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Epidemiologia da sífilis gestacional no estado de Minas Gerais

Epidemiología de la sífilis gestacional en el estado de Minas Gerais

 

*Graduandos em Medicina

pelas Faculdades Integradas Pitágoras, Montes Claros, MG

**MD, Professor Assistente do Departamento da Saúde da Mulher

e da Criança/CCBS/Unimontes e da graduação em Medicina

das Faculdades Integradas Pitágoras, Montes Claros, MG

Bruna Tupinambá Maia*

Gilson Gabriel Viana Veloso*

Eduardo Gonçalves**

bruna.btm@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Introdução: A sífilis é uma doença infecto-contagiosa causada pela bactéria Treponema pallidum e transmitida pela via sexual e verticalmente durante a gestação. Caracteriza-se por períodos de atividade e latência; pelo acometimento sistêmico disseminado e pela evolução grave em parte dos pacientes não tratados ou tratados inadequadamente. Quando adquirida durante a gravidez, pode levar ao abortamento espontâneo, morte fetal e neonatal, prematuridade e danos à saúde do recém-nascido. A sífilis gestacional é de notificação compulsória, pois pode ser prevenida e tratada ainda no período pré-natal. Métodos: Pesquisa descritiva, transversal, retrospectiva e quantitativa baseada nos dados registrados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Estes são relativos aos casos de sífilis gestacional notificados no período de 2006 a 2010 no estado de Minas Gerais. Resultados: Entre os anos de 2006 e 2010, 949 notificações de sífilis gestacional foram feitas no estado de Minas Gerais. Destas, 245 ocorreram no ano de 2007 (25,81%), 247 em 2008 (26,02%), 307 em 2009 (32,34%) e 131 em 2010 (13,80%). A maior prevalência de casos confirmados se deu nas gestantes com idade entre 20-39 anos (739 casos) e 15-19 anos (175 casos), correspondendo a 77,87% e 18,44% do total, respectivamente. Conclusão: Segundo os dados analisados, a sífilis congênita ainda apresenta uma prevalência alarmante. Dessa forma, é necessário que a equipe de saúde esteja seriamente comprometida com a qualidade dos serviços prestados na assistência pré-natal, buscando o diagnóstico e tratamento precoces da gestante.

          Unitermos: Sífilis gestacional. Complicações. Diagnóstico precoce.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A sífilis ou lues é uma das principais representantes das doenças infectocontagiosas sistêmicas. Esta, quando não tratada, é caracterizada pela evolução crônica, com alternância de períodos de agudização e latência. A doença tem como agente causador uma espiroqueta, o Treponema pallidum, cujo único hospedeiro é o homem. A sua transmissão é predominantemente sexual (sífilis adquirida), podendo ocorrer também pela via transplacentária, determinando a sífilis congênita (LORENZI et al., 2009; SARACENI et al., 2005).

    No que se refere às taxas de prevalência desta doença, houve uma redução destes números desde o ano de 1945, quando a penicilina começou a ser usada no seu tratamento. Entretando, a partir dos anos de 1960 e, sobretudo 1980, detectou-se um recrudescimento mundial da sífilis, o qual foi atribuído à maior liberação sexual e o aumento do uso de drogas injetáveis. Acredita-se que ocorram anualmente 12 milhões de novos casos de sífilis na população adulta em todo o mundo, e destes 90% advém de países em desenvolvimento (BERMAN, 2004; GOH, 2005).

    A sífilis gestacional, apesar de apresentar diagnóstico simples e tratamento eficaz, possui ainda prevalência alarmante, principalmente em países pobres ou em desenvolvimento. O risco de transmissão vertical da sífilis varia de 30% a 100%, dependendo da fase clínica da doença na gestante, uma vez que quanto mais avançada a doença materna, menor o risco de transmissão para o feto (BRASIL, 2007; CAMPOS et al., 2010; SCHMID, 2004; WHICER & WHICER, 2001).

