Efeitos de um programa de intervenção motora em escolares Efectos de un programa de intervención motora en escolares |
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Licenciatura plena em Educação Física pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Brasil) |
Marcos Moraes Daiana Beckemkamp Deise Catarine Schuck Steffanello |
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Resumo O objetivo deste estudo foi analisar o desenvolvimento motor de 12 alunos da escola Educar-se e verificar os efeitos de um programa de intervenção motora específica com duração de 14 semanas. Trata-se de uma pesquisa descritiva do tipo experimental. Para a avaliação do desenvolvimento motor foram utilizados os testes da Escala de Desenvolvimento Motor (ROSA NETO, 2002) que analisa as áreas da motricidade fina e global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e temporal/linguagem. Essas crianças participaram, respectivamente, de avaliação, intervenção motora e reavaliação. Os resultados do presente estudo revelaram que o programa de intervenção motora proposto foi efetivo para a melhora do desenvolvimento motor das crianças com indicativo de atraso no desenvolvimento. Unitermos: Avaliação motora. Desenvolvimento motor. Intervenção motora.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 187, Diciembre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
É no início da infância que a criança está obtendo controle de suas habilidades motoras fundamentais, possuindo um potencial de desenvolvimento que a orienta ao estágio maduro por volta da idade de seis anos. Esse período é de extrema importância para o desenvolvimento motor, mental do indivíduo. Até os seis anos de idade as estruturas físicas e intelectuais de crescimento e aprendizagem emergem e começam a estabelecer suas fundações para o resto da vida (BHANA; FAROOK, 2006).
Para algumas crianças, porém, movimentar-se pode se constituir em um grande desafio, de maneira que determinadas tarefas típicas da infância se tornam difíceis (SILVA et al, 2006). As dificuldades motoras foram reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde – OMS e pela Associação de Psiquiatria Americana – APA como Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) (APA, 2003). Dentre as características das crianças com TDC estão o desajeitamento em seus movimentos, a dificuldade com habilidades motoras grossas e finas, e dificuldades na escrita (MISSIUNA, 2003).
Entre as razões que têm levado ao crescente interesse pelos conhecimentos acerca do desenvolvimento motor destacam-se os paralelos existentes entre o desenvolvimento motor e o desenvolvimento cognitivo. Estudos que relacionam desenvolvimento motor e rendimento escolar demonstram características de déficit no desenvolvimento motor de escolares e uma forte significância estatística na correlação aprendizagem cognitiva versus realização motora (FONSECA et al., 1994; SILVA et al., 2006; POETA; ROSA NETO, 2007). Acredita-se que o acompanhamento da aptidão motora de crianças em idade escolar constitui atitude de grande interesse para profissionais envolvidos com a aprendizagem. Nesse sentido, é de suma importância considerar que o acompanhamento da aptidão motora de crianças em idade escolar constitui atitude preventiva quanto à aprendizagem, já que estudos que relacionam desenvolvimento motor e rendimento escolar (FONSECA et al., 1994; POETA; ROSA NETO, 2007) demonstram significância estatística entre o que a criança é capaz de aprender (cognitivo) e o que é capaz de fazer (motor).
Aos indivíduos com atraso motor a intervenção motora é indicada com a finalidade de atender as principais necessidades do aluno, promovendo a interação dinâmica entre as características do executante, da tarefa e do ambiente, objetivando o aumento do repertório motor (GALLAHUE; OZMUN, 2005). A identificação de fatores deficitários através da avaliação do perfil motor é necessária para traçar diretrizes de intervenção direcionada às necessidades individuais. Dessa forma, com base nos dados encontrados, podem ser elaborados programas de reeducação motora, visando proporcionar a coordenação e ritmo e tornar o cérebro da criança um órgão com maior capacidade para captar, integrar, armazenar, elaborar e expressar informações (CAMPOS et al., 2008).
Com relação às estratégias de intervenção, diversos estudos têm sido realizados com o intuito de verificar sua influência na melhoria das habilidades motoras em crianças em fase escolar identificadas com alguma dificuldade motora (VALENTINI, 2002; PIFFERO, 2007; MULLER, 2008; PICK, 2008; ROSA et al., 2008; PEREIRA; SILVA; CAMPOS, 2008; MEDINA, 2008; CAMPOS et al., 2008; TSAI, 2009; BRAGA et al., 2009; CONTREIRA et al., 2010).
Diante da relevância dos programas de intervenção motora para o desenvolvimento de crianças com dificuldades a nível motor e considerando a existência de poucos estudos acerca do tema, o presente estudo objetivou verificar os efeitos de um programa de intervenção motora no desenvolvimento motor de escolares com indicativo de atraso motor.
Procedimentos metodológicos
Sujeitos do estudo
A amostra do presente estudo conta com 12 alunos das turmas de 1° e 2° Anos do ensino fundamental da Escola de Educação Básica EDUCAR-SE. As crianças têm idade entre 6 e 8 anos, sendo 5 do sexo feminino e 7 do sexo masculino.
