efdeportes.com

Concepção metodológica do treinamento da velocidade

de deslocamento na corrida dos 100 metros rasos

Concepción metodológica del entrenamiento de la velocidad de desplazamiento en la carrera de 100 metros

Methodological conception of the training of displacement speed in the 100 meters race

 

*Professor da Faculdade dos Guararapes, FG

Treinador da Seleção Brasileira de Atletismo

Treinador da Seleção Pernambucana de Atletismo

**Professora do Governo do Estado de Pernambuco

Atleta de Marcha Atlética da equipe BM&F Bovespa

Aluna do Programa de Pós-Graduação Lato-Sensu da Universidade

Gama Filho, Cinesiologia, Biomecânica e Treinamento Físico

***Professor da Universidade de Pernambuco, UPE

Professor Dissertante da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt)

e Federação Internacional de Atletismo (IAAF)

Vanthauze Marques Freire Torres*

vanthauze@hotmail.com

Cisiane Dutra Lopes**

cisidutra@hotmail.com

Warlindo Carneiro da Silva Filho***

warlindofilho@uol.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A velocidade de deslocamento é uma capacidade física de grande relevância na maioria dos esportes, em particular o atletismo, pois a ação de gestos e deslocamentos rápidos influenciam diretamente os resultados. Neste sentido o objetivo do estudo foi identificar que concepções metodológicas básicas são percebidas pelos treinadores de atletismo para o treinamento da velocidade de deslocamento em atletas de 100 metros rasos. Participaram do estudo 14 treinadores registrados na FEPA (Federação Pernambucana de Atletismo) e CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) que atuaram em competições de nível estadual, regional e nacional na temporada de 2005. Desta forma, constatou-se que uma parcela significativa dos treinadores pesquisados possuíram um bom entendimento, sobre as concepções básicas do treinamento da velocidade de deslocamento.

          Unitermos: Velocidade. Atletismo. Treinamento. Metodologia.

 

Resumen

          La velocidad es una capacidad física de gran importancia en la mayoría de los deportes, especialmente el atletismo, porque los gestos y movimientos rápidos de acción influyen directamente en los resultados. En este sentido, el objetivo de este estudio fue identificar los conceptos básicos metodológicos que son percibidos por los entrenadores de atletismo para el entrenamiento de la velocidad de los atletas en los 100 metros. Participaron del estudio 14 entrenadores registrados en la FEPA (Federación de Atletismo de Pernambuco) y CBAt (Confederación Brasileña de Atletismo), que trabajó en las competiciones a nivel estatal, regional y nacional en la temporada 2005. Así, se encontró que una porción significativa de los entrenadores encuestados poseía una buena comprensión sobre los conceptos básicos de la velocidad de formación.

          Palabras clave: Velocidad. Atletismo. Entrenamiento. Metodología.

 

Abstract

          The speed is a physical capacity of great importance in most sports, particularly athletics, because the action gestures and rapid movements directly influence the results. In this sense the aim of this study was to identify basic methodological concepts that are perceived by athletic trainers for the training of athletes velocity in the 100 meters. Study participants were 14 coaches registered in the FEPA (Federation of Pernambuco Athletics) and CBAt (Brazilian Athletics Confederation) who worked in state-level competitions, regional and national level in the 2005 season. Thus, it was found that a significant portion of the coaches surveyed possessed a good understanding about the basic concepts of the training speed.

          Keywords: Speed. Athletics. Training. Methodology.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 187, Diciembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    As provas de velocidade rasas no atletismo são aquelas que compreendem as distâncias de 100 metros a 400m rasos1,2. Em eventos de grande relevância como, por exemplo: os Jogos Olímpicos e Campeonatos Mundiais, a prova de 100 metros rasos possui uma maior atenção por todos os atletas, espectadores e treinadores, pois definirá o atleta mais rápido do mundo3-5.

    Apesar de muitos especialistas acreditarem que os praticantes de provas de velocidade curta são talentos natos, não treinados, pois a velocidade é em grande parte, determinada geneticamente a partir da composição muscular do individuo6. Existem maneiras diversas de desenvolver a velocidade de deslocamento por meio do treinamento, mesmo em atletas sem talento natural em atividades relacionadas à velocidade é possível desenvolve-las significativamente7-9.

    A velocidade de deslocamento é uma capacidade física de grande relevância na maioria dos esportes, em particular o atletismo, pois a ação de gestos e deslocamentos rápidos influenciam diretamente os resultados dos atletas3-5,7-11.

