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Avaliação do desenvolvimento motor de crianças da educação infantil

Evaluación del desarrollo motor en niños de nivel inicial

Evaluation of motor development of children of early childhood education

 

*Discente do Curso de Fisioterapia

da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)

**Fisioterapeuta. Docente

da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA)

(Brasil)

Maurício Santana Pires* | Paola Moreira Floriano*

Elisandra Plate Fontoura* | Fernanda Massari Almeida Muñoz*

Chayene Luiz dos Santos* | Laura Saraiva dos Santos*

Eloá Maria dos Santos Chiquetti** | Christian Caldeira Santos**

Ângela Kemel Zanella**

mauricio.spires@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: O desenvolvimento motor é um processo seqüencial, relacionado à idade cronológica, trazido pela interação entre os requisitos das tarefas, a biologia do indivíduo e as condições ambientais, sendo inerente às mudanças sociais, intelectuais e emocionais. Dessa forma, há uma estreita relação entre o que a criança é capaz de aprender (cognitivo) com o que é capaz de realizar (motor). Assim, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o desenvolvimento motor de crianças típicas com média de idade cronológica de 65,87 meses de uma escola de educação infantil do município de Uruguaiana/RS. Metodologia: Aplicou-se a Escala de Desenvolvimento Motor proposta por Rosa Neto (2002). A análise descritiva dos dados foi feita através da média, desvio padrão, valor mínimo e valor máximo e a correlação das variáveis pela Correlação Linear de Spearman, com valor de p < 0,05 e p < 0,01. Resultados: as crianças avaliadas apresentaram desempenho considerado normal baixo na média. Houve alta relação entre Idade motora geral (IMG), Quociente motor geral (QMG) e idade negativa; e entre lateralidade e mãos. Conclusão: Os resultados deste estudo associados à consulta da literatura da área denotam a carência que crianças típicas, em geral, têm em relação à vivência motora, que tem direta relação com o intelecto.

          Unitermos: Desenvolvimento motor. Escala de Desenvolvimento Motor. Educação Infantil.

 

Abstract

          Introduction: Motor development is a sequential process, related to chronological age, brought by the interaction between the requirements of the tasks, the biology of the individual and the environmental conditions, being inherent to the social, intellectual and emotional. Thus, there is a close relationship between what the child is capable of learning (cognitive) what is able to perform (motor). The objective of this study was to evaluate the motor development of children with typical mean chronological age of 65.87 months of a child's education school municipality of Uruguaiana/RS. Methodology: applied to Motor Development Scale proposed by Rosa Neto (2002). A descriptive analysis was performed by mean, standard deviation, minimum and maximum value and correlation of variables by Spearman linear correlation, with p<0.05 and p<0.01. Results: children evaluated had low performance considered normal average. There was a high relationship between general motor Age (IMG), General Motor Quotient (GMQ) and negative age and between handedness and hands. Conclusion: The results of the literature associated with the query area denote the grace that typical children in general have towards the living motor, which has direct relationship with the intellect.

          Keywords: Motor development. Motor Development Scale. Child rearing.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A primeira infância corresponde de zero a seis anos de idade e este é um período crucial na vida da criança, pois tudo que está relacionado ao seu desenvolvimento físico, emocional, afetivo e cognitivo se inicia nesta fase (NEWCOMBE, 1999).

    O desenvolvimento motor, nesse sentido, é um processo seqüencial, relacionado à idade cronológica, trazido pela interação entre os requisitos das tarefas, a biologia do indivíduo e as condições ambientais, sendo inerente às mudanças sociais, intelectuais e emocionais. Inclui tanto habilidades de movimento – freqüentemente denominadas habilidades motoras grosseiras, tais como engatinhar, caminhar, correr e andar de bicicleta – quanto habilidades manipulativas, freqüentemente denominadas habilidades motoras finas, tais como agarrar ou pegar objetos, segurar um lápis ou enfiar linha em uma agulha (GALLAHUE, 2005).

