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A história do Caravaggio Futebol Clube

La historia del Caravaggio Futebol Clube

 

Acadêmico do curso de Bacharelado em Educação Física

da Universidade do Extremo Sul Catarinense, 8ª fase

(Brasil)

Luis Fernando Spilere

nando_spillere10@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          A finalidade desta pesquisa foi registrar a história do time de futebol amador, da cidade de Nova Veneza, mais precisamente no distrito de Caravaggio. O Caravaggio Futebol Clube foi fundado em maio de 1970, com o objetivo de realizar o esporte de uma maneira organizada. A metodologia utilizada foi a entrevista com pessoas ligadas ao clube à época de sua fundação/ consolidação e nos dias atuais. Foram realizadas 10 entrevistas, sendo com ex-presidentes, ex-jogadores, jogadores atuais, pessoas ligadas até hoje com o clube, e também alguns representantes de empresas locais patrocinadoras. A partir de então, foram analisadas e incorporadas com o material existente, como a ATA de fundação e fotos sobre o clube. Acredita-se que o objetivo desta pesquisa tenha sido alcançado, sabendo-se que novos estudos podem ser lançados, pois muitos tópicos ainda poderiam ser tratados e que se encontravam fora dos limites desta pesquisa.

          Unitermos: Caravaggio Futebol Clube. Nova Veneza. Futebol. História. Brasil.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 188, Enero de 2014. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O fato da modalidade de futebol estar sempre ligada à minha vida, fez crescer o interesse em estudar mais sobre a história do Caravaggio Futebol Clube, time amador local pertencente ao distrito de Caravaggio, da cidade de Nova Veneza. Desde a infância tive contato com o time Caravaggio Futebol Clube e participava da escolinha de futebol. Foi nesta fase da vida que me apaixonei por este esporte o que acabou influenciando diretamente na escolha do curso de educação física para faculdade. Hoje em dia, penso que meu futuro está totalmente ligado ao futebol e, portanto, o tema para o trabalho de conclusão de curso não poderia ser diferente. Levando em consideração que o clube possui a escolinha de futebol, que exerce um papel social importante diante da comunidade, integrando, atualmente, crianças e adolescentes de 9 a 16 anos.

    Esta pesquisa, tem por meta principal, registrar a história do Caravaggio Futebol Clube, como o motivo de sua fundação, que está totalmente ligada com a história da comunidade, pois há poucos registros documentados, estando a maior parte nas lembranças dos fundadores, pessoas que de algum modo fizeram parte do clube e fotografias retiradas desde o início da agremiação. Por ter mais de 40 anos de fundação, é importante que a história não morra com os fundadores, aumentando a importância do presente estudo não só para o clube, mas também para a comunidade, que atualmente não conta com um trabalho desses para futuras pesquisas e até mesmo para conhecimento de moradores.

    Apesar de ser um time amador, é notório seu destaque na região sul do estado, pois o estádio da Montanha, a casa do C.F.C., possui um exemplo em infra-estrutura, vinda de investimentos de empresas locais e dos torcedores.

    Esta pesquisa trabalhou articulando o método de história oral em função da ausência de um material bibliográfico significativo com elementos de pesquisa bibliográfica procurando esclarecer conceitos e referências fundamentais para o trabalho.

    A pesquisa, a partir do método de história oral, buscou as lembranças dos entrevistados. Segundo Pierre Nora “a memória é a vida sempre transformada pelos grupos vivos, abertas à dialética da lembrança e do esquecimento e por isso vulnerável às utilizações e manipulações. A história é reconstrução sempre problemática e uma representação do passado” (NORA, 1993, p.9).

    Foram utilizados documentos resgatados junto à instituição. O material existente foi analisado, assim como também foram realizadas entrevistas e utilizadas algumas fotografias.

O futebol

    Evidentemente se faz necessário esclarecer a origem e desenvolvimento da modalidade de futebol. É a compreensão deste percurso histórico que vai apresentar a forma moderna do jogo e oferecer explicações da paixão que este desperta nas massas.

    Formas de jogos em que se chuta uma bola foram registradas em diferentes povos da Antiguidade (no Japão, na China, na Grécia, em Roma), em civilizações nativas das Américas, assim como durante a Idade Média em diferentes localidades da Europa. Com o Renascimento, no século XVI, surgiu em Florença, na Itália, uma competição Denominada cálcio, realizada anualmente no dia de São João, que muitos consideram a primeira versão do futebol moderno. Mas o futebol do qual falamos – essa atividade recreativa racionalmente organizada, desvinculada do calendário de festas cívicas ou religiosas, com manual de regras e árbitro para inibir a violência ou a trapaça, e com campeonatos regidos por uma associação esportiva que representa os interesses dos times – surgiu somente em meados do séculos XIX na Inglaterra. (PRONI, 2000, p. 19)

    A passagem de um jogo com características populares, em vários momentos de caráter religioso ocorre do advento da revolução industrial em solo inglês. Vários registros confirmam o momento exato da gênese do futebol em seu formato moderno.

    Em 1830, surgiram as primeiras regras escritas do futebol – The Football Rulles, do colégio Harrow – quando se definiu o numero de onze jogadores em cada time e que duas traves verticais constituíam a meta para a qual a bola deveria ser conduzida. Posteriormente, em 1846, foram publicadas as regras de Rugby – The Laws of Football Played at Rugby School. Como cada colégio possuía suas próprias regras, os adeptos encontravam dificuldades em organizar jogos quando chegavam nas universidades e se deparavam com outras normas. Assim, em 1848, reuniram-se em Cambridge representantes de diferentes escolas para estabelecer um código comum para o futebol. A partir de então, ampliou-se a aceitação do futebol no sistema educacional. Mas, foi apenas na década de 1860 que as atitudes dos pedagogos mais conservadores em relação ao futebol se reverteram definitivamente: de uma postura de desagravo ou tolerância para uma orientação explicita de encorajamento e valorização do novo esporte. E o futebol foi convertido em uma “escola” de virtude e de virilidade, capaz de ajudar a modelar o caráter e estimular a vontade de vencer, o que distingue os verdadeiros líderes. (PRONI, 2000, p. 23-24).

    Portanto, a instauração de novas regras, tornou menos brutal o jogo e acrescentou grande impulso e progresso à modalidade. (FRISSELI; MANTOVANI, 1999).

    A partir de então, sem dúvida o futebol tornou-se o esporte mais popular do mundo, tanto pelos jogadores quanto pelos incontáveis espectadores. (FRISSELI; MANTOVANI, 1999). Uma das explicações para esta repercussão, ou aceitação do futebol, possivelmente é a forma relativamente fácil de praticá-lo.

