O desenvolvimento motor do nascimento até os dois anos de idade: uma política de saúde preventiva El desarrollo motor desde el nacimiento hasta los dos años de edad: una política de salud preventiva |
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Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Ciência do Movimento Humano, UFRGS (Brasil) |
Pablo de Godoy Menezes |
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Resumo O objetivo deste estudo é apresentar aos leitores uma visão geral do desenvolvimento motor do nascimento até os seus dois anos de idade. Buscando interagir os fatores que influenciam esse bebê para um desenvolvimento social, afetivo, cognitivo e motor e com essa apresentação propor alternativas para uma política de saúde preventiva efetiva com um enfoque na detecção dos padrões motores no período mais sensível de desenvolvimento das estruturas corporais. Unitermos: Desenvolvimento motor. Política de saúde preventiva. Padrões motores.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 187, Diciembre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Reconhecer o desenvolvimento infantil como um processo com inicio na vida intrauterina e composto por aspectos como a maturação neurológica, o crescimento físico e as aquisições de habilidades associados ao comportamento e às esferas motora, cognitiva, afetiva e social da criança (SACCANI, 2009) é fundamental. Durante os primeiros dois anos de vida alguns cuidados para o bom desenvolvimento do bebê são importantes e alguns diagnósticos sobre seu desenvolvimento global podem ser mensurados através de uma abordagem sobre o desenvolvimento motor, e esse será o foco principal desta resenha.
O desenvolvimento do bebê em seus primeiros anos de vida é marcado por um período de aquisição e aperfeiçoamento das habilidades motoras acentuado. O bebê deve ser estimulado e esses estímulos são os principais responsáveis por criar um amplo espectro de habilidades. Durante os primeiros anos a plasticidade cerebral é muito mais marcante (SACCANI & VALENTINI, 2012), sendo um período onde o aumento das redes neurais deve ser aproveitado para potencializar ganhos de desenvolvimento que serão resultados das ações e estímulos que este bebê irá receber.
Um ambiente encorajador aonde os cuidados não sejam exagerados e a interação social permita uma experiência sensorial rica é fundamental para o desenvolvimento pleno deste bebê (ALMEIDA & VALENTINI, 2010), este ambiente pode agir como facilitador ao desenvolvimento normal do bebê, ocasionando a exploração e interação saudável com o meio; em contra partida um ambiente desfavorável pode restringir as possibilidades de aprendizado, interferindo de forma negativa nos padrões e no ritmo das aquisições motoras (PANCERI et al., 2012).
Aprofundando um pouco o olhar sobre o desenvolvimento humano nota-se que este apresenta diferentes perspectivas, possuindo características peculiares, que, entretanto, interagem entre si. O desenvolvimento pode ser avaliado sob quatro aspectos, ou seja, o físico e perceptual, o cognitivo e de linguagem, o social e o ecológico (FERNANDEZ, 2004).
O bebê e seu desenvolvimento motor até aos dois anos de idade: observação, detecção e intervenção
Podemos destacar esse período como um dos mais interessantes de todos, carregando sua grande marca nos movimentos reflexos, as estereotipias e os movimentos voluntários (GALLAHUE & OZMUN, 2005). Os movimentos reflexos são caracterizados por respostas físicas automáticas desencadeadas involuntariamente por estímulos específicos e com controle realizado sub-corticalmente (GALLAHUE & OZMUN, 2005). Observamos uma outra categoria de movimentos chamados estereotipados, movimentos rítmicos, padronizados, relativamente invariáveis e submetidos a um controle cerebral, por acreditar que eles componham uma fase de transição entre a atividade reflexa e a voluntária são vistos como benéficos para o desenvolvimento posterior (PAYNE & ISAACS, 2007). Por último, em conseqüência do controle assumido pelo córtex cerebral, o bebê passa a apresentar os movimentos voluntários, que também podem ser chamados de rudimentares (GALLAHUE & OZMUN, 2005). Embora a seqüência possa ser considerada fixa, o ritmo de aquisição desses movimentos em função das restrições do indivíduo, do ambiente e da tarefa é variável (GALLAHUE & OZMUN, 2005; PAYNE & ISAACS, 2007).
Os reflexos podem ser observados desde o 4° mês de vida intrauterina (PAYNE & ISAACS, 2007). São respostas físicas automáticas involuntariamente desencadeadas por estímulos específicos. Alguns reflexos são vitalícios, como o reflexo patelar, o piscar os olhos, e tantos outros, entretanto, outros devem ser "perdidos" ainda durante a primeira infância, estes são conhecidos como reflexos do bebê (HAYWOOD & GETCHELL, 2010) ou ainda como reflexos infantis (PAYNE & ISAACS, 2007).
Nos primeiros meses de vida surgem os movimentos estereotipados, são caracterizados por movimentos rítmicos, padronizados e submetidos a um controle central (PAYNE & ISAACS, 2007). As estereotipias são movimentos benéficos para o desenvolvimento dos movimentos voluntários, sua estimulação sensorial é o principal motivo para essa posição de Payne e Isaacs (2007) em seu livro texto. Os movimentos estereotipados aumentam ao longo do primeiro ano de vida, sua freqüência máxima se dá por volta de 24 e 42 semanas e decai nos últimos 2 a 3 meses do primeiro ano de vida (PAYNE & ISAACS, 2007).
