Principais lesões em corredores em diferentes tipos de provas Main injuries in runners in different types of competition |
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*Profissional de Educação Física pela Faculdade de Educação Física de Santos (FEFIS-UNIMES) Santos-SP. Especialista em Fisiologia do Exercício aplicado à clínica pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Santos-SP e Graduando em Fisioterapia pelo Centro Universitário Lusíada (UNILUS) Santos-SP **Profissional de Educação Física pela Universidade Santa Cecília (UNISANTA) Santos-SP ***Profissional de Educação Física pela Faculdade de Educação Física de Santos (FEFIS-UNIMES) Santos-SP. Especialização em Aprendizado, desenvolvimentoe controle motor e Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Lusíada (UNILUS) Santos-SP****Graduanda em Fisioterapia pelo Centro Universitário Lusíada (UNILUS) Santos-SP *****Docente no curso de Fisioterapia Centro Universitário Lusíada (UNILUS) Santos-SP (Brasil) |
Carlos André Barros de Souza* Cristiane dos Santos** Flávia Alves de Oliveira Aquino*** Maria de Lourdes Caldas**** Rafaela Baggi Preto Alvarez**** Tiene Teixeira Turienzo**** Marcus Vinícius Gonçalves Torres Azevedo***** Avelino Ribeiro Buongermino***** |
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Resumo Hoje as corridas de rua são bem populares em todo o mundo, sendo praticadas em sua maioria por atletas amadores que buscam uma melhor qualidade de vida por meio da prática esportiva. Apesar de todos os efeitos benéficos da prática de corrida, tem-se observado uma elevada incidência de lesões no aparelho locomotor, sobretudo em membros inferiores. Partindo desta premissa, o objetivo deste trabalho é revisar os estudos que apontam as principais lesões em corredores e verificar se há diferença entre os tipos de lesões em diferentes tipos de provas. Foi realizada uma busca em banco de dados para identificar artigos científicos. Foram selecionados artigos com texto completo e alguns livros especializados no assunto para fundamentação neste estudo. O total de artigos encontrados foi de 357 e após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 123 artigos para o presente estudo, dos quais apenas oito estavam dentro dos critérios de inclusão e disponíveis com texto completo. Os resultados encontrados nessa pesquisa nos mostraram que as lesões de forma geral, ocorrem iguais para os quatro tipos de provas investigadas nessa pesquisa. Porém, foram encontradas poucas lesões em determinadas provas de forma isolada, o que sugere ser tipos de lesões específicos de cada prova. Unitermos: Lesões. Corredores.
Abstract Today the run of street are very popular in the entire world, being practiced mostly by amateur athletes who seek a better quality of life through sports. Although all beneficial effect at practice of run. Has observed a high incidence of injuries at locomotor apparatus, especially in lower limbs. Based on this premise, the objective of this study is to review the studies that link the main injuries in runners and observe the differences between the types of injuries in different types of competition. Was performed a search in the database to identify scientific articles. Were selected full text articles and some specialized books on the subject for complementation of this study. The total of articles found was 357 and after the application of the criteria for inclusion and exclusion were selected 123 articles for this study, of them only eight were within the inclusion criteria and full text available. The results found this study showed that injuries in general, the same occurs for the four types of competition investigated in this study. However few injuries were found in certain competition in isolation, this suggests that specific types of injury of each competition. Keywords: Injuries. Runners.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A Federação Internacional das Associações de Atletismos (IAAF) define as corridas de rua como provas de pedestrianismo disputadas em circuitos de rua com distâncias oficiais variando de 5 km a 100 km [1]. Comparada com a maioria dos exercícios e das atividades esportivas, a corrida é uma atividade altamente versátil, pois pode ser feita em uma ampla variedade de ambientes, fechados ou abertos, em pista ou terrenos irregulares, em subida, no mesmo nível ou em descida, no calor do verão ou no frio do inverno, durante o dia ou à noite [2]. Além de ser um gesto motor aprendido nos primeiros anos de vida, não é necessário material específico muito sofisticado, para se praticar a corrida [3].