    A prática do futebol encerra muita facilidade. Pode ser jogado em campo improvisado, com qualquer número de jogadores, com traves simuladas por pedras, pedaços de madeira e uma bola que pule ou não. Assim, podemos presenciar um jogo de futebol em qualquer lugar por que passemos: ruas, praias, terrenos baldios, beiras de estradas, fazendas. Bastam uma bola, dois ou mais garotos, para se iniciar um jogo. Como atrativo, apresenta uma variedade muito grande de lances. Pode ainda ser praticado ao ar livre e com qualquer tempo. Apresenta ainda a possibilidade de ser jogado por jogadores principiantes ou profissionais, sem que se faça caso do desnível de idade de seus praticantes. Porém, quanto melhores forem tecnicamente, as condições de seus participantes, esse jogo torna-se mais atraente e agradável tanto para os espectadores como para os jogadores, aos quais proporciona popularidade e altos rendimentos financeiros. (MESQUITA apud BORSARI, 1975, p. 18).

    A história e evolução do futebol no Brasil podem ser divididas em duas etapas, segundo Giulianotti (2002): anteriormente à chegada de Charles Miller e após sua chegada. Padres jesuítas mantiveram o esporte nos colégios durante quinze anos antes da chegada de Miller.

    Charles Miller chegou ao Brasil em 1894. Aficionado pelo futebol, trouxe na sua bagagem duas bolas para praticá-lo aqui. Conseguindo influenciar alguns outros colegas, organizou torneios de futebol. Os habitantes de São Paulo, influenciados peal notoriedade conferida ao futebol a alunos egressos do colégio Mackenzie, passaram a praticá-lo com veemência. (CUNHA apud MARINHO, 2005, p.18)

    De acordo com Giulianotti (2002), o primeiro clube fundado no estado do Rio Grande do Sul, foi o Esporte Clube Rio Grande, no ano de 1900, com sede na cidade de Rio Grande. Já em São Paulo, no ano de 1901 instalou-se a liga paulista de futebol, com representantes do Athletic, Paulistano, Germânia, Internacional e Mackenzie, mesmo ano da primeira partida internacional, entre ingleses residentes de Niterói, do English Club e brasileiros, que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro e que foi vencida pelos brasileiros pelo placar de 3 a 1. Em 1902, no Rio de Janeiro fundou-se o Fluminense Futebol Clube.

    O primeiro campeonato de futebol organizado no Brasil, nomeado de taça Casemiro da Costa, foi vencido pelo São Paulo Athletic. Mais tarde, em 1911 houve uma briga entre comissão técnica e jogadores do Fluminense e, Alberto Borguerth, capitão da época, decidiu deixar a equipe seguido por nove dos onze titulares. Decididos a criar um novo clube, que primeiramente seria chamado de São Paulo, Borguerth lembrou-se que havia o Clube de Regatas do Flamengo que praticava futebol. E desde então, criou-se uma rivalidade entre as duas equipes na cidade do Rio de Janeiro que viria a se consolidar mais tarde.

    Ficou decidido que as cores do clube seriam vermelha (dos pássaros do flamengo), e preta que já existia no canto da bandeira, entre os remos. O Flamengo disputou sua primeira partida oficial de futebol no campeonato carioca em 1912, no dia 3 de maio, no antigo estádio América. E a estréia não poderia ser melhor, pois sua equipe aplicou uma impiedosa goleada de 16 a 2, o primeiro gol da equipe do Flamengo foi marcado por Gustavo de Carvalho. (CUNHA apud COELHO, 2005, p.19)

    Desde então, o futebol desenvolveu com uma rapidez no país espalhando-se por todos os estados, alcançando a situação dos dias atuais.

    É esta modalidade que encanta o mundo e o Brasil, e também acaba por encantar a comunidade de Nova Veneza e torna-se uma das maiores paixões dos moradores do município.

História de Nova Veneza e Caravaggio

    A partir do que permitia a Lei de Glicério1, que permitia às empresas privadas o direito de introduzir imigrantes estrangeiros no país. A empresa norte-americana Ângelo Fiorita & Cia., com sede no Rio de Janeiro, então capital da República, celebrou um contrato com o governo da União, em 22 de outubro de 1890, pelo qual se comprometia erguer 20 povoações agrícolas e introduzir 1 milhão de imigrantes europeus nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo e Bahia. Apenas dois meses depois de elaborado o contrato, em dezembro de 1890, já se encontrava em Santa Catarina o representante da Companhia Ângelo Fiorita, um italiano da Sicília, chamado Michele Napoli. Ele tinha a missão de escolher terrenos devolutos no Tubarão e Araranguá para instituir três núcleos coloniais com a denominação Nova Veneza, tendo em cada colônia pelo menos 500 famílias.

    Nos primeiros dias de janeiro de 1891, o jornal carioca O Paiz, publicou um telegrama do sr. Miguel Napoli, atestando que os trabalhos de assentamento da colônia já haviam iniciado. Dizia o telegrama: “Iniciei trabalhos fundação núcleos coloniais Nuova Venezia, Roma e Luzia, vale Araranguá, posição esplêndida. Terrenos fertilíssimos, ricas matérias minerais e medicinais. Breve mandarei planta destas colônias. Entusiasmo geral”.

    Ainda em janeiro de 1981, outro telegrama de Miguel Napoli à empresa Ângelo Fiorita & Cia., da qual era empregado, informou que os trabalhos prosseguiam em ritmo acelerado: “ Determinei a sede da colônia no lugar Serraria. Continuo as explorações; principiei a divisão dos lotes e a construção da estrada provisória. Breve estarei aí para comunicações importantes”.

    Nova Veneza começou a existir, então, em janeiro de 1891, com os trabalhos de medição dos lotes, abertura de estradas e construção de galpões e casas. Ainda não havia chegado nenhum imigrante, mas a colônia já estava sendo desenhada.

    Oficialmente comemora-se 28 de outubro de 1891 como sendo a data de chegada dos primeiros imigrantes, e , portanto, a data da fundação da Colônia Nova Veneza.

    Sabemos, todavia, que na verdade os primeiros imigrantes chegaram bem antes desta data. No dia 12 de fevereiro de 1891, Miguel Napoli viajava para o Rio de Janeiro e, de passagem por Desterro, comunicou ao jornal Republica, da capital do estado, que esperava localizar 400 famílias na Colônia Nova Veneza, até o mês de junho daquele ano, pois queria aproveitar os doze quilômetros de estradas já abertos. Na mesma ocasião, informou que já estavam em construção três barracões no lugar denominado Serraria, sede da colônia.

    No ano do centenário, Zulmar e Newton Bortolotto, descendentes de imigrantes, lançaram um livro com a história da cidade. Com mais de 95% da população descentes de italianos, Nova Veneza é a primeira colônia italiana oficialmente instalada no Brasil República (1891), e é um pedaço da Itália em Santa Catarina.

