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O corpo do sujeito e a realidade

El cuerpo del sujeto y la realidad

 

*Graduação em Educação Física Bacharelado pela Universidade Estadual de Londrina, UEL

**Graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP

Mestrado em Educação pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP

Doutorado em Educação pela Universidade de São Paulo, USP

Livre-Docência em Sociologia do Lazer e Cultura Popular pela Universidade Estadual Paulista

Atualmente é professora adjunta da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho-UNESP

Atualmente cursa o Mestrado no Programa de Pós-Graduação Ciências da Motricidade UNESP

Programa de Pós-Graduação Ciências da Motricidade UNESP Rio Claro

GEECCA-Grupo de Estudos Educação, Corpo, Cultura e Ambiente

Leandro Dri Manfiolete*

Carmen Maria Aguiar**

leandro_dri@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este ensaio tem como objetivo investigar a relação do corpo do sujeito com a realidade a partir etimologia da palavra corpo e os nomes que foram dados como formas de descrição ao longo da história. A idéia ao longo do texto foi de dialogar com autores que discutem percepção e movimento, bem como as influencias culturais no controle e significação do corpo, deste que se tornou para a ciência fonte de intervenção, informação e pesquisa.

          Unitermos: Corpo. Cultura. Percepção

 

Abstract

          This paper aims to investigate the relationship of the subject's body with the reality from the etymology of the word body and the names that were given as forms of description throughout history. The idea was along to text dialogue perception and movement authors, and influences such as cultural signification not control and body, that for science source of intervention, information and research.

          Keywords: Body. Culture. Subject.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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    No campo da educação física há certa ênfase na discussão sobre o corpo. Ao lado desse substantivo, imprime-se uma série de adjetivos como saudável, natural, holístico, moderno, consciente, inteiro, prazeroso, gordo, magro. Para aqueles que trabalham com o ser humano num contexto do exercício físico deste, lidam com adjetivos incutidos nesta palavra, tornando assim importante uma reflexão sobre o tema.

    Antes de discutir o corpo, é importante a partir da história dos nomes utilizados ao longo da história como uma das formas de descrição. O substantivo corpo, do latim corpus e corporis, da mesma família de corpulência e incorporar; corpus sempre designou o corpo morto, o cadáver em oposição à alma ou anima. No entanto, no antigo dicionário indo-iraniano teria ainda uma raiz em krp que indicaria forma, sem qualquer separação como aquela proposta pela nomeação grega que usou soma para o corpo morto e demas para o corpo vivo (GREINER, 2005, p. 17).

    Assim, nasce a divisão que atravessou séculos e culturas separando o material do mental, o corpo morto e o corpo vivo. Neste sentido, a noção de corpo teria a ver também com sólido, tangível, sensível e, sobretudo banhado pela luz, portanto visível e com forma. Como o corpo se compõe de muitos elementos acabou designando ainda tudo que está reunido como uma “corporação”. Assim, o corpo poderia ser entendido também como corpo de uma doutrina ou corpo da lógica. Já a carne ou carnal (em grego sarx e em latim caro) implicaria em keiro, do grego cortar, destacar, “dividir a carne das bestas, os sacrifícios para a refeição comum”. O que se percebe em todas essas nomeações é a necessidade de estabilizar algo em torno de um objeto para que este represente o que resiste ao que poderia ser desfeito, a solidez como espécie de solidariedade entre seus componentes, a coerência, a coesão e a figurabilidade ou a face própria para cada entendimento de corpo (GREINER, 2005, p. 17).

    O corpo, pedaço de vida guiado pela mente que nos faz perceber a realidade. A noção de percepção é primordial para compreendermos a relação com o ambiente e os sentidos que nos conectam a experiência vivida. Composto por uma dinâmica molecular, o corpo se forma mediante perturbações advindas do ambiente, das pessoas e da sociedade com as quais convive, sendo ao mesmo tempo agente modificante da realidade presenciada.

