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Ciclismo nas aulas de Educação Física: uma estratégia
para incentivar a prática de atividade física entre os alunos
do 8º ano do ensino fundamental

El ciclismo en las clases de Educación Física: una estrategia para incentivar a 

la práctica de actividad física a los alumnos del 8º año de escuela elemental

 

*Curso de Educação Física – Licenciatura. Universidade do Oeste

de Santa Catarina – Unoesc, campus de São Miguel do Oeste

**Professor do Curso de Educação Física da Unoesc, campus

de São Miguel do Oeste

Hugo Vinícius Werlang*

Sandro Claro Pedrozo**

hugoassemit@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo do estudo foi analisar o efeito de uma proposta pedagógica focada no ciclismo e fundamentada na saúde renovada sobre a atividade física habitual de alunos do 8º ano do ensino fundamental de uma escola do município de Itapiranga, SC. Participaram do estudo 19 alunos, sendo 12 do gênero masculino e 7 do gênero feminino. Para a coleta dos dados foi utilizado, antes e após a aplicação das aulas, o Questionário de Atividades Físicas Habituais (NAHAS, 2003) e uma entrevista semiestruturada ao final da pesquisa. A intervenção pedagógica focada no ciclismo foi realizada com o intuito de incentivar a prática de atividade física entre os alunos. Um diário de campo também foi utilizado no decorrer das aulas para registrar as observações feitas durante a intervenção. Para a análise dos resultados foi utilizada a estatística descritiva (frequência absoluta) para comparar a atividade física habitual dos alunos. A análise de conteúdo foi à técnica utilizada para analisar a entrevista semiestruturada. Os resultados demonstraram que em relação à distribuição dentro das classificações referentes da atividade física habitual, que a maior parte dos alunos que inicialmente (9/19) encontravam-se como moderadamente ativos, passaram a muito ativos após a intervenção (13/19), provando que houve melhora significativa em seus hábitos diários. Conclui-se então, que o ciclismo nas aulas de Educação Física, pode ser utilizado como estratégia para incentivar a prática de atividades físicas, pois além de motivar os alunos a participar das aulas de Educação Física, também promove a prática no seu cotidiano fora da escola, proporcionando mais saúde e qualidade de vida da fase escolar até a idade adulta.

          Unitermos: Educação Física escolar. Ciclismo. Atividade física habitual.

 

Abstract

          The aim of the study was to analyze the effect of a pedagogical focus on cycling and based on the renewed health of the habitual physical activity of students in the 8th grade level at a school in the city of Itapiranga, SC. Participants were 19 students, 12 males and 7 females. To collect the data we used, before and after application of the lessons, the Habitual Physical Activity Questionnaire (NAHAS, 2003) and a semi-structured interview at the end of the survey. The educational intervention focused on cycling was performed in order to encourage physical activity among students. A field diary was also used during classes to record the observations made during the intervention. For the analysis of the results was used descriptive statistics (absolute frequency) to compare the physical activity of students. The content analysis technique was used to analyze the semi-structured interview. The results showed that in relation to the distribution within the classifications regarding habitual physical activity, the majority of students who initially (9/19) were moderately active, became very active after the intervention (13/19) proving a significant improvement in their daily habits. We conclude then, that cycling in physical education classes, can be used as a strategy to encourage physical activity, as well as motivate students to participate in physical education classes, also promotes the practice in their daily lives outside of school, providing better health and quality of life of school age to adulthood.

          Keywords: Physical Education. Cycling. Habitual physical activity.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    No contexto das sociedades industrializadas e em desenvolvimento, o estilo de vida, em particular, a atividade física, tem representado cada vez mais um fator de qualidade de vida e/ou saúde de pessoas, de todas as idades e condições sócio-econômicas. (NAHAS, 1998).

    A atividade física pode ser entendida como qualquer movimento corporal, produzido pela musculatura esquelética, que resulta em gasto energético. (CASPERSEN, 1985).

    Para a Organização Mundial de Saúde, a atividade física, é necessária em todas as idades e deveria ser proporcionada a todas as crianças e adolescentes. Sugere-se também, que os programas de exercícios físicos deveriam contemplar o aspecto lúdico, agradável, de forma que tais atividades se tornassem mais atraentes levando à formação desses hábitos para toda a vida. (WHO/FIMS, 1995).