    Nossa Senhora do Caravaggio, ou simplesmente Caravaggio, como todos o chamam, começou a existir em 1891, juntamente com a Colônia de Nova Veneza e se localiza sobre o antigo território da secção Rio Bortoluzzi daquela colônia.

    O nome “Caravaggio” teve origem num costume religioso, trazido da Itália pelos imigrantes, que consistia em colocar do lado da estrada, sobre um tronco de árvore, um oratório, parecendo um capitel. Alguém, algum dia de 1891, ou 1892 fez isso na secção Rio Bortoluzzi da Colônia Nova Veneza. Este capitel, um minúsculo oratório que abrigava apenas uma imagem de Nossa Senhora do Caravaggio, era a demonstração da fé daqueles italianos e servia para lembrar ao colono que ele não estava só no meio da mata, convidava-o para uma oração e iria marcar definitivamente aquele lugar.

    De fato, em1896, no lugar do capitel, foi construída uma capela de madeira. Era, na época, cura de Nova Veneza, o padre Antônio Mano. A paróquia era Tubarão e a diocese, Curitiba. O povo do lugar reunia-se semanalmente ali, aos domingos, para rezar o terço. Mas, não podia celebrar a missa porque a igreja ainda não havia sido consagrada e isso dependia de autorização da diocese.

    Não tardou para que, ao redor daquele capitel, agora transformado em capela, começasse a se formar uma pequena aglomeração de casas. Nascia, assim o centro do atual distrito de Nossa Senhora do Caravággio.

    Os moradores eram “sumamente pobres”. É que, além de terem emigrado da Itália porque lá suas condições econômicas não eram satisfatórias, as terras que compraram, situadas sobre montanhas, eram bastante pedregosas e impróprias para aquelas culturas, às quais estavam habituados na Itália, como: trigo, arroz, batatas, milho e cevada.

    Durante muito tempo e até os dias atuais, o morro sobre o qual está situado o distrito de Nossa Senhora do Caravaggio e, desde a Vila de São Defende, no município de Criciúma, é também conhecido por “Morro da Miséria”.

Caravaggio Futebol Clube

    Para “contar” a história do Caravaggio Futebol Clube (C.F.C.) escolhemos como metodologia a transcrição literal da ATA de fundação do clube. Esta opção se deve a possibilidade oferecida ao autor desta pesquisa de acessar livremente todo o material do clube. Como esta é uma oportunidade rara para os pesquisadores em geral, compreendo que a leitura mais ampla da ata deva ser socializada com os leitores deste artigo.

    “No dia 10 de maio de 1970, um grupo de seis amigos reuniu-se após a aula de canto no pátio da igreja para conversar, e um dos assuntos foi a criação de uma agremiação futebolística, pois estes jovens gostariam de jogar futebol mais organizados, com chuteiras e uniformes, situação que não era possível na época. Então, foi realizada uma reunião no salão de festas do Santuário de Caravaggio e a partir dela ficou decidido que iriam criar o time. Desta primeira reunião, foi escolhida a diretoria provisória por aclamação dentre os presentes, ficando assim composta: presidente Valdir José Scotti, vice presidente Adamor Spillere, secretário Lúcio Milanez, tesoureiro José Antônio Ronchi, departamento de esportes Vilson Spillere e Anicésio Spillere. Após a diretoria composta, foi então tratada da denominação da entidade, ficando escolhida como “Caravaggio Futebol Clube”, entidade esportiva sem fins lucrativos, tendo como objetivo principal desenvolver a educação física em todas as suas modalidades. O estatuto seria aprovado em uma assembleia geral, quando foi eleita a segunda diretoria. Também foi tratado das fontes de recursos para manter a entidade, que depois de muitas opiniões ficou decidido de formar o associado, como também arrecadar dos desportistas doações. O local da praça de esportes foi oferecido pelo Sr. Valmor Milanez, de sua propriedade até então. Serviu para o Caravaggio Futebol Clube praticar os esportes até adquirir um novo local mais próximo ao centro de Caravaggio. As cores que foram escolhidas são azul e branco, jamais podendo serem mudadas. A partir de então, o presidente fez o pedido para que fossem considerados sócios fundadores todos os que participaram da reunião de fundação no dia 10 de maio de 1970, e todos concordaram por serem os primeiros colaboradores. A começar pelo então presidente Valdir Scotti, Adamor Spillere, Lúcio Milanez, José Antônio Ronchi, Vilson Spillere, Anicésio Spillere, Loride Spillere, Enerino Milanez, Affonso Spillere, Nereu Sachet, Írio Prêmolli, Jerônimo Spillere e Valmor Milanez. Com todos presentes ainda, o Sr. Jerônimo Spillere congratulou todos pela iniciativa incentivadora do desporto Caravagiense. Outro que fez o uso da palavra foi o Sr. Nereu Sachet, que sugeriu várias idéias, novos planos a serem elaborados futuramente e também agradeceu a todos por ter sido incluído como sócio fundador. Sem mais nenhum manifesto, o presidente agradeceu a todos pela presença, pela confiança depositada a ele para ocupar a presidência e prometeu fazer de tudo com a colaboração de todos, na medida do possível para bem administrar a nova agremiação. Não havendo mais nada a tratar, o presidente deu por encerrada a reunião, porém fez o pedido que todos aguardassem na sala para que a ATA nº1 fosse lida em voz alta pelo secretário Lúcio Milanez, que após lida todos concordaram, sendo assinada por toda diretoria no final do documento. Foram atrás de tudo que era necessário para a criação oficial, o C.F.C., sigla representante da equipe, tinha como objetivo principal levar a educação física para todos os moradores de Caravaggio.”

    Com esta transcrição é possível perceber o motivo, ou motivos da criação desta agremiação chamada Caravaggio Futebol Clube. Esta é a ATA número 1, de 10 de maio de 1970, escrita pelo então secretário Lúcio Milanez (in memoriam), que rege as primeiras normas da instituição a serem seguidas.

As entrevistas

    Como método desta pesquisa após a revisão da literatura, transcrevemos as entrevistas e fizemos a análise dos dados. Foram entrevistados ex-presidentes, ex-jogadores, ex-técnicos, jogadores atuais, o técnico atual e alguns representantes de empresas patrocinadoras do clube.

    A primeira entrevista foi com o professor Élzio José Milanez, presidente do Caravaggio nos anos 90 e criador de um projeto chamado “Caravaggio Esporte Total” que abriu muitas portas para o esporte em geral no distrito de Caravaggio. Élzio, presidente do C.F.C. entre 1995 e 1996, conta que assumiu o cargo com uma difícil missão: manter aberto um clube endividado. Para tanto, percebeu que necessitava entrar no coração das pessoas da comunidade, que a marca fosse valorizada perante os torcedores para que a instituição voltasse a ter credibilidade, podendo assim passar pela fase difícil.