    Percebemos então, como ocorre à interação entre o corpo, ambiente e a cultura, o que nos faz observar que, mesmo o corpo sendo autônomo, mantém a dependência com o entorno. Merleau-Ponty (1999, p. 519) diz que o nosso corpo, enquanto se move por si mesmo, ou melhor, enquanto é inseparável de uma visão de mundo e é esta mesma visão realizada, é a condição de possibilidade, não apenas da síntese geométrica, mais ainda de todas as operações expressivas e de todas as aquisições que constituem o mundo cultural a sua volta.

    Para este autor, a percepção ocorre na interação entre o sujeito e o objeto, através do entrelaçamento do corpo com a experiência vivida, ou seja, não há diferença entre sensação e percepção. A sensação não antecede a percepção; pois, na própria sensação há sentido, o qual emerge no encontro com a experiência perceptiva. O que ocorre é uma relação recíproca entre o sujeito que percebe e o objeto que é percebido.

    A percepção humana é, em si, um fenômeno porque através da consciência, pode o corpo transcender para fora de si e somente quando o faz para fora, consegue identificar-se enquanto corpo. A força maior que leva o corpo à sua transcendência é a mesma que faz com que os corpos das pessoas necessitem da presença de outras pessoas para manter a existência corporal (SARTRE, 1997).

    O que parece intrigante no pensamento do autor supracitado é a própria percepção não isolada de corpo, a percepção do corpo em-si, somente acontece como resultado dessa percepção do para-si, que por sua vez, é o em-si que se transforma em consciência. A formação do para-si carece do outro para formar o eu, que se pode sintetizar a partir da percepção de outras pessoas sobre aquele que se percebe (COSTA, 2011).

    O corpo é ao mesmo tempo a ferramenta original com que os humanos moldam o seu mundo e a substância original a partir da qual o mundo humano é moldado. Devido à maneira de ser/estar, Merleau Ponty (1999) entende o corpo como um lugar de apropriação de sentido no mundo. Para Bourdieu (2002) o indivíduo é um coletivo encarnado, um social incorporado, ou seja, a relação desse corpo com o todo é ligada a imposição de uma representação legítima.

    Na sociedade contemporânea, o corpo tem se configurado cada vez mais como um dos espaços simbólicos na construção dos modos de subjetividade de nossa época. No fundamento de qualquer prática social, como mediador privilegiado e pivô da presença humana, o corpo está no cruzamento de todas as instancias da cultura, o ponto de atribuição por excelência do campo simbólico (LE BRETON, 2003, p. 31).

    O corpo expressivo, enquanto corpo que se comunica, que demonstra emoções em uma comunicação sem palavras, somente pela gestualidade, é um corpo que apesar de expressivo, particular de cada indivíduo, segue um esquema corporal social, entendido pela comunicação, porque outros detêm o mesmo signo expressivo. Para Hong (1999) todo uso do corpo expressivo é uma atitude em relação ao mundo social que, por mais que se tenha uma regulamentação, é sempre uma nova atitude a partir de um estilo individual e própria de cada agente a uma dada situação.

    Compreende-se a existência de uma multiplicidade de gestos corporais que variam nas diferentes civilizações. Por vezes, um gesto pode ter significados distintos, ligando de maneira particular, determinadas pessoas, enquanto uma maneira de ser no mundo. O corpo social é o corpo do indivíduo portador do habitus, como um sistema de disposições duradouras que geram e estruturam práticas reguladas que são incorporadas e inconscientes, regularmente reproduzidas. Este passa a ser o portador do habitus, uma vez que as disposições incorporadas moldam o corpo a partir das condições materiais e culturais, até torná-lo um corpo social. Este é o processo de socialização, produzindo um ser individual forjado nas e pelas relações sociais, fazendo da própria individualização um produto da socialização (MEDEIROS, 2011, p. 285).

    Bourdieu (2002) afirma que o que se aprende pelo corpo não é algo que, como um saber, se possa segurar diante de si, mas é algo que se é. Essa afirmação mostra que o conhecimento apreendido e que o corpo incorpora não é palpável, pois o corpo não representa um papel, não interpreta um personagem e sim se identifica com este formato determinado socialmente. Medeiros (2011) entende que reconhecida como sua maneira de ser, o sujeito não consegue perceber que grande parte do investimento do corpo que visa sua construção socializada é responsável por determinar sua posição de ocupação no espaço social.

