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Perda hídrica por praticantes de jiu jitsu 

de uma rede de academias de São Paulo

La pérdida hídrica de practicantes de jiu jitsu de una red de gimnasios de Sao Paulo

 

*Graduanda em Nutrição do Centro Universitário São Camilo

**Nutricionistas da Equilibrium Consultoria

***Estagiária de Nutrição da Equilibrium Consultoria

***Profa. Dra. do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo

e da Universidade Prebiteriana Mackenzie

(Brasil)

Priscila Damasceno*

Tereza Cibella**

Beatriz Botéquio**

Bruna Bellusci***

Marcia Nacif****

marcianacif@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivo: Avaliar a perda hídrica por meio da comparação entre o peso pré e pós treino, de alunos lutadores de jiu jitsu de academias de São Paulo. Método: Estudo transversal, com coleta de dados primários, realizado com 31 adultos, com idade entre 20 e 43 anos, praticantes de jiu jitsu de academias da cidade de São Paulo. Com a finalidade de analisar a porcentagem da perda de peso corporal e a taxa de sudorese, todos os participantes foram pesados antes (Pi) e depois do treino (Pf). Resultados: Após 2h de treino de jiu jitsu, a média da porcentagem de perda hídrica em relação ao peso foi de 0,95%, que já corresponde ao desencadeamento de sintomatologia da sede. A taxa de sudorese média foi de 3,8 ± 1,8 mL/mim, variando de 0,5 a 5,8 mL/min, Conclusão: Os resultados obtidos no estudo mostram que embora os atletas tenham consumido água durante o treino de jiu jitsu, apresentaram redução em seu peso corporal o que indica a ocorrência de perda hídrica. Ainda que os valores da porcentagem de perda de peso corporal encontrados não tenham sido elevados, é importante que os atletas sejam orientados a consumirem líquidos antes, durante e após a atividade para evitar uma desidratação grave capaz de afetar seu desempenho físico e saúde.

          Unitermos: Desidratação. Desempenho. Artes marciais.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 187, Diciembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O jiu-jitsu é a arte marcial mais antiga registrada, é uma modalidade anaeróbica intermitente de alta intensidade, em que a força explosiva, flexibilidade e resistência muscular localizada são importantes para o desempenho. As técnicas de estrangulamento e de chave articular têm como finalidade fazer com que o adversário desista da luta. Nessa modalidade os atletas são subdivididos de acordo com a graduação e a massa corporal. Um dos princípios do jiu-jítsu é utilizar golpes que constituem alavancas mecânicas e nesse sentido possibilitam que um indivíduo com menor força muscular consiga vencer um adversário mais forte, porém com menor habilidade nas execuções das técnicas. O jiu-jitsu exige raciocínio rápido, velocidade na tomada de decisão e tempo de reação e grande força isométrica para dominar o oponente (CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE JIU-JITSU - CBJJ, 2006; FRANCHINI et al, 2003).

    O conhecimento da composição corporal é essencial em modali­dades esportivas de combate como o jui jitsu para o controle e definição de categoria de peso. Um maior percentual de gordura corporal está negativamente correlacionado com o desempenho em atividades de locomoção e de entradas de técnicas. Alguns estudos distinguem atletas de diferentes níveis competitivos quanto à sua composição cor­poral, relatando que atletas de menor nível competitivo apresentam maior percentual de massa gorda. Desta forma, a maximização do percentual de massa magra dentro do limite superior de uma cate­goria de peso poderia proporcionar ao atleta vantagem quanto ao rendimento físico (BRITO et al, 2007).

    O fato das artes marciais em geral serem divididas por graduação e subdivididas por peso corporal, merece considerável atenção, já que os lutadores ficam impedidos de terem aumentos ponderais consideráveis. Pois, desempenho de alto rendimento parece ser melhorado por características físicas específicas em termos de tamanho, de composição e de estruturas corporais, como visto nos perfis de atletas de vários esportes (ROBBE, 2007).

