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As percepções como componente psicológico 

fundamental do esporte de competição

Las percepciones como componente psicológico fundamental del deporte de competición

 

*Doutorado em Biologia Experimental

Professor do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia

Coordenador do Centro de Estudo de Esporte e Lazer (CEELA)

Integrante do Grupo de Estudos do Desenvolvimento e da Cultura Corporal

**Estudante de Psicologia da Universidade Federal de Rondônia

Integrante do Centro de Estudo de Esporte e Lazer (CEELA)

***Doutora em Sociologia e professora de Educação Física

Professora do Departamento de Educação Física da Universidade Federal de Rondônia

Diretora do Núcleo de Saúde da Universidade Federal de Rondônia

Líder do Grupo de Estudos do Desenvolvimento e da Cultura Corporal

****Ms. em Educação Física. Professor do Curso de Educação Física

da Faculdade de Educação e Médio Ambiente/FAEMA

Dr. Ramón Núñez Cárdenas*

Yesica Núñez Pumariega**

Profª. Drª. Ivete de Aquino Freire***

Prof. Leonardo Alfonso Manzano****

rnunezcardenas@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O êxito de muitas ações técnicas depende, em grande medida, da precisão das percepções que realiza o atleta, sobre as diversas condições do meio no qual efetua as mesmas. As ações nos esportes são caracterizadas pelos objetivos táticos, dirigidas a um objetivo (fazer gol, ponto, pegar a bola etc.), direcionadas e reguladas psiquicamente dentro de um contexto social (Nitsch, 1986 e Samulski, 1992, 1996). Por tais motivos. O presente estudo visa analisar a importância das percepções na prática dos esportes para a competição.

          Unitermos: Esporte. Percepções. Competição.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O êxito de muitas ações técnicas depende, em grande medida, da precisão das percepções que realiza o atleta, sobre as diversas condições do meio no qual efetua as mesmas.

    Segundo Samulski (2002), a percepção não é simplesmente um processo de elaboração de informação exclusiva das vias aferentes. Ela contém também inúmeros momentos eferentes. Na psicologia americana, esses aspectos recebem a denominação “Botton-up”, que significa que a fonte de informação é influenciada pelo input sensorial. Mas, em contraposição, para esse termo, utiliza-se o conceito “Top-down”, que abrange a fonte de informação relevante composta pela experiência adquirida, pelo conhecimento que se tem das coisas passadas, o que vem de “cima para abaixo”. O processo perceptivo decorre da interação desses dois momentos. Assim, podemos observar como é complexo o processo da percepção em geral e, nos esportes, em particular.

    A percepção se apresenta como uma unidade complexa, pois as impressões sensoriais não são vivenciadas como qualidades ou intensidades isoladas, mais em conjunto, como um todo. Desse modo, é possível a compreensão do objeto e seu significado, concebendo-o como incluído em uma determinada classe de objetos.

Características da percepção no esporte

    Uma das características das ações no esporte é seu elevado nível de complexidade e dinâmica dos movimentos das ações táticas. Inúmeros fatores se relacionam, interagem e condicionam reciprocamente, dificultando a percepção. As ações nos esportes abertos são intencionais, caracterizadas pelos objetivos táticos, dirigidas a um objetivo (fazer gol, ponto, pegar a bola etc.), direcionadas e reguladas psiquicamente dentro de um contexto social (Nitsch, 1986 e Samulski, 1992,1996).

    Um atleta poderá corresponder às exigências do jogo somente quando tiver uma ampla e qualitativa experiência adquirida ao longo dos anos e, principalmente, a capacidade de perceber e processar os sinais relevantes da ação, de forma tal, a poder regulá-la rapidamente. Qualquer atleta (no caso dos novatos) estaria sobrecarregado se tivesse que receber e elaborar todas as informações e estímulos a seu redor. Nessa perspectiva fica claro que a percepção é um processo ativo e seletivo de informação. Segundo Schubert (1981), “seleção significa procurar, identificar e reconhecer novamente determinadas informações” existentes na situação de jogo. Esses sinais não são percebidos de forma isolada, mas na sua relação e interação lógica. A necessidade de se coordenar o movimento a ser realizado e adaptá-lo às modificações do meio ambiente, leva a uma elevada exigência dos analisadores: sinestésico, vestibular, acústico, tátil e, particularmente, o visual, que forma a base para a percepção do meio ambiente e do movimento na situação de jogo.