    A escola é um local importantíssimo para o desenvolvimento de estratégias de promoção da atividade física e de educação para saúde e, neste contexto, a aula de Educação Física assume papel privilegiado. Para muitas crianças, a escola se constitui na única oportunidade de acesso às práticas de atividades físicas. Porém o aumento do tempo consagrado à atividade física deverá ser conseguido, também, à custa do tempo consagrado à atividade regular fora da aula de Educação Física. (MARQUES; GAYA, 1999).

    Segundo o Colégio Americano de Medicina Esportiva, programas escolares focando em mudanças na educação e do comportamento dos alunos, devem ser realizados para incentivar o engajamento em atividades apropriadas fora do horário das aulas. Os professores de Educação Física apresentam um papel fundamental na integração de aspectos relacionados à saúde ao estilo de vida dos alunos. (ACSM, 2007).

    Exercícios de baixa intensidade e longa duração são os mais indicados para pessoas que buscam melhorar o condicionamento físico e a melhora da qualidade de vida. Isso faz com que o número de adeptos a esportes como o ciclismo, seja ele indoor (aula em bicicleta ergométrica na academia) ou na rua, aumente a cada ano. Isso faz com que o ciclismo seja um dos esportes mais tradicionais no mundo, tanto em relação a número de ciclistas e triatletas profissionais como praticantes em geral. Além do caráter competitivo, o ciclismo tem se tornado uma forma de lazer bem como um excelente meio de locomoção. (ROWE, HULL; WANG, 1998; BURKE, 2000; CARMO, 2001).

    O ciclismo como tema a ser trabalhado na escola, se justifica uma vez que o mesmo pode servir como ferramenta para incentivar a prática de atividade física entre os escolares. Além disso, tal modalidade, por ser um conteúdo novo dentro das aulas de Educação Física da escola, pode propiciar uma maior prática do ciclismo também fora dela, no cotidiano dos alunos (como uma forma de melhorar atividade física habitual dos alunos), buscando fugir dos padrões atuais das aulas de Educação Física (que muitas vezes se restringem apenas aos esportes coletivos trabalhados dentro de um ginásio) e também propiciar um maior conhecimento sobre um esporte que está em constante crescimento no Brasil.

    Segundo Guedes e Guedes (1993) os professores devem assumir um novo papel frente à estrutura educacional, procurando adotar em suas aulas, não mais uma visão de exclusividade da prática desportiva, mas, fundamentalmente, alcançarem metas em termos de promoção da saúde, através da seleção, organização e desenvolvimento de experiências que possam propiciar aos educandos, situações que os tornem crianças e jovens mais ativos fisicamente e também que possam permanecer com esse hábito saudável até a vida adulta.

    O incentivo à prática de caminhar e pedalar vem sendo indicado como uma estratégia eficiente e efetiva para aumentar os níveis de atividade física na população jovem. (BERRIGAN; TROIANO; TIMPERIO; BALL et al., 2010).

    Nesse sentido objetivou-se: analisar o efeito de uma proposta pedagógica focada no ciclismo sobre a atividade física habitual de alunos do 8º ano do ensino fundamental e a partir disso, propor uma estratégia para incentivar à prática de atividade física entre os alunos. Especificamente buscou-se: verificar o nível de atividade física habitual dos alunos do 8º ano do ensino fundamental, antes e após uma intervenção pedagógica; Implementar uma proposta pedagógica fundamentada na saúde renovada utilizando-se do ciclismo como estratégia para incentivar a prática de atividade física entre os alunos, nas aulas de Educação Física do 8º ano do ensino fundamental de uma escola do município de Itapiranga SC; Verificar a percepção dos alunos frente à proposta implementada.

Materiais e métodos

Caracterização da pesquisa

    A pesquisa se caracterizou como pré-experimental de natureza quanti-qualitativa expondo as características de determinada população antes e após uma intervenção com um único grupo, transformando opiniões e informações em números para posterior classificação e análise dentro de um ambiente natural.

    A pesquisa pré-experimental é considerada o esquema mais simples de experimentação [...]. Esse tipo de pesquisa expõe as características de determinada população ou fenômeno “[...] antes e depois de uma intervenção com um único grupo”. (GIL, 1996, p. 54).

