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Treinamento concorrente: um estudo de revisão

El entrenamiento concurrente: un estudio de revisión

 

*Graduado em Educação Física (UNIVERSO/RJ)

Mestre em Educação Física (UNIMEP/SP)

Professor da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro

**Graduando em Educação Física (UNIVERSO/RJ)

***Docente do curso de graduação em Educação Física (UNIVERSO/RJ)

Mestre em Ciências da atividade física (UNIVERSO/RJ). Professor do IFRJ/RJ

Rubem Machado Filho*

Thiago da Silva Rocha Romão**

Edson Farret***

rubemfisiologista@bol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Denominam-se treinamento concorrente os programas de treinamento que combinam força e resistência aeróbica na mesma sessão de treino. Diversos estudos têm demonstrado que atividades físicas de características aeróbias apresentam redução significativa dos níveis pressóricos pós-exercício, enquanto que após exercícios resistidos resultados controversos têm sido evidenciados. Os mecanismos fisiológicos que podem mediar às respostas adaptativas do treinamento concorrente permanecem especulativos, mas parecem indicar alterações nos padrões de recrutamento neural, atenuação na hipertrofia muscular ou ambos. Recentemente, vários pesquisadores demonstraram que o treinamento concorrente resultou numa maior transição de fibras rápidas para lentas e que também houve uma atenuação da hipertrofia das fibras musculares do tipo I quando comparado ao treinamento de força isolado. Na hipótese crônica do treinamento concorrente, acredita-se que as adaptações ocasionadas pelo treinamento dessas duas capacidades motoras de forma isolada é que causariam o efeito de diminuição na força ou no rendimento aeróbio. O presente estudo tem como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre alguns aspectos correlatos ao treinamento concorrente.

          Unitermos: Treinamento concorrente. Revisão de literatura. Sessão de treino.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Denominam-se treinamento concorrente os programas de treinamento que combinam força e resistência aeróbica na mesma sessão de treino (MACHADO FILHO, CARDOSO, GONÇALVES, 2011). Treinamento de força e resistência podem ser realizados concorrentemente para melhorar a performance em esportes, assim como para reabilitação de lesões e doenças cardiovasculares (MACHADO FILHO, CARDOSO, GONÇALVES, 2011).

    Diversos estudos têm demonstrado que atividades físicas de características aeróbias apresentam redução significativa dos níveis pressóricos pós-exercício, enquanto que após exercícios resistidos resultados controversos têm sido evidenciados, como a elevação, manutenção, ou ainda redução da pressão arterial pós-exercício (CUNHA et al., 2006). Parece claro que a magnitude e a duração da queda pressórica podem ser influenciadas por diversos fatores, como a amostra estudada (normotensos ou hipertensos), o tipo, a intensidade e a duração do exercício (BERMUDES et al., 2003).

    Os mecanismos fisiológicos que podem mediar às respostas adaptativas do treinamento concorrente permanecem especulativos, mas parecem indicar alterações nos padrões de recrutamento neural, atenuação na hipertrofia muscular ou ambos (FLECK, KRAEMER, 2006).

    Recentemente, Putman et al. (2004) demonstraram que o treinamento concorrente resultou numa maior transição de fibras rápidas para lentas e que também houve uma atenuação da hipertrofia das fibras musculares do tipo I quando comparado ao treinamento de força isolado. Além disso, Green et al. (1999) demonstraram haver uma conversão mais evidenciada no continuum das fibras musculares para o tipo IIa e uma redução mais acentuada nas fibras tipo IIb quando comparado às adaptações do treinamento aeróbico isolado.

    Na hipótese crônica do treinamento concorrente, acredita-se que as adaptações ocasionadas pelo treinamento dessas duas capacidades motoras de forma isolada é que causariam o efeito de diminuição na força ou no rendimento aeróbio uma vez que algumas dessas adaptações podem ser consideradas como antagônicas para o rendimento dessas capacidades.

    O presente estudo tem como objetivo fazer uma revisão da literatura sobre alguns aspectos correlatos ao treinamento concorrente.

Metodologia

    Foram pesquisadas as bases de dados Medline e Lilacs, utilizando os descritores: "Treinamento concorrente", "Treinamento de força", "Treinamento aeróbio", "Frequência cardíaca" e "Pressão arterial", no período 2009 a 2013.

    Para o cômputo do total de estudos identificados foi verificada a duplicação entre as bases de dados, sendo cada artigo contabilizado somente uma vez. A partir dos estudos identificados, considerando a leitura dos títulos e resumos, foram selecionados aqueles artigos originais, todos os artigos selecionados foram avaliados considerando a leitura e análise criteriosa do texto completo, alguns artigos de revisão ou tese também foram utilizados.

    Com o objetivo de localizar artigos que não tivessem sido encontrados na busca inicial, a lista de referências dos estudos incluídos foi utilizada para a identificação de outros artigos. Esses artigos também foram avaliados respeitando os critérios de seleção.

Algumas pesquisas relevantes correlatas ao treinamento concorrente

    Em um estudo realizado por Machado Filho, Cardoso, Gonçalves (2011), utilizando 10 indivíduos com idade de 30,8 ± 12,8 (19 a 53 anos) (4 hipertensos e 6 normotensos) de ambos os gêneros (5 homens e 5 mulheres), para verificar o comportamento da pressão arterial em uma sessão de treinamento concorrente, os pesquisadores supracitados após verificarem os resultados concluíram que o treinamento concorrente de exercícios aeróbio e contra-resistência em intensidade moderada provoca HPE (Hipotensão pós- exercício) por até 60 minutos.

