Educação Física e bullying: o ponto de vista docente La Educación Física y el bullying: el punto de vista del docente Bullying and Physical Education: the teaching point of view |
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*Professor de Educação Física, graduado pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) **Doutorando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de São Carlos (PPGE/UFSCar). Membro de Núcleo de Estudos de Fenomenologia em Educação Física (NEFEF), secretário adjunto da Sociedade de Pesquisa Qualitativa em Motricidade Humana (SPQMH). Professor de Arte na rede estadual paulista (SEESP) |
Vinícius Fernandes de Souza Silveira* Paulo César Antonini de Souza** (Brasil) |
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Resumo O presente artigo traz compreensões advindas de entrevistas com docentes de Educação Física em escolas públicas, no interior do estado de São Paulo, a respeito da importância que esses profissionais possam ter no processo de minimização do Bullying escolar. No desenvolvimento deste trabalho, realizado por meio de uma pesquisa qualitativa, foi utilizada como instrumento de coleta de dados uma entrevista semi-estruturada, com professores de Educação Física na ativa. Após a transcrição das entrevistas, as categorias de análise propostas por GOMES (1994), compostas de Pré-análise, Exploração do material e Tratamento dos resultados obtidos e interpretação, foram encontradas três categorias: Compreensões do Bullying; Relação professor de Educação Física e aluno, e Possibilidades de ação. Considerações que destacam a aula e o profissional de Educação Física como potencialmente aptos para a minimização do fenômeno Bullying nas escolas, objetivo inicial desta pesquisa, encerram os resultados da presente investigação. Unitermos: Bullying. Estratégias de intervenção. Educação Física.
Abstract This paper presents the understandings coming from interviews with teachers of physical education in public schools in the state of São Paulo, about the importance of these professionals may have in school Bullying minimization process. In developing this research, carried out through qualitative methods, used as an instrument of data collection a semi-structured interview, conducted with teachers of Physical Education on active duty. After transcribing the interviews, the categories of analysis proposed by Gomes (1994), composed of Pre-analysis, exploration of materials and treatment and interpretation of the results obtained, three categories were found: Insights Bullying; Relations Physical Education teacher and student and Possibilities of action. Considerations that highlight classroom and physical education professional as potentially suitable for minimizing the phenomenon Bullying in schools, initial objective of this research, enclose the results of this research Keywords: Bullying. Intervention. Physical Education.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O presente artigo busca trazer a partir de uma análise da opinião de profissionais de Educação Física sobre o tema Bullying, considerações que visem auxiliar a prática docente em processos que visem a minimização do fenômeno no ambiente escolar. Este tema, muito abordado na mídia e em escolas de todo o Brasil, ainda aparece como um fenômeno controverso em suas manifestações.
Tanto por experiência discente durante o ensino básico, quanto por observações em minha incursão no papel de docente, e em diálogos com estudantes, notamos que nas aulas de Educação Física há mais declarações de ocorrências desse fenômeno. Acreditamos que essa centralização do fenômeno na Educação Física, encontre suporte pela forma diferenciada como estas aulas se realizam, pois é durante esse momento do tempo escolar que os e as discentes se expõem de forma mais direta com os colegas de turma, na experimentação de movimentos e habilidades motoras em atividades práticas.
Sendo as práticas esportivas, ainda nos dias de hoje, o conteúdo curricular mais utilizado nas aulas de Educação Física, a promoção de competições e disputas alicerçadas na dicotomia vitória/derrota, muitas vezes amparadas de maneira de forma exagerada ou sem controle, podem contribuir com a exclusão social e até em casos mais graves, com o Bullying. Como lembra Tubino (1993), no esporte educacional é utilizada a pratica esportiva e esse uso equivocado reproduz o esporte rendimento.
Além do rendimento e habilidades físicas, aspectos físicos se evidenciam no esporte. E não raro, observamos que é com base na aparência ou forma física, exposta pelos trajes ou pelas ações desenvolvidas nessas práticas, o ponto de inspiração para a criação de apelidos – alguns com forte acento pejorativo. Em casos específicos, a rejeição discente por um apelido, não raro culmina em agressões, que da forma verbal, passam rapidamente para ataques físicos.
Mesmo com a frequência com que o tema é tratado hoje em dia pelos meios de comunicação, o assunto é visto com preocupação por grande parte dos educadores, porém nem todos tem o esclarecimento adequado a respeito do assunto e menos ainda, modos para confrontar ou enfrentar o fenômeno (SOUZA, 2009). As reflexões que originaram esse artigo pautaram-se pela busca em compreender a forma como o Bullying é visto pelos professores de Educação Física, fundamentado por dados coletados em uma investigação que objetivava as compreensões da problemática do fenômeno nas aulas do referido componente curricular (SILVEIRA, 2012).