    Para Richardson (1999), a pesquisa quantitativa consiste em garantir precisão dos resultados, evitando distorções de análise e interpretação, caracterizando-se ainda pelo emprego da quantificação tanto nas modalidades de coleta de informações, quanto no tratamento delas por meio de técnicas estatísticas.

    Já a pesquisa qualitativa:

    [...] considera que há uma relação dinâmica entre o mundo real e o sujeito, isto é, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito que não pode ser traduzido em números. A interpretação dos fenômenos e atribuição de significados são básicos no processo qualitativo. Não requer o uso de métodos e técnicas estatísticas. O ambiente natural é a fonte direta para coleta de dados e o pesquisador é o instrumento-chave. O processo e seu significado são os focos principais de abordagem. (SILVA; MENEZES, 2001).

Design do estudo

Quadro 1. Design do estudo

Amostra

    A amostra foi constituída de 19 alunos de ambos os gêneros, sendo (12 do gênero masculino e 7 do feminino), com idade de 13 e 14 anos, que foram selecionados de forma intencional.

    Para critério de inclusão/exclusão da pesquisa foi utilizado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), onde fez-se necessário à entrega do mesmo, devidamente assinado pelos pais ou responsáveis.

Instrumentos de coleta de dados

    Para a coleta dos dados foram utilizados instrumentos como o Questionário de Atividades Físicas Habituais, proposto por Nahas (2003), uma entrevista semiestruturada e um diário de campo para registrar as observações e percepções durante a intervenção.

Procedimentos de coleta de dados

    Inicialmente, para realizar a coleta de dados, foi feito um contato com a direção da escola e com o professor da disciplina de Educação Física da Escola, onde foram relatados os objetivos propostos para o desenvolvimento da pesquisa e encaminhados os documentos de aprovação para a assinatura.

    Para a etapa seguinte da pesquisa, foi entregue aos alunos um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), onde os adolescentes e seus pais ou responsáveis consentissem e os autorizassem, respectivamente, a participar deste estudo. Participaram do estudo apenas os alunos que entregaram o mesmo assinado pelos pais ou responsável e por eles mesmos.

    A partir disso, foi realizado o pré-teste, onde os alunos preencheram um questionário de atividades físicas habituais, proposto por Nahas (2003), no intuito de verificar em qual classificação os mesmos se encontravam (inativo, pouco ativo, moderadamente ativo ou muito ativo).

    Após a realização do pré-teste foi realizada a intervenção pedagógica fundamentada na saúde renovada, com intuito de trabalhar atividades relacionadas ao ciclismo. Durante a intervenção foram utilizados diários de campo para registrar informações relevantes ocorridas no decorrer da mesma.

    Ao final, novamente foi apresentado aos alunos o questionário de atividades físicas habituais, proposto por Nahas (2003), para o seu preenchimento, bem como uma entrevista semiestruturada para verificar a percepção dos alunos frente à proposta implementada.

    Com relação aos resultados, no final da intervenção, os mesmos foram entregues individualmente para os escolares participantes por meio de um laudo com suas avaliações e orientações em relação à prática de atividades físicas. Da mesma forma, os pais ficaram conhecedores dos resultados, assim como a escola e professor de Educação Física, que ficaram com um resumo geral dos resultados.

Proposta de intervenção pedagógica nas aulas de Educação Física

    A proposta pedagógica foi fundamentada na abordagem Saúde Renovada de Nahas (1997), e Guedes e Guedes (1996).

    Segundo Nahas (2003), a Educação Física Escolar deve servir de base educacional para uma vida mais ativa, utilizando conteúdos crescentes e proporcionando o conhecimento dos conceitos em torno da aptidão física e da saúde, considerando que o indivíduo levará o entendimento dos mesmos para o resto da vida. Os conteúdos, além de ensinar como realizar, e porque realizar, devem desenvolver um mínimo de habilidade motora, trazendo ao educando a sensação de competência, motivando-os a participar.

    Tratando de crianças e adolescentes, constata-se em Guedes e Guedes (2001) que as aulas de Educação Física escolar utilizam pouco tempo de esforço físico, o que impossibilita o aparecimento de adaptações orgânicas benéficas a essa população. Em compensação, estas aulas criam a consciência de que as atividades físicas são e devem ser praticadas.

