efdeportes.com

A velocidade na capoeira

La velocidad en la capoeira

 

Academia da Usina

Rio de Janeiro, RJ

(Brasil)

Ricardo Martins Porto Lussac (Mestre Teco)

ricardolussac@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          A Capoeira é uma das modalidades de luta que mais desenvolvem as qualidades físicas em seus praticantes, sendo um esporte considerado completo por muitos capoeiristas. O desenvolvimento destas valências em seus praticantes auxiliam os mesmos no treinamento e na prática do jogo e da luta da Capoeira, desenvolvendo a sua performance e habilidades. A qualidade física Velocidade é um dos muitos componentes e variáveis na performance de um capoeirista, sendo interessante perceber esta de forma holística no mosaico do Treinamento Esportivo. Este trabalho teve como objetivo elaborar apontamentos iniciais sobre a Velocidade, uma qualidade física essencial na prática do jogo-luta.

          Unitermos: Capoeira. Qualidade física. Velocidade.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

    Ricardo Martins Porto Lussac (Mestre Teco)Ao ser pensado o desenvolvimento de uma preparação física, inicialmente, é necessário identificar as qualidades físicas da prática corporal ou da modalidade esportiva com a qual se pretende realizar um treinamento. Este é um ponto fundamental para o êxito desejado, visto estarem ligadas intimamente aos objetivos de treinamento, pois só após esta etapa se pode elaborar um programa de treinamento para qualquer modalidade ou prática de atividade física (TUBINO, 1984, p. 180).

    Umas destas etapas, a Avaliação Técnica da Qualidade Física, é um procedimento metodológico e específico, que procura identificar as deficiências e virtudes de um atleta. Um dos métodos é codificar gestos e movimentos, e condicionar o atleta a vários estímulos diferentes, como também a diferentes tipos de treinamentos. Na Capoeira esta prática não é difundida e pouquíssima utilizada de acordo com os fundamentos científico-metodológicos existentes. Portanto, verifica-se o potencial de desenvolvimento da Capoeira neste campo, por ser uma atividade que possui amplo potencial para o treinamento das qualidades físicas.

O treinamento das qualidades físicas

    A Capoeira é uma arte brasileira que possui múltiplas linguagens, das atividades físicas é a única que oferece às pessoas o maior número de experiências motoras, desenvolvendo algumas com mais e outras com menos intensidade, porém todas as qualidades físicas são trabalhadas (CUNHA, 2003, p. 65).

    Destarte, é possível afirmar que todas as qualidades físicas podem ser muito desenvolvidas na Capoeira dependendo dos objetivos e procedimentos relativos ao programa de treinamento. Inclusive, a prática da Capoeira na água, também conhecida como Hidrocapoeira ou Capoeira Molhada, por exemplo, amplia as possibilidades do treinamento e do desenvolvimento no meio aquático, ainda pouco explorado no campo do jogo-luta.

    Dantas (1995), abordando os desportos terrestres de confronto com características de movimentos acíclicos, afirma que, no Karatê e no Kung-Fu, a Força Explosiva de extensão de braços e membros inferiores merece destaque, embora a potência muscular ainda resulte mais da Velocidade do que da Força, a Força Dinâmica cresce de importância passando a essencial. Quanto aos objetivos principais na preparação física, na Fase Básica, estas modalidades devem obter Resistência Aeróbica, RML (Resistência Muscular Localizada) e Flexibilidade; na Fase Específica, devem atingir níveis altos de condicionamento da Resistência Anaeróbica, da Força Explosiva e de Velocidade de Movimento. No Período de Competição: deve-se zelar pela manutenção dos níveis atingidos nas diversas qualidades físicas e, no Período de Transição: o repouso ativo com manutenção de algumas qualidades, tais como a Flexibilidade e a Resistência Aeróbica, são importantes (DANTAS, 1995). Deste modo, é possível aproveitar a semelhança destas modalidades com a Capoeira, para pensar em um treinamento específico.

    Para Dantas, os desportos de confronto como o Judô, o Jiu-Jitsu, o Wrestling e as Lutas Olímpicas e Romanas dependem muito mais da Força Dinâmica e da Força Estática em substituição da Força Explosiva (ibidem, 1995).

    Para este autor, as qualidades físicas treináveis são: Velocidade de Movimentos, Força Dinâmica, Força Explosiva, Força Estática, Resistência Muscular Localizada e, Flexibilidade (ibidem, 1995).

    Tubino (1984) assim define as qualidades físicas: Velocidade, Força, Equilíbrio, Coordenação, Ritmo, Agilidade, Resistência, Flexibilidade e, Descontração. Algumas destas apresentam divisões em tipos especiais devido a sua grande especificidade.

A velocidade na capoeira

    A definição de Velocidade, sob a perspectiva da terminologia do vocábulo, no Dicionário Brasileiro da Língua Portuguesa – O Globo é: “VELOCIDADE, s. f. Movimento ligeiro; rapidez; qualidade do que é veloz; celeridade; (fig.) relação entre o espaço percorrido e a unidade de tempo (Do lat. velocitate.)” (FERNANDES, 1993, p. 699).

    Mas sob a perspectiva de uma qualidade física, a definição de Velocidade é:

    É a qualidade física particular do músculo e das coordenações neuromusculares que permite e execução de uma sucessão rápida de gestos que, em seu encadeamento, constituem uma só e mesma ação, de uma intensidade máxima e de uma duração breve ou muito breve (FAUCONNIER apud TUBINO, 1984, p. 180).