Notas sobre o Bullying e a Educação Física na escola
O Bullying é a ação, é o fenômeno caracterizado por agressões tanto físicas quanto verbais, estruturado em uma frequência de práticas para humilhar e desmoralizar uma pessoa do grupo. (BESSA, 2004; FANTE, 2005; OLIVEIRA; VOTRE, 2006). No recorte dado a este estudo, nos orientamos pelas descrições que indicam ser o Bullying um fenômeno que tem por alvo meninos e meninas com destacada falta de habilidades em relação aos demais colegas da turma, estudantes que se destacam por ser mais dedicados aos estudos, intitulados de “nerds”, mas, fundamentalmente, estudantes com aspectos físicos diversos de padrões estético-sociais estabelecidos pela mídia: pessoas obesas ou magras, negras ou muito brancas, que manifestam trejeitos homossexuais, etc. Segundo Cleo Fante (2005):
O Bullying começa frequentemente pela recusa de aceitação de uma diferença, seja ela qual for, mas sempre notória e abrangente, envolvendo religião, raça, estatura física, peso, cor dos cabelos, deficiências visuais, auditivas e vocais; ou é uma diferença de ordem psicológica, social, sexual e física; ou está relacionada a aspectos como força, coragem e habilidades desportivas e intelectuais (p. 29).
Compreendemos, então, o Bullying como uma violência, agressão entre pares que pode ocorrer de forma moral ou física com a intenção de subjugar/humilhar a vítima que é escolhida pelo(s) agressor(es) através de sua inabilidade em livrar-se de situações constrangedoras, disfarçadas em brincadeiras cuja crueldade é intrínseca. O Bullying ocorre em diferentes ambientes sociais e diferentes grupos etários mas, para esta pesquisa é focado o fenômeno Bullying como forma de violência na escola e principalmente nas aulas de Educação Física. Com relação a isso, Furtado e Morais (2010) afirmam que:
A Educação Física ao tratar de temas como a ética pode atuar de maneira positiva na prevenção do Bullying, pois ao levantar questões relevantes onde se prioriza o convívio escolar, como o respeito mútuo, o diálogo, a justiça, a solidariedade, valores que podem ser exercidos dentro de contextos significativos, estabelecidos em muitos casos de maneira autônoma pelos próprios participantes. E podem, para além de valores éticos tomados como referência de conduta e relacionamento, se tornar procedimentos concretos a serem exercidos e cultivados nas práticas da cultura corporal (FURTADO; MORAIS; 2010, p.62 ).
Nas aulas de Educação Física, dentro da estrutura em que o componente curricular é ministrado, é natural a competição em relação a motricidade humana, em que se observa capacidades e hailidades, que os jogos e esportes podem ser origem de conflitos entre os alunos. Cabe ao professor estar atento para intervir e evitar qualquer tipo de trauma, e assim evitar casos tristes e infelizes.
Nas aulas de Educação Física escolar um importante fator “estopim” da prática de Bullying é a questão da habilidade e desempenho, em séries mais avançadas torna-se difícil convencer os menos habilidosos, a participar da aula. Com o passar do tempo os alunos se sentem desestimulados a participar caso não tenham desenvolvido alguma habilidade no decorrer de suas vidas.
Oliveira e Votre (2006) relacionam a habilidade esportiva à questão de gênero, onde meninos com pouca aptidão e meninas com capacidades motoras acima da média são alvos de chacota e exclusão, uma vez que se relacionam as atividades físicas propostas na Educação Física Escolar à traços masculinos ou femininos, considerando alguns esportes como de menina ou de menino como vôlei e futebol por exemplo. Os autores dizem ser mais aceita socialmente a menina cuja habilidade se destaca na prática esportiva do que o garoto inábil nestas atividades.
O futebol – no Brasil - é um jogo identificado como sendo masculino, porque as qualidades sociais atribuídas aos homens, como virilidade, agressividade e competitividade, entre outras, são toleradas e estimuladas no jogo de futebol, que é muito praticado, quase exclusivamente por garotos, nos espaços públicos e nas ruas (OLIVEIRA; VOTRE, 2006, p.191).