    Nesse sentido, foram trabalhadas 10 aulas, sendo 2 por semana, com duração de 45 minutos cada, através de atividades teóricas e práticas.

    Os materiais utilizados na realização das aulas foram, folhas, canetas, quadro e bicicletas. Os locais utilizados para a realização das aulas foram à sala de aula e o pátio externo da escola, assim como também foi utilizado o ginásio e o pátio da Igreja Matriz da cidade de Itapiranga/SC.

    As aulas iniciavam sempre com uma breve explanação verbal sobre o que seria realizado na aula. No segundo momento, ainda na parte inicial, eram realizados alongamentos, então na parte principal era desenvolvida a atividade referente aos objetivos da mesma e no fim para volta à calma novamente eram feitos alongamentos.

    Foram disponibilizadas aos alunos, 7 bicicletas, e solicitado aos mesmos que trouxessem a sua, se fosse possível. Quem não tinha bicicleta no momento das atividades realizava caminhadas e leves corridas para que após certo tempo, ocorresse um revezamento entre os alunos que tinham bicicleta e os que não tinham.

    Aos que apresentaram atestado médico e aos que estavam vestidos inadequadamente para a prática esportiva, era solicitado que fizessem um relatório sobre as aulas, de modo que neste relatório deveriam descrever como foram desenvolvidas as atividades e o objetivo da aula.

    Guedes e Guedes (1996), assim como Nahas (1997), ressaltam a importância das informações e conceitos relacionados à aptidão física e saúde. A adoção dessas estratégias de ensino contemplam não apenas os aspectos práticos, mas também, a abordagem de conceitos e princípios teóricos que proporcionem subsídios aos escolares, no sentido de tomarem decisões quanto à adoção de hábitos saudáveis de atividade física ao longo de toda vida.

Quadro 2. Ações realizadas durante a intervenção pedagógica

Técnica de análise dos dados

    Para a análise quantitativa foram utilizados os procedimentos contidos no programa SPSS 13.0. Foi utilizada a análise de frequência para comparar atividade física habitual dos alunos de antes e após a intervenção pedagógica.

    Em relação à análise qualitativa, foi utilizada a análise de conteúdo para analisar o diário de campo e a entrevista semi-estruturada dos alunos e sua percepção frente à proposta implementada.

Resultados e discussão

Atividade física habitual (pré-teste x pós-teste)

    O propósito deste estudo era o de analisar o nível de atividade física habitual antes e após uma proposta pedagógica focada no ciclismo. Para isso, foi utilizado o Questionário de Atividades Físicas Habituais proposto por Nahas (2003) no intuito de classificar alunos quanto à quantidade de atividade física habitual realizada pelos mesmos.

Gráfico 1. Distribuição dos alunos do 8º ano do ensino fundamental de uma escola de Itapiranga/SC em relação à classificação quanto ao nível de atividade física habitual

    De acordo com o que está sendo apresentado no gráfico 1, podemos perceber que dos 19 alunos participantes, nenhum apresentou-se como “inativo” tanto antes como após a intervenção. Em relação à classificação “pouco ativo”, pode-se observar que antes da intervenção 05 dos 19 alunos encontravam-se dentro desta classificação, sendo que após a intervenção somente um permaneceu como “pouco ativo”. Também em relação à classificação “moderadamente ativo” a frequência de alunos diminuiu de 09 para 05 após a intervenção. Já na classificação “muito ativo”, foi onde se observou um aumento na frequência dos alunos, de 06 alunos constatados no pré-teste esse número aumentou para 13 alunos. Nesse sentido, esses resultados, provavelmente, estão relacionados ao auxílio da intervenção sobre a aquisição de hábitos saudáveis referentes à prática de atividade física pelos alunos.

    Quanto à frequência de alunos encontrados na classificação “pouco ativo” antes da intervenção, segundo o professor da turma, se deve ao fato de que alguns alunos apresentavam falta de interesse para com as aulas de Educação Física, os quais normalmente frequentavam as mesmas com roupas inadequadas para a prática esportiva. A redução da frequência de alunos dentro desta classificação possivelmente se deve à motivação da maioria dos alunos para a prática das aulas envolvendo o ciclismo, bem como do entendimento dos mesmos em relação à importância da prática de atividade física para a saúde em geral.

