladas, e em seguida identificar a imagem acertada, as imagens eram figuras geométricas, letras, números e animais, e sempre ao final de cada aula fazíamos cantigas de roda e brincadeiras cantadas com os alunos.
Apesar de serem poucas as aulas aplicadas, percebemos que os problemas levantados anteriormente foram superados, principalmente quando os alunos interagiram entre si e com os estagiários, quando eles vivenciavam os movimentos propostos da ginástica, quando executavam os movimentos das musicas cantadas e outros. A professora de sala de aula aprovou as aulas ministradas comentando que aprendeu bastante, e que as nossas aulas iriam contribuir bastante com futuras aulas suas.
Considerações finais
Concluímos que a ausência do professor de Educação Física na Educação Infantil não é só um problema do Centro Educacional Infantil, mas de todos os Centros Infantis do município de Parintins.
Além disso, é necessário desenvolver conteúdos da Educação Física na Educação Infantil de forma contextualizada, como jogos e brincadeiras, a cultura corporal como a ginástica, esportes e dança, pois estes possuem elementos em sua estrutura que possibilitam ao aluno descobrir seu corpo e as suas possibilidades de movimento, contribuindo para o pleno desenvolvimento dos alunos, bem como para a formação de cidadãos críticos e atuantes no meio social onde estão inseridos.
Nesse sentido, ressaltamos a necessidade de se estabelecer políticas públicas voltadas para a inserção da disciplina Educação Física nas escolas públicas - principalmente no seguimento Infantil - promovendo concursos públicos para contratação de professores com formação em Licenciatura em Educação Física. Portanto, a ausência do professor de Educação Física nos Centros de Educação Infantil contribui para uma educação que não considera a importância da expressão corporal como linguagem, imprescindível para a compreensão da realidade.
Por outro lado, a partir de nossas experiências no Centro Educacional Infantil, constatamos que a presença do professor de educação é de suma importância, considerando o movimento como forma de a criança conhecer o mundo que a cerca e desenvolver suas habilidades motoras específicas, indispensáveis no processo de formação total da criança.
Referências
FREIRE, J. B. Educação de corpo inteiro: teoria e prática da Educação Física. 2.ed. São Paulo: Scipione, 1991.
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial curricular nacional para educação infantil. Brasília: MEC/SEF, 1998.
RODRIGUES, C. FREITAS, D. Educação Física na Educação Infantil: uma Reflexão Teórica. Diálogos Possíveis, Janeiro/Junho, 2008. Acessado em 22/09/2012.
SOARES. C. et al. Metodologia do Ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.
TREVISAN, C. S. GOMES, V. Q. Jogos, Brinquedos e Brincadeiras. Revista Conexões: Educação, Esporte, Lazer, v.1, n2, 1999.
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