    As estimativas apontam a sífilis congênita como responsável por mais de 500 mil mortes fetais por ano no mundo. Na região da América Latina e Caribe, a prevalência da sífilis nos recém-nascidos é de 3,1%, oscilando entre 1% no Peru e 6,2% no Paraguai. Na Bolívia, a prevalência chega a 7,2%, com taxa de transmissão vertical de 15,7%. Estima-se que no Brasil a prevalência média da sífilis em parturientes varie entre 1,4% e 2,8% 4, com uma taxa de transmissão vertical de 25% (BRASIL, 2005; CAMPOS et al., 2010; REVOLLO et al., 2007; VALDERRAMA et al., 2004).

Metodologia

    A presente pesquisa classifica-se como transversal, retrospectiva, descritiva, bem como quantitativa. A coleta de dados foi realizada através da consulta às informações registradas e disponíveis on-line no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), relativos ao período entre os anos de 2006 e 2010. No estudo foram incluídos apenas os dados acerca dos casos de sífilis gestacional notificados no estado de Minas Gerais, utilizando as seguintes variáveis: ano, unidade da federação, faixa etária, raça, critérios de confirmação do diagnóstico e escolaridade.

    Para tabulação e análise dos dados verificados foi utilizado o software SPSS® 18.0 (Statistical Package for Social Science for Windows, Inc., USA).

Resultados

    Entre os anos de 2006 e 2010, 949 casos confirmados de sífilis gestacional foram notificados no estado de Minas Gerais. Destes, 32,34% (307), 26,02% (247) e 25,81% (245) ocorreram entre os anos de 2009, 2008 e 2007, respectivamente. Nos anos de 2010 e 2006 houve uma redução destes números, os quais alcançaram a taxa de 13,80% (131) e 1,79% (17) do total (Gráfico 1).

Gráfico 1. Prevalência de sífilis gestacional no estado de Minas Gerais no período de 2006-2010.

 Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net

    A maior prevalência de casos confirmados se deu nas gestantes com idade entre 20-39 anos (739 casos) e 15-19 anos (175 casos), correspondendo a 77,87% e 18,44% do total, respectivamente. As demais notificações abrangeram as faixas etárias entre 40-59 anos, representando 2,85% das notificações (27) e 10-14 anos, com 0,84% (8) de casos confirmados (Gráfico 2).

Gráfico 2. Distribuição dos casos de sífilis gestacional no estado de Minas Gerais por faixa etária. 

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net

    A distribuição dos casos de sífilis gestacional entre às diversas raças foi bastante heterogênea, entretanto o maior número corresponde às gestantes que se declaram brancas (43,83%). Em segundo e terceiro lugares estão àquelas que se declaram pardas (36,67%) e negras (18,44%). As gestantes amarelas e indígenas correspondem, respectivamente a 0,73% e 0,31% do total.

    Os critérios utilizados para a confirmação do diagnóstico foram os laboratoriais e os clínico-epidemiológicos. O primeiro foi responsável pela confirmação de 833 casos notificados (87,77%) e o segundo por 116 casos (12,23%).

    Quanto à escolaridade, 25,39% da amostra (241) possuíam ensino fundamental (4ª a 8ª série) incompleto e 12,96% este nível de escolaridade completo. As gestantes com ensino médio (1º ao 3º ano) incompleto representam 7,79% e aquelas que concluíram até o 3º ano atingem o percentual de 6,74%. Do total analisado, 5 possuíam ensino superior completo e 3 o mesmo, porém incompleto, equivalendo-se a 0,52% e 0,31%, respectivamente. Em contrapartida, 6 eram analfabetas (0,63%) e 433 (45,62%) não tinham o grau de escolaridade informado (Gráfico 3).

Gráfico 3. Grau de escolaridade em gestantes diagnosticadas com sífilis no estado de Minas Gerais, no período de 2006-2010. 

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net

Discussão

    Tem sido relatado, no Brasil e no exterior, o aumento da incidência de sífilis gestacional e congênita, bem como de suas conseqüências graves, como a natimortalidade. Sua ocorrência evidencia falhas na assistência pré-natal relacionadas ao controle de uma infecção, cujo protocolo clínico é bem conhecido, com triagem sorológica e tratamento de baixo custo. Isso contrasta com a redução da transmissão vertical do HIV já demonstrada no Brasil, apesar de protocolos clínicos complexos e de custo elevado. Dificuldades de acesso a exames laboratoriais e tra­tamento contribuem para a dificuldade no controle da doença e, assim, para a interpretação das sorologias (AMARAL, 2012). O presente estudo concorda com esta afirmativa, já que demonstra um aumento significativo do número de gestantes portadoras de sífilis entre os anos de 2007 a 2009 no estado de Minas Gerais.

