Estudos olímpicos em práticas corporais e meio ambiente: estudos preliminares nos Campos de Cima da Serra 2011-2013 Estudios olímpicos en prácticas corporales y medio ambiente: estudios preliminares en Campos de Cima da Sierra 2011-2013 |
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Professor Assistente da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) Mestre em Educação, Especialista em Administração e Marketing Esportivo Licenciado em Educação Física. Coordenador da linha de pesquisa Estudos Olímpicos em Práticas Corporais e Meio Ambiente (PRACEMA) |
Rodrigo Koch (Brasil) |
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Resumo Nos primeiros anos de atividade, a linha de pesquisa Estudos Olímpicos em Práticas Corporais e Meio Ambiente, concentrou seus trabalhos no diagnóstico da Região dos Campos de Cima da Serra e na modalidade de ciclismo, realizando estudos sobre as sensações provocadas nos praticantes da modalidade em contato com a natureza. Outras práticas também foram avaliadas, porém com menos ênfase. Nos próximos anos, as pesquisas estarão voltadas para os megaeventos esportivos que serão sediados no Brasil, principalmente, a Copa do Mundo FIFA 2014. Unitermos: Práticas corporais. Meio Ambiente. Campos de Cima da Serra.
Resumen Palabras clave: Prácticas corporales. Medio Ambiente. Campos de Cima da Serra.
Abstract Keywords: Body practices. Environment. Campos de Cima da Serra.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 187, Diciembre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A utilização do esporte como ferramenta educacional tem sido eficiente nas últimas décadas, tanto para o disciplinamento dos alunos como para a introdução de novos assuntos e temas no currículo como, por exemplo, a saúde, a higiene, a sexualidade, a diversidade cultural, a etnia e o meio ambiente. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) o Meio Ambiente aparece com um dos temas transversais sugeridos no livro 8. O documento contextualiza a questão da relação do homem com o meio ambiente e aponta que “é preciso refletir sobre como devem ser essas relações socioeconômicas e ambientais, para se tomar decisões adequadas a cada passo, na direção das metas desejadas por todos: o crescimento cultural, a qualidade de vida e o equilíbrio ambiental” (PCN – Livro 8 – Temas Transversais, p.27). Os PCN’s também dedicam um dos seus volumes (livro 9) especificamente para o Meio Ambiente, trazendo questões relacionadas a sustentabilidade (PCN – Livro 9 – Meio Ambiente). As possíveis relações entre a Educação Física e o Meio Ambiente aparecem constantemente em trabalhos recentes de pesquisadores, como no levantamento feito por Melo e Almeida (2007) onde apontam que
Atualmente vem crescendo significativamente o número de indivíduos que buscam, sob diversos interesses, práticas de atividade física de aventura junto à natureza. O esporte, permeando-se por novas formas, valores e conceitos, torna-se um elemento chave nessa re-aproximação Homem-Natureza. (...) A cada dia, surge uma nova modalidade de atividade física, tanto em ambiente urbano como rural, e as práticas na natureza vem crescendo em uma proporção maior, devido ao estresse das grandes cidades, fazendo com que o homem resgate seu contato com o ambiente natural, em busca de aventuras e novos desafios. (MELO & ALMEIDA 2007, p.185)
Já Viera (2007) destaca que o contato com a natureza através do esporte apresenta um lado positivo e outro negativo. O autor concorda que estas práticas corporais aumentam a consciência ecológica dos envolvidos, inibindo a ação predatória em seus locais de ação esportiva. No entanto, por outro lado “essas mesmas práticas esportivas podem interferir negativamente nos fatores ambientais, podendo ocasionar danos aos ambientes onde são praticados” (VIEIRA 2007, p.347). Em virtude disto, este pesquisador propôs a criação de um instrumento de avaliação dos impactos ambientais causados pelo esporte, onde são analisados efeitos na água, solo, atmosfera, fauna, cavernas e outros impactos ambientais.
As questões do meio ambiente também estão presentes na pauta do Movimento Olímpico, ocupando atualmente o terceiro item do Olimpismo1 depois do esporte e da cultura (SCHMITT 2002). Por exigência do Comitê Olímpico Internacional (COI) o Meio Ambiente é item obrigatório nas propostas de candidatura à sede dos Jogos. “Medidas ambientais ocupam uma posição cada vez maior na candidatura e são particularmente importantes na escolha de cidade sede dos Jogos” (SCHMITT 2002, p.45). A partir dos Jogos Olímpicos de Sydney-2000, batizados de ‘Jogos Verdes’, as preocupações dos impactos dos megaeventos ao meio ambiente aumentaram. Na Austrália, houve cuidados especiais quanto ao aterramento de uma área pantanosa (Homebush Bay) onde foi posteriormente construído o parque olímpico, local que concentrou a maior parte das modalidades naquele evento.
