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Qual o espaço destinado na mídia impressa 

para a divulgação da prática esportiva feminina?

¿Cuál es el espacio que destina los medios de comunicación impresos para la difusión de la práctica deportiva de las mujeres?

 

*Doutor em Comunicação Social pela UNISINOS, RS

Professor e pesquisador da Universidade Feevale, RS

**Doutora em Comunicação Social pela PUC, RS

Professora e pesquisadora da Universidade Feevale, RS

***Bacharel em Educação Física pela Universidade Feevale, RS

Grupo de Pesquisa Cultura e Memória da Comunidade

Universidade Feevale

Gustavo Roese Sanfelice*

sanfeliceg@feevale.br

Denise Castilhos de Araujo**

Melissa Pinheiro Machado da Silva***

deniseca@feevale.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo tem por objetivo discutir o espaço que o jornal ABC Domingo disponibiliza para a divulgação de esportes praticados por mulheres. Foram analisadas 31 edições do jornal de 29 de maio a 25 de dezembro de 2011. Os dados apresentados no período da coleta trouxeram informações evidentes da diferença entre os gêneros no espaço da editoria esportiva do jornal. Houve 97,3% de reportagens referentes ao gênero masculino e 2,7% femininos. A partir dos resultados da pesquisa, observamos que a figura da mulher, mesmo transpondo vários obstáculos, ainda não está presente nas matérias do referido jornal tanto quanto a presença masculina.

          Unitermos: Esporte feminino. Gênero. Mídia.

 

Resumen

          El presente trabajo tiene como objetivo analizar y medir el espacio que el periódico ABC Domingo dispone para la divulgación de los deportes femeninos. Se analizaron 31 ediciones del periódico, del 29 mayo al 25 diciembre de 2011. Los datos presentados durante la recolección de la información señalan diferencia entre los géneros en la redacción de deportes de ABC Domingo. Hubo 97,3% de las notas relativas a los varones y un 2,7% a las mujeres. A partir de los resultados encontrados, llegamos a la conclusión que la figura de la mujer, aún superando varios obstáculos, todavía no está presente en los temas de dicho periódico tanto como los hombres.

          Palabras clave: Deporte femenino. Género. Medios de comunicación.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 189, Febrero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O esporte, na atualidade, é considerado um fenômeno social de grande abrangência e visibilidade, e faz parte da vida de muitas pessoas (GOELLNER, 2004). No entanto, o pertencimento a determinado gênero (feminino), tem sido um território de demarcações identitárias, e usado para impedir/dificultar a participação feminina em diferentes modalidades esportivas. Historicamente, algumas modalidades eram prescritas ao sexo feminino ou ao masculino, às meninas ou aos meninos, às mulheres ou aos homens, generificando os esportes (JAEGER, 2006).

    A presença da mulher em modalidades esportivas, a priori masculinas, como o boxe e o futebol, não feminiza esses espaços, o que parece ocorrer é justamente o contrário, os valores masculinos são absorvidos pelas praticantes, o que acaba por reafirmar a ideia de que as mulheres tendem a se masculinizarem em certos espaços esportivos (RIAL, 2000).

    Para Mourão (2002) apud Ferretti e Knijnik (2009), mulheres que praticam esportes, culturalmente destinados aos homens, são rotuladas de masculinas, podendo sofrer algum tipo de preconceito. Por outro lado, Teixeira Jr. apud Santos e Bandeira (2009) ressalta que as mulheres têm mobilizado forças para enfatizar que o esporte é natural, também, ao corpo feminino.

    Moreira e Silva (2008) destacam que a suposta masculinização do corpo feminino, através do esporte é uma ideia incorporada e disseminada, inclusive, pela mídia. Isto porque, especialmente em época de grandes eventos esportivos, são expostos ao público, através das coberturas midiáticas, certos ideais estéticos e de comportamentos (SANFELICE, 2007). Ainda segundo o autor, o esporte é um fenômeno midiático e cria relação entre produção e consumo, consequentemente, pode haver o consumo de padrões, ideais, conceitos, pontos de vista relacionados aos comportamentos esportivos.

    No jornalismo produzido no Rio Grande do Sul, destaca-se o Grupo Editorial Sinos, uma das empresas jornalísticas de maior relevância, que publica vários jornais, entre os quais o jornal ABC Domingo, objeto de estudo desta pesquisa. Os periódicos publicados pelo Grupo supera a tiragem de 63.500 mil exemplares diários1.

    O objetivo desta pesquisa é, através da observação de notícias esportivas publicadas no Jornal ABC, da edição dominical, mensurar o espaço destinado ao esporte praticado por mulheres, bem como refletir acerca da presença feminina nesses espaços.