Esses valores são culturais e, portanto, variam em seu contexto social histórico bem como a imagem padrão para se designar as diferenciações entre os sexos e a auto-imagem construída nos alunos. Pautando-se na auto-imagem, Fante (2005) e Botelho; Souza (2007) citam o projeto anti-Bullying do Ministério da Educação Finlandês cuja tradução para o português é “Uma Confiança Sadia em Si Mesmo”. Esse programa visa oferecer recursos pedagógicos, seminários e materiais educativos para a prevenção do Bullying através do fortalecimento da imagem que os alunos têm de si mesmos, fornecendo ferramentas para que se reduza o número de possíveis vítimas.
Portanto, é preciso atenção, pois ao meu ver, cabe ao professor se preparar e intervir para que não haja casos de Bullying em sua aula, em quadra ou sala, podendo assim evitar uma confusão e/ou uma futura fatalidade. Pensando nisso, investigando a dinâmica pedagógica de professores de Educação Física, através da metodologia descrita a seguir, podemos entender como tem sido a atuação dos profissionais desse componente curricular com relação ao Bullying, e assim refletir de que maneira eles podem intervir diante desse fenômeno.
Procedimentos metodológicos
Para atingir o objetivo do estudo que é comprender a problemática do Bullying nas aulas de Educação Física, de maneira a encontrar possibilidades para minimizar o fenômeno partindo da intervenção do professor desse componente curricular, esta pesquisa se sustentou em uma metodologia qualitativa, utilizando entrevistas semi-estruturadas, realizadas nas aulas e escola de cada professor entrevistado, pois esta modalidade, segundo Negrine (1999) permite ao entrevistador maior flexibilidade na dinâmica de entrevista. As entrevistas foram registradas em um gravador de voz portátil (celular) onde foram proposta as seguintes perguntas para levantamento de dados:
1) O que você conhece/entende sobre o fenômeno Bullying? De onde vem esse conhecimento?
2) Você já percebeu situações que achou que era Bullying?
2a) Qual foi sua intervenção em relação a situação?
2b) Que postura os alunos mostraram a partir da sua intervenção?
3) Qual seria sua intervenção frente a um caso de Bullying?
Como campo para a intervenção foram escolhidas 5 escolas públicas do município de São Carlos, onde a população pesquisada foi composta professores de Educação Física dessas escolas, e a observação aos alunos ficou entre as séries do ensino fundamental e o ensino médio. Foram observadas 6 aulas das turmas da 7ª e 8ª séries do ensino fundamental, e 8 aulas dos 1º e 2 º anos do ensino médio, de 3 escolas estaduais de São Carlos distintas. Os sujeitos entrevistados na pesquisa foram 6 professores de Educação Física de 5 escolas diferentes, sendo 3 homens e 3 mulheres, da rede estadual de São Carlos. Entretanto foram consideradas apenas 5 entrevistas na análise dos dados, pois um dos professores antes de realizar a entrevista disse com suas palavras “Antes de gravar, eu vou falar o que eu realmente acho do Bullying”. E depois que fez a sua fala, permitiu a gravação da entrevista, mudando completamente o conteúdo do seu discurso. Com isso consideramos que nessa entrevista não havia informações sinceras e relevantes, o que justificou sua retirarada da análise de dados.
Com relação a aspectos éticos, a participação dos sujeitos envolvidos na pesquisa esta associada a um termo de consentimento livre e esclarecido, ficando claro que os dados obtidos nesse estudo terão fim único e exclusivamente acadêmico. O nome dos professores foram substituídos por nomes fictícios escolhidos por eles mesmos. De posse das entrevistas gravadas, as transcrições contendo a fala dos participantes, como se apresentam, em respeito à sua cultura original, deram base para a continuidade da análise, que se realizou mediante os fundamentos das Categorias de Análise proposta por GOMES (1994), cujo método visa à significação profunda das falas, organizado em três fases, a saber: a) Pré-análise, b) Exploração do material e c) Tratamento dos resultados obtidos e interpretação. Por meio da análise dos dados coletados foram criadas três categorias: Compreensões do Bullying; Relação professor de Educação Física e aluno, e Possibilidades de ação.
Apresentação e discussão dos resultados
Compreensões do Bullying
Nesta categoria observamos que cada um dos professores tem uma compreensão distinta do que é o Bullying, e a seguir eles apontam o que eles acreditam ser o fenômeno. Também notamos que de certa forma os professores acreditam que esse fenômeno sempre ocorreu, contudo só ultimamente o nome Bullying foi denominado a esse tipo de ação.