    Um fato curioso, que nos dias atuais seria impensável, foi a questão financeira de pagamento aos atletas. A época, pagava-se um valor pela vitória, outro pelo empate, e nada pela derrota. A emoção do ex- presidente fica clara ao ser perguntado sobre o jogo mais marcante. Ele narra a final do primeiro título da história do Caravaggio Futebol Clube. Foi o campeonato do regional da LARM, de 1995.

    Para as gerações futuras, deixa um desafio a ser realizado, sonho antigo dele e da comunidade: a construção de um clube social e recreativo, ligado ao C.F.C., que possua piscina, pista de skate, quadras para outras modalidades esportivas, espaço para eventos sociais, etc. e a continuação do projeto existente das escolinhas de futebol.

    Outro entrevistado foi Anicésio Spillere, ex-jogador e ex-presidente, também sócio fundador, presente na primeira conversa sobre criar uma agremiação falou representando a empresa Metalúrgica Spillere, patrocinadora do clube desde os anos 90. Relata que a empresa patrocina exclusivamente pela parte social, pois por se tratar de um lugar pequeno, as empresas que ali estão instaladas têm o dever de ajudar a instituição para manter a estrutura que existe hoje, como a escolinha de futebol. Ainda deixa registrado que não existe nenhum tipo de retorno financeiro com o patrocínio, e sim apenas o retorno moral.

    Anicésio entende que o C.F.C. é muito importante para a comunidade porque todo mundo se envolve, a comunidade inteira sabe quando tem jogo, onde vai ser o jogo, e isso se torna um programa de lazer para os torcedores. Vale ressaltar o time sub-20 que também aparece como uma oportunidade para a juventude que se interessa pelo esporte.

    Falando como sócio fundador, ele conta que a idéia inicial seria de criar um time para jogar com camisas, calções, meias e de chuteiras, porque o futebol em si já existia, porém de uma maneira desorganizada, sem uniformes, com o pé no chão. Então, em uma segunda-feira cinco jovens ficaram conversando após o ensaio de canto no pátio da igreja e eles decidiram criar esse time para disputar jogos amistosos inicialmente, porque não havia campeonatos para serem disputados. O C.F.C. estreou depois da Copa do Mundo de 1970, em um campo no bairro Baixada, um terreno doado e os próprios jogadores tiveram que arrumar o campo, como aterrar com pó de serra e retirar uma lomba que existia no meio do gramado.

    A equipe era formada por jovens da localidade de Caravaggio. A primeira partida foi de grande motivação para todos, afinal, era a estréia do time, logo após a Copa do Mundo, contra o Rio Cedro Médio. O camisário havia sido comprado com dinheiro emprestado e não poderia ser melhor o resultado da partida, 5 a 1 para a equipe das cores azul e branco. Duas versões compõem a história das cores, uma por conta da primeira partida onde o camisário foi comprado azul e branco e choveu, desbotando e deixando marcas azuis nas costas dos jogadores e a outra por conta da cor do manto da Nossa Senhora de Caravaggio que é azul.

    Odinar de Souza, mais conhecido por Dinarte, 45 anos, ex-jogador do clube e atualmente professor que cuida dos interesses da escolinha de futebol do Caravaggio Futebol Clube falou um pouco sobre sua caminhada e sua vida ao lado da agremiação:

    Dinarte foi jogador do C.F.C. entre os anos de 1995 a 2000. Na época foi convidado por Élzio Milanez e Valter Ghislandi (então técnico do time). Eles foram até a casa de seus pais em Morro da Fumaça convidá-lo. Odinar jogava profissionalmente, jogou em times de primeira e de segunda divisão do estado do Paraná, Santa Catarina e Mato Grosso. mas estava parado na época. Fizeram uma proposta e ele decidiu aceitar, isso em 1995, dentro do Caravaggio Esporte Total, que foi um projeto criado pelo professor Élzio Milanez. A partir do ano que Odinar entrou para o time, começaram as vitórias e os títulos. Depois disso, ele não conseguiu mais sair do Caravaggio, aquilo foi enraizando, e está hoje completando 18 anos no Caravaggio. Atualmente, é professor da escolinha de futebol do clube e também faz parte da comissão técnica. Ele conta que muitos jogos ficaram marcados durante esse tempo todo de jogador, mas aquele que jamais esqueceu foi o primeiro jogo, sua estréia, no Caravaggio. Estavam perdendo de 3 a 0 para o Caiçara e faltava apenas 7 minutos para o término da partida, pois conseguiram empatar. Depois daquele jogo, o C.F.C. conquistou tudo que tinha que conquistar, como o tri da LARM e a Taça Cecrisa.

    O C.F.C. significa muito para ele hoje, pois ele vive 24 horas aquilo, respira o C.F.C., todas as atividades relacionadas ele está envolvido. É seu time do coração, sabe tudo sobre, é o local do seu trabalho, é de onde sua família sobrevive. Ainda fala que fez muitas amizades, aprendeu a lidar com pessoas diferentes, como funciona o futebol amador. Hoje ele cuida da escolinha, do ginásio de esportes, da academia e é isso, ele respira o C.F.C. Ressalta que é uma entidade que proporcionou muitas coisas boas, o ajudou a estudar, a se formar, então ele descreve que deve muito a ela. Finalizando, ele destaca os serviços prestados à comunidade, que são principalmente sociais, com as escolinhas de futebol e futsal, ajudando as crianças a ocupar seu tempo ocioso, a terem disciplina, terem respeito com o professor, com o colega, com a entidade. Ainda existe a academia, que com o preço acessível está disponível para a sociedade, homens, mulheres, jovens, podem estar sendo acompanhados por um profissional capacitado a orientá-los. E tudo isso, essa estrutura que o C.F.C. tem a oferecer hoje não pode deixar de citar todas as diretorias que passaram, pois todas foram atuantes, cumpriram com seus deveres. Ele também falou da parceria da comunidade, as empresas que patrocinam e ajudam de certa maneira essa causa, que é muito importante para todos.

    Benício Spillere, 47 anos, outro importante nome na história do Caravaggio Futebol Clube, como técnico (várias vezes) e com títulos inéditos, como em 1995 em que foi auxiliar e conquistou o primeiro título do regional da LARM, e como técnico conquistou o primeiro campeonato municipal de Nova Veneza, em 2003. E desde aquele ano até 2008 foram campeões, até que foi pedido para que o C.F.C. não disputasse mais o campeonato municipal, porque todos os anos era o grande favorito ao título. No mesmo ano de 2003, ele treinou a equipe no regional da LARM e na Copa Sul, levando o título do segundo, o primeiro na competição.

