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A percepção da criança hospitalizada e de sua família 

frente ao processo de hospitalização: uma revisão literária

La percepción de los niños hospitalizados y sus familias en el proceso de hospitalización: una revisión de la literatura

 

*Acadêmico/a do 5º período do curso de Bacharel em enfermagem

pelas Faculdades Unidas do Norte de Minas

**Professor orientador: Enfermeiro especialista em Educação Profissional na Área da Saúde. 

Professor da disciplina de Farmacologia para Enfermagem (UNIMONTES)

e Farmacologia Aplicada a Nutrição nas Faculdades Unidas do Norte de Minas

Carlos Oliveira Rocha*

Dayane Silva Vieira*

Tadeu Ferreira Nunes**

carlos.o.rocha2005@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O estudo aqui apresentado visa conhecer e compreender a experiência de crianças hospitalizadas e de seus familiares. Como estratégia metodológica, foi utilizada a revisão integrada de artigos científicos. Os dados foram coletados por meio de leitura e comparação dos mesmos. Os resultados mostram que os eventos hospitalares compõem a experiência de vivência da criança. Onde, o sofrimento ou tolerância é determinado pelo contexto da experiência e pelo suporte ou interações que a criança vivencia.

          Unitermos: Criança hospitalizada. Família. Hospitalização. Papel da enfermagem na hospitalização.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    De acordo com o Banco de dados do Sistema Único de Saúde - DATASUS, o perfil de morbidade infantil é o parâmetro mais eficaz para a definição das políticas de saúde. No entanto, os estudos sobre mortalidade infantil são mais numerosos do que os sobre a morbidade e, em especial, os que enfocam as internações hospitalares.

    Estudar as causas de internação hospitalar e a percepção da criança neste âmbito, no Brasil, pode auxiliar a elaborar planos de atenção à saúde que previnam o agravamento das doenças e que auxiliem para que a assistência ao paciente infantil seja adequada às suas necessidades específicas. As hospitalizações por causas sensíveis à atenção primária são um indicador direto da efetividade do sistema de saúde.

Objetivo

    O presente estudo objetivou-se a compreender e explicar, por meio de revisão bibliográfica, a experiência da hospitalização da criança a partir da ótica da própria criança hospitalizada e/ou seus familiares. Para que dessa forma, seja possível, aos profissionais da saúde, principalmente a enfermagem, atuar de forma que venha a amenizar os traumas e a acelerar, na medida do possível, o processo de recuperação dos que passam por essa experiência.

Metodologia

    Este é um estudo de revisão integrada da literatura, que possibilita sintetizar o conhecimento de uma dada área por meio da formulação de uma pergunta e avaliação crítica de estudos científicos contidos em bases de dados eletrônicas. A partir desse processo, ela permite aprofundar o conhecimento sobre o assunto investigado e apontar lacunas que precisam ser preenchidas por meio da realização de novas investigações.

    A pergunta formulada para a pesquisa foi: “Qual a percepção da criança e da família frente à hospitalização?” A busca de artigos foi realizada nas bases eletrônicas Literatura Latino-Americana em Ciências da Saúde (LILACS), Scientific Electronic Library Online (SciELO) e Base de Dados de Enfermagem (BDENF) por meio das palavras-chaves selecionadas segundo a classificação dos Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): Criança hospitalizada. Família. Hospitalização. Papel da enfermagem na hospitalização. Foi, também, feito uma pesquisa no DATASUS, para saber mais a respeito da hospitalização infantil no Brasil. Esse processo foi realizado entre os meses 05 e 06 do ano de 2013.

    Para seleção dos artigos realizou-se, primeiramente, a leitura dos resumos das publicações selecionadas com o objetivo de refinar as amostras. Foram incluídos artigos originais publicados entre 2006 e 2012 e feitos a partir de estudos desenvolvidos no Brasil. Os critérios de exclusão foram: artigos de revisão ou reflexão e ausência de resumo nas plataformas de busca on-line, artigos publicados anteriormente ao ano de 2006. Por meio desse processo, a amostra final foi constituída por 12 artigos.

    A avaliação dos artigos escolhidos foi embasada na leitura do estudo e, em seguida, na elaboração de um quadro com os dados coletados com informações de cada pesquisa, contendo: autores/data/periódico, tipo de estudo, aspectos metodológicos, principais resultados e resposta da pergunta elaborada. Para auxiliar usou-se a técnica de análise de conteúdo por meio da leitura e releitura dos resultados dos estudos, procurando identificar aspectos relevantes que se repetiam ou se destacavam. Para descrever os achados referentes aos dados analisados, também foi realizada discussão e comparação de cada achado.

Resultados

    A análise de dados, feita a partir de referencial teórico selecionado de base de dados eletrônicos já descritos anteriormente, nos possibilitou responder a pergunta proposta, que serve como norteadora desse estudo, que busca compreender, como as crianças e seus familiares lidam com a situação da hospitalização.