[...] normalmente o Bullying é uma violência velada, é, você só percebe se você tem um algum entendimento sobre o que é o Bullying, é, existem vários tipos de expressão, existem vários jeitos de ele se manifestar e normalmente a vitima é a ultima a se defender do Bullying, por que ela também nem sabe que esta sendo vitima de Bullying, ela apenas sente (Cidinha).
Para mim o Bullying sempre existiu, a única coisa que aconteceu, foi o nome que mudou, o tirar, o famoso tirar sarro, sacanear o amigo, desde a época dos nossos avós, sempre existiu isso, só que agora tudo virou modinha, então o Bullying ta na moda, é assim que eu entendo o Bullying (Taís).
É na verdade assim, eu conheci esse, esse, esse termo Bullying, né? Quando eu fiz a faculdade de pedagogia em 2002, 2003, e a gente começou a estudar a respeito desse assunto e tal, mas a bem da verdade ele sempre existiu, né?! Desde os primórdios né?! Só que não era tão conhecido e tão e assim, tão discutido essa questão né, eu acho que hoje a gente tem um conhecimento mais aprofundado sobre esse fenômeno mas ele sempre existiu, né?! (Tito).
Nas compreensões sobre Bullying apresentadas pelos professores participantes da pesquisa, alguns citam o tirar sarro, o zombar, a perseguição constante, já outro docente cita até mesmo a agressão física como sendo parte desse fenômeno. Estando de acordo com a literatura que definem o Bullying também com essas características, segundo Oliveira; Votre (2006) o conceito de Bullying :
[...] mapeia o universo dessa tirania de forma bastante precisa: é um comportamento cruel, portanto marcado pela intencionalidade em atingir objetivos eticamente condenados; é intrínseco nas relações interpessoais, e que pode verificar-se sempre que duas ou mais pessoas interagem, convivem, compartilham espaço de qualquer natureza [...]. (p. 174)
Mas todos acreditam que isso já ocorria nas escolas há muito tempo, só não havia essa nomenclatura ao que eles acreditam ser o Bullying.
Relação entre professor de Educação Física e aluno
Nesta categoria é possível observar que os professores de Educação Física dizem ter um maior contato ou até mesmo uma relação de amizade com os alunos. Pelas suas entrevistas fica claro que os docentes acham que como as aulas de Educação Física tem o costume de ser fora da sala de aula, e envolver jogos, esportes e brincadeiras, nesse componente curricular, os alunos acabam se abrindo mais e as vezes até mesmo fazendo desabafos e confissões a eles.
[...] então eu acho que é o espaço mais fácil de você descobrir os casos de Bullying, e os alunos se abrem muito pro professor de Educação Física. [...] Eu acho que o professor de educação física principalmente é, é, faz parte integrante desse processo todo porque é com ele que o aluno vai se abrir, é ele que tem que ter aquela visão geral porque a criança na sala de aula tem um comportamento e na quadra é outro, na quadra ele é o que é e não tem como, como ah você deixar de ver uma situação de Bullying é muito difícil, só se você realmente não tá a fim mesmo (Cidinha).
Nós conseguimos intervir com mais facilidade que outras disciplinas [...] porque o professor de Educação Física se aproxima muito das crianças, sabe, enfim do aluno em si né, a gente tem um momento mais, é, descontraído. [...] Uma liberdade maior pra poder é, conversar e, e ate mesmo chamar atenção sempre que criar uma situação de constrangimento (Tito).
Assim alguns acreditam que essa relação mais próxima ao aluno pode ajudar a descobrir e flagrar casos de Bullying, e posteriormente auxiliar a atuar e intervir contra esse fenômeno. Um exemplo de intervenção, aproveitando essa proximidade entre professor de Educação Física e aluno, segundo a literatura sobre o assunto é fazer o aluno refletir sobre seus atos, como também orientam Botelho e Souza (2007):
Possibilidades de ação
Por meio das repetitivas leituras das entrevistas, foi notório que os professores tem como meios de intervenção alguns métodos próprios para atuar contra o Bullying. Como método mais utilizado e convergente entre eles, se destaca a conversa. Observando também que eles adotam essa ação como a primeira tentativa de intervir no fenômeno.