    Ou ainda:

    Segundo Frey (1977, 349), a velocidade é a capacidade, sobre a base da mobilidade dos processos do sistema neuromuscular e da faculdade inerente à musculatura, de desenvolver a força, de executar ações motoras em um mínimo de tempo, colocado sob condições mínimas (FREY apud WEINECK, 1989, p. 137).

    Segundo Dantas (1995), a Velocidade de Movimento é uma habilidade motora e como tal, preponderantemente depende do determinismo genético. Para este autor, pode-se considerar a Velocidade de Movimento dependendo de três fatores: Amplitude do Movimento, Força do Grupo Muscular Empregado e, Eficiência do Sistema Neuromotor – fator básico. As duas primeiras são fatores coadjuvantes. Cada um destes fatores, ao preponderar sobre os demais, fará com que esta qualidade física se expresse de uma maneira na prática esportiva.

    Ao preponderar a Amplitude do Movimento ter-se-á a Velocidade produzindo deslocamento por meio da repetição de movimentos cíclicos de membros como observado na natação ou nas corridas. Já o predomínio do aspecto Força poderá ser observado nas “performances” que exigem Força Explosiva como chutes de futebol, socos do boxe, cortadas do vôlei ou o deferimento de golpes de ataque com os membros rápidos na Capoeira. Por fim, o sistema nervoso será mais importante nas expressões da Velocidade em que se observa previamente a Velocidade de Reação e nas quais os outros aspectos são secundários sem relação à rapidez de execução, como pode ser observado nas paradas de Esgrima, nas defesas do Karatê ou na colocação das mãos para a recepção de um saque de vôlei, ou na descida de uma esquiva na Capoeira. Para Dantas, a eficiência do sistema neuromotor, desde a velocidade de condução do motoneurônio, passando por sua preponderância fásica, até a existência de um alto percentual de fibras glicolíticas rápidas, dependerá fundamentalmente da predisposição genética da pessoa, o que torna muito difícil conferir a Velocidade a quem não a possua de forma inata. No entanto, há uma hipertrofia seletiva das fibras musculares devido à especificidade do treinamento. Ela também provoca um aumento da freqüência da descarga neuronal, bem como uma adaptação das fibras glicolíticas lentas, tornando-as de comportamento semelhante às rápidas (ibidem, 1995).

    Para Weineck, quanto as Modalidades da Velocidade, esta, se distingue em uma Velocidade Cíclica, adequada a uma sucessão de ações motoras, como, por exemplo, a corrida ou a ginga da Capoeira de forma contínua e sem variações; e uma Velocidade Acíclica, adequada a uma ação motora isolada, como, por exemplo, lançamento ou execução de um rabo de arraia. Weineck, em sua obra, preferiu abordar a Velocidade Acíclica no capítulo sobre Força de Explosão. Segundo este autor: “Entende-se por velocidade de base a velocidade máxima que pode ser atingida no plano de um movimento motor cíclico.” (1989, p. 137). Sobre a Treinabilidade da Velocidade, Weineck (1989) afirma que, o fator físico da “performance” denominado “velocidade” é, de acordo com a concepção geral, condicionado por uma diátese inata e pode ser treinado menos que a Força ou a Resistência. “Um adulto não treinado (v. p. 18) pode, por intermédio de um treinamento apropriado, melhorar seu melhor tempo em 100m de 15-20% no máximo; os outros casos são a exceção” (HOLLMANN-HETTINGER apud WEINECK, 1989,p. 137).

    Isso é devido ao fato de que as diferenças na distribuição das fibras musculares e, conseqüentemente, o modelo de inervação são geneticamente fixados e o treinamento pode apenas modificar o volume (por aumento da seção transversal) ou a capacidade de coordenação, mas não a distribuição percentual das fibras.

    A velocidade é o fator físico da “performance” que diminui mais cedo e mais fortemente, com a idade crescente (WEINECK, 1989, p. 137).

    Segundo Weineck (1989), a Velocidade, fator físico complexo da performance, em que, sobretudo, desempenham um papel determinante os componentes de Coordenação e de condicionamento, depende de diversas premissas anátomo-fisiológicas, que abordarei superficialmente, São elas:

a.     Tipos de musculatura: “A velocidade de contração de um músculo depende em alto grau do tipo de suas fibras” (ibidem, 1989, p. 137). Dantas afirma que, a relação entre fibras musculares rápidas (FT) e lentas (ST) é relevante para o rendimento e determinada geneticamente, sendo que, o treinamento da condição física não pode converter as fibras ST em FT (DANTAS, 1995).

b.     Força da musculatura: a capacidade diferencial de “performance” no domínio da Velocidade – isso vale em particular para seu componente parcial: a fase de aceleração – baseia-se em um nível inicial diferente das faculdades de Coordenação e de Força. Uma melhora da Força é sempre acompanhada de uma elevação da velocidade motora. O impulso dinâmico, em conexão com as qualidades de Coordenação, determina a “performance” da Velocidade, como, por exemplo, na ginga da Capoeira ou em uma corrida, onde influencia sensivelmente o comprimento e a freqüência da passada, mostrando assim, a importância da Força, como também, por exemplo, para a elevação da “performance” de “sprint” (WEINECK, 1989).