    A falta de conhecimento específico dos treinadores sobre o treinamento da velocidade é bastante comum nos clubes esportivos e escolas, onde observa-se a utilização inadequada de meios e métodos de treinamento da velocidade de deslocamento associados aos objetivos propostos8. Esse fato pode ser caracterizado como um dos principais fatores do aumento do numero de lesões musculares, baixo nível de rendimento e desistência na prática desportiva10.

    A correta sistematização do treinamento da velocidade de deslocamento nas diferentes fases da corrida de 100 metros rasos pode minimizar as influências negativas de um treinamento mal planejado, permitindo aos treinadores e professores terem mais clareza das fases que compõem a corrida de 100 metros rasos para uma correta planificação do treinamento da velocidade de deslocamento11.

    Neste sentido o objetivo do estudo foi identificar que concepções metodológicas básicas são percebidas pelos treinadores de atletismo para o treinamento da velocidade de deslocamento em atletas de 100 metros rasos.

Metodologia

    Trata-se de um estudo transversal e descritivo. Participaram da pesquisa 14 treinadores registrados na FEPA (Federação Pernambucana de Atletismo) e CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo) que atuaram em competições de nível estadual, regional e nacional na temporada de 2005. Os voluntários foram abordados e responderam um questionário com 20 (vinte) questões com informações sócio-demográficas e procedimentos metodológicos sobre o treinamento da velocidade de deslocamento. A coleta foi realizada nos intervalos entre as disputas das provas individuais durante os Campeonatos Pernambucanos de Atletismo Adulto, realizados no Centro Esportivo Aberto Santos Dumont, localizado em Recife – PE.

    Os dados foram processados e submetidos à análise, utilizando-se para tal a estatística descritiva que tem por função a ordenação, sumarização e a descrição dos dados coletados e dos resultados obtidos. Para isso foi utilizado o software SPSS 16.0.

    Todos os sujeitos foram informados sobre os riscos e benefícios do estudo e assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. O estudo foi previamente aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa.

Resultados e discussão

    Com relação aos fatores sócio-demográficos, dos 14 treinadores envolvidos no estudo, constatou-se que 12 (85,7%) eram do gênero masculino e 2 (14,3%) eram do gênero feminino. Foi observado que a maioria 7 (50%) dos treinadores estavam entre a faixa etária de 21 a 30 anos, 3 (21,4%) entre 31 a 40 anos e 4 (28,6%) possuíam idade acima dos 41 anos. Quanto a escolaridade 5 (35,7%) concluíram a pós graduação, 5 (35,7%) eram graduados e 4 (28,6%) estavam cursando a graduação em educação física. No que diz respeito a graduação 12 (85,7%) cursaram ou estavam cursando a graduação de Licenciatura Plena em Educação Física e 2 (14,3%) cursavam a graduação em Bacharel em Educação Física (Tabela 1).

    Sobre o tempo de exercício profissional com a modalidade esportiva atletismo 9 (64,3%) atuavam entre 1 a 10 anos, 2 (14,3%) trabalhavam de 11 a 20 anos e 3 (21,4%) possuíam acima de 21 anos de trabalho com a modalidade atletismo. Destes 6 (42,9%) dos treinadores atuavam em clubes esportivos, 5 (35,7%) em escolas públicas e 3 (21,4%) em escolas privadas (Tabela 1).

Tabela 1. Descrição das características sócio demográficas dos treinadores em freqüência absoluta e relativa

    Em relação ao exercício profissional direcionado aos grupos de provas que compõem o atletismo foi evidenciado que a grande parte 11 (78,6%) dos treinadores atuavam com os grupos de provas de Velocidade / Barreira, Meio Fundo / Fundo, Saltos Horizontais / Verticais e Arremessos / Lançamentos, 7 (50,0%) atuavam com as Provas Combinadas, 4 (28,6%) com a Marcha Atlética e todos os grupos de provas do atletismo (Tabela 2).

    Sobre a identificação técnica dos treinadores com os grupos de provas do atletismo observou-se que a maioria 8 (57,2%) dos treinadores relataram sua preferência pelos Saltos Horizontais / Verticais, 7 (50,0%) escolheram as provas de Velocidade / Barreira, 4 (28,6%) indicaram as provas de Meio Fundo / Fundo, 2 (14,3%) citaram as Provas Combinadas e os Arremessos / Lançamentos, restando apenas 1 (7,1%) que relacionou a Marcha Atlética como prova de maior identificação técnica (Tabela 2).

Tabela 2. Atuação e identificação técnica dos treinadores de acordo com os grupos de provas do atletismo em freqüência absoluta e relativa.