    Os estudos acerca da mulher, apesar de serem essenciais para a discussão da organização dos grupos sociais, ainda são relativamente poucos e recentes. Sabe-se que com a presença da mulher no mercado de trabalho, nas universidades, bem como a luta pela igualdade de direitos e liberdades é decorrente, principalmente, das manifestações sociais do final da década de 1960 e da década de 1970. Foi nesse período que as mulheres tornaram-se mais visíveis para a sociedade, e passaram a ocupar espaços nomeados, até então, como masculinos (Matos, 2000).

    É possível verificar que os espaços públicos sociais passaram a ser ocupados, efetivamente, pelas mulheres, a partir da metade do século XX, com as lutas surgidas dos movimentos feministas (Matos, 2000). Neste período, a mulher deixou a esfera do privado – seu lar, sua família-, e buscou engajamento na esfera do público, ou seja, exigiu ter os direitos que, na maior parte das vezes, eram dados somente aos homens. Vimos uma mulher que estava preocupada em assemelhar-se ao homem - desrespeitando suas próprias características-, ao invés de ter seus direitos respeitados, pois a sociedade, até então, considerava como sujeito social o homem, relegando à mulher o status do privado, a casa.

    Posteriormente, os estudos de gênero apontam a existência de uma fase na qual a preocupação das mulheres era indicar as diferenças existentes entre os dois gêneros (Matos, 2000). Nesse mesmo período aconteceu a criação de ONGs (Organizações não governamentais) especificamente para mulheres, lutando pelos seus direitos, bem como de redes feministas. E os discursos produzidos por essas instituições foram direcionados não somente para as mulheres, como também para o Estado e a sociedade civil (Matos, 2000).

    A partir da década de 1990 – terceira fase da reflexão a respeito do feminismo-, vê-se que tais discussões são pauta na academia, não mais se restringindo às diferenças entre masculino e feminino. Houve uma longa caminhada, da qual os resultados foram inúmeras modificações em relação aos papéis ocupados pelas mulheres nas sociedades, mas, percebemos, por outro lado, que outras mudanças ainda são necessárias.

    O que se percebe, no campo esportivo, é que a mulher vem buscando a conquista de lugares mais bem claros, desde a Grécia Antiga, como as tentativas de participação nos jogos olímpicos, a qual era proibida. O motivo para a não participação desses indivíduos era o fato de ser o físico feminino considerado mais sensível que o masculino (Oliveira; Cherem; Tubino, 2008), e, também, porque as mulheres eram consideradas cidadãs, porquanto não guerreavam como os homens.

    Ao longo da Idade Média, houve a participação das mulheres em atividades esportivas e jogos populares; no entanto, no Século XVII, essa mulher perdeu todos os seus direitos, inclusive o de praticar esportes (Oliveira; Cherem; Tubino, 2008). No século XVIII e XIX as mulheres voltaram a praticar esportes. E, considerando a realização dos jogos olímpicos, pode-se perceber que, a partir da década de 1920, as mulheres começaram a participar desses eventos de maneira mais efetiva, no entanto, sempre em número muito menor que o de participantes masculinos (Oliveira; Cherem; Tubino, 2008).

    A participação das mulheres em jogos esportivos, fez com que os veículos de comunicação começassem a noticiar a presença desses indivíduos. No entanto, o que se percebe, é que não é dado o mesmo espaço nos veículos de comunicação às mulheres, se comparado ao espaço dado aos homens.

    De acordo com Romero (2004 apud Kane e Parks 1992), o esporte pode ser considerado uma instituição que reproduz relacionamentos patriarcais, enfatizando uma suposta superioridade masculina. Além disso, a autora reforça a ideia de que os responsáveis pela veiculação de matérias sobre esporte nos veículos de comunicação enfatizam diferenças fisiológicas entre os sexos, muitas vezes apontando para a graciosidade da mulher e o força muscular do homem.

    O que se verá a seguir é a análise das matérias recolhidas do jornal ABC Domingo, com a intenção de verificar o espaço que é concedido às mulheres praticantes de esportes.

Análise de matérias do jornal ABC Domingo

    Foram examinadas as edições dominicais da editoria esportiva do Jornal ABC Domingo de 29 de maio a 25 de dezembro de 2011 - 31 edições. Essa análise consistiu na verificação da divulgação de matérias que relatassem a prática de esportes por mulheres. Nessa etapa, os textos foram analisados, observando: a presença de atletas do gênero feminino, bem como o espaço físico destinado a essas matérias. E, para a sua medição, foi utilizada a forma base x altura, para chegar ao valor em cm2 de cada reportagem.

