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Educação Física Escolar no século XXI: do adestramento coletivo
à educação pelo movimento

La Educación Física en el siglo XXI: del adiestramiento colectivo a la educación por el movimiento

 

*Graduado em Educação Física

pela Faculdade Adventista de Hortolândia

**Professor Titular na Faculdade

Adventista de Hortolândia

Evan Bonfim*

Admilson Gonçalves de Almeida**

evanedgardbonfim@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Averiguar a história da disciplina de Educação Física no Brasil através de suas origens e influências, incluindo suas abordagens e perspectivas para o século XXI. Métodos: Para a elaboração deste artigo foi utilizada como fonte de pesquisa a revisão bibliográfica. Resultados: A Educação Física foi inserida na escola por interesse político para desenvolver seres preparados para o trabalho braçal e prevenir futuras doenças através de métodos eugênicos. Posteriormente, houve o investimento no esporte de alto rendimento dentro das escolas para formar atletas e, que estes, possam trazer medalhas para a Nação. Existem atualmente perspectivas que almejam uma educação física crítica para capacitar os alunos, além das capacidades motoras, também, as sociais, cognitivas e afetivas. Conclusões: Levando em consideração toda a história da disciplina, deve-se esquecer dos métodos tecnicistas e reprodutivistas e investir numa educação que explore as capacidades físicas, biológicas, sociais e intelectuais do aluno.

          Unitermos: História. Educação Física Escolar. Perspectivas. Educação Física Crítica.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A Educação Física é uma disciplina que utiliza a cultura corporal do movimento como ferramenta pedagógica para capacitar os alunos nos aspectos biológicos, sociais e intelectuais, porém, atualmente não vemos esses atributos sendo desenvolvidos nas aulas.

    Enquanto uma disciplina presente no currículo escolar assume um papel de suma importância na medida em que pode estruturar um ambiente adequado para a criança. Ela pode oferecer experiências que resultam numa promoção no desenvolvimento integral do aluno, desenvolvendo suas habilidades motoras e sua sociabilização, sendo possível trabalhar o corpo harmoniosamente nos aspectos físicos, cognitivos e psicossociais.

    Conforme Betti e Zuliani (2002), essa ação pedagógica a que se propõe a Educação Física será sempre uma vivência impregnada da corporeidade do sentir-se e do relacionar-se. A dimensão cognitiva estará sempre sobre esse substrato corporal. O professor de Educação Física deve auxiliar o aluno a compreender o seu sentir e o seu relacionar-se na esfera da cultura corporal de movimento.

    O intuito de analisar a história da Educação Física e a importância de uma nova concepção metodológica surgiu através da problemática situação desconfortável que a disciplina se encontra em âmbito escolar.

    Este trabalho tem como desígnio averiguar a história da disciplina de Educação Física no Brasil através de suas origens e influências, incluindo suas abordagens e perspectivas para o século XXI e discutir a importância da práxis nas aulas de Educação Física.

    Portanto, este trabalho tem a intenção, além de explicitar a importância da teoria na prática da ação pedagógica, tem a finalidade de expor que a disciplina não pode ficar apenas escondida e marginalizada em sua superficialidade de atividade recreativa, ela deve transpor o prestígio de desenvolver o indivíduo por inteiro -biológico, intelecto e social- através da cultura corporal incrementada com a práxis.

    Este trabalho está, portanto, subdividido em quatro tópicos, onde será discutido em “Modelos Ginásticos/Militarista”, “Esportivismo” e “Crise dos anos 80 e 90, abordagens e PCNs” a origem e a evolução da disciplina de Educação Física no Brasil, apontando princípios e influências históricas e as principais abordagens. Já, em “Educação Física no Século XXI”, é apresentado como deve ser a Educação Física no século XXI, que de acordo com Medina (1990), é proposto uma nova “revolução” da atuação prática da Educação Física e a importância da práxis no ato de ensinar, e por fim as Considerações finais.

Modelos Ginásticos/Militarista

    A incorporação das atividades e exercícios físicos no ambiente escolar se deu através da compreensão de que os mesmos contribuem para um melhor condicionamento físico, assim, segundo Arantes (2008), os primeiros professores de gymnástica1 no Brasil, foram soldados da guarda pessoal de D. Leopoldina.

