Aptidão física dos alunos de 10 a 14 anos praticantes de futebol em uma escolinha de Criciúma Aptitud física de los alumnos de 10 a 14 años que asisten a una escuela de fútbol de Cricúma Physical fitness of students from 10 to 14 years practitioners of football in a school Criciuma |
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Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC Unidade Acadêmica de Humanidades Ciências e Educação Departamento de Educação Física Criciúma, Santa Catarina |
Jenivaldo Marques Bárbara Regina Alvarez (Brasil) |
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Resumo O estudo tem como objetivo avaliar a aptidão física de alunos de 10 a 14 anos praticantes de futebol em uma escolinha do município de Criciúma, Santa Catarina. Foram avaliados 17 indivíduos do sexo masculino, a partir do protocolo do Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR). Os meninos apresentaram Índice de Massa Corporal (IMC) dentro da faixa recomendável e bons níveis de flexibilidade, força de membros superiores e inferiores, além de boa resistência aeróbia. Entretanto, demonstraram baixos níveis de velocidade. Os resultados obtidos no estudo corroboram com praticamente todas as pesquisas realizadas no Brasil, independente da região. Por fim, conclui-se que a aptidão física da população estudada é boa e que esses níveis devem ser mantidos e estimulados, justificando a importância da vivência no esporte com supervisão e orientação de profissionais de educação física. Unitermos: Aptidão física. Escolares. Futebol.
Abstract This study aims to evaluate the physical fitness of soccer apprentices aged from 10 - 14 years, of a school in the city of Criciuma, Santa Catarina. We evaluated 17 male subjects, from protocol design Sport Brazil (PROESP-BR). The boys presented a Body Mass Index (BMI) within the recommended range and good levels of flexibility, as well as strength of upper and lower limbs, and good aerobic endurance. However, the subjects have showed low levels of speed. The results obtained in this study corroborate with a vast majority of studies conducted in Brazil, regardless of region. Data indicated that physical fitness of the subjects is fine, thus these levels should be maintained and encouraged, justifying the importance of sports taught by Physical Education professionals. Keywords: Fitness. Students. Soccer.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Atualmente, estudos realizados com indivíduos dos mais diferentes ambientes socioculturais têm evidenciado importantes informações sobre níveis de aptidão física e saúde, relacionados a processos maturacionais, de crescimento e desenvolvimento (JUNIOR et al., 2005).
Na literatura, já existe um consenso de que a inatividade física e baixos níveis de aptidão física são prejudiciais à saúde (ACSM, 1998). A atividade física é caracterizada por qualquer movimento corporal com gasto energético acima dos níveis de repouso (ACSM, 1998). Já a aptidão física, segundo Fahey et al. (1999, apud ARAUJO e ARAÚJO 2000), representa a habilidade do corpo de adaptar-se às demandas do esforço físico que a atividade precisa para níveis moderados ou vigorosos, sem levar a completa exaustão.
Segundo Guedes e Guedes (1995), não há dúvida de que estudos e análises em crianças e adolescentes são extremamente úteis quando o intuito é comparar intra e inter populações, permitindo uma melhor visualização da magnitude de diferenças que eventualmente possam surgir.
Uma das alternativas para estimular a prática de atividades físicas e a melhora da aptidão física são as escolinhas de iniciação esportiva. Para Bortoni e Bojikian (2007), as escolinhas de iniciação esportiva proporcionam benefícios fisiológicos, além de melhoria da coordenação motora, inclusão social e desenvolvimento cognitivo motor.
Através desse contexto, o presente estudo tem como objetivo avaliar a aptidão física dos alunos de 10 a 14 anos praticantes de futebol em uma escolinha de futebol da cidade de Criciúma, no estado de Santa Catarina.
Metodologia
A pesquisa foi desenvolvida através de um estudo transversal, de caráter descritivo, do tipo estudo de caso. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos – CEP da Universidade do Extremo Sul Catarinense –UNESC sob o parecer número 287.171 em 29/05/2013.
A população foi composta por 40 indivíduos, integrantes de uma escolinha de futebol localizada na cidade de Criciúma - SC. Para compor a amostra, foi por meio de voluntariado, onde 17 indivíduos do sexo masculino entre 10 e 14 anos, se dispuseram a participar, com o consentimento dos pais. Os critérios de inclusão do estudo foram: ser voluntário; participar das atividades com uma freqüência semanal de três vezes e apresentar um termo de consentimento livre e esclarecido assinado pelos pais. Foram excluídos do estudo os meninos que não preencheram os requisitos supracitados.