    O corpo é a extensão do indivíduo com a realidade. Moldado pelo contexto social e cultural em que o autor se insere, o corpo é o vetor semântico, pelo qual a evidência da relação com o mundo é construída. Do corpo nascem e se propagam às significações que fundamentam a existência individual e coletiva; ele é o eixo da relação com o mundo, o lugar e o tempo nos qual a existência toma forma, através da fisionomia singular de um ator. Através dele, o homem apropria-se da substância de sua vida traduzindo-a para os outros, servindo-se dos sistemas simbólicos que compartilha com os membros do grupo social (LE BRETON, 2007, p. 7).

    Nosso corpo possui historicidade tanto na estrutura orgânica, quanto nas interações com a cultura em que vamos convivendo; o que desmistifica a idéia de que só os estudos culturais reconhecem a historicidade do corpo. Desse modo, a Biologia passa a reconhecer as diversidades individuais e culturais, desautorizando, portanto, a idéia da mundialização de um corpo padrão que tanto vem sendo preconizada nas tabelas normativas de ideais de peso, altura, dobra cutânea, entre outras medições, além da constante padronização dos gestos visualizadas no esporte de rendimento e em outras manifestações da atividade física.

    O movimento do corpo não é um pensamento, mas um hábito adquirido em um determinado tempo, se apresentando essencial motor e perceptivo. Este esquema corporal só pode se constituir apropriando dos principais instrumentos culturais. Não pode ser tratado somente como um resumo de nossa experiência corporal, mas como aquisição ao nível da percepção e dos atos, maneira expressa do corpo no mundo (MEDEIROS, 2011).

    Na nossa sociedade, o corpo é o suporte de uma construção identitária realizada pela estrutura social sobre a pessoa, construção da qual o próprio indivíduo não é inteiramente sujeito (MONTAGNER, 2006). Para Foucault (1994) o corpo é um objeto controlado socialmente, subjugado por normas e códigos, mesmo assim, a maior contribuição deste pensador esteja em sua concepção de corpo social orgânico, com a capacidade de rebelar-se frente ao controle social, justamente por estar organizado.

    De qualquer forma, o resultado de tal trabalho de incorporação reside em alcançar um comportamento em consonância com as estruturas sociais, sem ser uniformizado em regras definitivas. Para Bourdieu (2002), se todas as sociedades investem tal atenção aos detalhes aparentemente mais insignificantes da atitude, da postura, das maneiras corporais e verbais, é que, tratando o corpo como uma memória, elas lhe confiam sob uma forma abreviada e prática os princípios fundamentais do arbitrário cultural.

    Ao corpo se aplicam crenças e sentimentos que estão na raiz da vida social e que, ao mesmo tempo, não estão subordinados diretamente ao corpo. O universo das representações se une e sobrepõe ao fundamento natural e material, sem decorrer diretamente dele, sendo que as forças físicas e coletiva estão simultaneamente juntas e separadas.

    Que o corpo porta em si a marca da vida social, expressa-o a preocupação de toda sociedade em fazer imprimir nele, fisicamente, determinadas transformações que escolhe de um repertório cujos limites virtuais não se podem definir. Se considerarmos todas as alterações que sofre, constataremos que o corpo é uma massa de modelagem à qual a sociedade imprime formas segundo suas próprias disposições, formas estas nas quais a sociedade projeta a fisionomia do seu próprio espírito (RODRIGUES, 1979, p. 62).

    O corpo humano não é um dado puramente biológico sobre o qual a cultura embute especificidades. O corpo é fruto da interação natureza/cultura. Conceber o corpo como meramente biológico é pensá-lo como natural e, conseqüentemente, entender a natureza do homem como anterior ou pré-requisito da cultura (DAOLIO, 1995). Santos (1990) critica os que propõem a volta a um suposto corpo natural não atingido pela cultura, pois não podemos nos esquecer da natureza necessariamente social de uso do corpo, sendo possível somente pensar em novos usos do corpo, já que a cultura é passível de reinvenções e recriações.