    D. Leopoldina trouxe consigo um grupo pequeno, porém, muito importante formado por cientistas e pela sua guarda pessoal. Esta guarda pessoal praticava exercícios que foram adotados pelos nossos soldados. A partir deste fato, a prática da gymnástica foi gradualmente “ganhando espaços”. Vencendo os costumes, combatendo o preconceito e ampliando seus conteúdos a citada prática motora de então, hoje, educação física, é oferecida aos escolares brasileiros sem distinção de sexo, gênero ou classe social. (ARANTES, 2008, p.1)

    Ao analisar as circunstâncias históricas e sociais da inclusão de exercícios físicos no ambiente escolar, as tendências eugênicas e higiênicas se destacam, principalmente pela conjuntura e as necessidades que a sociedade brasileira suportava na época.

    Neste período, segundo Barni e Schneider (2003), a introdução da gymnástica tinha um caráter militarista, uma vez que, as aulas eram ministradas por militares. As atividades apresentavam aspectos de treinamento militar, onde o Professor tomava aparência de Instrutor e os Alunos de Cadetes.

    Os primeiros métodos pedagógicos foram os métodos de ginástica. Segundo Cunha Junior (2008, p.1):

    [...] em 1837, o CPII [Colégio Pedro Segundo – Rio de Janeiro] contratou seu primeiro Mestre de Gymnastica, o ex-Capitão do Exército Imperial, Guilherme Luiz de Taube, no ano de 1841. Acompanhemos um trecho da carta através da qual Taube ofereceu-se para “introduzir e ensinar os exercicios gymnasticos” na instituição: Aos pés do Throno Imperial de V. M. vém submissasse o cidadão Brasileiro, ex-Capitão do Exercito Imperial por Decreto de 24 de Novembro de 1830, supplicar uma graça [...] vém elle offerecer-se a V.M.I. p.a para introduzir e ensinar no Collegio, que tomou o glorioso nome de V.M., exercicios gymnasticos aos estudantes. Estes exercicios são reccommendados pela Revista Medica como meios de utilidade para a mocidade: estes exercicios são adoptados em todos os Collegios e Lyceos da Europa, como meios de desenvolver as forças do corpo, e tambem as d’alma2. [Citação respeitando a grafia da época]

    Segundo Paula (2012, p.1) a Educação Física no Brasil,

    foi inserida como componente curricular na escola oficialmente no século XIX, para ser mais preciso em 1851, desde a reforma Couto Ferraz, na qual tornou obrigatória nas escolas do município da Corte a prática de Educação Física. Em 1882, Rui Barbosa deu seu conselho sobe o projeto 224 – Reforma Leôncio de Carvalho, de 19 de abril de 1879, Decreto n°. 7.247, da Instrução Pública-, este defendia a questão de inserir a ginástica nas escolas dando vantagens iguais dos professores de ginástica aos dos outros componentes curriculares. (BRASIL, 1997). Ainda que a inquietação com a integração de exercícios físicos na Europa, remonte ao século XVIII, com inúmeros estudiosos, como por exemplo, Guths Muths, J. J. Rosseau, Johan Pestalozzi, entre outros.

    Soares (2012) divide os períodos históricos da Educação Física em quatro épocas: Brasil Colônia (1500 a 1822), Brasil Império (1822 a 1889), Brasil República (1889 a 1946) e Brasil Contemporâneo (1946 a 1980).

    No período colonial, segundo Soares (2012), o primeiro relato de exercícios físicos em território brasileiro, datasse da “descoberta” do território no ano de 1500, oriundas das cartas de Pero Vaz de Caminha, onde relatava coreografias baseadas em danças, saltos e giros, através do som produzido pela gaita de um dos portugueses.

    Mas, somente no Brasil Imperial que a as atividades físicas passariam a ter um caráter instrutivo, principalmente no ano de 1822, após o decreto de Rui Barbosa. Ao criar o Parecer “Reforma do Ensino Primário, Secundário e Superior” é introduzida a ginástica em instituições de ensino. A concepção da importância da ginástica é dada através da Educação Física em países mais desenvolvidos politicamente, principalmente europeus, que usufruíam do método para desenvolver o corpo e a alma de seus cidadãos (SOARES, 2012).