De acordo com Machado [1], hoje as corridas de rua são bem populares em todo o mundo, sendo praticadas em sua maioria por atletas amadores que buscam uma melhor qualidade de vida por meio da prática esportiva. Apesar de todos os efeitos benéficos da prática de corrida, tem-se observado uma elevada incidência de lesões no aparelho locomotor, sobretudo em membros inferiores [4]. Essa alta incidência pode ser explicada pela falta de orientação profissional para a prática da corrida e que esses corredores possam estar treinando de forma equivocada pela falta de acompanhamento de um profissional especializado. Em suma, embora correr seja aparentemente fácil, deve-se ter o conhecimento aprofundado das várias especificidades envolvidas na prática desse esporte, como distância, ritmo de trabalho, tipo de metodologia e tipo de piso [1;2].
De acordo com Bennell e Crossley [5], a realização de exercícios de maneira exaustiva, sem orientação ou de forma inadequada, pode contribuir para o aumento de lesões esportivas e estas estão ligadas a fatores intrínsecos e extrínsecos. Os fatores extrínsecos são aqueles que direta ou indiretamente estão ligados à preparação ou à prática da corrida e envolvem erros de planejamento e execução do treinamento. Já os fatores intrínsecos, que são aqueles inerentes ao organismo e incluem anormalidades biomecânicas e anatômicas, flexibilidade, histórico de lesões, características antropométricas, densidade óssea, composição corpórea e condicionamento cardiovascular [6].
Segundo Schmidt e Bankoff [7], atletas que treinam e competem em corridas de longa distância, geram e acumulam elevadas taxas de pressão na região plantar, as quais se propagam para o restante do corpo. Como as práticas semanais e mensais dessa atividade são altas e repetitivas, podem gerar distribuição inadequada da pressão na superfície plantar levando a deformações e comprometimentos morfofisiológicos no sistema locomotor, em especial nos membros inferiores [7]. Partindo desta premissa, o objetivo principal deste trabalho é revisar os estudos que apontam as principais lesões em corredores e verificar se há diferença entre os tipos de lesões em diferentes tipos de provas.
Materiais e métodos
Foi realizada uma busca em banco de dados para identificar artigos científicos. Esta busca foi realizada nos seguintes bancos de dados: Lilacs, Scielo, PEDro e PubMed. Os artigos selecionados foram submetidos aos seguintes critérios de inclusão: estudos que explanassem sobre lesão em corredores de rua, pesquisas de campo, estudos que apontassem os tipos de lesão e os que estavam disponíveis completo. Foram combinadas as seguintes palavras-chave: lesões e corredores, running and injury, nos idiomas português e inglês.
Como critérios de exclusão foram considerados os estudos de revisão de literatura, estudos que não faziam associação de corredores de rua com lesão, artigos que apontavam apenas local anatômico da lesão e artigos que somente estavam disponíveis em resumos.
Assim, foram selecionados oito artigos com texto completo e alguns livros especializados no assunto para fundamentação neste estudo.
Resultados
O total de artigos encontrados foi de 357 e após a aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados 123 artigos para o presente estudo, dos quais apenas oito estavam dentro dos critérios de inclusão e disponíveis com texto completo. A figura 1 apresenta o fluxograma do processo completo de inclusão dos artigos no estudo.
Figura 1. Fluxograma do processo de inclusão dos artigos na revisão bibliográfica
O Quadro I apresenta a extração de dados realizada para cada artigo que apresentou dados de levantamento de lesões em corredores de rua (estudos transversais, restrospectivos, estudo clínico e coorte prospectivo).
Quadro I. Descrição e resultados dos artigos incluídos na revisão.