    Nahas (2006) relata que uma das responsabilidades primordiais dos profissionais da saúde, principalmente os da Educação Física, deveria ser informar as pessoas sobre fatores como a associação entre atividade física e saúde, os princípios para uma alimentação saudável, formas de prevenção de doenças cardiovasculares e a importância de um estilo de vida saudável.

    A atividade física segundo Nahas (1998) está relacionada à maior capacidade de trabalho físico e mental, mais entusiasmo para a vida e sensação de bem-estar, menores gastos com a saúde, menores riscos de doenças crônicas degenerativas e mortalidades precoces.

    Nuñes et al. (2008), ainda salientam que com o conhecimento dos motivos que levam o aluno à prática motora, o professor tem subsídios para a criação de suas aulas, centrados nos interesses dos participantes, o que ajuda na escolha das atividades, no comportamento relacional, ritmo da aula e o modo de motivar para a prática alegre e prazerosa.

    A maior parte dos alunos já gostava das aulas de Educação Física, o que provavelmente deve ter relação à maior prática de atividades físicas e maior frequência dentro da classificação “moderadamente ativo” antes da intervenção pedagógica.

    Após a intervenção pedagógica, o entendimento da importância da prática de atividade física para a saúde, bem como o prazer e a motivação na hora de realizar as atividades propostas, foram determinantes a ponto de modificar seus hábitos relacionados à prática de atividades físicas também fora da escola. Tanto que aumentou de forma expressiva a frequência dentro da classificação “muito ativo”, pois, principalmente nas aulas realizadas ao ar livre, a participação mútua dos alunos era muito grande em todas as partes da aula, fazendo com que a aula transcorresse de uma forma prazerosa e muito amigável.

    Embora o ciclismo seja um esporte, caracterizado pela competição, deve-se lembrar também que a bicicleta é um meio de transporte para muitas pessoas. (RONDINELLI, 2012).

    Monteiro (2003) reparou que cada vez mais pessoas estão utilizando a bicicleta, seja como meio de transporte ou para a prática de atividade física. Pedalar é saudável, relaxante e ajuda a queimar muitas calorias.

    O ciclismo é um esporte que pode ser realizado também por aquelas pessoas que já praticam caminhada e querem aumentar a intensidade de sua atividade física, pois é uma atividade de fácil execução e não sofre o impacto nas articulações como o causado, por exemplo, pela corrida. (MONTEIRO, 2003).

    Segundo Xavier, Giustina e Carminatti (2000), quando a atividade é praticada ao ar livre, como no caso do ciclismo, esta torna-se mais agradável pela maior velocidade alcançada se comparada com as caminhadas e corridas, como também, pelo menor incremento na temperatura corporal na prática do exercício (dissipação de calor por convecção), além de permitir um maior contato com a natureza e de ter uma variada diversificação de paisagem, auxiliando na diminuição do stress e das tensões do dia a dia.

    Hoje, a bicicleta é um dos veículos mais populares do mundo em razão de uma feliz combinação entre eficiência, simplicidade, baixo custo operacional e versatilidade. Esses fatores proporcionam às pessoas uma atividade física saudável, podendo, ser, a bicicleta, um meio de transporte, de lazer ou de esporte (D’ELIA, 2009).

Intervenção pedagógica

    As aulas referentes à intervenção pedagógica foram realizadas com uma turma do 8º ano do ensino fundamental de uma escola da rede estadual de ensino da cidade de Itapiranga SC. A proposta pedagógica foi fundamentada na abordagem Saúde Renovada de Nahas (1997), e Guedes e Guedes (1996).

    No primeiro contato com a escola, apresentamos ao diretor e ao professor da disciplina de Educação Física qual era o objetivo do trabalho e como iriam ocorrer as aulas. No primeiro contato entre professor e alunos, quando ficaram sabendo o que seria trabalhado durante as aulas de docência, a principal reação que tiveram foi de saber como o ciclismo poderia ser trabalhado dentro da escola, e também nessa hora foi possível perceber que alguns alunos não gostaram muito da idéia.

    Durante as aulas e explicações, os alunos demonstravam interesse no assunto ao prestar bastante atenção, principalmente na hora de diferenciar as modalidades do ciclismo que estavam sendo trabalhadas.