    De acordo com Soares (2012) esse projeto deveria se estender em todas as instituições de ensino, obrigatório em ambos os sexos (meninos e meninas), apesar de ser facultativo às meninas. Essa nova disciplina, seria ministrada no intervalo (recreio) e após as aulas. Vale lembrar que, inicialmente a gymnástica, foi incluída em parte do Rio de Janeiro, Capital da República na época, e em escolas militares. A gymnástica, para meninas representavam uma contradição à época, segundo Marçura (2004, p.7):

    [...] uma resistência forte se inicia nesse processo: os pais de filhos do sexo masculino, ainda que contra suas vontades, aceitaram essa forma de manifestação corporal, pois ela era praticada também nas instituições militares; mas, em contrapartida, aqueles que possuíam filhas (do sexo feminino) repugnaram qualquer possibilidade de vê-las fazendo essa atividade, considerada "não-condizente", ou ainda inadequada ao comportamento de uma "menina direita", ou de uma mulher da época.

    Segundo Arantes (2008), para incorporar a prática da gymnástica na época, inúmeros decretos, leis e atos oficiais foram criados. Um dos exemplos é representado pelo Decreto nº 8025 de 16 de março 1852 para os alunos das Escolas Normais. “O referido documento determinava exercícios disciplinares, movimentos parciais e flexões, marchas, corridas, saltos, exercícios piríricos, equilíbrio e exercícios ginásticos” (PAIVA; PAIVA, 2001, p. 1 apud ARANTES, 2008, p. 1). Explicitando ainda mais os métodos de preparação física militar.

    Dando um longo passo, no período da República, Soares (2012) divide a história da Educação Física em dois momentos: a primeira entre 1890 a 1930 (ano da posse de Getúlio Vargas) e a outra de 1930 a 1946.

    Na primeira etapa, ocorre a abrangência da gymnástica em território nacional, principalmente a partir de 1920, onde aumentou significativamente as reformas educacionais e a inclusão da disciplina em outros Estados da Federação (SOARES, 2008). Outra característica importante da época é a criação de diversas Escolas de Educação Física, onde estas tinham mais a especialidade de formar militares ao invés de professores.

    Porém, é na segunda metade que a Educação Física ganha abrangência nacional, em decorrência da criação dos Ministérios de Educação e Saúde, é a partir desse fato que a disciplina ganha conotação e obrigatoriedade em todas as instituições de ensino secundário (SOARES, 2008).

    Ao introduzir a disciplina na grade curricular escolar, foram adotados os modelos ginásticos desenvolvidos na Europa, como os métodos de ginástica sueca, alemã e francesa. Esses modelos cominavam num desenvolvimento eugênico, higienista e militarista. “O higienismo e o militarismo estavam orientados em princípios anátomo-fisiológicos, buscando a criação de um homem obediente, submisso e acrítico à realidade brasileira.” (SOARES, 2008, p.1).

    Por fim, Soares (2008), compreende o período Contemporâneo após a Segunda Guerra Mundial, 1939 a 1945, até primórdios da década de 1960, mais precisamente no ano de 1964, ano da derrubada de poder Democrático e posse dos militares, iniciando a Ditadura Militar no Brasil. O autor afirma que na época os métodos utilizados ainda eram os ginásticos e enfocava a calistenia3.

    Após a II Guerra Mundial (1939-1945), a ginástica perdeu espaço para o esporte que passou a ser hegemônico no Brasil. O contexto político, social, econômico e histórico do país nas décadas posteriores a guerra conduziram a uma tendência chamada de Educação Física Pedagogicista (GHIRALDELLI JUNIOR, 1994). Esta foi a concepção que reclamou na sociedade a necessidade de encarar a Educação Física não somente como uma prática capaz de promover saúde ou de disciplinar a juventude, mas de encarar a Educação Física como uma prática eminentemente educativa. (CHAGAS; GARCIA, 2011, p. 1)

Esportivismo

    Segundo Queiroz (2012), é a partir desse momento histórico que a Educação Física se apossa dos esportes e da mecanização dos movimentos, adquirindo característica sistemática e tecnicista, onde se destacava a performance e a aptidão física.

    O esporte passa a cumprir o mesmo papel que lhe foi designado a partir de sua criação na Inglaterra, uma forma de controle social utilizando-se principalmente da questão atrativa do movimento para impor a obediência sistemática às regras nele pré – determinadas, não cabendo nenhuma forma de questionamento. (QUEIROZ, 2011, p. 1)

    Soares (2008) afirma que, na época, o governo militar investia muito no Esporte e a disciplina de Educação Física consistia em um celeiro de esportistas, onde nas aulas seriam aprimorados o desenvolvimento motor e a performance dos alunos.

    O governo investia muito no Esporte para, justamente, diminuir as crises internas causadas pelo Regime e transmitir uma imagem de brilhantismo e desenvolvimento econômico da Pátria. Causando a falsa imagem de que está tudo muito bom.