Para avaliar a aptidão física dos sujeitos, foi utilizado o protocolo de testes do Projeto Esporte Brasil (PROESP-BR), desenvolvido pelo Ministério do Esporte. Tal projeto tem por objetivo geral delinear o perfil somatomotor, os hábitos de vida e a aptidão motora em crianças e adolescentes entre 7 a 17 anos (MINISTÉRIO DO ESPORTE). Para melhor entendimento do protocolo, as informações estão inseridas no quadro 1:
Quadro 1. Variáveis, medidas, testes e área de intervenção do protocolo PROESP-BR
A bateria de testes foi realizada no período vespertino, durante dois dias (8/5/2013 e 10/5/2013). No primeiro dia, realizaram-se as medidas antropométricas (massa corporal, estatura, envergadura) e teste de flexibilidade. Já no segundo, foram realizados os testes de força abdominal, força de membros superiores, força de membros inferiores, agilidade, velocidade e resistência aeróbia. A execução dos testes foi exatamente conforme o protocolo citado acima, nas dependências da Universidade do Extremo Sul Catarinense, onde os alunos se deslocaram através de micro-ônibus.
Resultados
Os valores de média e desvio padrão das variáveis analisadas pelo estudo, separadas por idade, estão ilustradas abaixo, no quadro 2.
Quadro 2. Medidas antropométricas e resultados dos testes de aptidão física
A partir da tabela, nota-se que os indivíduos estão na média de IMC sugerida por Schier (1996 apud GAYA e SILVA 2007). Também, que em todos os grupos a envergadura é maior que a estatura, exceto nas crianças de 10 anos. No teste de impulsão horizontal, percebe-se que os resultados foram progressivos conforme a idade dos mesmos, onde a maior média foi no grupo de 14 anos.
Em relação à flexibilidade, os grupos que apresentaram melhores resultados foram 12 e 14 anos, respectivamente. Nos grupos de 10, 11 e 13 anos praticamente não houve diferença nos resultados neste caso o numero de participantes pode ter alterado os resultados pois o normal seria ao contrário. Já a resistência abdominal apresenta resultados preocupantes no grupo de 10 anos, pois 4 dos 5 alunos não atingiram valores recomendados para saúde. Em contrapartida, os alunos com 14 anos apresentaram resultados acima da média dos sugeridos pelo PROESP-BR. Nas demais faixas-etárias os valores se mantiveram dentro da média.
No teste de força de membros superiores (medicineball), as faixas-etárias de 11, 12 e 13 anos apresentaram resultados classificados como “bom”. Os indivíduos de 10 anos, “razoável” e os de 14 anos, resultados “muito bom”. Na variável agilidade, novamente os indivíduos de 10 anos ficaram classificados como “fraco”, os de 11 anos “bom”, 12 e 13 “razoável” e os de 14 anos, mais uma vez, resultados “excelente”.
Os resultados do teste de resistência (9 minutos) foram semelhantes em todas as faixas etárias e se encontram dentro da “média”. Exceto na idade de 12 anos que está acima da “média” proposta pelo PROESP-BR.
Por fim, a variável velocidade demonstrou os piores resultados. Apenas a faixa-etária dos 11 anos, obteve resultados na média, todos os indivíduos das demais faixas etárias foram classificados como “muito fraco” nesta valência física.
A classificação dos testes, segundo o percentual da amostra, está exposta nas figuras abaixo.
Figura 1. Percentual de classificação do teste força de membros inferiores (Impulsão Horizontal) dos alunos de 10 a 14 anos
Analisando os indivíduos em um contexto geral, percebe-se que a maioria das crianças obteve bom desempenho no teste de força de membros inferiores. A soma dos resultados “bom”, “muito bom” e “excelente” equivale a 65%, contra apenas 35% de níveis “razoável” e “fraco”.
Os alunos demonstraram flexibilidade acima da média proposta pela classificação do teste.
Figura 2. Percentual de classificação do teste de força abdominal
Em relação ao teste de força abdominal, novamente observa-se um rendimento acima da média entre os participantes. Apenas 18% não conseguiram atingir a faixa recomendável para a sua respectiva faixa-etária.
Figura 3. Percentual de classificação do teste de força membros superiores
De uma forma geral, os resultados da variável força de membros superiores foram acima da média. Aproximadamente 23% obtiveram “bom” resultado e 65%, resultado “muito bom”. Apenas 12% ficaram na faixa “razoável” e nenhum participante obteve resultado “fraco” ou “excelente”.
Figura 4. Percentual de classificação do teste de agilidade
No teste de agilidade, os resultados foram difusos. A maioria dos participantes (41%) foram classificados como resultado “bom”. Em seguida, 29% como “muito bom” e “razoável” e “fraco” com 18% e 12% respectivamente.