Instrumentos de avaliação
Para a coleta de dados utilizamos a Escala de Desenvolvimento Motor (EDM) citado por Rosa Neto (2002), para avaliação foi utilizado somente seis dos sete testes propostos pelo autor, usamos a motricidade fina e global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e temporal, já a lateralidade apenas observamos a dominância manual. Este instrumento determina a idade motora (obtida através dos pontos alcançados nos testes) e o quociente motor (obtido através da divisão entre a idade motora geral pela cronológica multiplicado por 100). Os testes consistem em 10 tarefas motoras cada, distribuídas entre 2 e 11 anos, organizadas progressivamente em grau de complexidade, sendo atribuído para cada tarefa, em caso de êxito, um valor correspondente à idade motora (IM), expressa em meses. Em cada bateria, o teste é interrompido quando a criança não concluir a tarefa com êxito, conforme protocolo. Ao final da aplicação, dependendo do desempenho individual em cada bateria, é atribuída à criança uma determinada IM, em cada uma das áreas referidas anteriormente (IM1, IM2, IM3, IM4, IM5, IM6), sendo, após, calculada a idade motora geral (IMG) e o quociente motor geral (QMG) da criança. Esses valores são quantificados e categorizados conforme a Tabela 1.
Procedimentos de intervenção
O Programa de intervenção motora consistiu de atividades e dinâmica, focando as dificuldades encontradas no pré-teste. A intervenção foi desenvolvida durante 14 semanas, tendo duas sessões por semana, com uma duração 45 minutos. Cada sessão foi dividida em três momentos:
1°: 5 minutos de introdução com revisão das habilidades motoras a serem trabalhadas e com o reforço de regras, as quais foram previamente estabelecidas pelo grupo e enfatizavam o respeito;
2°: 35 minutos prática de atividades motoras em grupos e estações;
3°: 5 minutos de encerramento, com considerações do professor sobre o trabalho realizado e sobre o engajamento nas atividades.
Resultados e discussões
Nesse capítulo, são expostos os resultados do Programa de Intervenção Motora no decorrer de 3 meses e também discussões com alguns autores.
Com relação aos resultados obtidos na Figura 1, a idade cronológica (IC) da criança foi de 88 meses no pré-teste e 91 meses no pós-teste, aumento de três meses é decorrente do período entre a aplicação do pré e pós-teste em que ocorreram as intervenções. A respeito da idade negativa (IN), demonstrou alteração nos seus valores, que passou de -20,25 meses para + 4,9 meses no pós-teste. Com o aumento da IC, a IN também tende a aumentar, no entanto os ganhos na IMG (aumento de vinte e oito meses do pré para o pós-teste) favoreceram a diminuição dessa idade negativa que representa um fator positivo para o desenvolvimento da criança. Através do cálculo do quociente motor geral (QMG), pode-se constatar que as crianças passaram de uma classificação "inferior" que caracteriza atraso no desenvolvimento no pré-teste para uma classificação “normal médio” que se considera com desenvolvimento apropriado no pós-teste.
Na Figura 2, pode-se observar as idades motoras específicas antes e após 3 meses de intervenções motoras. Na análise do desenvolvimento motor da criança, em cada tarefa, pode-se observar no pré-teste um atraso no desenvolvimento de algumas áreas, com maiores prejuízos na motricidade fina (QM1), já na área de Equilíbrio (QM3), esquema corporal (QM4) e organização espacial (QM5) apresentaram um desenvolvimento classificado como “inferior”. As áreas da motricidade global (QM2) e organização temporal (QM6) tiveram os resultados mais satisfatórios de desenvolvimento sendo classificados como “normal médio”. Todas as áreas apresentaram uma grande evolução com a intervenção motora, em especial QM1, QM3, QM4, QM5 e QM6, já a QM2 teve pouca evolução, visto que apresentava um bom desenvolvimento.
Os resultados deste estudo estão em conformidade com um estudo realizado por Valentini (2002), que teve como objetivo principal determinar a influência de uma intervenção motora no desenvolvimento motor e a percepção de competência física de crianças com atraso motor. Fizeram parte do estudo 91 crianças, na faixa etária entre seis e 10 anos, de ambos os gêneros, divididas em dois grupos distintos: Grupo Controle (GC - n=50) e Grupo Intervenção (GI - n=41). O grupo intervenção foi submetido a um programa de atividades motoras orientadas para a maestria com freqüência de duas vezes por semana em um período de 12 semanas, com duração de 60 minutos cada sessão de intervenção motora. A autora obteve resultados estatisticamente significativos após a intervenção para o GI, para as habilidades de controle de objetos, locomotoras e na percepção de competência física. Ainda, a autora reforça a importância da utilização de uma variedade de estratégias durante as aulas que estimulam melhorias motoras, principalmente em crianças com atrasos motores que demonstram algumas formas de fracasso escolar. Essas afirmações reforçam a efetividade do programa desenvolvido no presente estudo, que num período mais curto (10 semanas) evidenciou resultados relevantes na melhora do desempenho motor dos escolares.