Gráfico 1. Comparação do total da editoria esportiva com esportes praticados por mulheres no 

Jornal ABC Domingo – período de maio a dezembro 2011 – 31 edições. Fonte: Elaboração da autora.

    O gráfico 1 evidencia que em 31 edições do jornal pesquisadas, somente 12 delas apresentou alguma reportagem retratando a prática esportiva feminina. Isso, em percentual equivale a 38,7% do total das edições observadas, então, percebe-se que o espaço destinado à prática esportiva feminina é menos da metade do ocupado pela masculina. Tal resultado revela que no esporte o espaço ocupado pela mulher ainda é muito restrito, revelando, também, ser este um ambiente que ainda se revela mais masculino que feminino.

    Na edição de 25/09, a reportagem versando sobre a prática feminina de esportes ocupou 938 cm2, o que equivale a 27,09% da edição. A reportagem estava em todo o espaço da contracapa do jornal, e versava sobre uma jovem promessa do tênis feminino. Nesta edição, a mulher surge como coadjuvante para a composição dos textos que falavam a respeito dos esportes praticados pelos homens.

    Notamos que entre 16 e 30 de outubro houve a divulgação de esportes disputados por mulheres em todos os domingos, inclusive brasileiras, pois ocorria o Panamericano 2011, disputado em Guadalajara no México.

    Durante a ocorrência desse evento, o percentual de esportes femininos nas edições do ABC Domingo foi de 6,27% dia 16 de outubro, 3,77% dia 23 de outubro e de 6,51% dia 30 de outubro. Nessas três edições dominicais houve divulgação de vários esportes2. Mesmo havendo a publicação de vários textos que indicavam esportes praticados por mulheres, nessas edições o tamanho das matérias não chegou a 7% do total da editoria esportiva do jornal. É importante ressaltar que, de acordo com esses dados, vemos que a mulher permanece em um espaço privado, no que diz respeito ao esporte, pois a divulgação de sua prática é relegada a uma mínima parcela das páginas esportivas.

    Mesmo tendo muitos obstáculos para transpor, as mulheres vêm conquistando seu espaço no campo esportivo. Ainda assim, para Romero (2004), os atletas masculinos recebem tratamento diferenciado da mídia esportiva. A imprensa, nos dias de hoje, atua como um elemento forte para a manutenção da invisibilidade feminina.

    No dia 06 de novembro, edição que depreendeu menor espaço para divulgação de esportes praticados por mulheres, o desporto mencionado foi o vôlei, pois, no Japão, ocorria a Copa do Mundo de Voleibol Feminino. Houve somente uma nota sobre o resultado do jogo, totalizando 24 cm2. O tamanho desse texto equivale a 0,87% do total do espaço destinado à editoria esportiva do jornal. Um espaço que revela-se totalmente irrisório, pois se tratava da divulgação de uma seleção brasileira, que tem, nos últimos anos, revelando-se muito eficiente e ganho vários campeonatos.

    O segundo maior espaço destinado a esportes femininos no período da pesquisa, ocorreu no dia 13 de novembro, com 623 cm2, o que equivale em percentual a 20,92% da edição total. Nesse domingo foi divulgada a medalha conquistada no Panamericano de Guadalajara no México por uma atleta da patinação da região Vale dos Sinos, o que significou um espaço de 350 cm2 do total da edição. Além da patinação, foi citado, também, matéria sobre vôlei feminino que estava disputando a Copa do Mundo no Japão no mesmo período. Nessa edição, a nota sobre o vôlei apresentou 273 cm2 do espaço total de esportes femininos na edição.

    O intrigante dos dados obtidos foi a inexistência de reportagens sobre esportes praticados por mulheres, entre 24 de julho e 18 de setembro, totalizando 9 edições dominicais sem nenhuma registro, ou seja, em mais de dois meses nenhum texto sobre esporte praticado por mulheres foi publicado.

    Essa invisibilidade da mulher, no campo esportivo, verificamos novamente nas últimas 6 edições dominicais pesquisadas, ou seja, entre 20 de novembro e 25 de dezembro, pois nenhuma reportagem de atletas femininas foi publicada. A trajetória da mulher em busca de um espaço na sociedade, não só no campo esportivo, foi, de certa forma, marcada por discriminação. As diferenças sexuais são pretexto para impor relações de hierarquia que apontam supremacia masculina aliada à subordinação da mulher (ROMERO, 2004).