    Aliados a esse suporte biológico, o nosso nome/sobrenome, adjetivos por excelência de identificação do indivíduo, vêm a compor a objetivação da relação entre um corpo e o símbolo que o identifica. Todo o aparato social de formação dessa identidade, entendida como máscara social, virá a se sedimentar sobre essa relação de tornar concreto um todo biográfico que na realidade não existe, ou seja, podemos acompanhar as mudanças sucessivas pelas quais um agente social passa durante seu movimento na sociedade e que acaba por sedimentar um habitus relacionado à história do indivíduo (MONTAGNER, 2006, p. 518).

    Por essência, o humano é um ser gregário, já que ele sente a necessidade de estar em contato com seus semelhantes na constituição do entorno. Com isso, a socialização é algo recorrente na vida em sociedade, desde a infância quando brincamos com o outro até a vida adulta produzindo cultura, sendo o contato social primordial na constituição do sujeito. Não sendo simples expressão individual, o corpo representa os valores comuns da vida em sociedade, de formas diferenciadas no tempo e no espaço; a motricidade, como expressão da presença no mundo, revela um conhecimento mais amplo de como esta pensa sobre si mesma (BRUHNS, 2000).

    Nossos corpos não atuam no mundo social como coisas “em si mesmas”, mas ao contrário, sua atuação é continuamente mediada pela cultura. A cultura inscreve-se sobre os corpos, tornando-se necessário examinar os modos particulares de como isto ocorre em diferentes sociedades, incluindo o papel das imagens sobre nossas percepções de corpo e os modos pelos quais a construção das identidades depende da construção das imagens do corpo (FERTHERSTONE, 1994, p. 51).

    Para nos tornarmos seres humanos aceitos, pessoas “confiáveis”, com plenos direitos de cidadãos, devemos desenvolver certas competências e controles, passar por fases do desenvolvimento do corpo nas quais nossas capacidades corporais serão formadas e moldadas. Nesse contexto, a própria capacidade cultural depende de um conjunto de pré-condições biológicas que se desenvolveram como parte de um longo processo de evolução a partir de outros primatas (FERTHERSTONE, 1994, p. 65).

    A extensão dessas capacidades e controles corporais pode sofrer variação sociohistórica. Como afirma Featherstone (1994) com relação às sociedades ocidentais contemporâneas, se não adquirirmos os controles nos primeiros anos, visualizam-nos como retardados e classificam-nos como dependentes por toda vida. Concomitantemente, torna-se essencial a manutenção desses controles para permanecermos plenos nas relações sociais.

    O corpo parece ser um molde que se adapta às significações sociais. Por vezes parece ser um rascunho que pode ser refeito ou aperfeiçoado de acordo com o desejo e o bolso do sujeito. Nosso corpo está se tornando um grande laboratório onde se desenha a própria condição humana. Todas as condições técnicas necessárias são oferecidas para que possamos administrar nosso corpo com as opções disponíveis no mercado onde com um pouco de esforço e trabalho físico, o sujeito é persuadido a alcançar a aparência desejada (DANTAS, 2011).

    A aparência torna-se causa e efeito da comunicação e, atrelada ao experimentar simultaneamente emoções, participar do mesmo ambiente, comungar os mesmos valores, atribui sentido a esse conjunto. O corpo engendra comunicação, lembra-nos Maffesoli (1996, p. 134), porque está presente, ocupa espaço, é visto, favorece o tátil. A corporeidade é o ambiente geral no qual os corpos se situam uns em relação aos outros. Como tal, o corpo constitui-se no horizonte da comunicação, palco para a exacerbação da aparência.

    O corpo em relação, informatizado, estabelece uma dependência com a decifração de intimidades, a qual conduzirá a “microrrevoluções subjetivas”, expandindo a percepção, abrindo possibilidades de “experimentar” o mundo com satisfação (Sant’anna, 1993, p. 259). Nesse sentido, com referencia a vários aspectos da vida social (desde drogas, esportes, terapias, novas tecnologias do lazer e das comunicações), os momentos de “expressão do eu”, que envolvem revoluções subjetivas, encontram estímulos e intensidade no cotidiano.