    Para ele, a maior comemoração realizada dentre os títulos, foi o primeiro ano em que foi campeão municipal. Os torcedores fecharam a rodovia estadual, em Caravaggio, a polícia não teve o que fazer e só auxiliou, para não haver maiores transtornos. Pelo fato de exercer a função de capitão da equipe enquanto jogador, de futsal, ele acredita que isso o ajudou para sua caminhada até se tornar técnico de futebol. Essa liderança dentro de quadra o fez ter esse comando, para que num futuro próximo comandasse uma equipe inteira, como treinador.

    A instituição está inserida no cotidiano da comunidade do Caravaggio. Para os moradores, não se imagina hoje em dia não disputar um regional da LARM, com uma equipe competitiva. Ele coloca o C.F.C. lado a lado com o Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, duas coisas essenciais para a comunidade nos dias de hoje. Com um papel fundamental para a sociedade, com o time adulto, oferecendo o lazer para quem gosta de futebol, nos finais de semana poder assistir a uma partida com aquela estrutura, arquibancada coberta, todo aquele conforto. Ainda existe o papel das escolinhas, não deixando as crianças na rua, no seu tempo ocioso. Ao invés de estarem nas ruas fazendo coisas que não deviam, estão com o professor Odinar, que é um exemplo de profissional e com certeza faz um trabalho muito importante, que certamente no futuro virão os resultados. Hoje já podemos ver os resultados, como ele mesmo cita, o próprio pesquisador desta, que fez parte da escolinha desde os 6 anos de idade e hoje faz faculdade, é muito educado, então ele acredita que a escolinha contribuiu muito e ainda pode contribuir com essas crianças.

    Elias Figueroa2, outro jogador importante do C.F.C., na década de 2000 conta que o jogo que ficou marcado em sua vida foi o primeiro jogo da final da LARM justamente de 2000, primeiro ano de C.F.C. Naquela partida, a equipe azul e branco venceu a Carbonífera Criciúma pelo placar de 4 a 3, com direito a 3 gols do artilheiro Figueroa. Ele prefere não destacar somente um título, e sim os vários conquistados com a camisa azul e branca, porém relembra que o de 2000 foi o mais comemorado, o mais difícil de ganhar pela forma que o conseguiram. No período em que disputou a LARM, Figueroa é o maior artilheiro com 101 gols e muito desses marcados com a camisa do C.F.C.

    Para ele, o C.F.C. representou a abertura de muitas portas, pois como acabava de deixar o futebol profissional, desde 97 jogava o amador pela redondeza, e foi no ano de 2000 que teve a oportunidade de ser convidado para jogar no C.F.C. pela então diretoria. Foi através do clube, de seus diretores, que conseguiu seu primeiro emprego, conseguiu formar uma família e logo se mudou para o distrito. Figueroa é muito grato ao clube por ter lhe aberto essas portas que soube aproveitar e fazer com que sua vida melhorasse, juntamente com sua família.

    O C.F.C. é um divisor de águas no distrito, segundo Figueroa, pois existe a Nossa Senhora de Caravaggio e o futebol. Então, a comunidade necessita desses dois fatores. A cada ano que passa a torcida vem aumentando, por conta do trabalho feito por todas as diretorias que passaram pelo clube, pelo que já conquistou, pela estrutura formada, pela escolinha que consegue tirar muita gente do mal caminho, evitando que essas crianças fiquem sem fazer nada no seu tempo ocioso. Ele ainda acredita que assim como o C.F.C. abriu portas para si, está abrindo para outras pessoas e futuramente vai abrir muito mais portas, porque a instituição só tem a crescer. E para isso, vem a necessidade de vencer, para engrandecer cada vez mais a marca do Caravaggio. Isso todas as diretorias terão de fazer, lutar para vencer, realizar um trabalho bem feito. E toda esse resultado é fruto do trabalho de todas as diretorias do C.F.C.

    Valdir Scotti foi o primeiro presidente do C.F.C., entre 1970 e 1985, e conta que o objetivo de fundar um clube de futebol foi o lazer da juventude da comunidade da época, que não contava com muitas opções de diversão. Tanto que, nos primeiros anos, não havia calendário fixo de campeonatos, restando principalmente a realização de amistosos e a participação de torneios pela região, sem conquista de grandes títulos.

    Com relação à estrutura, o primeiro presidente do clube narra que, no momento da fundação, não existia nada. Os primeiros campos foram conseguidos através de empréstimo de terrenos. Na época não havia a parceria com as empresas da localidade como existe atualmente, seja como patrocínios ou para investimentos em infraestrutura.

    Valdir conta que o jogo mais marcante, como não poderia deixar de ser, foi o primeiro. Na estréia, em casa, do time, do camisário, das chuteiras, do campo e com goleada.

    Para ele, hoje em dia o clube significa muito mais que a reunião de pessoas da comunidade que gostam de futebol, e transcendeu para uma marca que divulga a localidade e é responsável por projetos sociais importantes.

    Wildinei Soares Cardoso, o Gelinho, como é mais conhecido pelo torcedor, 33 anos, acumula 11 anos de Caravaggio Futebol Clube na sua vida e ainda hoje faz parte da equipe que disputa o campeonato regional da LARM e que irá disputar no próximo mês de novembro o campeonato Estadual de Amadores3, na grande Florianópolis.

    Gelinho é um dos principais nomes sem dúvida quando se fala em Caravaggio Futebol Clube. Entre todos os campeonatos que disputou, Wildinei conta que o maior jogo em que esteve presente foi uma final da Copa Sul dos Campeões em 2006, em que o Caravaggio estava vencendo por 3 a 2 e no último minuto de jogo o adversário empatou levando a decisão para a prorrogação, onde um atleta da equipe do Caravaggio foi expulso. Mesmo com um jogador a menos, Gelinho iniciou um contra-ataque e sofreu penalidade máxima nos minutos finais da prorrogação. O mesmo foi para a cobrança e converteu, abrindo o placar no tempo extra e dando números finais para a partida, vencida pelo Caravaggio Futebol Clube, com gol de pênalti do Gelinho na prorrogação.

    Ainda que campeão em 2006, Gelinho destaca o título do campeonato Regional da LARM de 2011 como especial, por até então não ter este título na sua carreira. Perguntado sobre o que a instituição significa para si, não teve dúvidas em responder que o Caravaggio foi quem lhe acolheu após o abandono do futebol profissional, foi quem fez com que formasse uma família, no próprio local, devendo muito ao clube.

    Wildinei desataca a importância do Caravaggio Futebol Clube para a comunidade por conta da escolinha de futebol, que não deixa os meninos na rua sem ter o que fazer e lhes ensina muito ali dentro. E tudo isso não seria possível se não estivessem dentro desse projeto pessoas sérias e honestas.