    Através da análise de dados obtivemos resultados variados, sobre o tema. Como podemos perceber no quadro I, é possível acompanhar e comparar esses resultados:

Quadro I - Resultados

Autor / Ano

Metodologia

Qual a percepção da criança e da família frente à hospitalização?

PEDROSA, et al (2007)

Prospectivo

É uma vivência traumática que prejudica no desenvolvimento da criança.

MORAIS; COSTA (2009)

Qualitativa

A hospitalização infantil repercute não só na vida das crianças, mas também no âmbito de toda a família. As mães vivenciam sentimentos de medo, desespero e solidão diante do adoecimento do filho.

SILVEIRA; ANGELO (2006)

Qualitativa

Há um sentimento de descrença e desamparo e insegurança da família.

HOLANDA; COLLET (2010)

Qualitativa

A criança se sente só. O envolvimento pessoal de quem cuida transmite à criança doente a experiência essencial, o contato humano.

CÔA; PETTENGILL (2009)

Qualitativa

A vulnerabilidade da família da criança hospitalizada é desencadeada quando a família está sob a influência de situações anteriormente vivenciadas com doença.

QUINTANA et al (2007)

Transversal

As crianças percebem o hospital como um lugar triste. Há um trauma irreversível em relação ao sentimento de morte.

VASQUES et al (2011)

Quantitativa

É uma importante fonte de sofrimento, tanto para a família quanto para a criança, pelo fato da vivencia da separação, dor e desesperança.

CARMONA et al (2012)

Prospectivo

As mães tendem a se sentir incapazes de atender as necessidades dos filhos, enfrentando dificuldades para lidar com seus sentimentos e com as demandas dos familiares.

LAPA; SOUZA (2011)

Qualitativa

Os escolares se percebem restritos ao leito ou a determinado espaço do hospital, seja pela sua situação de doente, seja pela organização da Instituição que os impede de fazer atividades que demandam maior gasto de energia.

SANTOS et al (2011)

Qualitativa

Acompanhante passa por adaptações, ao vivenciar a hospitalização, existindo alterações na rotina familiar. 

GABATZ; RITTER (2007)

Qualitativa

A criança, durante a hospitalização, tem diminuída a oportunidade de permanecer junto aos familiares e às pessoas que lhe são queridas, o que pode causar uma grande carência afetiva.

MILANEZI et al (2006)

Qualitativa

A tensão é decorrente tanto dos sentimentos do indivíduo quanto dos fatores provenientes do ambiente em que se encontra. A família passa a sofrer por não receber as informações necessárias para que possa prestar cuidados ao filho, como também por não ter orientações sobre a doença do filho.

Discussão

    De acordo com os resultados contidos na análise dos estudos, pode-se descrever o sentimento das crianças e dos seus familiares, principalmente as mães, em relação ao processo de hospitalização. Em geral, um sentimento de dor e perda, sendo o processo de hospitalização caracterizado como um período de sofrimento, tanto para a criança, quanto para os familiares, mais especificamente as mães.

    Os eventos cotidianos do hospital compõem a experiência da hospitalização da criança, já que eles não fazem parte de seu cotidiano até o momento. São momentos novos, marcantes e com muitas restrições à vida rotineira. Assim, o sofrimento ou tolerância da criança é determinado pelo contexto da experiência e pelo suporte ou interações com que ela se depara. (VASQUES 2011)

    A mudança na rotina da criança hospitalizada, principalmente no caso dos escolares, afeta drasticamente o seu psicológico. A restrição às atividades físicas e lúdicas, somado a própria restrição do espaço físico, gera na criança um quadro de estresse e em alguns casos podem, inclusive, levar a criança a um estado de depressão.

    Este estudo mostra, ainda, que ao permanecer com o filho no hospital, a mãe o ajuda a tolerar a experiência, permanecendo ao seu lado, sendo a “voz” da criança, defendendo-lhe e facilitando-lhe as interações, sendo, assim, a mantenedora do vínculo familiar, apoiando o filho durante os procedimentos, dando informações e ajudando-o a lidar com as perdas e, facilitando para que a criança consiga conviver de forma menos traumática a hospitalização.

    Em relação ao ambiente hospitalar, tem-se notado uma profunda negação, tanto pela criança, quanto pelos familiares, já que esse espaço é visto como um ambiente triste, marcado por experiências dolorosas e traumáticas. Muitos dos procedimentos ali realizados, como procedimentos evasivos, por exemplo, trazem sofrimento físico e psíquico para a criança e seus familiares. Além da aflição, e um constante medo, por parte dos familiares, de uma piora no quadro clinico e muitas vezes, o próprio medo da morte desse interno, que gera um grande sentimento de insegurança e incapacidade nos familiares, mais necessariamente, das mães.