    Devemos estar atentos sobre a questão do prazer, bastante almejado, porém, nem sempre alcançado, pois os dissabores são múltiplos, no que se refere ao quadro social de insegurança instaurada no cotidiano, proveniente desde a questão do desemprego e da violência (física e moral, relacionada à miséria), passando pela grande carga de informações, que geram angústia pela não-capacidade de sua absorção, como a intensa competitividade gerada nesse processo. A necessidade de estarmos sempre “ligados” nos conduz a experimentarmos frações de prazeres nem sempre completados (BRUHNS, 2000, p. 99).

    Dantas (2011) relata que nossa relação com o corpo encontra-se atravessada pelo momento histórico atual e da intervenção médica que nos diz exatamente como enfrentar e alterar as mudanças do corpo. Descoberto pelo olhar contemporâneo, o corpo vem sendo objeto de uma incansável interrogação que se estende das páginas dos jornais, televisão aos debates acadêmicos.

    O mundo globalizado parece ter colocado o corpo na ordem do dia, porém, isto não resultou em produção de conhecimento, e por isso mesmo que o culto ao corpo merece uma reflexão partindo do ponto que a cultura apropriou-se do corpo biológico para redefini-lo em termos sociais transformando em corpo cultural. Castro (2005) afirma que, no mundo humano, a experiência corporal é invariavelmente atravessada pela vivencia cultural, tornando-se uma fonte de símbolos, de construção de identidades e de estilos de vida, ou seja, o corpo é um território de cultura.

    É notório o quanto o conceito de boa forma é confundido com o significado de saúde. Ambos os conceitos referem-se às condições do corpo, mas o primeiro confere uma certificação de pertencimento e inclusão. Para Bauman (2007) a boa forma refere-se à qualidade do corpo em produzir prazeres que será capaz de usufruir como um corpo bem-disposto, hábil, eficiente e grato dos prazeres conquistados. O problema encontra-se em colocar o corpo com demasiada freqüência no estado de boa forma, choca-se com o propósito que este estado deveria produzir. Para o autor, entender o modo pelo qual a sociedade compreende e se relaciona com o corpo é uma questão fundamental na medida em que devemos conceder o corpo como potencialidade elaborada pela cultura e desenvolvida nas relações sociais porque na maior parte das vezes estabelecemos com nosso corpo uma relação estética subordinada a padrões de beleza e saúde.

    De fato, o corpo tornou-se fonte de intervenção, informação e pesquisa. O discurso científico nos invade com suas revolucionárias ferramentas estatísticas responsáveis por definir as possibilidades de adoecimento, felicidade e mortalidade dos indivíduos e dele esperamos prazer, alegria e sensações ilimitadas. Essas discussões podem se mostrar como uma simples constatação dos atravessamentos vividos em nossa época ou pode nos levar a compor outras perspectivas sobre o corpo, este que não se esgota numa compreensão biológica e que invariavelmente está atravessado por toda uma vivencia cultural que expressa os nossos modos de ser e estar no contemporâneo (DANTAS, 2011).

    O corpo é uma síntese da cultura, porque propaga noções específicas da sociedade da qual se insere. A cultura foi à própria condição de sobrevivência da espécie. Portanto, pode-se dizer que a natureza do homem é ser um ser cultural. O homem, através do seu corpo, assimila e apropria de valores, normas e costumes sociais, num processo de incorporação, pois mais do que um aprendizado intelectual, o indivíduo adquire um conteúdo cultural, que se instala no seu corpo, no conjunto de suas expressões (DAOLIO, 1995).

    Não podemos conceber um indivíduo que não seja fruto da cultura e também não podemos imaginar um corpo natural. Portanto, qualquer adjetivo que se associe ao corpo é fruto de uma dinâmica cultural particular, e só faz sentido nesse grupo. O homem só chegou ao seu estágio atual de desenvolvimento devido a um processo cultural de apropriação de comportamentos e atitudes que, inclusive, foram transformando o seu componente biológico. Não é possível desvincular o homem da cultura (DAOLIO, 1995, p. 25).

    O que o diferencia de outros animais, principalmente, é a sua capacidade de produzir cultura. Cultura essa que não é um ornamento, um algo a mais que se sobrepôs à natureza animal. A cultura foi a própria condição de sobrevivência da espécie. Portanto, pode-se dizer que a natureza do homem é ser um ser cultural (GEERTZ, 2003).

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