Autor,
ano |
Tipo
de estudo |
População |
Lesões relacionadas a corrida |
% (n) |
McKean et
al. (8). |
Retrospectivo |
2825 corredores de
uma prova em que
cada corredor corria
aproximadamente
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Fascite plantar |
17,5 (495) |
Tendinopatia do tendão patelar |
12,5 (353) |
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Lesão de isquiotibiais |
12,5 (353) |
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Síndrome da banda iliotibial |
10,5 (297) |
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Tendinopatia do tendão calcâneo |
9,5 (268) |
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Entorse de tornozelo |
9,5 (268) |
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Síndrome do estresse medial da tíbia |
9,5 (268) |
|||
Síndrome femoropatelar |
5,5 (156) |
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Fratura por estresse |
4,5 (127) |
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Lesão meniscal |
3,5 (99) |
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Outras tendinites |
5,0 (141) |
Fallon et al. (9). |
Transversal |
32 ultra maratonistas |
Síndrome femoropatelar |
15,6 (10) |
Tendinopatia do tendão calcâneo |
7,8 (5) |
|||
Tendinite do extensor dos dedos |
7,8 (5) |
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|
Síndrome do estresse medial da tíbia
|
7,8 (5) |
|
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Tendinopatia do tendão patelar |
6,3 (4) |
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|
Dor do compartimento anterior |
6,3 (4) |
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Síndrome da banda iliotibial |
4,7 (3) |
|
|
|
Lesão muscular de quadríceps |
4,7 (3) |
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Lesão muscular na coluna |
3,1 (2) |
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Tendinite de fibulares |
3,1 (2) |
|
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Dor no joelho não específica |
3,1 (2) |
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Bursite do trocânter maior |
3,1 (2) |
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|
Tendinite do extensor longo do hálux |
3,1 (2) |
Jacobs et al. (10). |
Retrospectivo |
451 corredores de
prova de |
Dor no joelho |
21,4 (45) |
Dor no tornozelo |
12,4 (26) |
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Síndrome do estresse medial da tíbia |
9,5 (20) |
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Lesão de isquiotibiais |
6,7 (14) |
|||
|
|
Tendinopatia do tendão calcâneo |
6,2 (13) |
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|
|
|
Dor na panturrilha |
6,2 (13) |
|
|
|
Fascite plantar |
5,2 (11) |
Hutson et al. (11). |
Transversal |
25 ultra maratonistas |
Tendinite dos dorsiflexores do pé |
29,6 (8) |
Tendinopatia do tendão calcâneo |
18,5 (5) |
|||
Tendinopatia do tendão patelar |
18,5 (5) |
|||
Bursite de quadril |
11,1 (3) |
|||
|
Síndrome do estresse medial da tíbia |
11,1 (3) |
||
|
|
|
Síndrome femoropatelar |
7,4 (2) |
|
|
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Lesão muscular de gastrocnêmio |
3,7 (1) |
Hespanhol Jr. et al.
(12). |
Transversal |
200 corredores de
provas de |
Tendinopatia - joelho |
17,3 (19) |
Distensões / Ruptura Muscular /estiramento - pé |
15,5 (17) |
|||
|
Entorse (lesão da articulação e/ou ligamentos) - pernas |
13,6 (15) |
||
|
|
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Fascite plantar |
12,7 (14) |
|
|
|
Dor lombar/lombalgia/dor nas costas |
8,2 (9) |
|
|
|
Lesão de meniscos ou cartilagem |
8,2 (9) |
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Fratura por estresse (sobrecarga) – quadril |
6,4 (7) |
|
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Outros – tendão de Aquiles (calcâneo), Pélvis/Sacro/Nádega
|
18,1 (20) |
Barbosa.,(13). |
Transversal |
40 corredores de provas de |
Inflamação no joelho |
38,24 (16) |
Canelite |
35,30 (15) |
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Estiramento muscular |
5,88 (2) |
|||
|
|
Inflamação de quadril |
5,88 (2) |
|
|
|
Lesão calcânea |
2,94 (1) |
|
|
|
|
Estiramento muscular (quadríceps) |
2,94 (1) |
|
|
|
Tendinite do tendão de Aquiles |
2,94 (1) |
|
|
|
Inflamação do púbis |
2,94 (1) |
|
|
|
Fascite plantar |
2,94 (1) |
Pileggi et al. (4). |
Coorte prospectivo |
18 corredores de provas de |
Tendinopatia do tendão patelar |
22,7 (5) |
Síndrome do estresse medial da tíbia |
13,6 (3) |
|||
Síndrome da banda iliotibial |
9,1 (2) |
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Tendinopatia do tendão calcâneo |
9,1 (2) |
|||
Fratura por estresse da tíbia |
9,1 (2) |
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Bursite retrocantérica |
9,1 (2) |
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Lesão muscular da panturrilha |
4,5 (1) |
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Lesão muscular do adutor da coxa |
4,5 (1) |
|||
Fratura por estresse da crista ilíaca |
4,5 (1) |
|||
|
Bursite infrapatelar |
4,5 (1) |
||
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Fascite plantar |
4,5 (1) |
|
Jakobsen et al. 1994 (14) |
Estudo Clínico |
20 maratonistas |
Síndrome do estresse medial da tíbia |
20,0 (4) |
Entorse de tornozelo |
15,0 (3) |
|||
Tendinopatia do tendão calcâneo |
10,0 (2) |
|||
Ruptura de fibra muscular |
10,0 (2) |
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Joelho do corredor (síndrome femoropatelar) |
10,0 (2) |
|||
Fascite plantar |
10,0 (2) |
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Entorse de joelho |
5,0 (1) |
|||
Fratura de costelas |
5,0 (1) |
|||
Outras |
20,0 (4) |
Dos oito artigos inclusos, quatro eram transversais, sendo dois com provas de 10 km e dois com ultra maratonistas, dois retrospectivos, sendo um com corredores de 10 km e um com corredores de 20 km, um estudo de coorte prospectivo com corredores de 10 km e um estudo clínico com maratonistas. Entre as principais lesões encontradas em corredores de 10 km estão as tendinopatias no joelho, tendinite do tendão calcâneo, lesão muscular em isquiotibiais, quadríceps e gastriocnêmio, fascite plantar, síndrome do estresse medial da tíbia, canelite, dor inespecífica na panturrilha, fratura por estresse de quadril, lesão de menisco, dor lombar e outros. Totalizando 14 diferentes tipos de lesões.