c.     Parâmetros antropométricos: a variação do comprimento e da freqüência da passada é tão grande que a influência do tamanho do corpo e das relações de alavanca sobre esses parâmetros poderia ser julgada não decisiva (ibidem, 1989). Para Dantas, as Características Antropométricas exercem uma influência não pouco importante para a amplitude e freqüência do movimento, com o que se pode concordar quando comparados capoeiristas com diferentes parâmetros antropométricos e a respectiva execução de determinados movimentos. Apesar do treinamento não poder modificá-las, esta é necessária nos diagnósticos biomecânicos (DANTAS, 1995).

d.     Bioquímica da musculatura: a Velocidade máxima do indivíduo depende largamente das reservas de energia da musculatura e da sua velocidade possível de mobilização. A Velocidade está em estreita correlação com o tipo de fornecimento de energia. Por um treinamento especial, as reservas de fosfatos energéticos, em particular KP e as de glicogênio, que ocorre amplamente na glicólise anaeróbica, localizadas no músculo, podem ser aumentadas (PANSOLD apud WEINECK, 1989, p. 138). Paralelamente, é aumentada a atividade de enzimas empenhadas no deslocamento desses substratos energéticos (WEINECK, 1989, 138). Para Dantas, as reservas de ATP, PC e a ação das enzimas encarregadas da degradação e ressintetização do fosfato, têm sua importância decisiva para a Velocidade. O rendimento máximo da Velocidade é devido, nos primeiros segundos, à degradação do fosfato, em seguida se recorre a glicólise anaeróbica como forma de aporte energético até alcançar seu teto a 18 segundos, por efeito do freio do lactato acumulado. A regeneração do fosfato requer de 1 ½ a 2 min. Para eliminar aproximadamente 50% do lactato, necessita-se de uns 15 minutos. Desse processo energético podem-se derivar os tempos específicos para cargas e descansos do treinamento da Velocidade (DANTAS, 1995), e também da execução de determinados golpes e movimentos durante um jogo de Capoeira.

    Segundo Weineck: “Seja pelo aumento das reservas de energia, seja pelo aumento das atividades enzimáticas, a velocidade de contração do músculo eleva-se” (BARANY apud WEINECK, 1989, p. 139).

e.    Cooperação neuromuscular, Contratilidade do músculo: sobre a relação da cooperação neuromuscular com a contratilidade do músculo, entende-se que uma “freqüência motora elevada não pode ser obtida sem uma alternância ultra-rápida de excitação e de inibição e as regulações correspondentes do sistema neuromuscular em conexão com um esforço ótimo” (HARRE apud WEINECK, 1989, p. 139). Somente uma Coordenação Motora intra e intermuscular ótima permite melhorar a cooperação dos agonistas e dos antagonistas, assim como o número das unidades motoras ao mesmo tempo ativadas, daí a elevação de força de aceleração da musculatura. A Velocidade de inervação, isto é, a Velocidade de reação dirigida pelo sistema nervoso central da musculatura é, em geral, denominada Velocidade de Base (ibidem, 1989). Seu desenvolvimento varia conforme os indivíduos, por causa das variedades que afetam o funcionamento do sistema nervoso “e repousa, conforme no tamanho da carga (elétrica) das células ganglionárias motoras” (LORENTZ apud WEINECK, 1989, p. 139). A Coordenação Intramuscular, Intermuscular e a Automatização do Movimento são fatores de influência nervosa, que alcançam e mantém suas propriedades, apenas quando os tempos destinados a atividade e repouso sejam ótimos (DANTAS, 1995).

f.     Elasticidade, Estirabilidade e Capacidade de descontração da musculatura: “Se a elasticidade, a estirabilidade e a capacidade de descontração dos músculos são insuficientes, processa-se uma redução da amplitude motora” (HARRE apud WEINECK, 1989, p. 140), e uma deterioração da cooperação neuromuscular e de coordenação, pois a musculatura que trabalha (agonista) durante o movimento deve superar uma resistência maior dos antagonistas. Esses desenvolvimentos motores, inibidos pelo atrito interno e pelo tono muscular aumentado, exigem não somente uma eficácia menor de uma energia aumentada, mas ainda induzem, mesmo em pouco tempo, uma redução da Velocidade (WEINECK, 1989).

g.     Influências psíquicas: Weineck (1989) afirma que, se a capacidade de Coordenação não for suficientemente desenvolvida, certas circunstâncias podem condicionar uma perturbação da regulação nervosa central. A tentativa de influenciar voluntariamente um controle dos movimentos executados por automatismo acarreta uma deterioração da Coordenação. Uma desautomatização acontece, e isso tanto mais depressa do que em um movimento seja menos bem consolidado, aprendido.

    Além disso, um esforço máximo de vontade – Grosser (1976, 28) fala também de “puch” voluntário – é decisivo para a obtenção da velocidade máxima possível (cf. Harre, 1976, 164). De resto, esse esforço de vontade não diz respeito ao desenvolvimento motor, mas à capacidade interna de mobilização (ibidem, 1989, p. 140).