    Crianças de 4 a 6 anos, por exemplo, sobem e descem escadas usando um pé por degrau, caminham na ponta dos pés e sobre uma linha fina, saltam, atiram e pegam razoavelmente bem (habilidades motoras grosseiras); e enfiam linha em contas, em agulhas, seguram o lápis naturalmente, mas escrevem ou desenham com rigidez e concentração - habilidades motoras finas - (BEE, 2011).

    É na infância, particularmente, no início do processo de escolarização, que ocorre um amplo incremento dessas habilidades motoras, que possibilita à criança um amplo domínio do seu corpo em diferentes atividades (SANTOS, 2004).

    De encontro a isso, o fracasso escolar é um dos mais graves problemas com o qual a realidade educacional brasileira con­vive há anos. Sabe-se que tal situação ocorre com maior freqüência nos primeiros anos da escolarização. Entre os inúmeros fatores a ele relacionados está a dificuldade de aprendizagem, sério problema na realidade brasileira. A realidade encontrada nas escolas muitas vezes dá conta das dificuldades do professor em diagnosticar os reais problemas de aprendizagem do educando. A dificuldade em se considerar o educando como um todo, muitas vezes, faz com que o professor considere importante apenas o aspecto cognitivo, não relacionando a experiência motora como fator também influenciador no processo de aprendizagem da criança (SOUZA; SISTO, 2001).

    Entretanto, a aquisição de um bom controle motor permite à criança construir as noções básicas para seu desenvolvimento intelectual (ROSA NETO, 1996 apud ROSA NETO et al., 2007). Assim sendo, há uma estreita relação entre o que a criança é capaz de aprender (cognitivo) com o que é capaz de realizar (motor). Isso significa que, ao conquistar um bom controle motor, a criança estará construindo as noções básicas para o seu desenvolvimento intelectual (ROSA NETO et al., 2010).

    Ainda, mesmo crianças sem dificuldades na aprendizagem (com bom desempenho escolar), não estão imunes a um desenvolvimento motor deficitário, pois simplificar essa relação seria negar os conceitos de continuidade, individualidade no processo desenvolvimentista (GALLAHUE, 2005).

    Ainda, apesar da inquestionável relevância e importância dessa área de conhecimento e da extensa literatura a respeito de populações específicas, como obesos, sedentários ou crianças com dificuldade de aprendizagem, existem poucos estudos relativos à população considerada como “típica”.

    Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho foi avaliar o desempenho motor de crianças típicas de uma escola de educação infantil do município de Uruguaiana/RS.

Metodologia

    Este é um estudo quantitativo, que utilizou-se de média e desvio padrão para a análise dos resultados.

    A população da amostra foi obtida de uma sala de aula de 15 alunos, das quais foram sorteadas aleatoriamente oito crianças (cinco do sexo masculino e três do feminino). As crianças estão matriculadas na etapa VI da educação infantil e pertencem à escola José Maria Argemi Filho, em Uruguaiana/RS. A média de idade cronológica foi de 65,9 ± 0,83 meses. Trata-se de uma escola municipal de ensino infantil com pouco tempo de existência, porém, já considerada pelos pais e sociedade em geral modelo pela ótima estrutura física e de excelência dos profissionais a ela pertencentes, propiciando às crianças condições para um bom desenvolvimento.

    Posteriormente, elas foram avaliadas através da Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) desenvolvida por Rosa Neto (2002) pelos estagiários do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA).

    Esta escala, que possui um método de aplicação de testes atrativo para a criança, compreende um conjunto de provas diversificadas e de dificuldade graduada, abrangendo diferentes áreas do desenvolvimento motor. Ela avalia as seguintes áreas do desenvolvimento: motricidade fina (IM1), motricidade global (IM2), equilíbrio (IM3), esquema corporal (IM4), organização espacial (IM5), organização temporal (IM6) e lateralidade. Este instrumento determina a idade motora (obtida através dos pontos alcançados nos testes) e o quociente motor (obtido pela divisão entre a idade cronológica multiplicada por 100). Com exceção dos testes de lateralidade, as outras baterias consistem em 10 tarefas motoras cada, distribuídas entre 2 e 11 anos, organizadas progressivamente em grau de complexidade, sendo atribuído para cada tarefa, em caso de êxito, um valor correspondente à idade motora (IM), expressa em meses. Em cada bateria, o teste e interrompido quando a criança não concluir a tarefa com êxito, conforme protocolo. Ao final da aplicação, dependendo do desempenho individual em cada bateria, é atribuída a criança uma determinada IM, em cada uma das áreas referidas anteriormente (IM1, IM2, IM3, IM4, IM5, IM6), sendo após, calculada a idade motora geral (IMG) e o quociente motor geral (QMG) da criança. Esses valores são quantificados e categorizados, permitindo classificar as habilidades analisadas em padrões: muito superior (130 ou mais), superior (120-129), normal alto (110- 119), normal médio (90-109), normal baixo (80-89), inferior (70-79) e muito inferior (69 ou menos).