Com a maturação crescente do córtex cerebral, os movimentos voluntários ou movimentos rudimentares passam a ser notados no bebê (GALLAHUE & OSMUN, 2005). Observa-se a aquisição da marcha em um sentido desenvolvimental céfalo-caudal, pois o bebê em um primeiro momento só tem controle dos músculos do quadril evidenciando uma deambulação desajeitada, após esse controle inicial seguindo o padrão de desenvolvimento céfalo-caudal o domínio passa para as articulações dos joelhos, posteriormente do tornozelo, alcançando assim aos poucos um padrão maduro de deambulação, outros exemplos poderiam ser citados no sentido próximo distal como o movimento de alcançar e segurar, dentre outros (PAYNE & ISAACS, 2007). Surgem três categorias de movimentos básicas: os estabilizadores, os locomotores e os manipulativos, esses movimentos como os próprios nomes já os definem são responsáveis pela busca de um controle do corpo em relação à gravidade, habilidades básicas de locomoção pelo ambiente e as habilidades de alcançar, segurar e soltar os objetos, respectivamente (GALLAHUE & OZMUN, 2005).
A boa observação do desenvolvimento dessas características acima citadas e seus marcos motores indicam as características de bebês típicos, através dessa seqüência e seu reconhecimento torna-se possível auxiliar em possíveis atrasos motores minimizando ou até mesmo erradicando com a detecção precoce e inserção dos bebês e suas famílias em programas de educação familiar e oferecendo experiências compensatórias para os bebês detectados com algum risco. Essas intervenções devem aproveitar o período de maior desenvolvimento neuronal das crianças, a fim de otimizar o aprendizado cumulativo e a retenção, através de incrementos no ambiente, nas tarefas e em experiências de intervenção com adultos e outras crianças (RECH, 2005).
Considerações finais
Com todas as evidências acima mencionadas e tantas outras o governo deveria investir em uma política pública forte de prevenção para gestantes e detecção motora pós-parto, pois como vimos o desenvolvimento motor está interligado, impactando e sendo impactado, a outras esferas do desenvolvimento humano: cognitiva, afetiva e social. Atrasos, desvios e alterações na aquisição das habilidades motoras rudimentares de estabilização, locomoção e manipulação, levam a déficits nas demais esferas (GALLAHUE & OZMUN, 2005; HAYWOOD & GETCHELL, 2010).
Acompanhar esse curto período dos dois primeiros anos de vida com maior atenção é fundamental, a longo prazo, evitando que outros problemas maiores sejam observados. Medidas preventivas deveriam ser adotadas com uma política pública de perpetuar saúde desde sua raiz principal, utilizando os períodos sensíveis de desenvolvimento para criarmos gerações mais capacitadas, contudo, apesar de parecer simples, pouco observamos na direção desta solução.
Referências bibliográficas
Almeida, C. S.; Valentini, N. C. (2010). Integração de informação e reativação da memória: impacto positivo de uma intervenção cognitivo-motora em bebês. Revista Paulista de Pediatria (Impresso), v. 28, p. 15-22, 2010.
FERNANDES, C. L. (2004). Desenvolvimento neuropsicomotor em crianças entre 0 e 12 meses de idade residentes nas comunidades próximas ao parque industrial do município do Rio Grande/RS. 185f. Dissertação (Mestrado em Enfermagem) - Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande, 2004.
GALLAHUE, D. L.; OZMUN, J. C. (2005). Compreendendo o desenvolvimento motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Phorte, 2005.
HALPERN, R.; FIGUEIRAS, A. C. (2004). Influências ambientais na saúde mental da criança. Jornal de Pediatria, 80(2), 104-110.
HAYWOOD, K. M.; GETCHELL, N. (2010). Desenvolvimento motor ao longo da vida. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2010.
PANCERI, C., PEREIRA, K., VALENTINI, N., SIKILERO, R. (2012). A influência da hospitalização no desenvolvimento motor de bebês internados no Hospital de Clínicas de Porto Alegre. Revista HCPA, 32, jul. 2012.
PAYNE, V. G.; ISAACS, L. D. (2007). Desenvolvimento motor humano. 6. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2007
RECH, D. M. R. (2005). Influências de um programa de educação motora com três diferentes abordagens interventivas no desempenho motor de crianças nascidas pré-termo. Dissertação (Mestrado em Ciência do Movimento Humano)-Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
SACCANI R. (2009). Validação da Alberta Infant Motor Scale para aplicação no Brasil: análise do desenvolvimento motor e fatores de risco para o atraso em crianças de 0 a 18 meses. [Dissertação]. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2009.
SACCANI, R. ; VALENTINI, N. C. (2012). Desenvolvimento motor de crianças de 0 a 18 meses de idade: um estudo transversal. Pediatria Moderna, v. XLVIII, p. 57-64, 2012.
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