    Nas atividades práticas quase todos os alunos participavam quando estavam presentes, sendo que alguns às vezes estavam de atestado médico ou com roupa inadequada para a prática de exercícios. Quando isso acontecia, esses alunos então faziam um relatório sobre a aula, falando dos seus objetivos e as atividades que aconteciam durante a mesma.

    A relação entre os alunos ocorria sempre de uma forma bastante alegre, onde todos se ajudavam na hora das atividades. Isso ficou visível nas aulas nos momentos em que eles tinham que ir trocando a bicicleta com os colegas e também onde em duplas um tinha que segurar a bicicleta para o outro que então iria realizar uma largada parada, simulando o início de uma prova de bicicross.

    A relação entre professor e alunos aconteceu de forma harmoniosa e respeitosa, sendo que os mesmos acabaram tendo uma relação de amizade muito grande durante as aulas, fazendo com que estas ficassem bastante claras e objetivas.

    As aulas foram elaboradas de acordo com os objetivos da pesquisa, e com o aval do professor foi possível realizar o que foi proposto. Iniciaram-se com uma explanação verbal do tema proposto, e em seguida conduzia-se a segunda parte da aula, que se iniciava com um aquecimento e alongamento. Feito isto, na parte principal da aula, era onde os alunos tiveram a oportunidade de vivenciar através de atividades práticas as diferentes modalidades do ciclismo e também aprender técnicas da pedalada, posicionamento sobre a bicicleta em situações diferentes de relevo e características corporais de diferentes ciclistas e suas funções dentro de uma equipe.

    Nas partes teóricas das aulas foram trabalhadas questões como: definições sobre as modalidades do ciclismo, importância da atividade física, benefícios do ciclismo para a saúde e também foram aplicados o questionário de atividades físicas habituais no intuito de verificar em qual classificação os mesmos se encontravam (inativo, pouco ativo, moderadamente ativo ou muito ativo), propiciando a auto-avaliação em relação a sua quantidade de atividade física cotidiana. Também foi passado um filme sobre a modalidade de Downhill, um vídeo sobre cicloturismo, assim como foi dada aos alunos a oportunidade de criar um vídeo sobre alguma modalidade do ciclismo ou então de elaborar uma maquete sobre alguma modalidade. Ainda, ao final, foi realizada uma entrevista semiestruturada com questões relacionadas à saúde, atividade física e ciclismo no sentido de verificar sua percepção.

    Nas aulas teórico-práticas a parte teórica era realizada sempre antes das partes práticas, e acontecia dentro da sala de aula para explicação dos objetivos e conteúdos das aulas. Inicialmente, buscou-se verificar o conhecimento dos alunos sobre o ciclismo através de definições sobre o tema e atividades de posicionamento sobre a bicicleta e a técnica da pedalada, assim como conhecer também as partes de uma bicicleta. Ainda foi propiciado aos alunos o conhecimento de algumas características dos ciclistas e suas funções dentro de uma equipe. Para isso foi trabalhado com o ciclismo de Estrada, com atividades de pega-pega, zigue-zague em cones e uma atividade de andar no vácuo dos colegas.

    O ciclismo de estrada é um esporte onde se realiza um esforço fisiológico intenso e se utiliza de uma máquina, a bicicleta, numa interação homem-máquina que não se repete em nenhum outro esporte. É composta por duas principais categorias: resistência (provas de alta kilometragem e longa duração) e contra o relógio (vence quem fizer o menor tempo, ciclistas partem em intervalos de dois em dois minutos). (D´ELIA, 2009).

    A boa performance na atividade pode ser determinada pelas características individuais morfológicas do praticante, ou seja, massa corporal, estatura e índice de massa corporal, entre outras coisas. As variáveis dessas medidas do corpo e suas diversas proporções interferem de modo diferente dependendo da especialidade do atleta. (REIS, 2011).

    Utilizando-se de um espaço ao ar livre com obstáculos naturais (raízes, pedras, subidas e descidas) foram trabalhadas as modalidades de Mountain bike cross country e de Mountain bike marathon. Já com o objetivo de conhecer o ciclismo na modalidade do Bmx, foram feitos tiros de explosão com largada parada e saltos, e na modalidade de Street foi dado um tempo para os alunos realizarem manobras no pátio externo da escola.