    Dentre uma das importantes medidas que impactaram a Educação Física no período contemporâneo, está a obrigatoriedade da Educação Física/Esportes no ensino do 3º Grau, por meio do decreto lei no 705/69 (Brasil., 1969). Segundo Castellani Filho (1998), o decreto lei no 705/69 (Brasil., 1969), tinha como propósito político favorecer o regime militar, desmantelando as mobilizações e o movimento estudantil que era contrário ao regime militar, uma vez que as universidades representavam um dos principais pólos de resistência a esse regime. (SOARES, 2008, p. 1)

    Essa influência, que a Educação Física passou com o Esporte, a tornou submissa da mesma, já que, as aulas eram baseadas num prolongamento de uma instituição esportiva onde, dessa vez, o professor tomava posse de Treinador e o aluno em Atleta (SOARES, 2008).

    Os alunos que não tinham capacidade física ou biotipo4 de atleta eram excluídos da atividade. Algo que é comumente percebido nas aulas de hoje em dia, em pleno século XXI. Onde os “melhores” praticam a atividade, geralmente meninos, e os “piores” ficam ao redor da quadra assistindo as atividades, marcando pontos ou servindo de guarda trecos dos colegas que estão praticando a atividade.

    Segundo Soares (2008, p. 1):

    [...] o desporto torna-se uma paradigma na Educação Física brasileira, constituindo a base de todo o processo de formação profissional na área. É nessa época que se desenvolve a idéia do professor atleta, ou seja, o bom profissional de Educação Física deveria ser aquele que já tivesse praticado a modalidade que ensina e quanto melhor o atleta tivesse sido, melhor professor seria considerado. O extremo absoluto dessa ideia de profissional fica expresso nos pré – testes físicos a que os candidatos a cursar uma faculdade deveriam se submeter. Eram provas para testar a condição física e atlética do candidato como: corridas, natação, modalidades esportivas. Aqueles que não obtivessem índices desejáveis eram excluídos do processo de seleção.

    Na década de 1970, o tricampeonato mundial de futebol ganho pela Seleção Brasileira, foi utilizado como ferramenta de marketing para enaltecer a influência do esporte como êxito governamental do Regime Militar no Brasil, e que a nação estava no caminho certo, como potência internacional. O título, mais do que nunca, exaltou de tal maneira, as concepções da importância do investimento Esporte, que as aulas de Educação Física, uma vez por todas, se fixou somente no esporte de alto rendimento nas escolas.

    Marçura (2004) afirma que em um Parecer do Conselho Federal de Educação de 1971, a disciplina era definida como uma disciplina curricular e que estaria inserida na grade curricular como uma atividade, “uma ação que não necessitaria de uma reflexão teórica, ficando caracterizada então do fazer por fazer” (MARÇURA, 2004, p. 21).

    Analisando bem a frase citada por Marçura, fica evidente que as aulas na época eram baseadas apenas em atividades, sem a necessidade de um desenvolvimento intelectual e cognitivo por parte do aluno. Algo que, também, até os dias de hoje, são percebidas nas aulas de educação física, onde o aluno obedece às ordens do professor e reproduz mecanicamente a ação, sem conteúdo conceitual algum, culminando num “fazer por fazer”.

    Arantes (2012) complementa, afirmando que, em 1971, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) nº 5692 compreende as funções educacionais da disciplina de Educação Física:

    O programa recomendado para as aulas de Educação Física compreendia “um conjunto de ginástica, jogos desportos, danças e recreação, capaz de promover o desenvolvimento harmonioso do corpo e do espírito e, de modo especial, fortalecer a vontade, formar e disciplinar hábitos sadios, adquirir habilidades, equilibrar e conservar a saúde e incentivar o espírito de equipe de modo que seja alcançado o máximo de resistência orgânica e de eficiência individual” (SÃO PAULO, SE/CENP,1985, p. 158). (ARANTES, 2008)

    Em 1985 termina o Regime Militar no Brasil, porém, os métodos militares nas aulas de educação física não cessaram com o fim do Regime, se prolongando por muito tempo, sendo possível encontrar vestígios nos dias de hoje, como o Tecnicismo e o Esportivismo.

Crise dos anos 80 e 90, abordagens e PCNs

    Somente em 1996 há uma reformulação do tratamento a disciplina de acordo com a nova LDB nº 9394. É a partir desta Lei que as concepções sobre educação se dão corpo com caráter educativo e formativo. Onde a escola seria um lugar para desenvolver o aluno como um todo, um recinto que ampliaria o conhecimento, a informação e o desenvolvimento integral de cada aluno (ARANTES, 2008).