    Para Dantas, após a melhora dos fatores coadjuvantes da Velocidade de movimento, quando deverá iniciar o treinamento da Velocidade propriamente dito, consistindo na execução do movimento considerado com o máximo de rapidez possível, alternado com as pausas que permitam a recuperação metabólica, a influência psíquica é de grande importância, podendo o atleta ser auxiliado por influências externas visando “aprender” a realizar o gesto com mais velocidade. Por exemplo, um corredor pode correr a favor do vento, ou numa pista em ligeiro declive para ver se aumenta a freqüência de suas passadas; um ginasta pode receber o impulso extra de um trampolim para facilitar a execução de um movimento da ginástica de solo (DANTAS, 1995), do mesmo modo que um capoeirista pode aproveitar um piso inclinado para treinar saltos e movimentos como o ‘macaco’ ou o ‘aú de pantana’, por exemplo.

h.     Estado de aquecimento da musculatura: uma freqüência motora elevada supõe um estado ótimo de aquecimento; considerando-se que o aquecimento da musculatura por um lado, abaixa a viscosidade, fricção interna, reforça a elasticidade e a estirabilidade, mas por outro lado aumenta a capacidade de reação do sistema nervoso e melhora o processo de controle, todas as reações bioquímicas processam-se mais depressa e a temperatura for ótima, um aquecimento suficiente é necessário para a obtenção da Velocidade Máxima individual (WEINECK, 1989). “A elevação da temperatura corporal pode aumentar cerca de 20% a velocidade de contração.” (JONATH apud WEINECK, 1989, p. 140). Para Dantas, a viscosidade do músculo influi em sua velocidade de contração. A viscosidade, por sua vez, depende de sua reserva de ATP, função ressintetizadora do ATP, da hiperacidez e do calor. Assim de entendem os enrijecimentos do músculo depois de grandes esforços de velocidade e a temperatura muscular baixa (DANTAS, 1995).

    Neste sentido, é comum que capoeiristas mais experientes quando ao pé do berimbau por muito tempo, não permaneçam totalmente parados e na mesma posição.

    Do mesmo modo que os integrantes da bateria de instrumentos e os demais integrantes de uma roda de Capoeira vibram corporalmente com a música e com os acontecimentos do jogo, cantando, dançando e batendo palmas. Deste jeito, o corpo permanece em um pré-estado de aquecimento e tensão para quando forem jogar.

i.     Fadiga: é impossível atingir uma Velocidade Máxima em estado de fadiga, pois os processos de controle do sistema nervoso central são afetados e, reduzida no seu rendimento, a alta capacidade de Coordenação necessária para o desenvolvimento da Velocidade (WEINECK, 1989).

    A fim de não atingirem a fadiga durante o jogo, muitos capoeiristas recorrem a ‘Parada de Angola’ ou ao ‘Passo à Dois’ ou à ‘Volta ao(de) Mundo’, ou mesmo ao ‘Pé do Berimbau’ para obter um tempo de recuperação fisiológico do corpo – estes recursos também são utilizados para outras necessidades do jogador, como obter concentração, para perceber o ambiente, para interagir e se comunicar, seja por gestos ou olhar, com outros participantes da roda, entre tantas outras funções pertinentes ao jogo da Capoeira.

    A intensidade e o volume do jogo, inclusive desferindo menos golpes e executando movimentos não fatigantes ou em menor grau de esforço são também artifícios comumente usados no jogo da Capoeira.

    Na fadiga ocorre uma acidez metabólica mais ou menos acentuada (superacidificação condicionada pelo metabolismo) que, pelos canais sensíveis aferentes, é transmitida centriptamente para o córtex cerebral. Esses impulsos aferentes desencadeiam, nos centros responsáveis pelo controle motor, uma inibição que provoca uma redução do número e da freqüência das descargas dos neurônios motores (KOITZSCH apud WEINECK, 1989, p. 140).

    De acordo com Dantas, o treinador pode, e deve, preocupar-se, basicamente, antes de realizar o treinamento da Velocidade propriamente dito, com o treino de quatro componentes:

  • Sistema de transferência energética anaeróbico-alática – como foi visto na preparação cardiopulmonar

  • Amplitude do movimento

  • Diminuição da resistência mecânica – por meio de exercícios de alongamento

  • Força muscular – através de procedimentos da preparação neuromuscular (DANTAS, 1995, p. 163).

    Para Weineck, são Fatores Determinantes da Velocidade:

a.     Velocidade de reação: o tempo de reação obedece a regularidades de fisiologia sensorial, que de acordo com toda a verossimilhança não permite descer abaixo de um valor-limite determinado, cerca de 0,10 s (WEINECK, 1989):

    O tempo de reação e o tempo intrínseco de latência reduzem-se, conforme Zaciorskij (1972, 52), a cinco componentes:

  • aparecimento de uma excitação no receptor (sinal);

  • transmissão da excitação para o sistema nervoso central;

  • passagem do estímulo nas redes nervosas e formação do sinal de operação (é então como nas reações complexas que necessitam mais tempo);

  • chegada do sinal emitido pelo sistema nervoso central ao músculo;

  • excitação do músculo com desencadeamento de uma atividade mecânica (ZACIORSKIJ apud WEINECK, 1989, p. 140 e 141).