Entre os ultra maratonistas foram encontradas 15 diferentes tipos de lesões, e as principais lesões encontradas foram: síndrome femoropatelar, tendinopatia do tendão calcâneo, tendinopatia do tendão patelar, síndrome do estresse medial da tíbia, tendinopatia de dorsiflexores do pé, bursite do trocânter maior, dor do compartimento anterior, síndrome da banda iliotibial, lesão muscular de quadríceps e outros.
Os maratonistas apresentaram um total de 11 tipos de lesões e entre as principais estão a síndrome do estresse medial da tíbia, entorse de tornozelo, tendinopatia do tendão calcâneo, ruptura de fibra muscular, fascite plantar, síndrome femoropatelar e outros.
Em corredores de 20 km foram identificadas 13 tipos de lesões e as principais encontradas foram: fascite plantar, tendinopatia do tendão patelar, lesão de isquiotibiais, síndrome da banda iliotibial, tendinopatia do tendão calcâneo, entorse de tornozelo, síndrome do estresse medial da tíbia, síndrome femoropatelar, fratura por estresse, lesão meniscal e outros.
Discussão
O objetivo desse trabalho foi revisar os estudos que apontam as principais lesões em corredores e verificar se há diferença entre os tipos de lesões em diferentes tipos de provas. Os dados obtidos mostram que quando agrupado os quatro diferentes tipos de provas de corrida analisadas nesse estudo, a tendinopatia de joelho, a síndrome femoropatelar, a tendinite do tendão calcâneo, as lesões musculares de quadríceps, isquiotibiais e gastriocnêmios, estão presentes em todas as modalidades.
A fascite plantar está presente em corredores que disputam provas de 10 km, 20 km e maratonistas, estando ausente em ultra maratonistas. Já a síndrome do estresse medial da tíbia só esteve ausente em corredores de maratona. O entorse de tornozelo só foi verificado em corredores de maratona e de 20 km. As lesões meniscais e fraturas por estresse só foram verificadas em corredores de 10 km e 20 km. Corredores de ultra maratonas e de 20 km, foram os únicos que apresentaram a síndrome da banda íliotibial.
Ainda de forma isolada, corredores de 10 km apresentaram dor inespecífica na panturrilha, dor lombar e canelite. Já em ultra maratonistas, foram observados a tendinopatia de dorsiflexores do pé, bursite do trocânter maior e dor do compartimento anterior. Todas as lesões descritas nesta revisão estão localizadas em membros inferiores, sendo que a maioria delas estão localizadas no joelho, que está de acordo com o estudo de Ishida et al. [15] e Ferreira et al. [6], onde o joelho foi a estrutura anatômica mais afetada pelas lesões, principalmente na região anterior, com a síndrome da dor patelofemoral, síndrome da banda iliotibial, síndrome do estresse tibial medial, fascite plantar, tendinite do calcâneo e lesões meniscais [2].