Algumas teorias sobre a percepção

    Segundo Samulski (2002), a psicologia moderna apresenta teorias científicas que possibilitam compreender e explicar o comportamento do indivíduo nas suas diferentes formas de manifestação. Os trabalhos de investigação científica, com base nessas teorias relacionadas à percepção, vão desde aspectos psicofisiológicos da recepção de informação, até a elaboração de modelos computacionais, e estudos na área da inteligência artificial. No entanto, até hoje, não existe uma teoria sistemática que seja amplamente aceita para explicar esse importante processo psicológico. Na medida em que os avanços da ciência permitem aprimorar os modelos de investigação, o tema percepção é analisado com profundidade.

    São muitos os estudos realizados para definir percepção, assim, Bergius (1985: 560), define a mesma como “entrada na consciência de uma impressão sensorial, quer chega previamente aos centros nervosos”. Nessa abordagem, fica clara a posição cognitivista do autor, na qual a percepção somente se apresenta como uma forma acabada de elaboração de informação de modo consciente. Considera-se que é por meio da percepção que as pessoas conseguem formar uma imagem de si mesmas e do meio ambiente que as rodeia.

    Para Schubert (1981:227), a tarefa da percepção consiste em “filtrar e analisar as informações que chegam, de forma tal que possamos entender as características e relações do mundo, para dessa forma, fazê-lo previsível, e poder nos organizar e adaptar a ele”. Dessa forma, o autor destaca que a percepção não é um fato isolado, mas um processo ativo de seleção de informação, que apóia o processo de orientação da ação do atleta na competição.

    Eysenck & Keane (1994: 43) referem-se à percepção como “os meios pelos quais a informação adquirida do meio ambiente, através dos órgãos sensoriais, é transformada em experiência de objetos, eventos, sons, etc.”. Esse processo de transformação sensorial supõe a interpretação dos dados, o que envolve uma variedade considerável de processos e mecanismos relacionando sistemas fisiológicos inerentes a cada modalidade sensorial e uma complexa operacionalização de processos cerebrais centrais. Eles interagem e interpretam o output desses sistemas fisiológicos, relacionando-os com as emoções ou com os aspectos subjetivos da informação.

    Segundo Eberspächer (1987: 468) “Percepção se entende como o processo de apreciar a realidade, como também da vivência dos sentidos ao receber, perceber, transmitir as informações e, conseqüentemente, os conhecimentos sobre si e seu determinado meio ambiente. Esse conhecimento é requisito para a orientação sobre possibilidades e limites de uma ação, adaptada à situação”.

Percepções especializadas

    As percepções especializadas surgem a partir da identificação especial que estabelece o atleta com os implementos, meio no qual se desenvolve, ou também, alguns parâmetros típicos de seu esporte.

Sentidos especiais mais conhecidos

  • Sentido da bola

  • Sentido da distância

  • Sentido do tempo

Sentido da bola no esporte

    Nos atletas de jogos coletivos, cria-se uma identificação especial com as características de peso, superfície, tamanho, possibilidade de rebote, etc. da bola. A mesma depende das percepções músculo-motoras, que têm, em sua base, as sensações proprioceptivas, visuais e táteis. Quando o atleta apresenta dificuldades nesta percepção, torna-se impossível o domínio dos elementos técnicos fundamentais.

Tarefas para o desenvolvimento do sentido da bola

  • Reduzir a área de treino: Ao reduzir a área de treino, o atleta tem a obrigação de se esmerar no domínio da bola ante a presença de adversários.

  • Repetições de passes a diferentes distâncias: Através de numerosas repetições de passes a curta, média e longa distância, o atleta pode se identificar progressivamente com o esforço muscular que deverá fazer para enviar a bola aos lugares marcados previamente.

  • Treinar descalço: Durante a aprendizagem do futebol, é conveniente que os atletas realizem seus práticos descalços, para que o contato direto da bola com a superfície da pele favoreça a sensibilidade tátil e ajude a melhorar a condução, recebimento e chute.

Sentido da distância no esporte

    Esta percepção especializada joga um papel importante no aperfeiçoamento das ações técnicas de todos os esportes, em especial os esportes com bolas e de combate, onde os movimentos devem ser realizados atendendo à constante variação da distância. O atleta que possui um bom nível de expressão do sentido da distância tem, geralmente, uma boa concentração da atenção. Quando esta se altera, também se afeta a percepção especializada.