    O tempo de reação nos estímulos óticos, acústicos e táteis é diferenciado, sendo também diferenciada esta reação ao longo da vida do indivíduo e entre as pessoas. Não existe relações entre Tempo de Reação e Velocidade Motora, uma pessoa pode ter um bom tempo de reação e uma medíocre velocidade motora e que, a Velocidade de Reação é influenciada diretamente pela “Tensão Prévia” (WEINECK, 1989).

    De acordo com Dantas, a velocidade do estímulo no sistema nervoso está fixada geneticamente – fibras nervosas motoras via eferente, 30-120 m/s, e fibras nervosas sensoriais das vias aferentes, 1-120 m/s – e determina, por isso, o tempo mínimo de reação. De acordo com este autor, existem várias pesquisas sobre a Velocidade e também sobre os tempos de reação a partir de sinais acústicos e óticos. Um treinamento consegue uma melhora de 10-15% para reações acústicas simples e de 30-40% para as reações discriminadas, porém mais no sentido de uma maior estabilidade nas repetições do rendimento ótico do que de uma melhora da Velocidade (DANTAS, 1995).

b.     Faculdade de aceleração: “A faculdade de aceleração constitui a capacidade mais importante do corredor de “sprint”: os melhores corredores de “sprint” têm também um melhor tempo de partida.” (WEINECK, 1989, p 141). Weineck afirma que, a estreita interdependência entre a Faculdade de Aceleração e a Força das Pernas resulta dos elevados coeficientes de correlação que existem para os saltos horizontais e os verticais (0,64 e 0, 50); os grupos, dotados de uma “performance” de “sprint” significativamente melhor, dispõem de uma força superior de salto horizontal e vertical (ibidem, 1989), que são extremamente necessários para a prática da Capoeira, pois vários movimentos e golpes precisam deste fator.

c.     Velocidade de ação: é função privilegiada das capacidades de Coordenação, de inervação e de resposta imediata dos músculos empenhados, portanto, do valor funcional do sistema neuromuscular (ibidem, 1989).

d.     Velocidade de resistência: “os músculos robustos e rápidos podem possuir simultaneamente uma faculdade de resistência boa ou má” (GUNDLACH apud WEINECK, 1989, p. 143). Essa capacidade é mais fácil de ser treinada do que, por exemplo, a velocidade de inervação ou a contratilidade do músculo. A elevação da Velocidade de Resistência torna o atleta capaz de manter, por uma duração de tempo mais longa, a fase de Velocidade de Ordenação ou a Velocidade Máxima (WEINECK, 1989). Deste modo, o desenvolvimento desta capacidade propicia ao capoeirista executar vários golpes e movimentos em velocidade máxima durante um maior tempo.

    Quanto aos métodos e conteúdos para melhorar os fatores da Velocidade, para escolher os exercícios tecnomotores e de condicionamento aplicados ao treinamento, é importante analisar e avaliar o nível da influência exercida pelas componentes que determinam a “performance” e são independentes umas das outras, no rendimento complexo da motricidade esportiva (ZUHLOW apud WEINECK, 1989, p. 143). A análise funcional das componentes da Velocidade que determinam a “performance” mostrou que, a Velocidade de Reação e a Velocidade de Resistência são indiferentes para a “performance”, enquanto a Faculdade de Aceleração e a Velocidade Máxima (rapidez de ação, velocidade de coordenação) condicionam-na amplamente. A Velocidade de Reação, a aceleração de “sprint” e a resistência de “sprint” não se influenciam reciprocamente (BALLREICH apud WEINECK, 1989, p. 143), “cada componente exige meios especiais de treinamento” (ZACIORSKIJ apud WEINECK, 1989, p. 143). Em seqüência, alguns Princípios Metódicos do Treinamento de Velocidade, propostos por Weineck:

  • A intensidade dos exercícios deve ser escolhida de tal modo que atinja os níveis elevados, necessários para o desenvolvimento da velocidade.

  • A duração do exercício deve ser escolhida de tal modo que a velocidade não diminua, em conseqüência da fadiga que ocorrer no fim do exercício (Zaciorskij, 1972, 58).

  • Considerando-se que, quando se observam pausas ótimas de recuperação, o efeito cumulativo do treinamento causa fenômenos de fadiga, relativamente cedo, devendo ser limitado a 5-10 repetições por unidade de treinamento o volume do exercício (cf. Zaciorskij, 1972, 59; Harre, 1976, 166). Nenhum treinamento de velocidade para uma pessoa fatigada!

  • Interrupção do trabalho de velocidade quando a cadência diminui!

  • Todo treinamento de velocidade deve processar-se em um estado de aquecimento ótimo [grifos do autor] (1989, p. 146).

    A mulher possui um desempenho inferior em comparação ao homem tanto na Velocidade Cíclica quanto na Acíclica. A menor capacidade de desempenho absoluta da mulher não é devido a componentes psicomotores coordenativos da Velocidade, o tempo de reação e a freqüência de movimentos, como expressão de atuação neuromuscular não semelhantes nos homens e mulheres, mas sim às medidas que dependem da Força (WEINECK, 1991, p. 368). A Velocidade, assim como a Força da mulher, é limitada principalmente pela sua reduzida taxa de testosterona. Sob exigências de velocidade, que se referem exclusivamente à Velocidade como característica coordenativa e não a formas de manifestações dependentes da Força, não se pode observar diferenças específicas entre os sexos (ibidem, 1991).