    Foi observado durante o estudo que 14 (100%) dos treinadores relataram um elevado entendimento sobre a diferença dos termos que envolvem a velocidade e as sub-divisões que compreendem a velocidade de deslocamento. Relacionaram de maneira adequada o treinamento proposto para o aperfeiçoamento das velocidades de aceleração, velocidade máxima e resistência de velocidade com o objetivo principal do treino (Tabela 3).

    Quando pesquisados sobre o volume de treinamento indicado ao desenvolvimento da velocidade de aceleração em atletas de 100 metros rasos, constatou-se que o volume de carga entre 200m a 400m foi o que obteve uma maior aderência 13 (92,9%) entre os treinadores, e o volume de 800m a 1000m obteve 1 (7,1%) da preferência (Tabela 3). De acordo com Seagrave12 e Zaporozhanov13 o volume sugerido para o desenvolvimento da velocidade de aceleração esta situado entre um mínimo de 200 metros e um máximo de 400 metros, devendo-se levar em consideração o nível de treinabilidade do atleta, tempo de treinamento e idade biológica.

    Nos achados foi observado que 9 (64,3%) dos treinadores indicaram o volume de 300m a 500m como o mais apropriado para o desenvolvimento da velocidade máxima. As faixas de 600m a 800m obtiveram 4 (28,6%) da preferência e somente 1 (7,1%) dos treinadores optaram pela faixa de 900m a 1200m como a ideal para o treinamento. Para Vittori14 e Polischuck15 volumes de trabalho situados entre 300m a 500m são os melhores para o desenvolvimento da velocidade máxima, pois possibilitam estímulos em intensidades suficientes a uma adaptação do organismo (Tabela 3).

    Outra evidência constatada neste estudo foi que 8 (57,1%) dos treinadores indicaram o volume de 600m a 800m como o mais coerente para o treinamento, 5 (35,7%) dos treinadores optaram pela faixa de 900m a 1200m e somente 1 (7,1%) indicou o volume de 300 a 500m como a carga mais indicada para o desenvolvimento da resistência de velocidade (Gráfico 5). Para Dintiman et al.16 um volume adequado para o desenvolvimento da resistência de velocidade de um atleta de 100 metros rasos esta diretamente ligado a treinabilidade do atleta e características bioquímicas e fisiológicas, pois estas irão determinar o tamanho das adaptações orgânicas que sofreram os atletas, sendo assim, o volume mais indicado para este tipo de treinamento esta situado entre 900m a 1200m.

    Sobre o entendimento metodológico do intervalo ou tempo de recuperação entre as repetições recomendadas para o desenvolvimento da velocidade máxima foi observado que 14 (100%) dos treinadores compreenderam que os intervalos devem ser amplos com grande recuperação e relacionados diretamente com a distância corrida (Tabela 3). De acordo com Frómeta e Takahashi17 e Sant18 os intervalos de recuperação que envolve esforços de alta intensidade, devem ser seguidos de uma grande recuperação, para favorecer a regeneração dos estoques de ATP no músculo, proporcionando assim, maior qualidade durante a realização das repetições.

    Neste estudo também buscou-se identificar quais intensidades de treino foram as mais adotadas para o desenvolvimento da velocidade máxima onde foi constatado que 12 (85,7%) dos treinadores acreditam que para desenvolver a velocidade máxima deve-se utilizar intensidades compreendidas entre 95% a 100%, no entanto 2 (14,3%) dos treinadores relataram que a intensidade do treinamento deve estar situada entre 80% a 90% das possibilidades (Tabela 3). Segundo Jonath et al.19 a faixa de intensidade mais indicada para o desenvolvimento da velocidade máxima, corresponde a repetições sub-máximas ou máximas, que compreende de 95% a 100% da intensidade do esforço.

    Sobre o entendimento técnico de que período deve ocorrer o treinamento da velocidade de deslocamento, constatou-se que 14 (100%) dos treinadores relataram que os treinamentos dirigidos ao desenvolvimento da velocidade, devem ocorrer no inicio da sessão de treinamento (Tabela 3). De acordo com Manso et al.20 podemos encontrar coerência nas respostas obtidas, pois, segundo o autor no inicio do treino o sistema nervoso esta mais descansado, o que sugere uma maior propensão ao treino da velocidade que exige um alto grau de atenção e resposta do sistema nervoso.

Tabela 3. Descrição das respostas dos treinadores sobre as concepções metodológicas do treinamento da velocidade de deslocamento em freqüência absoluta e relativa.

Conclusão

    Neste estudo foi possível identificar as concepções metodológicas básicas que envolvem o treinamento da velocidade de deslocamento na prova de 100 metros rasos. Algumas variáveis como volume da carga, intensidade, duração e periodicidade dos treinamentos foram levados em consideração para determinação da compreensão mínima que envolve este tipo de treinamento.