Que nem eu disse, quando eu percebo que é uma vítima de perseguição, uma coisa muito intensa em cima de uma mesma, de uma mesma criança, ou de um adolescente, eu procuro intervir como? Conversando. (Taís)
Então, é, o que que eu fiz? Conversei com as crianças, com os outros alunos né, falando que ele tinha deficiência mas que ele não era impossibilitado, que ele tinha condições. (Maria)
Porém como citado anteriormente nesse estudo, essa atitude os professores adotam como a primeira intervenção. Após essa tentativa de conversa, cuja aproximação à perspectiva dialógica de Paulo Freire (1987) é bastante próxima, eles acabam tomando como intervenção métodos diferentes para tentar minimizar o Bullying em suas aulas. Para uma das docentes a forma mais eficaz de minimizar o Bullying nas suas aulas foi por meio da conscientização. Segundo ela conscientizar os espectadores, foi a forma que ela encontrou de inibir casos desse fenômeno em sua aula, pois segundo ela:
[...] a conscientização da plateia, daqueles que assistem, é fantástico, quando eles já sabem o que é, e qual é o papel deles nesse fenômeno, qual que é a função deles em toda essa problemática, eles começam a se tocar “ Não, não posso assistir uma briga, não posso concordar com isso” Eles acabam que levando esse comportamento até pra casa mesmo, eles mesmos passam a me ajudar detectando quais são as vitimas da escola, eles , eles passam a fazer parte de um processo de uma maneira mais positiva. (Cidinha).
Na entrevista a professora diz que o ideal é haver um planejamento para se trabalhar com o Bullying, mas que trabalhando no dia a dia, observando, e tentando conscientizar os envolvidos no fenômeno, já se alcança algum resultado considerável. Para alguns docentes a maneira de se resolucionar esse problema no âmbito escolar ter no diálogo uma estratégia de estímulo à empatia e alteridade, para os alunos refletirem se eles gostariam de sofrer uma agressão, como a que eles estão praticando, e também para respeitarem as diferenças dos outros indivíduos, buscando a sensibilização dos agressores.
Eu sempre tento intervir de uma forma assim: ah, colocar a situação, olha, e se fosse você, você ia gostar? [...] então um não pode falar do outro porque eles também são diferentes, e isso quando existe bastante diferenças, você não tem muito o que falar, “ah ele é do bairro tal, mas o outro também é do bairro tal” não tem como, então aqui a gente não vê muito o Bullying agora(Maria).
Para casos mais graves ou com muitas repetições alguns professores tem a opção por chamar os pais ou responsáveis, ou levar os alunos envolvidos para a diretoria, atendendo ao regimento interno da escola.
[...] se for reincidente, ai a gente vai tentar uma atitude um pouquinho mais firme, chamar a atenção um pouco mais rígido, entendeu? A ponto de se não para, a gente chegar e tomar providencias já de normas da escola do regimento interno, pra que isso não acontece, por que já ta saindo do normal da sala de aula (Gilson).
Além dessas possibilidades de ações proposta pelos professores entrevistados, a literatura sobre o Bullying também sugere trabalhar da seguinte forma:
Outras estratégias relevantes para a prevenção desse fenômeno seriam a elaboração e a utilização, em aulas de educação física, de materiais impressos, como livros infantis, infanto-juvenis, gibis ou literatura de cordel, que discutam criticamente o Bullying. Tais materiais, além de excelentes recursos pedagógicos, têm uma maior disseminação entre as crianças. (Botelho; Souza, 2007, p. 68).
Considerações finais
Através do trabalho desenvolvido, encontramos algumas respostas satisfatórias com relação a atitudes e possibilidades de ações tomadas pelos professores, outras, ou a falta delas, me deixaram aflito com relação ao futuro que esse fenômeno pode alcançar se o educador, apenas observar e não agir ativamente contra o Bullying. Como compreensão do que é o Bullying, se convergiram algumas respostas das entrevistas, sendo elas o tirar sarro, o zombar, a perseguição constante, até mesmo a agressão física, mas é interessante notar, que foi possível através das entrevistas, observar que dois professores citaram que conheciam o fenômeno por meio de cursos.
Eu não sei até que ponto os estudantes de hoje tem saído da faculdade estão preparados pra trabalhar com esse fenômeno, mas o Estado tem preparado bastante os professores, eu fiz um curso um curso de 30 horas sobre Bullying eu entendi a seis sete anos atrás quando nem se falava do tema eu já dava e já percebi que naquela época eu já trabalhava com isso. (Cidinha).
Esse registro nos mostra que, se o professor tiver interesse e vontade de saber mais sobre o fenômeno, é possível se interar sobre o assunto, e por meio desses cursos e estudos se prepararem melhor para agir contra o Bullying.