    Para a aplicação da EDM, utilizou-se a sala para a qual se destinam os atendimentos em Neurologia Infantil do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), que é dotada de todos os materiais necessários para a aplicação da Escala, tais como a própria Escala e instruções acerca da mesma, lápis, papéis, cordas, fita adesiva, bolas de diversos tamanhos, rolos de papel higiênico, mesas e cadeiras, cronômetros, etc.

    As avaliações foram realizadas em uma única sessão, e os estagiários tiveram contato prévio com a Escala nas disciplinas cursadas durante a graduação. Utilizou-se do dia em que não havia atendimentos para crianças atípicas no estágio para que o ambiente fosse o mais propício para a aplicação da Escala.

    Para análise dos dados foram utilizadas a estatística descritiva, média e desvio padrão. Para análise da correlação utilizou-se a estatística não-paramétrica de Spearman através do programa SPSS versão 16.0, e apresentaram-se os resultados que revelaram p<0,05 e p<0,01.

Resultados

    As médias das idades cronológicas, idades e quocientes motores gerais, bem como os específicos, média e desvio padrão apresentados podem ser verificados conforme quadro a seguir:

Quadro 1. Análise de média e desvio padrão relativas às variáveis do estudo

*Unidade de medida dada em meses

    Constatou-se que a média de idade cronológica das crianças foi de 65,87 meses, a IMG verificada foi de 56,25 meses, quase 10 meses inferior à idade cronológica, e o QMG de 85,37 meses (normal baixo), conforme o quadro 1.

    Apenas uma criança (12,5% da amostra) apresentou quociente motor condizente com a idade cronológica.

    Abaixo, é ilustrado o quadro com algumas correlações existentes entre Idade Cronológica, IMG, QMG e Idade negativa com p<0,01.

Quadro 2. Correlação entre IC, IMG, QMG e Idade Negativa: ** p<0,01

 

Quadro 3. Correlação entre Sexo, IMG e QMG: **p<0,01

 

Quadro 4. Correlações entre Lateralidade, Olhos, Mãos e Pés: *p<0,05

    Os resultados obtidos neste estudo dão conta de que o grupo avaliado está em um nível de normalidade para inferior em relação aos parâmetros propostos por Rosa Neto.

    A correlação evidente entre IMG e QMG, idade negativa e resultado da escala para p<0,01 era esperada, haja vista que elas são interdependentes.

    Ainda, houve diferença estatisticamente significativa entre gêneros. Essas duas relações podem verificadas nos quadros 2 e 3.

    Através da correlação de p<0,05 relativa à lateralidade e mãos (vide quadro 4), constatou-se que 100% das crianças apresentaram lateralidade definida e, destas, sete (87,5%) apresentaram a mesma preferência entre as variáveis lateralidade e mãos, não havendo a mesma associação em relação aos olhos e pés.