    Neste caso, é necessário compreender as diferenças e performances na Capoeira entre homens e mulheres, pois é natural que as mulheres tenham maior dificuldade na execução de movimentos que dependem muito da capacidade de Força.

    Sobre o treinamento da Velocidade na infância e na adolescência, Weineck enfatiza sua instrução tão precoce quanto possível desse fator físico da performance, pois a Velocidade Máxima parece, geneticamente, limitada em um quadro relativamente estreito (ibidem, 1989). Segundo este autor, é admitida a possibilidade “de que o perfil definitivo das bases biológicas da velocidade seja estabelecido muito cedo. O que não foi desenvolvido em tempo útil não pode ser recuperado depois” (BLASER apud WEINECK, 1989, p. 149).

    Na idade pré-escolar, um considerável aperfeiçoamento dos movimentos de corrida ocorre dos 5 aos 7 anos, revelado por um aumento extraordinário da Velocidade de corrida (MEINEL apud WEINECK, 1989, p. 149). É recomendado uma oferta aumentada de exercícios de velocidade é recomendada nesse lapso de tempo (WEINECK, 1989).

    Na primeira idade escolar, a freqüência e a velocidade dos movimentos passam por sua mais forte impulsão na primeira idade escolar, sendo também considerável, o aumento acentuado da Velocidade de Reação e a diminuição do tempo de latência que a condiciona (ibidem, 1989). “conforme Markosjan-Wasjutina - 1965, 330 – ele passa de 0,5-0,6 s aos 6-7 anos e para 0,25-0,40s aos 10 anos” (ibidem, 1989, 149). Nesse período de gradientes máximos de aumento das capacidades de Velocidade, um papel importante cabe não somente às condições favoráveis que os processos nervosos oferecem para a mobilidade, mas ainda às condições das alavancas, sendo preciso então, levar em conta o desenvolvimento geral dos fatores físicos da performance, recorrendo mais a exercícios que empreguem a Velocidade (KOINSER apud WEINECK, 1989). Deste modo é possível inferir que, a Velocidade nos praticantes de Capoeira deve ser desenvolvida o quanto antes, de preferência neste período da primeira idade escolar, com a qual é possível oferecer benefícios para uma futura performance no jogo-luta.

    Já na segunda idade escolar, os tempos de latência e de reação continuam a reduzir-se rapidamente até o final desse período, para atingir quase os valores do adulto (MARKOSJAN-WASJUTINA apud WEINECK, 1989). Como nesta fase a freqüência e a velocidade dos movimentos de corrida aumentam consideravelmente, assim como na primeira idade escolar, uma intensificação do trabalho sobre as capacidades de Velocidade deve ser realizada.

    No treinamento da Velocidade na pubescência, os tempos de latência e de reação atingem os valores adultos no final da pubescência (MARKOSJAN-WASJUTINA apud WEINECK, 1989) e, “a freqüência do movimento, que mal será modificada depois, tem seu ponto máximo situado dos 13 aos 15 anos” (MEINEL apud WEINECK, 1989, p. 149). Os coeficientes elevados condicionados de crescimento devido aos hormônios, elevação de testosterona nos meninos, em matéria de Força e Velocidade Máximas, assim como o aumento da capacidade anaeróbica, visível na resistência de Velocidade e da Força de Resistência, produzem nesta fase ganhos importantes em Velocidade; além disso, ao contrário das idades anteriores, pode-se recorrer mais aos meios de treinamento anaeróbico para estimular o aumento. Esse fato deve ser explorado com um treinamento reforçado do componente de condicionamento da Velocidade, portanto da Força de Explosão (KOINZER apud WEINECK, 1989).

    É possível um treinamento ilimitado e sem restrição dos aspectos condicionados e coordenativos da Velocidade na adolescência. Os métodos e conteúdos de treinamento correspondem mais ou menos aos dos adultos, só apresentando diferenças do ponto de vista quantitativo (WEINECK, 1989; 1991).

    Os treinamentos de Velocidade para as crianças devem ser lúdicos e adaptados a faixa etária, em quantidade e qualidade, respeitando os dados fisiológicos delas, como a menor capacidade alactática e lactática. Aos poucos, aumentando a idade, as formas puramente lúdicas são substituídas pelos treinamentos semelhantes aos dos adultos, principalmente, após a puberdade, no início da adolescência (ibidem, 1989). Como o lúdico é um fator presente e constante na Capoeira, as possibilidades de intervenção no treinamento de Velocidade nas crianças com a prática da Capoeira é grande, como também é vasta, as possibilidades de treinamento desta qualidade física após a puberdade, no início da adolescência e na fase adulta. Weineck sugere alguns Princípios Metódicos do Treinamento de Velocidade para as crianças e adolescentes:

  • O treinamento de velocidade deve ser conduzido nas diferentes idades por meios apropriados a cada idade.

  • É preciso estar atento para utilizar os setores sensitivos do desenvolvimento (época dos maiores índices de crescimento).

  • A velocidade e as capacidades, que a condicionam, devem ser desenvolvidas de maneira diferenciada (instrução da freqüência de movimento dos 7 aos 13 anos; treinamento de força de explosão, sobretudo na puberdade e no início da adolescência).

  • A velocidade deve ser treinada cedo, a fim de que o espaço geneticamente restrito, colocado antes da conclusão completa do sistema nervoso central, possa ser ampliado (ibidem, 1989, p. 151).