    Para se enquadrarem em uma determinada categoria, diversos atle­tas de modalidades esportivas de combate adotam a perda de peso, fazendo uso de diferentes métodos, podendo recorrer à restrição calórica, restrição hídrica, desidratação por meio de saunas, corridas utilizando vestimentas que diminuem a troca de calor com o meio ambiente, uti­lização de roupas plásticas, uso de diuréticos, laxantes, estimulantes e indução de vômito. Tais métodos podem causar queda de rendi­mento físico, afetar negativamente o aspecto cognitivo, trazer inúmeros danos à saúde e até mesmo causar a morte (BRITO et al, 2007).

    Mortes por desidratação já ocorreram em esportes categorizados por peso em atletas que se preparavam para competições. No ano de 1997 nos EUA, nos meses de novembro e dezembro ocorreram três mortes de lutadores de Wrestlers por fazerem uso de técnicas para perda de peso (CDC, 1998) o que torna fundamental o consumo de líquidos pré e pós competições devendo a quantidade sempre ser calculada de acordo com a perda do atleta, pois o excesso pode causar hiponatremia (BRITO et al, 2005).

    A desidratação também pode influenciar negativamente o desempenho de um atleta, pois faz aumentar o esforço cardiovascular e a freqüência cardíaca com diminuição do débito cardíaco, prejudicando o fluxo de sangue e oxigênio aos órgãos durante a atividade física, além de limitar a capacidade corporal de transferir calor dos músculos para a superfície da pele levando ao aumento da temperatura (PERRELA; NORIYUKI; ROSSI, 2005).

    Desta forma, é importante não só manter um nível adequado de hidratação como também ter uma ingestão controlada e correta de líquidos antes, durante e após a realização da atividade física (GUERRA; NETO, 2002)

    O monitoramento e a avaliação do estado de hidratação podem ser realizados por meio de um método simples de pesagem antes e após o exercício que permite verificar o percentual de perda de peso para posterior classificação do nível de desidratação, assim como definir o total de volume de líquido a ser ingerido para normalizar, caso necessário, o estado de hidratação evitando os prejuízos ao desempenho físico e saúde dos atletas (BRAGGION; CHAVES, 2008).

    Diante do exposto, o presente estudo teve por objetivo avaliar a perda hídrica por meio da comparação do peso pré e pós treino, de lutadores de jiu jitsu de academias do município de São Paulo.

Material e métodos

    Trata-se de um estudo transversal, com coleta de dados primários, realizado com 31 adultos, com idades entre 20 e 43 anos, praticantes de jiu jitsu de academias da cidade de São Paulo. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo pelo documento COEp 097/06.

    Com a finalidade de analisar a porcentagem de perda de peso corporal e a taxa de sudorese, todos os participantes foram pesados antes (Pi) e depois do treino (Pf) em posição reta, com o corpo relaxado, descalços e vestindo roupas leves. Utilizou-se uma balança digital da marca Tanita® modelo M061 com capacidade máxima de 150Kg e precisão de 100g.

    Para verificar a taxa de sudorese foi utilizada a equação proposta por Fleck e Figueira Junior (1997).

    Para o cálculo da porcentagem de perda de peso (%) utilizou-se a seguinte equação:

    Os dados foram coletados em um dia habitual de treinamento dos desportistas, o qual incluiu 40 minutos de aquecimento físico e 140 minutos de treino de jiu jitsu, totalizando 180 minutos de atividade física.

    Para o controle da quantidade de água ingerida durante o treino, foi orientado que cada aluno possuísse uma garrafa ou copo para medição da ingestão hídrica. Ao final do treino, os alunos foram questionados sobre a quantidade total de água consumida.