    Soares (2012) complementa afirmando que essa reformulação observa a importância da Educação Física, não apenas do aprendizado motor, mas também, no saber por que está fazendo e como relacionar-se nesse saber. Dessa forma, a Educação Física dever ser “trabalhada de forma interdisciplinar, transdisciplinar e através dos temas transversais, favorecendo o desenvolvimento da ética, cidadania e autonomia” (SOARES, 2012, p. 1)

    A Educação Física, desde sua inclusão nas instituições de ensino, com Rui Barbosa, veio se desenvolvendo a partir das mudanças socioculturais e politicas que ocorria no Brasil, sofrendo inclusive influências europeias na sua composição (nos modelos ginásticos, por exemplo). Atualmente, a disciplina toma importância crucial, não apenas no desenvolvimento motor do aluno, mas sua educação não fica apenas restrita ao corpo biológico.

    Castro (2010) comenta que a Educação Física tem a finalidade de educar as pessoas de acordo com a necessidade pessoal e humana de comportamento expressivo e questionável, utilizando o esporte e atividades corporais e motoras com finalidades tanto cultural, quanto de sobrevivência.

    No Brasil, entre as décadas de 1970 e 1980, a Educação Física passa por um processo de ressignificação e mudanças, vindas de correntes filosóficas que passam a ver a disciplina numa óptica diferente, decorrentes da rejeição de alguns pesquisadores se tratando de Educação Física e aproximando-a das Ciências Humanas.

    A partir desse momento uma revolução intelectual se instala e surgem várias abordagens para resinificar a disciplina, assim, despontam as abordagens em Educação Física. Atualmente, a disciplina possui um imenso leque de alternativas de abordagens desenvolvimentista, sócio construtivista, sócio interacionista, tradicionalista, psicomotricidade, cinesiológica, educação física Plural, aulas abertas, PCNs etc..

    Essas abordagens exalta a importância da Educação Física como componente escolar que constrói um ser pensante e crítico, introduzindo-o na Cultura Corporal do Movimento e que utilize este fenômeno em decorrer de sua vida.

Educação Física no Século XXI

    Atualmente a educação física deve ser constituída não do “fazer por fazer”, mas pelo “saber fazer” e “compreender o que está a fazer”. O conhecimento, diferentemente dos métodos ultrapassados, deve ser parte fundamental da aula. Os movimentos mecânicos reproduzidos pelos alunos, através da ordem do professor devem ser guardados e esquecidos, pois, essa metodologia era uma característica militar de maneira adestradora e que nada vale nos dias atuais.

    Betti (2002), afirma que a função da disciplina é introduzir o aluno na cultura corporal de movimento, assim tornando-o um ser autônomo e crítico para que possa absorver o esporte-espetáculo. Assim, o esporte não será visto como produto acabado por si só, sendo exclusivo das aulas de educação física, dessa forma, não passará a ser visto como o esporte na escola, mas como o esporte da escola.

    No século XXI, segundo Darido (2001, p.21):

    O papel da Educação Física ultrapassa o ensinar esporte, ginástica, dança, jogos, atividades rítmicas, expressivas e conhecimento sobre o próprio corpo para todos, em seus fundamentos e técnicas (dimensão procedimental), mas inclui também os seus valores subjacentes, ou seja, quais atitudes os alunos devem ter nas e para as atividades corporais (dimensão atitudinal). E, finalmente, busca garantir o direito do aluno de saber por que ele está realizando este ou aquele movimento, isto é, quais conceitos estão ligados àqueles procedimentos (dimensão conceitual).

    Segundo Betti (1991) apud Lorenz e Tibeau (2003) a Educação Física deve ir além do simples “saber fazer”, isto é, segundo o autor, não adianta correr ao redor da quadra; mas é necessário o aluno saber o porquê ele está correndo, que benefício fisiológico e motor esse tipo de atividade vai proporcionar, como correr, de que maneira correr, que frequência, tempo necessário, intensidade, algumas noções de frequência cardíaca e princípios do sistema respiratório etc.. Esse tipo de entendimento sobre o corpo é fundamental na construção de identidade corporal que o aluno deve desenvolver de si mesmo

    Agir na prática educativa e negligenciar a utilização de referenciais teóricos significa reproduzir uma consciência concretamente conservadora e tradicionalista, pois atualmente esse tipo de prática pedagógica não conta com nenhum tipo de argumentação que a sustente (BETTI; ZULIANI, 2002).