A prática de atividade física tem sido cada vez mais recomendada principalmente no combater ao sedentarismo, tão presente nos dias de hoje, existem vários programas governamentais e incentivos na mídia para a prática de atividade física. Com isso, houve um aumento significativo no número de pessoas que aderiram à prática do pedestrianismo na última década. No entanto, a prática da atividade física realizada em altas intensidades, como é o caso da corrida de rua, podem causar sérias lesões. Segundo Taunton et al. [16], o aumento da intensidade, relacionado a um incremento da velocidade na corrida, levaria a um maior valor nas forças de reação com o solo a qual é transmitida para a estrutura funcional do corredor (ossos, ligamentos, músculos e tendões), fazendo com que as progressões nestas variáveis realizadas de modo incorreto, durante os treinos, ocasionem a lesão.
As cargas excessivas durante a atividade física são consideradas o principal estímulo para o desenvolvimento das tendinopatias [12]. O tendão patelar está submetido a grandes cargas excêntricas do músculo quadríceps femoral durante todos os passos executados durante a corrida. É uma condição autolimitante e a dor pode restringir os níveis de trabalho excêntrico quando a resistência é aplicada à articulação [17]. O que pode explicar a alta taxa de lesão e afastamento do esporte em corredores.
A tendinopatia do tendão calcâneo ocorre geralmente nos praticantes de atividades de natureza repetitiva, como é uma lesão de estrutura contrátil, a dor geralmente aumenta com a dorsiflexão passiva e a flexão plantar contra a resistência [17]. Segundo Fuziki [2], a repetição das cargas pode, a partir de certo limite, gerar alterações estruturais no tendão, predispondo-o a sofrer lesões.
A síndrome do estresse medial é uma queixa comum entre os praticantes de corrida. O impacto vertical gerado durante esta atividade é aplicado repetidas vezes sobre os membros inferiores, podendo levar o corredor a desenvolver a síndrome do estresse medial da tíbia [12]. É caracterizada por dor e desconforto no terço mediodistal da tíbia, aspecto posteromedial, provocada por uma tensão elevada no músculo tibial anterior [17].
Foi paradoxalmente descoberto que a fascite plantar está associada com o pé plano e com o pé cavo rígido e a maior amplitude de movimento de extensão do tornozelo [18]. A sobrecarga crônica e a irritação podem levar à formação de tecido ósseo em resposta às forças de tração da fáscia plantar e dos músculos que se inserem na tuberosidade do calcâneo [3]. Segundo Hespanhol et al. [10], a carga gerada pela corrida aplicada repetidas vezes sobre a fascia plantar pode explicar o fato da fascite plantar estar entre as principais lesões em corredores.
Segundo Fuziki [2], a síndrome da dor patelofemoral é uma condição comum em pessoas que participam freqüentemente de atividades físicas ou atléticas. Quando esse equilíbrio é alterado, pode ocorrer movimentação anormal da patela [17]. Estudos sobre dor patelofemoral, síndrome da fricção da banda iliotibial e tendinite do tendão calcâneo têm demonstrado uma fraqueza muscular do grupo lesionado em comparação ao controle [2]. A síndrome da banda iliotibial é uma lesão por excesso de uso (tendinite ou bursite) causada pela fricção excessiva entre a banda iliotibial e a eminência epicondilar femoral lateral e ocorre com maior freqüência em corredores de longa distância, ciclistas e outros atletas que praticam atividades envolvendo flexão repetitiva de joelho [19], e vai de encontro com nosso estudo que mostra que apenas corredores de 20 km e de ultra maratona apresentaram esse tipo de lesão. É a mais comum causa de dor lateral no joelho de corredores e responde por 1,6% a 12% de todas as lesões relacionadas à corrida [2].
Sugerimos que novos estudos nesse sentido sejam realizados para contribuir com a literatura relacionando as principais lesões que ocorrem em corredores de vários níveis, facilitando na compreensão de seus mecanismos e como traçar uma melhor intervenção.
Considerações finais
Este trabalho de revisão de literatura tentou identificar dentro de artigos, as principais lesões em corredores e verificar se há diferença entre os tipos de lesões em diferentes tipos de provas. E concluímos que as principais lesões em corredores ocorrem em membros inferiores, com maior ocorrência em região de joelho. Os resultados encontrados nessa pesquisa nos mostraram que as lesões de forma geral, ocorrem iguais para os quatro tipos de provas investigadas nessa pesquisa. Porém, foram encontradas poucas lesões em determinadas provas de forma isolada, o que sugere ser tipos de lesões específicos de cada prova.
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