Resultados e discussão

    Foram avaliados 31 alunos praticantes de jiu jitsu, sendo 27 do gênero masculino e 4 do sexo feminino. Na Tabela 1 foi possível verificar que a porcentagem de perda de peso variou entre 0 e 2%, com média de 0,95 % (± 0,50). Tal redução, causada pelo treinamento (desidratação ativa), já corresponde ao desencadeamento de sintomatologia da sede. A taxa de sudorese média foi de 3,8 ± 1,8 mL/mim, variando de 0 a 5,8 mL/min.

Tabela 1. Valores de peso inicial, peso final, porcentagem (%) de perda de peso, taxa de sudorese e consumo de água dos praticantes de jiu jitsu. São Paulo, 2013.

    Segundo Fleck e Figueira Júnior (1997), a redução no peso corporal como indicador de perda hídrica, é uma das melhores avaliações de desidratação em atletas. Esta não ocorre de maneira linear durante o exercício, sendo que a comparação entre o peso inicial (antes da atividade física) e final (após o término da atividade física) poderia auxiliar na reposição hídrica durante o período de repouso, pois está associado aos sintomas de sede.

    Estudos têm mostrado que atletas de jiu jitsu do sexo masculino, à temperatura de 18-23 ºC podem apresentar taxa de sudorese entre 26,6 a 36,7 mL/min (REHERE; BURKE,1996). É reconhecido que as mulheres tendem, nas mesmas condições padronizadas, a suar menos do que os homens. As diferenças podem ser acentuadas devido a diferenças no treinamento, grau de força e resistência devido às categorias de faixas.

    É importante ressaltar que no presente estudo a porcentagem de perda de peso dos alunos pode estar subestimada, pois, a pesagem antes e após o treino foi realizada com os indivíduos utilizando a calça do quimono, que pesa em média 600g. Observou-se que dois atletas apresentaram ganho de peso e um indivíduo não teve variação no peso ponderal, o que talvez possa ser justificado pela retenção de líquidos na calça do quimono.

    Os uniformes utilizados em muitas das modalidades de luta também contribuem para o acúmulo de calor corporal, o que resulta no aumento da temperatura corpórea. Neste sentido merecem atenção especial os lutadores de judô e jiu-jitsu, pois os uniformes utilizados nestas modalidades impõem elevado estresse térmico aos atletas. Os quimonos destas modalidades são feitos de algodão trançado e para adultos, o uniforme pesa em média 3kg (secos). A medida que o atleta se desidrata durante um treinamento os uniformes tendem a pesar cada vez mais (BRITO; MARINS, 2005).

    Sabe-se que o estresse do exercício é acentuado pela desidratação, com 1 a 2% de desidratação ocorre aumento da temperatura corporal, de 4 a 6% são prejudicadas as respostas fisiológicas, perda de 3% altera o desempenho físico diminuindo a capacidade física do atleta em até 30%, e acima de 6% há riscos à saúde, coma e até a morte (PERRELLA; NORIYUKI; ROSSI, 2005).

    Além do estresse térmico imposto pelo exercício, o ambiente também contribui para o aumento das necessidades de reposição hídrica durante os treinamentos de lutas. Os locais de treinamentos são fechados e muitos não dispõem de equipamento de refrigeração, fazendo com que a perda do calor corporal durante o treino seja dificultada (BRITO; MARINS, 2005).

    A hidratação tem sido amplamente estudada dentro da nutrição esportiva como fator delimitador do desempenho desportivo. Quando o atleta entra em um campeonato em estado de euhidratação, ele pode desenvolver o melhor de sua capacidade técnica, entretanto um suporte hídrico inadequado pode afetar negativamente o desempenho do atleta (MARQUEZI; LANCHA, 1998; JUNG et al, 2005).

    Na tabela 1 foi possível observar que 26% (n=8) dos indivíduos tiveram um consumo hídrico abaixo do recomendado antes e depois do treinamento. Para que o atleta inicie o exercício em estado de euhidratação, recomenda-se que seja ingerido de 400 a 600 mL de água duas horas antes do exercício, permitindo que os mecanismos renais tenham tempo suficiente para regular o volume sanguíneo total e sua osmolaridade a níveis ótimos (ACSM, 1996; ADA/ACSM/DC, 2000).