Discussão

    Por volta dos seis anos, as crianças possuem potencial para estar no padrão maduro da maioria das habilidades motoras fundamentais (GALLAHUE; OZMUN, 2005; SEEFELDT; HAUBENSTRICKER, 1982). Ainda, se estes padrões não forem atingidos até o final da infância, provavelmente não serão desenvolvidos posteriormente, em decorrência de serem limitadas as oportunidades para a prática em outros períodos da vida (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

    Valentini (2002), ao avaliar o desempenho motor de crianças entre cinco e dez anos de idade em 12 habilidades motoras fundamentais, evidenciou um desempenho motor pobre e inferior à média nas diferentes habilidades de locomoção e manipulação avaliadas. Todos os pesquisadores (COPETTI, 1993; FERRAZ, 1992; MARQUES, 1996; SURDI; KREBS, 1999; VALENTINI, 2002) associam os resultados encontrados à provável falta de oportunidade de prática de atividades motoras diversificadas, sistemáticas e apropriadas às características das crianças, à carência de instrução adequada e ao pouco engajamento nas aulas de Educação Física. Em relação a este estudo, os resultados podem ser atribuídos ao pouco tempo que a Escola tem de funcionamento na cidade (foi inaugurada em 21/12/2012), sendo necessária a espera da plena implantação e adequação da mesma para que, a partir daí, se possa fazer tal relação com mais propriedade.

    Na relação entre gêneros, observou-se uma diferença absoluta favorável às meninas, (porém não significativa) muito pelo fato de a criança com melhor conceito segundo a Escala pertencer ao gênero feminino.

    De encontro a isso, Nelson et al. (1986) observaram que meninos apresentam melhor desempenho motor na execução do arremesso, apresentando forma mais madura de movimento. Copetti (2000) sugere que, nos testes de movimentos caracterizados pela exigência de maior vigor em sua execução (correr, saltar na horizontal e arremessar), meninos pré-escolares apresentaram melhores resultados quando comparados às meninas, sugerindo diferença favorável a eles no desempenho de atividades que exigem maior grau de capacidade física.

    O equilíbrio, no entanto, é uma atividade delicada e que exige concentração, acredita-se que é mais desenvolvida no sexo feminino (BARREIROS e CARLOS NETO, 1989; BAYLEI, 1987). Essa variável no presente estudo não apresentou resultados significativos.

    Valentini et al (2002), embora apresente resultados similares para meninos e meninas nas habilidades locomotoras, evidencia superioridade de desempenho favorável aos meninos no controle dos objetos. Fisher et al. (2005) sugerem que estas diferenças podem ser decorrentes do tempo gasto em atividades físicas, o qual é significativamente menor entre meninas.

    Essa constatação vastamente encontrada na literatura é facilmente explicável pela cultura presente na sociedade em geral, na qual as atividades ensinadas aos meninos requerem maior exigência física, enquanto que as brincadeiras femininas exigem mais das habilidades motoras finas e da linguagem. Entretanto, nos últimos anos, este quadro tende a parear-se, haja vista o crescimento desordenado e a influência que a tecnologia tem exercido sobre a vida das pessoas, que não tem poupado também as crianças, que, desde cedo desenvolvem habilidades que privilegiam o desenvolvimento do intelecto em detrimento do físico, contrariando a afirmação de Rosa Neto (2007) que relata que a aquisição de um bom controle motor permite à criança construir as noções básicas para seu desenvolvimento intelectual.

    Por isso, o fato de se proporcionar o maior número de experiências motoras e psicossociais as crianças, servirá de prevenção a que estas apresentem comprometimento de habilidades escolares (BARISTELLA, 2001).

Conclusão

    Concluiu-se que as crianças avaliadas através da Escala de Desempenho Motor proposta por Rosa Neto deste estudo estão em um nível normal para inferior em relação aos valores de normalidade. Denota-se, dessa forma, a importância do núcleo familiar, da escola e do ambiente aos quais as crianças fazem parte, a fim de que tenham discernimento de que desempenho intelectual e desempenho motor têm íntima e direta relação, e que, a infância é o período de experimentações de toda e qualquer ordem, e essas refletirão no sujeito adulto, positiva ou negativamente. Dessa forma, a disseminação desse conhecimento à sociedade se traduz deveras importante, bem como a realização de mais estudos que levem em conta mais variáveis (como a socioeconômica, por exemplo) somados a um número maior de sujeitos avaliados além de prosseguimento do estudo pré e pós-intervenções, para que, a partir de um diagnóstico mais completo, se possa interferir de forma mais completa e eficaz nessa questão.

Referências bibliográficas

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