    Quanto ao profissional de Enfermagem em relação à perspectiva da criança, pode assumir um papel de “amigo” presente, já que este está rotineiramente em contato com o mesmo. Podendo, assim, ter papel fundamental nesse processo, estabelecendo uma comunicação com os familiares e uma interação com o interno, para entender as dificuldades e sofrimento presente na vivência hospitalar. De tal forma que, essa troca de experiência por parte do profissional/criança, profissional/família, permita ao profissional conhecer as necessidades do interno, compreender a situação, e incentivar atos que influenciem positivamente o estado emocional da criança e de sua família.

Considerações finais

    Os objetivos do estudo foram alcançados, obtendo-se a resposta sobre a percepção da criança e dos seus familiares frente à hospitalização, e evidenciando que no processo de internação hospitalar, a criança necessita de um acompanhante de sua confiança, para ajudá-la a vivenciar o momento inesperado. Além da necessidade de mudanças no ambiente e na rotina hospitalar, de forma que tais mudanças amenizem as dificuldades impostas por tal processo.

    As mudanças que ocorrem e transformam o cotidiano familiar são evidentes, incluindo alterações emocionais de todos os participantes do processo: familiares, em geral, pai/mãe e filho hospitalizado.

    O conhecimento dessa vivência, através da perspectiva da criança possibilita reforçar a importância da equipe de saúde, em especial, enfermagem, incluir a família nesse cuidado, em todos os momentos de atendimento, demonstrando valorizar a necessidade da criança e familiar estabelecer vínculos e receberem atenção individualizada. A família deve ser vista como participante ativo no tratamento das crianças e a ela deve ser oferecida o suporte necessário para agir como tal.

Referências

  • CARMONA, Elenice Valentim; COCA, Kelly Pereira; VALE, Ianê Nogueira do e ABRAO, Ana Cristina Freitas de Vilhena.Conflito no desempenho do papel de mãe em estudos com mães de recém-nascidos hospitalizados: revisão integrativa. Rev. esc. enferm. USP . 2012, vol.46, n.2, p. 505-512.

  • CÔA, Thatiana Fernanda; PETTENGILL, Myriam Aparecida Mandetta. A experiência de vulnerabilidade da família da criança hospitalizada em Unidade de Cuidados Intensivos Pediátricos. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 45, n. 4, Agosto. 2011.

  • GABATZ, Ruth Irmgard Bärtschi e RITTER, Nair Regina.Crianças hospitalizadas com Fibrose Cística: percepções sobre as múltiplas hospitalizações. Rev. bras. enferm. 2007, vol.60, n.1, p. 37-41.

  • HOLANDA, Eliane Rolim de; COLLET, Neusa. As dificuldades da escolarização da criança com doença crônica no contexto hospitalar. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 45, n. 2, Abril. 2011.

  • Indicadores e Dados Básicos, 2009. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index.php?acao=11&id=22450.

  • LAPA, Danielle de Freitas e SOUZA, Tania Vignuda de. A percepção do escolar sobre a hospitalização: contribuições para o cuidado de enfermagem. Rev. esc. enferm. USP. 2011, vol.45, n.4, pp. 811-817.

  • MILANESI, Karina; COLLET, Neusa; OLIVEIRA, Beatriz Rosana Gonçalves de VIEIRA, Cláudia Silveira. Sofrimento psíquico da família de crianças hospitalizadas. Rev. bras. enferm. 2006, vol.59, n.6, p. 769-774.

  • MORAIS, Gilvânia Smith da Nóbrega; COSTA, Solange Fátima Geraldo da. Experiência existencial de mães de crianças hospitalizadas em Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica. Rev. esc. enferm. USP, São Paulo, v. 43, n. 3, Set. 2009.

  • PEDROSA, Arli Melo et al . Diversão em movimento: um projeto lúdico para crianças hospitalizadas no Serviço de Oncologia Pediátrica do Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira, IMIP. Rev. Bras. Saude Mater. Infant., Recife, v. 7, n. 1, Mar. 2007.

  • SANTOS, Ana Maria Ribeiro dos et al. Vivências de familiares de crianças internadas em um Serviço de Pronto-Socorro. Rev. esc. enferm. USP. 2011, vol.45, n.2, pp. 473-479.

  • SANTOS, Ana Maria Ribeiro dos et al.Vivências de familiares de crianças internadas em um Serviço de Pronto-Socorro. Rev. esc. enferm. USP . 2011, vol.45, n.2, pp. 473-479.

  • SILVEIRA, Aline Oliveira; ANGELO, Margareth. A experiência da interação da família que vivência a doença hospitalização das crianças. Rev. Latino-Am. Enfermagem, Ribeirão Preto, v. 14, n. 6, dez. 2006.

  • VASQUES, Raquel Candido Ylamas; BOUSSO, Regina Szylit e MENDES-CASTILLO, Ana Márcia Chiaradia. A experiência de sofrimento: histórias narradas pela criança hospitalizada. Rev. esc. enferm. USP. 2011, vol.45, n.1, p. 122-129.

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