    Grande número de lutadores não tem consciência sobre a importância de hidratar-se. Este fato mostra-se preocupante, pois a manutenção da homeostase hídrica durante treinamentos e competições não é apenas uma necessidade fisiológica, mas também resulta em melhora no desempenho e reduz o risco de lesões. Resultados similares ao presente estudo foram encontrados por Brito et al. (2006) em um estudo com caratecas, e em judocas por Brito e Marins (2005), que encontraram respectivamente 4,41% e 2,47% de desportistas que não se hidratam habitualmente durante treinamentos.

Conclusão

    Os resultados obtidos neste estudo permitem concluir que embora os atletas tenham consumido água durante o treino de jiu jitsu, apresentaram redução no peso corporal o que indica a ocorrência de perda hídrica e hidratação inadequada. Ainda que os valores da porcentagem de perda de peso corporal encontrados não tenham sido muito elevados, é importante que os atletas sejam orientados a consumirem líquidos antes, durante e após a atividade para evitar uma desidratação grave capaz de afetar seu desempenho físico e sua saúde.

Referências

  • ARTIOLI, G.G.; FRANCHINI, E.; LANCHA JUNIOR, A.H. Perda rápida de peso em esportes de combate de domínio: revisão e recomendações aplicadas. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v.8, n.2, p.92-101, 2006.

  • BRAGGION, G.F.; CHAVES, R.G. Termorregulação e hidratação: recomendações para a prática do nutricionista no esporte de alto rendimento. Nutrição Profissional, ano IV, n. 19, p.46-51, mai/jun.2008

  • BRITO, C. J., MARINS, J.C.B. Caracterização das práticas sobre hidratação em atletas da modalidade de judô no estado de Minas Gerais. Revista Brasileira de Cineantropometria e Movimento, v.13, n. 2, p. 59 – 74, 2005.

  • BRITO, I.S.S.; de BRITO, C.J.; FABRINI, S.P.; MARINS, J.C.B. Caracterização das práticas de hidratação em karatecas do estado de Minas Gerais. Fitness & Performance Jornal, v. 5, n. 1, p. 23 – 29, 2005.

  • CBJJ, Confederação Brasileira de Jiu Jitsu. Historia do Jiu Jitsu. www.cbjj.com.br. Acessado em 02/05/2013 às 17:30 h.

  • FLECK, S.J.; FIGUEIRA JUNIOR, A.J. Desidratação e desempenho atlético. Revista Associação dos professores de educação física, Londrina, n.12, p.50-57,1997

  • GUERRA, I.; SOARES, E.A.; BURINI, R.C. Aspectos nutricionais do futebol de competição. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.7, n.6, p.200-206, nov./dez. 2001.

  • MARQUEZI, M.L.; LANCHA, A.H. Estratégias de reposição hídrica: Revisão e recomendações aplicadas. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo. v,12, n.2, p. 219 – 227. Jul/Dez, 1998.

  • PERRELLA, M.M., NRIYKI, P.S.; ROSSI, L. Avaliação da perda hídrica durante treino intenso de rugby. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, v.11, n.4, p. 229 – 232. Jul/Ago, 2005.

  • ROBBE, M. Coleção de Artes Marciais: Brazilian Jiu-Jitsu “A Arte Suave”. São Paulo: On Line Editora. n. 5; p: 12-41, 2007.

  • REHERE, N.J.; REHERE, L.M. Sweet losses during various sports. Aust J Nutr Diet, v.53, p.13-6, 1996.

  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE MEDICINA NO ESPORTE (SBME). Diretrizes da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Modificações dietéticas, reposição hídrica, suplementos alimentares e drogas: comprovação de ação ergogênica e potenciais riscos para a saúde. Revista Brasileira de Medicina do Esporte, Niterói, v. 9, n. 2, p. 43-56, mar./abr. 2009.

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