    De acordo com Betti & Zuliani (2002) a concepção em torno da Educação Física e os seus objetivos em âmbito escolar devem ser repensados em decorrência de sua transformação e da sociedade que se modifica a cada instante. Assim, a disciplina hoje assume um papel ultrapassado e desorientado. Os mesmos autores citam que, as aulas deveriam ser divididas em duas partes: parte Teórica e parte Prática. Na primeira parte, o aluno vai conhecer os temas a serem desenvolvidos na prática como as regras, conceitos, além do professor explicar o porquê será elaborado aquela atividade e propondo soluções aos problemas que aparecerão.

    Na segunda parte será desenvolvida a prática, será nesse momento que o aluno irá vivenciar a atividade com movimentos corretos que possibilitarão um aprendizado concreto, através da supervisão do professor que irá sanar quaisquer dúvidas que surgir no decorrer da atividade. E sempre com uma visão crítica e analítica dos conteúdos abordados.

    Uma Educação Física desenvolvida para o “saber pensar” e “saber fazer”, e não que saiba somente fazer, pois acreditasse que o seu real sentido da disciplina na escola não é ser recreacionista ou um momento refúgio das salas de aula, mas uma disciplina que utiliza a cultura corporal para capacitar o intelecto do discente, assim, é através do conhecimento acreditamos que os significados das aulas serão absorvidos pelo aluno e ele utilizará por si só em sua vida, que seja praticando atividades e almejando qualidade de vida, que seja para saber viver em sociedade.

Considerações finais

    A Educação Física sofreu mudanças significativas desde o princípio com embasamento médico/ortopédico e higiênico até os momentos atuais, onde ela ainda defende sua importância no âmbito escolar, utilizando método conservador e tradicionalista, mas buscando uma nova metodologia embasada na cultura corporal do movimento.

    Apesar de ser alienada aos processos políticos extrínsecos, a Educação Física modificou-se para servir aos ideais Estatais que sempre existiram. Porém, atualmente, no contexto em que vivemos, além de desenvolver a capacidade motora, afetiva e social do aluno, ela necessita ampliar a capacidade cognitiva e intelectual do discente e, portanto, a práxis pedagógica se torna a melhor escolha.

    A pesquisa histórica proporcionou uma melhor compreensão de ideologias e influências que a disciplina utilizou para desenvolver as capacidades dos alunos. Cada momento histórico resultou numa abordagem prática diferente, provocadas por intervenções extrínsecas, geralmente políticas. A utilização da Ginástica tinha um propósito de eugenizar o corpo, isto é, melhorar a raça humana através de atividades físicas, assim, tornando o Homem forte, tornaria a Pátria igualmente forte. A utilização do Esportivismo, tendo em vista o alto rendimento, buscava outra finalidade.

    A disciplina de Educação Física, hoje, deve desvincular a sua imagem de uma “Atividade” sem importância na grade curricular e se apresentar como “Aula”. Visando uma aula onde o aluno saiba o que está fazendo, porque está fazendo e como se deve fazer, e não apenas fazendo com que os alunos executem mecanicamente as atividades através do fazer por fazer, onde ele (aluno) finge que aprende e o professor finge que “ensina”. Atualmente necessitamos de uma práxis em Educação Física, isto é, fundir a Teoria e a Prática nas aulas, para desenvolver tanto as capacidades motoras e afetivas, quanto às cognitivas, além de expor a importância científica e educacional que a disciplina deveria representar em seu contexto.

Notas

  1. Gymnástica era a denominação, na época, do que conhecemos hoje de Educação Física Escolar.

  2. A carta foi encontrada junto ao ofício enviado pelo Reitor Joaquim Silva ao Ministro do Império em 9/06/1841 (pasta IE4-29). Este documento está disponível à consulta no Arquivo Nacional (Rio de Janeiro). (CUNHA JUNIOR, 2008, p.1)

  3. Com a origem na ginástica sueca, apresenta-se com uma divisão de oito grupos de exercícios localizados associando a música ao ritmo aos exercícios que são feitos à mão livre usando pequenos acessórios para fins corretivos, fisiológicos e pedagógicos.

  4. Segundo o Dicionário Aurélio, biotipo é a classificação dos indivíduos humanos em número limitado de tipos (morfológicos, fisiológicos, psicológicos e genéticos) ou características.

Referências bibliográficas

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