    Aderbal Jácomo Cúnico foi jogador do C.F.C. durante 4 anos e alguns meses, entre 1970 e 1975, pois no início de 75 sofreu um acidente que o impossibilitou de continuar nos gramados e hoje é apenas torcedor.

    Para ele, dois jogos nunca saíram da memória. Um deles foi em Tubarão, onde se tinha 10 minutos de partida apenas, 5 minutos em cada etapa. O time azul e branco saiu perdendo aquele jogo, porém conseguiu reverter o placar e vencer por 2 a 1, com um gol de Aderbal de trás da linha do meio de campo. O gol que Pelé não fez, Aderbal fez. O outro jogo inesquecível foi em Içara, um amistoso. Neste jogo, o C.F.C. ganhou de 11 a 0, sendo 5 gols anotados por ele, Aderbal, e por isso nunca mais esqueceu.

    Por duas ocasiões o C.F.C. saiu vitorioso de campo, mas não foi o campeão. Contra o Esporte Clube BigBom, em 1972, foram duas vitórias e o adversário recorreu as duas vezes, forçando uma terceira partida, porém o C.F.C. desistiu e deixou com que o título ficasse com o BigBom mesmo. Na outra decisão, dessa vez em 1973 contra o Ideal, de Forquilhinha, Aderbal conta que houve uma má fé de arbitragem, e então não conseguindo ganhar o primeiro título do clube. Assim, durante o período em que foi jogador, Aderbal e seus companheiros não conseguiram levantar nenhuma taça, mas não é motivo para desmerecer o que aquelas pessoas fizeram pelo Caravaggio Futebol Clube.

    Foram muitas lembranças boas daquele tempo, uma seqüência do que aconteceu quando era jovem. Lamenta o fato da juventude local não estar participando do time, pois o incentivo hoje são para jogadores “importados”, como descreve, que são pessoas que são pagas para jogar. Ele acredita que poderia pensar mais nessa juventude local e utilizar mais em termos de educação para os jovens, através do esporte, que chama muita a atenção dos jovens de hoje em dia.

    Por fim, destaca que já surgiram muitos jogadores bons naturais do município inclusive e que não tiveram oportunidade. Foi um trabalho iniciado pela juventude da época e que está continuando, ganhando títulos e engrandecendo cada vez mais o C.F.C.

    Maurílio Pereira, atual técnico do Caravaggio Futebol Clube, e que recentemente conquistou o Tetra campeonato da Copa Sul dos Campeões, iniciou sua carreira como técnico em 1984 e no Caravaggio em 2013.

    Nos últimos 15 anos ele acompanhou a equipe, quando saia de casa para acompanhar o futebol amador, o destino era ou em Caravaggio ou onde o C.F.C. jogava. Antes de tornar-se técnico, ele já havia sido sondado 4 vezes pelo C.F.C. Neste ano de 2013, estava tudo acertado com o Itaúna Esporte Clube, porém deixou claro para a diretoria que se surgisse a oportunidade de treinar o C.F.C., somente o C.F.C., ele sairia. E a diretoria do Itaúna concordou. E a oportunidade surgiu, no início do ano o diretor de futebol do C.F.C., Elias Figueroa ligou convidando-o para o cargo de técnico. Antes de aceitar, Gralha, como é mais conhecido, ligou para o Itaúna e colocou a situação. Eles falaram que ficava a sua escolha, se quisesse aceitar, tudo bem, mas se não obtivesse sucesso, as portas do Itaúna estariam sempre abertas para seu retorno.

    Contratado, em uma segunda feira a noite, dia de reunião da diretoria, Gralha apareceu na sede e foi muito bem recebido. A diretoria lhe apresentou o planejamento e ele entendeu que era o momento certo de ajudar o C.F.C. Ele afirma que quando assume um compromisso, ele vive 24 horas por dia o time. E desde aquele dia em que aceitou a proposta, ele iniciou seu método de trabalho. Ele se preocupa com os jogadores, liga para eles. E esse empenho gerou resultado rápido. Logo com 65 dias como técnico, ele já colocou seu nome na história do clube, levando a equipe ao tetra campeonato da Copa Sul dos Campeões, garantindo vaga para o Estadual de Amadores, disputado no mês de novembro de 2013.

    Ele destaca a estrutura do C.F.C. Afirma que no sul de Santa Catarina ninguém tem essa estrutura. Ainda complementa que conhece o futebol amador do interior de São Paulo e se tiver 2 campos de futebol igual ao do C.F.C., é muito, futebol amador, vale ressaltar. Também conta que encontrou um povo unido, que gosta e é apaixonado por essa equipe azul e branca.

    Samuel Lavezzo, jovem jogador, é fruto da escolinha de futebol do C.F.C., participando desde 98 conta que no tempo que passou pelo sub-20 ficou marcado na sua vida, por uma final do campeonato Regional da LARM em que a equipe principal do Caravaggio já estava desclassificada e restou apenas o sub-20, onde o único gol do jogo foi marcado pelo Samuel. Destaca a importância da escolinha para as crianças, não as deixando sem fazer nada nas ruas. Também fala sobre a sede, onde a pista de atletismo utilizada para caminhadas, o próprio campo utilizado para o lazer e também o campo de futebol suíço e futebol de salão, tudo isso sendo uma das coisas mais importantes que existem hoje no Caravaggio.

Análise das entrevistas: os elementos constitutivos da história

As cores: azul e branco

    A partir da entrevista com Anicésio Spillere parecem surgir ao menos duas versões sobre a questão das cores branco e azul adotadas pelos Caravaggio Futebol Clube. Primeiro é importante apontar que a equipe de futebol do Caravaggio se constituiu efetivamente antes da ata de fundação, ou seja, a institucionalização do Caravaggio precedia a organização e atuação em várias partidas amadoras da região. É de uma destas partidas – em verdade a primeira partida - que emana uma das versões. Nesta partida o time do Caravaggio Futebol Clube jogou com um uniforme azul e branco, porém durante a partida choveu e o azul desbotou, deixando marcas azuis nas costas dos jogadores. Nesta história fica evidente que existia desde muito cedo uma disposição de utilizar as cores azul e branco. A outra versão vem de um elemento constitutivo do distrito, a religiosidade. Há quem diga que as cores foram definidas por conta do manto da Nossa Senhora de Caravaggio, o qual prevalece a cor azul. Então, não há a história verdadeira e a falsa, e sim duas versões, dois motivos para que as cores acabassem sendo escolhidas definitivamente, como consta na ATA de número 1, na qual diz que as cores são o azul e o branco, jamais podendo serem mudadas.