    Para Campos (1998), na Capoeira o fator Velocidade é muito importante, principalmente para ser usado nos golpes, esquivas ataques e defesas, sendo que a Velocidade de Reação, por meio do estímulo visual, é a mais intensamente desenvolvida:

    A rapidez dos golpes, na Capoeira, exige também do oponente uma velocidade de relação bastante eficaz, aprimorando desta forma o reflexo. Sendo a Capoeira uma atividade eminentemente de movimentos acíclicos, torna-se deveras interessante uma vez que solicita de seu praticante movimentos variados dos segmentos em todas as direções, acompanhados de um alto grau de coordenação (ibidem, 1998, p. 109 e 110).

    A Velocidade como uma qualidade física que permite o indivíduo realizar uma ação no menor tempo possível, é importantíssima na Capoeira. Todo bom capoeirista é veloz. Movimentos rápidos e velozes fazem parte do jogo-luta. A Velocidade é importante para se obter potência no golpe e para ter Força Explosiva, sendo imprescindível para a realização de determinados movimentos. A Velocidade está ligada a fatores genéticos, ligada ao percentual e tipo das fibras musculares.

    Tubino (1984) afirma que a Velocidade está dividida em três tipos: Velocidade de reação, Velocidade de deslocamento e, Velocidade de membros. Outros autores ainda colocam um quarto tipo, a Velocidade de movimento, conforme já percebido, que seria expressa pela rapidez de execução de uma contração muscular.

a.     Velocidade de deslocamento: é ir de um ponto a outro, no menor tempo possível.

b.     Velocidade de reação: observada entre um estímulo, que pode ser acústico, óptico ou tátil, e a resposta correspondente. É reger um estímulo no menor tempo possível. É uma ação consciente, não é um “reflexo”, como geralmente é conhecido de modo popular. É uma resposta em nível medular. Este tipo de Velocidade é extremamente necessária para a realização de defesas, esquivas e negaças que possuam um alto nível de dificuldade de execução.

c.     Velocidade de membros: é a capacidade de movimentar um membro o mais rápido possível.

    Campos (1998): sugere quatro variáveis da Velocidade:

a.     Velocidade de reação ou Tempo de reação: já descrita anteriormente.

b.     Velocidade de movimentos acíclicos: esta qualidade se caracteriza por vários movimentos sem uniformidade e com acelerações diferentes. Apresentam-se, esses movimentos, nos esportes de arremessos, saltos, tênis, Box, Capoeira, etc. (ibidem, 1998).

c.     Velocidade de movimentos cíclicos: é caracterizada por movimentos uniformes, precisos e com repetições de fases. Exemplo: corrida, natação, remo, ciclismo, etc. (ibidem, 1998). Na Capoeira encontramos esta variante da Velocidade somente em um movimento, a ginga, e mesmo assim, se ela for feita de forma marcada e igual, com um padrão regular de movimentação, sem variações de movimentos. Este tipo de ginga, não é a mais adequada para a Capoeira, pelo contrário, seria a própria desaprendizagem da ginga. Ela só tem serventia para duas finalidades: para o aprendizado inicial da ginga, principalmente, pelas crianças, e para o treinamento da resistência específica, devido a sua constância de movimento. Estudos e protocolos de avaliação e de treinamento poderiam até ser preconizados, mas ainda há muito para ser pesquisado com a ginga da Capoeira. O próprio treinamento da ginga na Zona Alvo da Freqüência Cardíaca pode ser trabalhada com uma ginga mais diversificada, apesar de mais trabalhoso, se assim for feito este treinamento ou diagnóstico.

d.     Velocidade de segmentos: é a capacidade de mover os segmentos do corpo, braços, pernas, cabeça e tronco, o mais rapidamente possível, permitindo a sucessão rápida de gestos com intensidade máxima e duração breve ou muito breve (ibidem, 1998). Esta variável seria a Velocidade de membros, mencionada por Tubino. Este autor, ao colocar esta nomenclatura, deixa de fora o tronco e a cabeça, especificando somente os membros. Neste caso, é oportuno indagar se seria o caso de se interpretar estas partes do corpo, tronco e cabeça, como também possuidoras de velocidade na execução de um golpe, movimento ou gesto. Pois a cabeçada, com seu imenso repertório de variações, é um dos golpes principais da Capoeira e depende muito da velocidade destas partes do corpo.

    A Velocidade de movimentos acíclicos e a Velocidade de movimentos cíclicos estão dentro da divisão de Tubino, na Velocidade de deslocamentos, mas de forma interpretativa diferenciada.

    De acordo com Dantas (1995), o treino técnico é muito importante para o desenvolvimento da Velocidade, pois uma ótima Coordenação é essencial para uma boa performance desta qualidade física. Para Dantas: “O gesto desportivo deve ser repetido exaustivamente procurando-se obter o máximo de precisão e Coordenação, consumindo o menor tempo possível.” (1995, p. 163):

    Outro fator que auxilia o desenvolvimento da velocidade é o treinamento com colete lastrado que, por sobrecarregar o atleta durante os treinamentos, permite que ele tenha melhor resultado ao retirá-lo durante as performances. No entanto, sempre que o uso do colete interferir com as características técnicas do desporto, convém ser evitado seu uso, pois poderá se tornar contraprudente (ibidem, 1995, p. 163).