Como meio efetivo de intervenção ficou claro que a relação e proximidade que o professor de Educação Física tem com os alunos pode auxiliar na ação contra o fenômeno, pois os discentes levam muito em consideração o que diz o educador desse componente curricular. No que diz respeito ao componente curricular Educação Física, a literatura específica apontou que a ocorrência do Bullying é ligada principalmente ao quesito do desempenho esportivo e, atrelado a esse desempenho, características físicas são frequentemente ridicularizadas com o intuito de subjugar e humilhar o colega. Importante lembrar, que o professor de Educação Física pode ajudar a “eleger” a vítima de Bullying e portanto, deve atentar para que suas atitudes e comentários não desqualifiquem o aluno.
Foram encontradas diversas sugestões que acredito ser realmente a coisa certa a ser feita para se minimizar o Bullying na escola. As respostas que mais surgiram foram a conversa e o dialogo, que é convergente também com as medidas sócio-educativas sugeridas na literatura, que aplicadas através do dialogo e da modificação das práticas que vinham causando exclusão podem colaborar para um ambiente emocionalmente livre de hostilidades. Segundo Freire (1987):
O diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode redurzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco torna-se simples troca de idéias a serem consumidas pelo permutante (FREIRE, 1987, p.45).
Mostrando assim, que a pedagogia dialógica busca uma educação comprometida com a comunidade, na qual a relação entre os seres humanos baseia-se no diálogo que parte da problematização de uma situação comum ao grupo, em busca também da conscientização. Creio que como citado por uma professora, a conscientização dos envolvidos no fenômeno é uma intervenção que através do dialogo se faz de certa forma, rapidamente, e se mostrou muito eficaz no combate ao Bullying.
Em contribuição aos processos educacionais que objetivam um ambiente escolar com menor propensão a ações hostis, apontamos que a Educação Física pode desenvolver conceitos éticos de respeito ao outro, a si próprio e a diversidade, seja ela de gênero ou cultural, através de esportes/atividades coletivas ou individuais, sendo papel do professor administrar essas intervenções buscando meios de prevenir o Bullying evitando casos e protegendo as vitimas de seus agressores.
Referências
BESSA, Marcelo. Discutindo a agressão nos colégios: entrevista com Aremis Lopes Neto.2004 Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/jornal/materias/0176.html. Acesso em: 13 nov. 2012
BOTELHO, Rafael Guimarães; SOUZA, José Maurício Capinussú de. Bullying e Educação Física na Escola: características, casos, conseqüências e estratégias de intervenção. Revista de Educação Física, Rio de Janeiro, v. 139, p. 58-70, dez. 2007.
FANTE, Cléo. Fenômeno Bullying: Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz. Campinas: Ed. Artmed, 2005
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
FURTADO, Dienny Salomão; MORAIS, Paulo José Dos Santos de. Bullying nas aulas de Educação Física e o papel do professor. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Agosto, 2010. nº 147. http://www.efdeportes.com/efd147/bullying-nas-aulas-de-educacao-fisica.htm
GOMES, Romeu. A analise de dados em pesquisa qualitativa. In: MINAYO, Maria Cecília de Sousa. Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Vozes, 1994, pp. 67 -79.
NEGRINE, Airton. Instrumentos de coleta de informações na pesquisa qualitativa. In: MOLINA NETO, Vicente; TRIVIÑOS, Augusto. N. S. (Org.). A pesquisa qualitativa na educação Física: alternativas metodológicas. Porto Alegre: Universidade/UFRGS/Sulinas, 1999, p. 61-93.
OLIVEIRA, Flávia F.; VOTRE, Sebastião J. Bullying nas aulas de educação física. Espaço Aberto; Porto Alegre, v. 12, n. 2, p.173-197, 2006.
SILVEIRA, Vinícius Fernandes de Souza. A intervenção do professor de educação física para a minimização do bullying na escola. 2012. 45 f. Monografia. (Licenciatura em Educação Física) Departamento de Educação Física e Motricidade Humana, Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2012.
SOUZA, Paulo César Antonini de. Bullying escolar: ação e reflexão discentes. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, n. 134, p.1-12, jul. 2009. http://www.efdeportes.com/efd134/bullying-escolar-acao-e-reflexao.htm
TUBINO, Manoel José Gomes. Uma visão paradigmática das perspectivas do esporte para o início do século XXI. In: GEBARA, Ademir et al. Educação física e esporte: perspectivas para o século XXI. Campinas: Papirus, 1993. p. 125 - 141.
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