    O potencial educativo das atividades junto à natureza parece ser muito extenso, principalmente porque facilita situações educativas em experiências pouco habituais para os participantes, possuindo um forte caráter motivador, carregadas de emoção, de significado e de intenção (PEREIRA; MONTEIRO, 1995).

    Trabalhou-se também com o equilíbrio sobre a bicicleta, utilizando um rolo de treinamento e assim ao mesmo tempo foi possível trabalhar com a modalidade de ciclismo de Pista e ciclismo Indoor.

    Dentro do ciclismo de Pista, realizadas em piso de concreto ou madeira, existem vários tipos de prova, dentre elas: velocidade (um ciclista contra o outro); perseguição (ciclistas competem em direções opostas, vence quem cruzar o oponente primeiro); velocidade olímpica (disputada por dois times de três ciclistas cada, as equipes largam de posições opostas e a cada volta completada um integrante deixa o time e outro passa a liderá-lo. (D’ELIA, 2009).

    De acordo com Deschamps (2000 apud DOMINGUES FILHO, 2005), o ciclismo indoor (aula em bicicleta estacionária em academia) pode ser definido como uma atividade ministrada por um profissional para um grupo de indivíduos que variam em idade, sexo e aptidão física. É praticada em bicicleta estacionária, desenvolvendo treinamentos que promovem resistência aeróbia e anaeróbia, acompanhada ou não de um ritmo musical. Pode ser definido também como a prática do ciclismo em bicicletas estacionárias, realizado geralmente em academias de ginástica, com fins cardiovasculares.

Diário de campo

    De acordo com as anotações feitas durante o período de intervenção, foi possível perceber que por se sentirem motivados com a atividade diferenciada, a maioria dos alunos participou ativamente das atividades práticas, se por algum motivo algum aluno estivesse com roupas inadequadas para a prática esportiva, este deveria fazer um relatório sobre a aula, sobre as atividades realizadas e sobre quais eram os objetivos da mesma.

    A motivação torna-se um dos principais fatores que interferem no comportamento de um ser humano, porque influi em todos os segmentos de comportamentos, dirigindo um maior envolvimento ou apenas uma participação nas atividades que se relacionam com a atenção, o desempenho e a aprendizagem. (KOBAL, 1996).

    Em relação às dificuldades apresentadas pelos alunos na realização das atividades, as mais notórias foram: equilíbrio sobre a bicicleta, técnica na hora de passar por obstáculos, e algumas vezes apresentaram dificuldade em prestar atenção.

    Os alunos realizavam as atividades sempre com entusiasmo, estabelecendo uma relação de cooperação entre os colegas nas atividades, como ocorreu nas atividades práticas realizadas dentro do ginásio e também fora dele no pátio da Igreja Matriz da cidade de Itapiranga/SC. E os alunos não agiam de forma agressiva em nenhum momento.

    Os esportes realizados em contato com a natureza, segundo Costa (2000), buscam resgatar os valores de beleza, auto-realização, liberdade, cooperação e solidariedade.

    A grande maioria dos alunos realizava o estabelecido pelo professor e alguns realizavam as atividades de forma autônoma e ainda salientavam que estavam praticando também fora do ambiente escolar como forma de atividade física, então não era necessário ficar insistindo para que eles participassem, pois os mesmos sentiam prazer em realizar o ciclismo.

Percepção dos alunos

    Quanto aos resultados obtidos através da entrevista semiestruturada respondida pelos alunos, quando lhes foi perguntado “Quantas modalidades do ciclismo você conhece?”, “Quais são os benefícios do ciclismo para a saúde?”, e também se “O ciclismo é um exercício aeróbio, anaeróbio, ou pode ser considerado como sendo aeróbio e anaeróbio?”, foi possível verificar que eles conseguiram assimilar o conteúdo que lhes foi repassado, uma vez que a maior parte dos alunos respondeu pelo menos duas perguntas corretas, das três que foram acima citadas.