    Uma das muitas práticas presentes nos modos e técnicas de treinamento da Capoeira atual é a utilização de caneleiras, por parte de alguns capoeiristas, no treinamento de golpes com os membros inferiores no intuito de desenvolver a Velocidade de execução destes. Do mesmo modo, alteres são utilizados nas mãos a fim de obter resultados com os membros superiores. Ainda não há estudos profundos sobre esta prática na Capoeira. Empiricamente alguns percebem certo desenvolvimento, mas não é possível afirmar se o treinamento com caneleiras é mais eficiente, adequado e indicado, do que o tradicional, sem o uso destas, dependendo dos objetivos almejados. Do mesmo modo, é sabido que o uso abusivo ou a má utilização das caneleiras podem provocar lesões, principalmente articulares e, mais especificamente, nos joelhos e na coluna vertebral. Contudo, seu uso ainda é bastante utilizado por capoeiristas com poucos anos de prática, quando desejam ampliar a velocidade de seus golpes com os membros inferiores. Talvez, os iniciantes na prática da Capoeira tenham um maior e notório desenvolvimento com o treinamento com caneleiras, pois este tipo de treinamento desenvolve a força, um dos componentes atuantes no ganho e treinamento da velocidade. Isto não quer dizer que o uso deste tipo de acessório não proporcione benefícios para indivíduos treinados, sendo indicado, no meu entendimento, a ampliação do repertório motor e, respectivamente, da carga e outras variantes do treinamento nestes casos.

    Não é raro encontrar capoeiristas que chegam em uma roda de Capoeira com caneleiras e as tiram no momento em que vão jogar. Ao jogar, após retirarem tais acessórios, têm a sensação de leveza das pernas e, respectivamente, uma possível maior velocidade nos golpes com os membros inferiores.

    Entretanto, não há qualquer comprovação que a velocidade dos membros inferiores ou superiores seja ampliada com este tipo de prática. Inclusive, esta prática não é observada em esportes de alto desempenho semelhantes à Capoeira. Neste sentido, creio ser necessária a realização de estudos para a comprovação dos benefícios desta prática, ou mesmo para o alerta sobre os malefícios e a possível perda de tempo de treinamentos por meio de uma prática não eficaz.

Considerações finais

    Estudos da qualidade física Velocidade aplicada à Capoeira têm um campo vasto e ainda inexplorado, podendo muito contribuir para conhecermos mais sobre a Velocidade no jogo-luta. Não se sugere esquecer, ao trabalhar a qualidade física Velocidade, das Leis da Física, aplicadas à Velocidade, conhecendo, por exemplo, a Velocidade Escalar Média, a Velocidade Escalar Instantânea, a Velocidade Vetorial Média e a Velocidade Vetorial Instantânea. Estes conceitos e conhecimentos são fundamentais para uma compreensão desta qualidade física perante a Ciência da Física, e assim, poder trabalhar com um total domínio e conhecimento da Velocidade como um todo.

    Destarte, é necessário compreender que a qualidade física Velocidade é um dos muitos componentes e variáveis na performance de um capoeirista, sendo interessante perceber esta qualidade física de forma holística no mosaico do Treinamento Esportivo. Conclui-se, portanto, que o avanço dos estudos pertinentes ao Treinamento Esportivo da Capoeira e, respectivamente, das qualidades físicas envolvidas, serão extremamente benéficos à prática e ao conhecimento no campo do jogo-luta.

    Nota: este trabalho, só agora publicado, é resultante de alguns apontamentos do autor quando este escreveu sua monografia de pós-graduação lato sensu (LUSSAC, 2004). Nos dias atuais o autor se dedica a outras áreas de pesquisa, entretanto, o mesmo acredita que ao publicar estes apontamentos, estes podem contribuir de algum modo somando ao desenvolvimento acadêmico no campo da Capoeira, ainda muito aquém do que poderia ser explorado.

Referências bibliográficas

  • CAMPOS, Hélio. Capoeira na Escola. 1ª edição, Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 1998.

  • CUNHA, Andréa Cristiane Alves da. Capoeira Positiva - Os benefícios da prática da Capoeira para crianças portadoras do vírus HIV. Rio de Janeiro: Edições Abada-Capoeira, 2003.

  • DANTAS, Estélio H. M. A Prática da Preparação Física. 3ª edição. Rio de Janeiro: Shape, 1995.

  • FERNANDES, Francisco. Dicionário Brasileiro Globo. 30ª edição. São Paulo: Globo, 1993.

  • LUSSAC, Ricardo Martins Porto. Desenvolvimento psicomotor fundamentado na prática da capoeira e baseado na experiência e vivência de um mestre da capoeiragem graduado em educação física. Universidade Cândido Mendes, Pós-Graduação “Lato Sensu”, Projeto A vez do Mestre. Rio de Janeiro: 2004.

  • TUBINO, Manoel José Gomes. Metodologia científica do treinamento desportivo. 3ª edição. São Paulo: Ibrasa, 1984.

  • WEINECK, Jürgen. Manual de Treinamento Esportivo. 2ª edição. São Paulo: Editora Manole, 1989.

  • _________, Jürgen. Biologia do Esporte. São Paulo: Editora Manole, 1991.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 188 | Buenos Aires, Enero de 2014
© 1997-2014 Derechos reservados