    Apesar de atletas ocuparem mais espaços no mundo do esporte e conseguirem superar estereótipos e preconceitos relacionados ao gênero, a sociedade parece insistir em mantê-los. E, em pleno século XXI, a vida da atleta brasileira é cheia de obstáculos, discriminações e preconceitos (SOUZA; KNIJNIK, 2007).

    Valduga e Schmitz Filho (2011) reiteram que mesmo com o avanço em busca de uma igualdade entre os sexos no âmbito do esporte, este não deixou de ser generificado, pois ainda é considerado uma atividade predominantemente masculina. Sabo apud Romero (2004) revela que dentro do esporte, muitas vezes, o ‘ser homem’ é mais valorizado que o ‘ser mulher’. O mesmo autor defende que o esporte é visto como reflexo da sociedade onde os homens monopolizam a atenção da mídia e, como consequência disso, ela dá pouca cobertura aos eventos esportivos femininos.

    Osmar de Oliveira, no último Fórum de Debates sobre a Mulher & Esporte (2002, p. 33), ressaltou que “por fatores socioculturais, o homem sempre ocupou muito mais espaço na mídia que a mulher”. Sustentou, ainda, que a mídia esportiva, na verdade, não discrimina a mulher (apud ROMERO, 2004).

    Paulo Calçade (2002, p. 29) apud Romero (2004) afirma que “a mídia esportiva é controlada por homens e dominada por um avassalador pensamento machista”. Percebe-se, então, que realmente o espaço disponível às mulheres atletas é percebido por ser muito menor que aquele do homem atleta.

    A média de tamanho da editoria esportiva total do jornal, no período pesquisado, foi de 3340 cm2 por domingo, enquanto que os esportes praticados por mulheres ocuparam a média, no mesmo período, de 90,4 cm2. Esse espaço, em percentual, equivale a 2,70%, nas 31 edições do estudo. Diante disso, é possível concordar com Birrel apud Romero (2004), o qual menciona que a mídia cria, enfatiza e perpetua a existência do relacionamento patriarcal através de imagens que evidenciam as diferenças entre os gêneros. As páginas do jornalismo esportivo ressaltam a manutenção desses valores sexistas. Tobey apud Souza e Knijnik (2007) constata que a participação feminina nos esportes ao não ser exposta na mídia, faz com que a sociedade acredite que não é importante e não mereça atenção. Esta constatação se evidencia nos dados apresentados pelo gráfico 1, pois o esporte feminino aparece em menos da metade das edições pesquisadas e nessas não ultrapassam 30% de editoria total do jornal.

    Aceitar esses dados expostos significa “aceitar que as diferentes estruturas da mídia não são manifestações inerentes de superioridade masculina, mas construções sociais que ativamente servem ao interesse de um grupo ou outro” (ROMERO, 2004, p.108). Para Knijnik e Souza citados por Valduga e Schmitz Filho (2011) a falta de cobertura midiática para o esporte praticado por mulheres reflete não somente crenças culturais da sociedade, mas também reproduzem uma hierarquia na qual os homens dominam e controlam aquilo que se discute na mídia esportiva.

    Ao observar o espaço da editoria de esporte, vê-se que em 103528,85cm2 há o registro de matérias que mencionam atletas masculinos, em detrimento a 2802,5 cm2 ocupados por matérias que mencionam a prática de esportes por atletas femininas. O percentual de esportes disputados por mulheres no período total da coleta – 31 edições dominicais – equivale a, somente, 2,70%.

    Nesse processo da invisibilidade feminina na mídia, em relação ao esporte, Lobo (2003 p. 3) reitera que “se algo não foi veiculado, não existiu” citado por Souza e Knijnik (2007). Então, pode-se concluir que, diante dessa disparidade entre os gêneros, fica evidente a não existência de divulgação de esportes femininos no jornal da região.

    Esta constatação nos remete ao que aponta Souza e Knijnik (2004) ao justificar a diferença dessas divulgações aos olhos da mídia. Uma das justificativas é que a mídia costuma usar o fato de que consumidores de jornais e, até as audiências de programas esportivos na televisão, serem em sua maioria homens. E com isso, preferirem esportes praticados por homens.

    O que ocorre, ainda na visão dos autores, é que a mídia, através de seus meios de comunicação, constrói essa preferência por esportes praticados por homens. Essa preferência ao gênero masculino, imposta pela mídia pode causar mais passividade e fragilidade para a figura da mulher esportista.