    Em relação à prática de atividade física, lhes foram feitas as seguintes perguntas: “A prática de atividade física faz parte de sua vida cotidiana?”, “Quantos dias da semana você pratica algum tipo de esporte?” e “Quais são os motivos que o leva a praticar atividade física? As respostas obtidas foram em sua grande maioria positivas, sendo que a maior parte dos alunos respondeu que a atividade física passou a fazer parte de sua vida e a maior parte deles respondeu que praticavam atividade física com frequência de 3 a 5 dias por semana, sendo que na maioria das vezes o objetivo dessa prática era a saúde e diversão.

    Segundo Assumpção, Morais e Fontoura (2002), as condições de saúde dos indivíduos que praticam atividade física são bastante melhoradas, sendo que estes ganhos não são apenas físicos, uma vez que mostram que os fatores voltados para o lado psíquico também apresentam melhoras, como a expectativa de vida, autoestima e outros mais.

    Conforme García (2003) é importante sempre ressaltar que a atividade física para promoção da saúde deve ser levada de forma regular e consistente.

    O esporte não deve reproduzir valores de seriedade, mas ser fonte de alegria e diversão, uma atividade cujo único valor seja o prazer momentâneo de jogar e conviver com outras pessoas. (NEUENFELDT, 2008).

    Quando lhes foi perguntado se: “Você se considera uma pessoa ativa ou sedentária?”, as respostas obtidas foram todas positivas porque todos se consideraram pessoas ativas.

    A criança que é fisicamente ativa tem mais chance e se tornar um adulto ativo, destacando o ponto de vista de saúde pública e medicina preventiva, a promoção da atividade física na infância e na adolescência significa estabelecer uma base sólida para a redução da prevalência do sedentarismo na idade adulta, contribuindo desta forma para uma melhor qualidade de vida. (LAZZOLI et al., 2007).

    Na seguinte pergunta: “Em relação ao que foi trabalhado durante as aulas, você considera importante ter aulas de Educação Física na escola?”. As respostas foram todas confirmando que sim, porque é um momento de alegria para todos, onde podem se movimentar à vontade, diferente do que ocorre nas aulas de outras disciplinas escolares.

    Atualmente a Educação Física de acordo com Saviani (2005), serve para auxiliar e instaurar na escola saberes científicos, técnicos, estéticos, dentre outros, e assim revelar algo de diferente na vida dos envolvidos e da sociedade, na qual o ponto de partida da prática enquanto educação é revelar algumas situações de equilíbrio da hierarquia educacional.

Questionário de Atividades Físicas Habituais

    Para cada questão respondida SIM, marque os pontos indicados à direita. A soma dos pontos é um indicativo de quão ativo(a) você é. A faixa ideal para saúde é a de ativo(a)-12 a 20 pontos

Classificação: 

    NAHAS, M.V. Atividade física, saúde e qualidade de vida: conceitos e sugestões para um estilo de vida ativo. Londrina: Midiograf, 2003.

Conclusão

    O presente estudo objetivou analisar o efeito de uma proposta pedagógica focada no ciclismo e fundamentada na saúde renovada sobre a atividade física habitual de alunos do 8º ano do ensino fundamental de uma escola do município de Itapiranga/SC,

    A partir dos resultados do pré-teste, pode-se concluir que embora a maior parte dos alunos já gostasse das aulas de Educação Física alguns deles apresentavam falta de interesse para com as aulas de Educação Física.

    A proposta pedagógica implementada utilizou-se do ciclismo como estratégia para incentivar a prática de atividade física entre os alunos, nas aulas de Educação Física. Após a mesma, observou-se em relação à percepção dos alunos, um maior entendimento sobre a importância da prática de atividade física para a saúde, bem como o prazer e a motivação na hora de realizar as atividades propostas, que foram determinantes a ponto de modificar seus hábitos relacionados à prática de atividades físicas também fora da escola.

    Pode-se entender que os resultados em geral foram bastante positivos, pois através das respostas obtidas no questionário de atividades físicas habituais, constatou-se que antes da intervenção pedagógica a maior parte dos alunos encontrava-se dentro da classificação “moderadamente ativo” e já após a mesma estes passaram à classificação “muito ativo”.

    Conclui-se então, que o ciclismo nas aulas de Educação Física, pode ser utilizado como estratégia para incentivar a prática de atividades físicas, pois além de motivar os alunos dentro para aulas de Educação Física, também promove a prática no seu cotidiano fora da escola, proporcionando mais saúde e qualidade de vida da fase escolar até a idade adulta.

Referencias

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