    Segundo diferentes autores, podem-se reconhecer facilmente, na prática, os indicadores que nos permitem comprovar se os atletas apresentam um correto desenvolvimento desta percepção especializada. Se nos esportes coletivos, os atletas realizam passes precisos, ou são capazes de interceptar os do adversário, essa ações pode ser uma prova do bom estado desta percepção.

    Caso apareçam dificuldades nesta percepção, poderão ser desenvolvidas, durante os treinamentos, diferentes tarefas, que podem ser as seguintes:

Tarefas para o desenvolvimento do sentido da distância

  • Indicações verbais simultâneas à ação: O treinador indicará ao atleta, de forma verbal, quando é adequada ou não sua ação em função da distância. Esta tarefa é importante nos esportes de combate, onde o treinador deverá educar constantemente o “manter” a distância adequada em relação ao adversário.

  • Variações da distância nos exercícios de treinamento: Depois de aprendido um movimento, é necessário treiná-lo de forma repetida, mudando rápida e sistematicamente as distâncias em que se deve dirigir a jogada. O treinar, primeiro várias repetições de passes curtos, depois médios e por último, longos, é útil para o período de aprendizagem inicial; porém, depois desta sucessão, requer-se mudanças bruscas na distância, para poder precisar com precisão esta percepção.

  • Utilização da linguagem interior: dever-se-á orientar o atleta para que utilize palavras de linguagem interna, que lhe permitam avaliar constantemente a distância entre ele e seu adversário. Assim, que avalie também, desta forma, o resultado de suas ações, que impliquem trasladar seu corpo ou a bola a uma determinada distância.

Sentido do tempo no esporte

    O sentido do tempo tem um papel importante na execução das ações nos esportes cíclicos, e também é importante no resto das disciplinas esportivas. Em relação ao que foi dito anteriormente, surge a seguinte questão: Quantas vezes um atleta perde a bola no jogo, por não considerar que terminou o tempo estipulado para ficar com a mesma?

    Segundo Rudik (1974), para obter a coordenação do movimento, é necessário que o atleta possua a habilidade de distribuir com precisão o tempo nos movimentos que são feitos, para tanto, faz-se necessário, que a durante a execução se observe adequadamente cada detalhe, em sua sucessão temporal. Não somente implica o “sentir o tempo transcorrido”, mas também o ritmo interno do exercício, já que um evento cíclico ou um acíclico, e as diferentes tensões musculares, realizam-se para isto.

    Conhece-se que a estimação do tempo se encontra em inter-relação com as emoções. “Um treinamento aborrecido parece que não termina mais, em tanto uma prática motivada e alegre se faz sem sentir passar o tempo”. Assim vemos que:

    O sentido do tempo depende fundamentalmente do equilíbrio dos processos de excitação e inibição da cortesã cerebral. È por este motivo o atleta com temperamento colérico pode apresentar serias dificuldades com esta percepção.

Tarefas para o desenvolvimento do sentido do tempo no esporte

  • Identificação do tempo ótimo de realização da ação: Com ajuda de um cronômetro, o atleta pode experimental a magnitude do tempo que deve transcorrer durante a execução de suas ações. O nadador, tanto quanto o atleta de corrida, necessita experimentar o intervalo de tempo durante o qual tem que realizar um percurso correspondente, como parte da tarefa do dia.

  • Utilização do treinamento ideomotor unido à medição do tempo: O atleta é orientado a realizar práticas de treinamento ideomotor com um cronômetro em sua mão. O treinador lhe indica o tempo que durará a ação e o atleta faz funcionar o cronômetro quando começa a representar-se o movimento, concentrando-se em sua magnitude temporal e detendo-o ao final de sua representação.

  • Utilização de gravações da partitura verbal: O treinador gravará previamente com sua voz ou preferivelmente com a do atleta, a partitura verbal do movimento, que começará com uma ordem executiva que lhe permita conhecer ao mesmo quando deve começar a ação. Ao fazer a gravação, é imprescindível pronunciar as palavras no momento preciso, na velocidade real desenvolvida na atividade. O atleta deverá fazer coincidir a estrutura do movimento com as ordens verbais que se escuta.

Referências bibliográficas

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