Os jogadores

    Durante 43 anos de fundação, muitos jogadores passaram pela equipe e ficaram marcados pelo que fizeram enquanto jogador ou pelo que ainda fazem. Um nome que marcou época no início foi Aderbal, que em 4 anos defendeu as cores do C.F.C. Um outro jogador, zagueiro dos anos 90, foi Coruja, que hoje trabalha fora dos gramados, na diretoria. Odinar, hoje professor da escolinha de futebol também pode ser lembrado, assim como Elias Figueroa, artilheiro dos anos 2000 e Wildinei Soares Cardoso, o Gelinho, ex-jogador profissional4 que ainda faz parte do time, completando 11 anos de C.F.C. Ele, com certeza, é uma das figuras mais importantes, com uma experiência muito grande que agrega ao time perante as partidas importantes, como por exemplo, em decisões de campeonatos.

Os jogos marcantes

    É claro que um clube como o Caravaggio Futebol Clube com mais de quarenta anos de história, vários títulos e incontáveis jogos, são inúmeras as partidas relevantes e demarcatórios desta trajetória. Neste espaço estamos apresentando alguns destes jogos que surgiram das entrevistas com os personagens ligados ao clube.

    Para os mais idosos o jogo que ficou na memória com certeza foi o primeiro, a estréia do time, no meio do ano de 1970, logo após a Copa do Mundo, em Caravaggio. O jogo foi contra o Rio Cedro Médio e não poderia ser melhor, goleada logo na estréia, 5 a 1 para os mandantes.

    Como na final da Copa do Mundo de 70 enfrentaram-se Brasil e Itália, obviamente que naquela época muitos moradores de Nova Veneza, descendentes italianos, torceram para a equipe Azurra naquela partida, em que a seleção brasileira venceu por 4 a 1, sagrando-se tricampeã mundial. É neste momento em que surge um novo argumento citado pelo próprio pesquisador, e que talvez venha a interferir na escolha das cores do clube na época. Por serem a maioria descendentes de italianos, por que não fazer uma homenagem à seleção italiana definindo assim as cores como azul e branco para o Caravaggio Futebol Clube?

    Um fato curioso que aconteceu em um desses jogos foi em um jogo contra o Rio Cedro Médio novamente, desta vez longe de seus domínios, no momento em que o jogador do Caravaggio Futebol Clube fez o gol, a partida foi interrompida para que fosse entregue uma faixa a ele, em decorrência do seu gol marcado. Isso aconteceu no andamento da partida, em campo, paralisaram a partida e fizeram a entrega da faixa. Para outros, como o caso de Benício Spillere, o principal jogo foi o primeiro título do Campeonato Municipal de Nova Veneza, conquistado em 2003, vencendo o Metropolitano, que é o grande rival do C.F.C. Este jogo foi vencido pelo Caravaggio com mando de campo da equipe arquirrival.

Caravaggio Esporte Total

    Foi um projeto criado em 1995 pelo então presidente Élzio Milanez, que teve como principal objetivo disponibilizar os esportes que a comunidade mais se identificava para sua prática. Outra missão, no primeiro ano na diretoria, foi de resgatar a credibilidade da instituição, pois estava à beira da falência. E para isso, o presidente sabia que era preciso entrar no coração das pessoas da comunidade e fazer com que estas deixassem de lado a política, os interesses próprios e se unissem num só objetivo, a instituição Caravaggio Futebol Clube. Foi aí que ele realizou um projetado chamado Caravaggio Esporte Total, onde foram criadas comissões para a realização de várias modalidades esportivas, à escolha da comunidade. O sucesso do projeto pode ser verificado até hoje, quando se percebe que algumas modalidades abertas na época ainda persistem na prática esportiva do distrito, como a bocha, o vôlei e o futsal. Com a grande adesão da população, o principal objetivo foi alcançado: trazer a comunidade pra dentro do clube. A partir disso, houve a captação de recursos através das empresas do Caravaggio, apoio que se estende até hoje, responsável pelo sucesso da instituição. Nessa época também nasceu uma das principais bandeiras do Caravaggio Futebol Clube, a escolinha de futebol para crianças da comunidade, que inicialmente era tocada por Marciano Baldessar, e hoje pelo Odinar de Souza, o Dinarte.

O clube para a comunidade

    De acordo com os entrevistados, a instituição tem uma importância muito grande dentro da comunidade, pelo fato da estrutura ser totalmente disponibilizada ao público, como a pista de atletismo que fica à disposição todos os dias para quem costuma ou pretende realizar uma caminhada, por exemplo. Existe também o campo, que muitas crianças vão até ele para a prática do futebol, principalmente. Há a escolinha de futebol, onde esta faz um trabalho com as crianças, de não deixar estas fazendo coisas erradas na rua, no seu tempo ocioso, em que não estão na escola, onde também aprendem disciplina, como respeitar o professor, respeitar o próprio colega, saber ganhar, aceitar as derrotas, para que futuramente esta criança cresça e se torne um cidadão com caráter.

Caravaggio de braços abertos

    Vários jogadores que foram contratados para jogarem no Caravaggio Futebol Clube acabaram firmando suas vidas no distrito. Através de empregos conseguidos para os mesmos e, como conseqüência disso, a formação de uma família residente no próprio distrito. Um exemplo prático é o atual professor da escolinha de futebol Odinar de Souza, que em 95 chegou para jogar e com a grande identificação com o clube e o local acabou assumindo a missão de “tocar” a escolinha e até hoje mantem esse posto, já com uma família formada e vivendo em Caravaggio.

O futuro da instituição

    Para o futuro, a missão que fica para os jovens é primeiramente a continuação do clube, da escolinha de futebol, da marca Caravaggio Futebol Clube, do azul e branco. Para posteriormente a ampliação da mesma, como em infraestrutura, para melhor atender as pessoas da comunidade e sempre poder ter essa disponibilidade que hoje em dia tem. Élzio destaca um sonho antigo dele e da comunidade de construir um clube social recreativo, próximo ao complexo de hoje, contendo piscinas, pista de skate, quadras para prática de outros esportes, espaços para eventos sociais.

Considerações finais

    Como considerações finais, retomamos alguns pontos centrais do trabalho e seus objetivos anunciados. Esta pesquisa teve por meta principal registrar a história do Caravaggio Futebol Clube. Um dos objetivos foi o motivo de sua fundação, como se deu o caminho desde o início até hoje, a sua estrutura atualmente e as perspectivas futuras da instituição.