    Duarte et al. (2009), objetivando analisar a resposta aguda da FC, PA e DP no período pré e pós – esforço na modalidade Circuit Training em nove pessoas do gênero masculino e cinco do feminino, praticantes de musculação há pelo menos 12 semanas, após os resultados descobriram que o treinamento em circuito combinando exercícios resistidos (aparelhos da musculação) e aeróbios (bicicleta estacionária) pode influenciar nas respostas cardiovasculares agudas. Diferenças significativas foram encontradas nos valores da FC, PA e DP pré e pós – esforço.

    No estudo clássico de Hickson (1980) três grupos treinaram por 10 semanas. O primeiro grupo realizava apenas treinamento de força, o segundo realizava apenas treinamento aeróbio, e o terceiro grupo realizava a combinação de ambos os treinos caracterizando o treinamento concorrente. Comparado ao pré-treino notou-se um aumento de força nos grupos treinamento de força e treinamento concorrente, no entanto o grupo do treinamento concorrente atingiu um platô no aumento de força (31%) na oitava semana e apresentou um decréscimo (25%) no final do estudo, enquanto o grupo do treinamento de força apresentava um aumento de 44% em relação ao pré-treino (PAULO et al., 2005).

    Bell et al. (1997) submeteram um grupo de remadores a um programa de treinamento concorrente com uma frequência de três vezes por semana e não houve diferença na força quando comparado ao grupo de treinamento de força. Possivelmente, essa frequência de treinamento foi suficiente para o sujeito não entrar em estado de overtraining (PAULO et al., 2005).

    Alguns autores têm sugerido que mulheres podem ser hipercortisólicas (ROELFSEMA et al., 1993; TSAI et al., 1991), e este fenômeno poderia ser potencializado com o protocolo de treinamento concorrente (BELL et al., 2000). Além disso, a ausência de alteração no nível de testosterona, associado ao nível elevado de cortisol em mulheres, levaria a uma diminuição da razão testosterona/cortisol criando estado favorável para o aparecimento do overtraining (PAULO et al., 2005).

    Sendo assim, torna-se necessário considerar o nível de treinamento, gênero, e períodos de recuperação suficientes na montagem de protocolos de TC para que os sujeitos não entrem no estado de overtraining.

Possíveis efeitos fisiológicos da “concorrência”

    Sale et al. (1990) compararam as respostas adaptativas ao treinamento concorrente tendo sessões de treinamento de força e treinamento aeróbico no mesmo dia e em dias alternados. Para equalizar o volume e a intensidade do protocolo dividiu-se dois grupos: o primeiro Grupo A-2d treinava duas vezes por semana sendo que as sessões de treinamento de força e treinamento aeróbico eram treinadas num único dia; o segundo Grupo B-4d treinava quatro vezes por semana sendo que as sessões de treinamento de força e treinamento aeróbico eram em dias alternados. O Grupo B-4d em relação ao Grupo A-2d aumentou significantemente a força máxima (+25% vs +13%) e o número de repetição a 80% de 1RM até a fadiga (+64% VS +39%). Já a melhora do VO2 máx. foi similar nos dois grupos (+5% vs +2%).

    Nesse estudo, Sale et al. (1990) alertam que o treinamento concorrente no mesmo dia pode causar prejuízo no desenvolvimento da força, conforme defende a hipótese aguda. Esse estudo demonstra que a “qualidade” da sessão do treinamento de força pode ser prejudicada quando se treina o componente aeróbio no mesmo dia. Os autores acreditam que o estímulo aeróbio poderia estar causando diferentes adaptações no sistema nervoso, pois a área de secção transversal (AST) do músculo não foi diferente nos dois protocolos. Isto é, uma vez que eles não acharam diferenças na AST entre os dois grupos, eles especularam a causa do efeito de concorrência encontrada como um fator neural. No entanto, não se exclui a possibilidade que a atenuação na produção força durante o treinamento concorrente tenha como causas o fator metabólico e o hormonal (PAULO et al., 2005).

    Fortalecendo a possível mudança no padrão de ativação parece que o efeito da concorrência é maior no desenvolvimento da potência, alguns autores demonstraram que os efeitos do treinamento concorrente são maiores quando a força é desenvolvida em alta velocidade (PAULO et al., 2005). Dudley e Djamil (1985), utilizando altas velocidades de contração concêntrica no dinamômetro isocinético, demonstraram que o grupo do treinamento concorrente melhorou em menor proporção que o grupo do treinamento de força isolado.

    Há muito tempo tem se evidenciado que a treinamento aeróbico pode afetar negativamente a força rápida. Na década de 70, por exemplo, ONO et al. (1976) apud Nelson et al. (1990) demonstraram que o treinamento aeróbico isolado diminuiu a altura do salto vertical máximo em corredores. Neste sentido, parece ser interessante não realizar o TC em períodos que se queira melhorar a força rápida.

Considerações finais

    Pode-se concluir que o treinamento concorrente de exercícios aeróbio e contra resistência em intensidade moderada provoca hipotensão pós-exercício (HPE) por até 60 minutos, entretanto, verificaram-se reduções mais acentuadas dos níveis da PAS quando comparado com os níveis de PAD.

    O rendimento esportivo durante jogos e competições pode ser altamente afetado com a aplicação de protocolos de treinamento concorrente, ou seja, a correta manipulação da força e da resistência aeróbia é essencial para obtenção da máxima performance sem ter queda no rendimento em nenhuma dessas capacidades durante uma periodização do treinamento.

Referências bibliográficas

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  • TSAI, L.; JOHANSSON, C.; POUSETTE, A.; TEGELMAN, R.; CARLSTROM, K.; HEMMINGSSON P. Cortisol and androgen concentrations in female and male elite endurance athletes in relation to physical activity. European Journal Applied Physiology, v.63, n.3-4, p.308-311, 1991.

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