    Desta forma, constatou-se que uma parcela significativa dos treinadores pesquisados possuíram um bom entendimento, sobre as concepções básicas do treinamento da velocidade de deslocamento.

    Os treinadores pesquisados relacionaram de maneira adequada, a diferença terminológica entre os diferentes tipos da velocidade e as distintas sub-divisões da velocidade de deslocamento.

    Associaram de maneira coerente, os treinamentos indicados, com o objetivo principal do treinamento (o tipo de velocidade a ser aperfeiçoada). Indicando de maneira consubstanciada os volumes de treinamento para cada tipo de velocidade, ocorrendo apenas algumas flutuações nas respostas obtidas.

    Com isso, o estudo pode concluir que a maioria dos treinadores compreenderam de maneira bastante significativa as diretrizes básicas para sistematização do treinamento da velocidade de deslocamento, isto se deve possivelmente pela grande identificação técnica que os treinadores possuem nesta prova, pela formação acadêmica, como também pelos excelentes resultados obtidos por este grupo de provas nos últimos anos em Pernambuco e no Brasil.

Referências

  1. HEGEDUS, J. D. Técnicas Atléticas. Buenos Aires: Stadium, 1979.

  2. CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO. Atletismo: Regras oficiais de competição: 2012-2013. São Paulo: Phorte, 2011.

  3. BALLESTEROS, M. J.; ÁLVAREZ, J. Manual Didáctico de Atletismo. Bogotá: Cincel Kapelusz, 1980.

  4. BRAVO, J.; PASCUA, M.; GIL, F.; BALLESTEROS, J. M.; CAMPRA, E. Atletismo I: Carreras y Marcha. Spain: Comitê Olímpico Español, 1990.

  5. FERNANDES, J. L.. Atletismo: Corridas. São Paulo: EPU, 1979.

  6. POWER, K. S.; HOWLEY, T. E. Fisiologia do Exercício: Teoria e Aplicação ao Condicionamento e ao Desempenho. 3.ed. São Paulo: Manole, 2000.

  7. VERKHOSHANSKI, Y. Treinamento Desportivo. Porto Alegre: Artmed, 2001.

  8. BOMPA, T. O. Treinamento Total: Para Jovens Campeões. São Paulo: Manole, 2002.

  9. GOMES, A. C. Treinamento Desportivo: Estruturação e Periodização. Porto Alegre: Artmed,2002.

  10. FERNANDEZ, M. D.; SAÍNZ, A. G.; GARZÓN, M. J. C. Treinamento Físico-Despotivo e Alimentação: Da infância à Idade Adulta. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

  11. MANSO, J. M. G.; VALDIVIELSO, M. N.; CABALLERO, J. A. R. Planificación del Entrenamiento Desportivo. Madrid: Gymnos, 1996.

  12. SEAGRAVE, L. La Velocidad Desde El Punto de Vista De Um Entrenador Americano. Cuaderno de Atletismo, nº 37: RFEA – ENE. Madrid, 1996.

  13. ZAPOROZHANOV, V. A.; VICTOR, C. A.; BRONISLV, N. Y. La Carrera Atlética. Barcelona: Paidotribo, 1992.

  14. VITTORI, C. El entrenamiento De La Velocidad En Europa: La Experiencia Italiana. Cuaderno de Atletismo, nº 37: RFEA – ENE. Madrid, 1996.

  15. POLISCHUCK, V. Atletismo: Iniciación y Perfeccionamento. 2.ed. Barcelona: Paidotribo, 2000.

  16. DINTIMAN, G.; WARD, B.; TELLEZ, T. Velocidade Nos Esportes: Programa nº 1 para Atletas. 2.ed. São Paulo: Manole, 1999.

  17. FRÓMETA, E. R.; TAKAHASHI, K. Guia Metodológico de Exercícios em Atletismo: Formação, Técnica e Treinamento. Porto Alegre: Artmed, 2004.

  18. SANT, J. R. Metodología del Atletismo. 5.ed. Barcelona: Paidotribo, 1996.

  19. JONATH, U.; HAAG, E.; KREMPEL, R. Atletismo / 1: Corrida e Salto. Lisboa: Casa do Livro, 1977.

  20. MANSO, J. M. G.; VALDIVIELSO, M. N.; CABALLERO, J. A. R.; ACERO, R. M. La Velocidad. Madrid: Gymnos, 1998.

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 187 | Buenos Aires, Diciembre de 2013
© 1997-2013 Derechos reservados