    Chamou a atenção a maneira como surgiu a idéia para sua criação. Havia alguns jogos de futebol, porém com todos de pés no chão, sem organização nenhuma. Então, em uma noite após o ensaio de canto, alguns jovens resolveram criar um time de futebol, justamente para jogarem futebol organizados, com uniforme, chuteira, um técnico para comandar a equipe, a diretoria fora dos gramados cuidando de assuntos burocráticos. Na semana seguinte, houve uma reunião para então a organização e fundação do clube, mais precisamente em 10 de maio de 1970. Nesta reunião, estiveram presente as pessoas interessadas, chamadas de sócios fundadores, e então se criou a primeira diretoria para administrar os primeiros passos da instituição. Era necessário um campo de futebol, para sua prática, então foi conseguido um terreno doado por Valmor Milanez. Hoje, 43 anos mais tarde, existe um campo com uma arquibancada, um ginásio de esportes, campo de futebol suíço, academia para a comunidade e jogadores, além da sede onde são realizadas reuniões semanalmente e guardados troféus de suas conquistas. Nessa história, traçada entre a decisão da constituição da equipe e o patrimônio constituído, várias questões foram decisivas, como por exemplo o “Caravaggio Esporte Total”, projeto criado em 95 pelo então presidente Élzio Milanez, que deixou que a comunidade escolhesse os esportes que queriam praticar. Para cada esporte foi criado uma comissão organizadora. A partir do projeto, a comunidade foi selecionando os esportes que ficariam para serem praticados. Até hoje, pode-se perceber que o futebol, com a escolinha do C.F.C. e o futsal foram alguns dos esportes que ficaram. Esportes como o handebol e o atletismo não tiveram muita adesão na época, sendo pouco praticado nos dias atuais.

    A história do Caravaggio Futebol Clube pode ser contada por muitos anos, entre eles os títulos, como por exemplo o tricampeonato do regional da LARM em 95, 96 e 97, que foram os primeiros títulos de maior expressão conquistados até então5. Já em 2003, o primeiro título de campeão do municipal de Nova Veneza não poderia ter sido melhor, justamente contra o Metropolitano, rival incontestável do C.F.C. Este jogo foi disputado sob mando de campo dos adversários e foi muito comemorado pelos torcedores do time azul e branco.

    Contudo, não podemos falar de títulos e conquistas sem falar de jogadores e treinadores. Aderbal foi um grande jogador que marcou época nos primeiros anos de vida do clube, porém não teve seu nome cravado na história por não terem ganhado títulos naquele momento. Nos anos 90, quem marcou foi Coruja e Odinar, hoje ambos trabalhando na diretoria e o segundo também com a escolinha de futebol. Outro que se destacou dentro dos gramados na década de 2000, atualmente faz parte da diretoria, foi Elias Figueroa que desde que chegou ao time nunca mais se desligou do mesmo, criando sua família e residindo até hoje em Caravaggio. Completando 11 anos de C.F.C., Wildinei, o Gelinho com certeza é uma das estrelas desse time. Ele é uma marca registrada da equipe desde 2003, já havia jogado na equipe no ano de 1999. Presente em muitos títulos da equipe, ele destacou o título do campeonato regional da LARM em 2011, o qual não ostentava ainda.

    Não obstante, o Caravaggio Futebol Clube não consegue ser resumido a suas conquistas e suas equipes de futebol, ele é muito mais do que isso, como por exemplo suas cores e sua relação com a comunidade. Existem duas versões em relação às cores. A primeira conta a história da primeira partida do clube que o uniforme comprado havia sido azul e branco, chovendo na partida, desbotando o azul e deixando marcas nas costas dos jogadores, então se usa esta como um dos motivos da escolha. A outra versão tem relação com a comunidade, a religiosidade do povo que ali vive. Fala-se que foi escolhido o azul e branco como cores predominantes pelo fato da Nossa Senhora de Caravaggio ter estas cores em seu manto. A partir do momento que alguns jogadores começaram a serem contratados para a equipe, a diretoria daquele determinado ano empenhou-se para deixá-los mais à vontade, arranjando empregos para eles, fazendo assim com que estes ficassem o mais próximo possível do C.F.C. Então, como tinham que trabalhar, jogar no C.F.C. e estar sempre próximo, muitos desses resolveram ou criar ou levar suas famílias para morarem na comunidade. Até hoje se percebe essa trajetória de vida por parte de muitos jogadores.

    Não poderia concluir este trabalho sem fazer menção às perspectivas futuras desse clube. Para as gerações futuras das diretorias é indispensável ressaltar a importância da continuidade do trabalho que vem sendo feito pelas diretorias anteriores, como o objetivo de manter e aumentar na medida do possível a estrutura física, lembrando que sempre fica disponível para a comunidade desfrutar dessa estrutura. Élzio Milanez, em sua entrevista destaca a possível construção de um sonho dele e da comunidade de criar um clube social para casados e solteiros. Ele acredita que só pode ser concretizado o sonho através do Caravaggio Futebol Clube, pois hoje em dia as pessoas residentes na comunidade são apaixonadas pelas cores do time e então ficaria menos difícil a tarefa da criação do clube social.

Notas

  1. Para maiores informações sobre a Lei de Glicério recomenda-se a leitura de: BORTOLOTTO, Zulmar Hélio. História de Nova Veneza. Florianópolis: 2, ed. Insular, 2012, pág. 37.

  2. Elias Figueroa jogou profissionalmente no Avaí Futebol Clube no ano de 1996.

  3. Dia 17/11/2013 o Caravaggio Futebol Clube sagrou-se campeão do campeonato Estadual de Amadores 2013.

  4. Jogou profissionalmente pela equipe 4 de Julho Esporte Clube, do Piauí, durante o ano de 2001.

  5. Valter Ghislandi foi técnico do C.F.C. no tricampeonato da LARM, porém não foi entrevistado para esta pesquisa.

Referências

  • BORSARI, José Roberto. 1941 – Manual de educação física. São Paulo, EPU; Brasília, INL, 1975 4 v. ilust.

  • BORTOLOTTO, Zulmar Hélio. História de Nova Veneza / Zulmar Hélio Bortolotto. – Florianópolis: 2, ed. Insular, 2012.

  • CERVO, Amado Luiz; BERVIAN, Pedro Alcino; SILVA, Roberto da. Metodologia Científica. 6ª Edição São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007.

  • CUNHA, Sergio Ricardo Silva da. História - Memória do campo de futebol Naspolini da cidade de Criciúma. 2005. 54 f. Monografia (Ensino Superior) - Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2005. Cap. 1.

  • FRISSELI, Ariobaldo; MANTOVANI, Marcelo. Futebol: Teoria e Prática. São Paulo: Phorte, 1999.

  • GIULIANOTTI, Richard. Sociologia do Futebol – Dimensões históricas e socioculturais do esporte das multidões. São Paulo: Ed. Nova Alexandria, 2002. http://pt.wikipedia.org/wiki/Nova_Veneza_(Santa_Catarina)

  • PIERRE, Nora. Entre A Memória e História. São Paulo: Editora PUC, 1993.

  • PRONI, Marcelo Weishautpt. A metamorfose do futebol. Campinas: Instituto de Economia da Unicamp, 2000.

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