Figura 5. Percentual de classificação do teste de resistência aeróbia (9 minutos)
Já na variável resistência aeróbia, também houve resultados com predominância “bom” ou “muito bom”, totalizando 76%. Os demais 24% foram divididos entre resultados “razoável” e “fraco”, já que nesse teste não houve a classificação “excelente”.
Figura 6. Percentual de classificação do teste de velocidade (20 metros)
Por fim, o teste de velocidade foi o único que não houve predominância de resultados positivos. Aproximadamente 82% das crianças obtiveram resultado “razoável” ou “fraco” e apenas 18%, resultado “bom”.
Discussão dos dados
A partir do levantamento de resultados e consulta na literatura especializada, percebe-se a importância da discussão sobre aptidão física, principalmente na infância. Fonseca et al. (2010) realizou um estudo com estudantes de uma escola pública de tempo integral na cidade de Ponta Grossa, no Paraná, onde o intuito era avaliar o nível de aptidão física de escolares de 8, 9 e 10 anos de ambos os sexos. O estudo analisou as variáveis IMC, flexibilidade, resistência aeróbia e força abdominal, seguindo também o protocolo PROESP-BR. Os resultados dos meninos corroboram com os encontrados no presente estudo, onde o IMC encontra-se na faixa recomendável, e os níveis de força abdominal e flexibilidade bons. Porém, na variável resistência aeróbia, os escolares paranaenses foram classificados de modo geral como razoáveis, diferentemente do atual estudo. Tal fato pode ser justificado pela idade das crianças, mais novas quando comparadas com as analisadas neste estudo.
Dumith, Junior e Rombaldi (2008) analisaram a aptidão física relacionada à saúde de alunos do ensino fundamental na cidade de Rio Grande, no Rio Grande do Sul. A amostra foi constituída por 660 alunos de ambos os sexos, com idade média de 11,6 anos e as variáveis analisadas foram: flexibilidade, resistência abdominal e capacidade aeróbia. No estudo, o IMC também é classificado na faixa entre os alunos de 10 a 12 anos (19,5%) e 13 a 15 anos (20,3%), os níveis de flexibilidade também concordam com o presente estudo. A força abdominal é semelhante nos estudos e a capacidade aeróbia dos meninos de Rio Grande é maior que a média encontrada no atual estudo.
Em relação à antropometria, foram encontrados resultados diferentes em um estudo proposto por Araújo e Oliveira (2008). Estes verificaram o nível de aptidão física de 288 crianças com faixa-etária de 10 a 14 anos na cidade de Aracaju, Sergipe. Houve diferença na média de estatura, sendo que as crianças do presente estudo são maiores em todas as idades (3,2cm em média por idade), no peso, onde os criciumenses tem entre 5 e 12 kg a mais. Conseqüentemente, o IMC em todas as faixas-etárias é maior entre as crianças do presente estudo. Tal fato pode ser justificado pela diferença de estatura entre as regiões sul e norte/nordeste, consenso na literatura. Em contrapartida, os níveis de flexibilidade foram semelhantes em todas as faixas-etárias.
Bergmann et al. (2005) analisou o crescimento e a aptidão física relacionada à saúde seguindo o mesmo protocolo PROESP-BR de escolares de 10 e 11 anos da cidade de Canoas-RS por um ano. Os resultados obtidos concordam com os do atual estudo, nas variáveis: estatura, peso, IMC, força abdominal e flexibilidade. Porém, há uma diferença na variável resistência aeróbia, onde os indivíduos deste estudo apresentaram níveis superiores. Outro estudo que analisou algumas variáveis semelhantes foi o de Farias et al. (2010), que teve por objetivo avaliar o efeito da atividade física programada sobre a aptidão física em escolares adolescentes. Os autores realizaram intervenção durante o ano letivo e os dados pós-teste corroboram com os do presente estudo, tanto nas variáveis de flexibilidade, resistência aeróbia e força abdominal foram parecidos com os abordados no presente artigo.
Considerações finais
Apesar da vasta literatura sobre aptidão física na infância e adolescência, são raros os artigos que a relacionam com algum esporte, tão pouco ao futebol. Nota-se que os resultados são semelhantes nas faixas-etárias analisadas. As crianças possuem boa flexibilidade, IMC de acordo com o indicado e em geral boa aptidão física relacionada à saúde. Apenas a variável velocidade apresenta resultados abaixo do esperado. Há a necessidade de mais estudos na área e correlacionando aos esportes em geral.
A partir disso, conclui-se que a aptidão física dos alunos de 10 a 14 anos praticantes de futebol em uma escolinha de Criciúma-SC é considerada boa. Este estudo mostra a importância da escolinha na manutenção e melhoria desses níveis, são de suma importância para uma sociedade mais ativa e saudável, sendo dever do profissional de educação física colaborar diretamente nesse processo.
Referências bibliográficas
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