Outro trabalho que corrobora com os resultados encontrados foi realizado por Poeta e Rosa Neto (2005) onde avaliaram o efeito da intervenção motora em uma criança com TDAH, que ia desde desordens motoras e escolares. Os resultados revelaram que um programa de intervenção possibilitou mudanças positivas no equilíbrio, motricidade fina, esquema corporal e organização temporal. Os resultados desta pesquisa confirmam a influência positiva da intervenção motora nos aspectos motores de crianças com dificuldade de movimento, o que reforça os resultados do presente estudo.
Os efeitos de um programa de intervenção motora também foram investigados no estudo de Pick (2008). Fizeram parte do estudo 76 escolares, de ambos os sexos, com idades entre 4 e 10 anos, com e sem Necessidades Educacionais Especiais Dentre outros resultados encontrados observou-se que as crianças apresentaram diferenças estatisticamente significativas nas habilidades de locomoção e controle de objetos após o programa. Esses resultados corroboram os resultados da presente pesquisa, que também encontra no programa de intervenção motora uma estratégia benéfica para melhora na funcionalidade de crianças com atrasos motores.
Outro estudo interventivo foi realizado por Braga et al. (2009), com o objetivo de investigar a influência da intervenção motora no desempenho das habilidades motoras de crianças com idade ente seis e sete anos. Participaram desse estudo 60 escolares, do gênero masculino e feminino. Os escolares participantes da intervenção no período de 12 semanas e os resultados ratificam a influência positiva do programa de intervenção, demonstrando uma diferença significativa nas médias de desempenho dos grupos do pré para o pós-teste.
Conclusão
Os resultados do presente estudo revelaram que o programa de intervenção motora proposto foi efetivo para a melhora do desenvolvimento motor das crianças com indicativo de atraso no desenvolvimento. Este estudo confirmou sua relevância científica ao demonstrar o valor dos movimentos na vida das crianças com indicativo de atraso motor ao estimular as capacidades de seus corpos, experimentando movimentos diversificados que podem estar presentes nas atividades diárias.
Desse modo, destacamos a necessidade e a importância do desenvolvimento de projetos dessa natureza, a fim de oportunizar e potencializar as habilidades dos escolares com dificuldades motoras.
Referencias
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA (American Psychiatric Association – APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. DSM-IV-TRTM. Tradução Cláudia Dornelles. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2003.
BHANA, D.; FAROOK, F. Young children, HIV/AIDS and gender: A summary review. Working Paper 39. The Hague, The Netherlands: Bernard van Leer Foundation, 2006.
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CAMPOS, A, C. et al. Intervenção psicomotora em crianças de nível socioeconômico baixo. Revista Fisioterapia e Pesquisa, v.15, n.2, p.188-93, 2008.
CONTREIRA, A. R. et al. O efeito da prática regular de exercícios físicos no estilo de vida e desempenho motor de crianças e adolescentes asmáticos. Pensar a Prática, Goiânia, v.13, n.1, p.1-17, 2010.
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GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos.3. ed. São Paulo: Phorte, 2005.
MEDINA, J. et. al. O efeito de dicas de aprendizagem na aquisição do rolamento peixe por crianças com TDC.Revista Brasileira de Ciência, Campinas, v. 29, n. 2, p. 79-94, jan. 2008.
MISSIUNA, C. Children with Developmental Coordination Disorder: At home and in the Classroom. Ontário, Canadá: CanChild, Centre for Childhood Disability Research, 2003.
MULLER, A. B. Efeitos da Intervenção motora em diferentes contextos no desenvolvimento da criança com atraso motor. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2008.
PEREIRA, K. SILVA, L. CAMPOS, A. C. Intervenção psicomotora em crianças de nível socioeconômico baixo.Rev. Fisioterapia e Pesquisa, São Paulo, v. l5, n.2, p.188-93, 2008.
PICK, R.K. Influência de um programa de intervenção motora inclusiva no desenvolvimento motor e social de crianças com atrasos motores. Dissertação (Mestrado em Ciências do Movimento Humano) - Universidade do Estado do Rio Grande do Sul - UFRGS, 2008.
PIFFERO, C. M. Habilidades motoras fundamentais e especializadas, aplicação de habilidades no jogo e percepção de competência de crianças em situação de risco: a influência de um programa de intervenção de iniciação ao tênis. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. 2007.
POETA, L. S; ROSA NETO, F. Intervenção motora em uma criança com transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH). Lecturas Educación Física y Deportes, v.10, n.89, 2005. http://www.efdeportes.com/efd89/tdah.htm
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SILVA, J.A.O. et al. Teste MABC: aplicabilidade da lista de checagem na região Sudeste do Brasil. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, v. 6, n.3, 356–361, 2006.
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VALENTINI, N. V. A influência de uma intervenção motora no desempenho motor e na percepção de competência de crianças com atrasos motores. Revista Paulista de Ed. Física, São Paulo. p.61-75, 2002.
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