    Romero (2004) argumenta que o tratamento dado pela mídia a atletas masculinos e atletas femininos é diferente desde a década de 1980, quando os homens eram apresentados pelas suas habilidades físicas e atléticas, e as mulheres, por sua feminilidade e atrativos físicos. Com isso, concorda-se com Berger (1999 apud ROMERO 2004), que diz que para a mídia, os homens atuam e as mulheres aparecem.

    A mídia, ao dar cobertura maior à aparência física e à feminilidade da atleta mulher, frequentemente compara seu desempenho com o dos atletas do sexo masculino, a mídia constrói, com isso, o esporte a partir da diferença entre gêneros e a hierarquia dos sexos. Em outras palavras, “a mulher pode ser uma atleta, mas, primariamente, é uma fêmea, e mesmo as melhores fêmeas nunca podem superar os melhores machos” (ROMERO, 2004, p.105).

    Mary Jô Kane e Janet Parks (1992 apud ROMERO 2004) ressaltam que o esporte é uma instituição que demonstra simbolicamente relações patriarcais que reforça ainda mais a superioridade masculina. Assim, o esporte torna-se um terreno fértil da produção social da masculinidade. Para Saint'Clair e Devide (2011) a desigualdade entre atletas homens e mulheres na mídia impressa caracteriza nos dias de hoje uma hierarquia de gênero.

    Para Batista e Devide (2009), enquanto a mídia procura divulgar imagens de mulheres em campos sociais femininos, em especial aqueles que exploram sua beleza e sensualidade, o mesmo não ocorre no contexto esportivo, principalmente quando se fala em futebol, pois o corpo feminino em ação, num esporte culturalmente masculino, rompe com a referência feminina que a sociedade associa às mulheres.

    Muitas vezes, a mídia tende a explorar a feminilidade da mulher em detrimento de seu atleticismo ou resultados no campo esportivo. Com isso confirma-se a invisibilidade das atletas mulheres na mídia esportiva impressa (ROMERO et al apud SAINT'CLAIR e DEVIDE, 2011).

Considerações finais

    Esta pesquisa objetivou constituir-se como espaço de reflexão para aprofundar a compreensão que se tem sobre esse segmento, particularmente sob o prisma do jornalismo esportivo.

    Verificamos a diferença quantitativa na divulgação de esportes praticados por mulheres, comparada àqueles masculinos. Isso ficou evidenciado pelos dados estatísticos oriundos do período da coleta.

    Mesmo ocupando um grande espaço nos meios de comunicação, o esporte em geral apresenta uma desigualdade entre homens e mulheres. A mídia, por sua vez, fortalece essa construção social de gênero, aumentando a fragilidade e a passividade da mulher perante o homem no âmbito esportivo. Os resultados apresentaram-se claros e significativos quanto aos dados advindos das editorias esportivas.

    A partir dos resultados coletados por meio da análise da editoria, verificamos que o esporte praticado pelas mulheres carece de maior divulgação e apoio da mídia para sua difusão. Pode-se dizer que o ele ocupa um lugar secundário na mídia e esta valoriza a feminilidade da atleta mais que suas habilidades no esporte que atua. Se a atleta não apresenta um padrão de feminilidade que seja interessante aos olhos da mídia, o esporte que ela representa recebe menor atenção, constituindo assim, uma hierarquia de gênero.

    Por fim, percebemos que o esporte feminino, comparado ao masculino, teve veiculação midiática de 2,7% no período da coleta, 37 vezes menos que o esporte masculino. Isto quer dizer que os dados refletem a cultura da sociedade relacionada à figura da mulher, mesmo transpondo vários obstáculos, ainda há discriminação e preconceitos em relação às mulheres atletas.

    Verificamos, então, a necessidade de refletir a respeito do assunto, debater e criar espaços para a divulgação das mulheres atletas na mídia, pois ela é responsável pelo incentivo ao crescimento dos esportes e atletas.

    Por fim, identificamos que houve, sim, crescimento na prática esportiva feminina nas últimas décadas e, hoje, as mulheres já têm espaço nas mídias, mas quando comparadas ao espeço ocupado pela prática esportiva masculina, o gênero feminino apresenta desvantagem.

Notas

  1. Os exemplares são distribuídos em cerca de 45 municípios, numa área que abrange a Região Metropolitana de Porto Alegre, Vale dos Sinos, Vale do Caí, Vale do Paranhana, Serra Turística e parte do Litoral Norte, o que representa 19,29% da população do estado de Rio Grande do Sul (GRUPO EDITORIAL SINOS, 2011).

  2. Entre eles atletismo, na modalidade pentatlo, natação, ginástica rítmica, handebol, basquete, vôlei de praia e lutas.

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