    O sistema de notificação compulsória tem como objetivo o acúmulo de dados acerca de um determinado agravo. Estes servirão como subsídio para o desenvolvimento de intervenções que visem reduzir a sua ocorrência e/ou de suas conseqüências. Em relação à notificação da sífilis gestacional, a pretensão é clara: reduzir a sua incidência até que se consiga a erradicação da sífilis congênita, determinada pela transmissão vertical do Treponema pallidum. A sífilis congênita é causa de importante de morbimortalidade fetal, apesar do baixo custo do seu tratamento e da disponibilidade de tecnologia para a sua prevenção (LAGUARDIA et al., 2004; SARACENI et al., 2005).

    No que se refere ao perfil sociodemográfico, é possível verificar nesta pesquisa que a sífilis gestacional está ocorrendo em pacientes jovens e com algum grau de escolaridade, resultados semelhantes aos encontrados por na literatura (ALMEIDA & PEREIRA, 2007; FIGUEIRÓ-FILHO et al., 2007; LIMA et al., 2008; SÁ et al., 2001). Tal fato acusa que, apesar do crescente desenvolvimento intelectual, ainda existe um certo nível de desinformação entre a população. Nesse sentido, assistência pré-natal de qualidade é fundamental à saúde materno-infantil.

    Nesse período, devem ser desenvolvidas atividades relacionadas à promoção da saúde e identificação de riscos para a gestante e o concepto, permitindo assim a prevenção de inúmeras complicações, além de reduzir ou eliminar fatores e comportamentos de risco associados a vários agravos à saúde (CAMPOS et al., 2010; KILSZTAJN et al., 2003; PUCCINI et al., 2003). Os dados oficiais apontam alta cobertura de pré-natal no Brasil, onde quase 90% das gestantes são atendidas por profissionais qualificados. Contudo, é importante salientar que ainda assim os resultados são insuficientes para o controle de vários agravos à saúde relacionados ao período gestacional, não havendo redução significativa dos coeficientes de mortalidade materna e perinatal (CAMPOS et al., 2010; KOFFMAN & BONADIO, 2005; SERRUYA et al., 2004).

    De acordo com o que é preconizado pelo Ministério da Saúde, o exame de VDRL deve ser realizado logo no início da assistência pré-natal, repetido no terceiro trimestre gestacional e no momento do parto. Os dois primeiros visam garantir o diagnóstico precoce à gestante com sífilis e seu tratamento em tempo hábil, e o terceiro permite o tratamento precoce da criança (BRASIL, 2007; SARACENI & MIRANDA, 2012). Os resultados obtidos nesse estudo concordam com a literatura, já que a maioria da população em estudo contou com a confirmação do seu diagnóstico por meio de métodos laboratoriais.

    O tratamento da sífilis gestacional ainda continua o mesmo e apenas a penicilina é recomendada para esta abordagem. Esta possui elevada passagem transplacentária e alta eficácia, sendo determinante para a redução à morbimortalidade perinatal. Houve alguma sugestão na literatura sobre o uso de drogas alternativas, como azitromicina, mas posteriormente se confirmou que há falhas terapêuticas e resistência do Treponema pallidum a tal antibiótico. Continuam válidas as recomendações para o uso de penicilina benzatina em doses dependentes da fase da sífilis. Estas são orientadas pelo resultado da triagem sorológica no primeiro e no terceiro trimestres, bem como durante parto; ou sempre que houver aborto ou natimorto (BLENCOWE et al., 2011; LEITÃO et al., 2009; ZHOU et al., 2007)

Conclusão

    De acordo com os dados analisados, a sífilis congênita ainda apresenta uma prevalência alarmante, sobretudo no cenário nacional. Dessa forma, é necessário que a equipe de saúde esteja seriamente comprometida com a qualidade dos serviços prestados durante a assistência pré-natal, buscando o diagnóstico e tratamento precoces da gestante. Ademais, a vigilância epidemiológica também deve ser reforçada, para que os números reais de casos não sejam subnotificados nem subestimados.

Referências

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