Pressionada pelos militantes do Greenpeace (a maior organização ambientalista do planeta), e seguindo os novos parâmetros delineados pelo COI, a organização do evento primou pela preocupação ecológica. Assim, a vila olímpica constitui um sofisticado bairro litorâneo com energia solar e outras modernas tecnologias relacionadas ao meio ambiente, numa área antes utilizada como pasto de animais e depósito de armamentos. (MASCARENHAS 2011, p.34)
Nas edições seguintes, nos Jogos de Atenas-2004 e Pequim-2008, os organizadores investiram nesta temática promovendo a melhora na qualidade do ar, a eficiência da utilização de energia renovável, a redução da poluição sonora e visual, e a promessa do plantio de 100 milhões de árvores. Londres focou sua candidatura para os Jogos Olímpicos de 2012 nas mudanças climáticas, biodiversidade e promoção da vida saudável, com a regeneração de East London e de zonas urbanas degradadas às margens do rio Tâmisa. O Brasil será sede de dois megaeventos esportivos nos próximos anos: a Copa do Mundo de Futebol (2014) e os Jogos Olímpicos (2016). O Rio de Janeiro (sede da final da Copa do Mundo FIFA 2014 e dos Jogos Olímpicos Rio 2016), na sua proposta ao COI apresentou o seguinte texto introdutório em relação ao Meio Ambiente:
(...) Os três níveis de Governo se comprometeram a adotar princípios de desenvolvimento sustentável para conservar e proteger o meio ambiente. (...). Com instalações para os Jogos estrategicamente localizadas para aproveitar a natureza, o Rio, com sua beleza, hipnotizará os membros da Família dos Jogos. (...). Programas recentes, elaborados pelos três níveis de Governo, entre eles o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Zoneamento Ecológico-Econômico melhoraram o planejamento urbano, a qualidade da água, o saneamento, a qualidade do ar e permitiram a recuperação dos recursos naturais. (...). O programa de sustentabilidade e de meio ambiente dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016, apoiado pelos três níveis de Governo, será focado em quatro elementos: conservação da água, energia renovável, Jogos neutros em carbono, e gestão do lixo e responsabilidade social. (DOSSIÊ DE CANDIDATURA 2009, p. 86)
A linha de pesquisa Estudos Olímpicos em Práticas Corporais e Meio Ambiente (PRACEMA), vinculada ao grupo Educação para a Sustentabilidade, com sede na unidade de São Francisco de Paula da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS), tem como objetivo investigar as práticas corporais no meio ambiente na região dos Campos de Cima da Serra e seus efeitos na sociedade local, realizando pesquisas de campo, com observações, entrevistas e registros de imagens para avaliação dos espaços de esportes na natureza (ou áreas ecológicas) e como estes locais são aproveitados/cuidados de maneira a se tornarem sustentáveis pelos esportistas e praticantes. Entendemos as práticas corporais como manifestações da cultura corporal de cada indivíduo e/ou grupo, ainda que estas possam, inclusive, produzir – simultaneamente e paralelamente – hábitos considerados não saudáveis como fumar ou ingerir bebidas alcóolicas. As práticas corporais contrapõem a ideia limitadora de simples atividades físicas. Nesta linha de pesquisa, consideramos todas as práticas realizadas no meio ambiente como caminhadas e passeios ciclísticos, por exemplo; e não só o esporte normatizado e competitivo, proporcionando a observação tanto de praticantes eventuais como de atletas amadores e profissionais. Avaliamos, também, as práticas corporais no meio ambiente relacionadas com os (mega)eventos que as circundam e seus efeitos e produtividades. Para isso, utilizamos como base os estudos e trabalhos organizados por Lamartine Pereira da Costa2, percussor das investigações nesta temática no Brasil, além de outras obras correlatas3 à questão do meio ambiente e esporte. Nossas áreas de atuação na pesquisa científica são as Ciências Humanas (Educação); Ciências da Saúde (Educação Física); e Ciências Sociais Aplicadas (Turismo) – atuando nos setores da educação, artes, cultura, esporte, recreação, saúde humana e serviços sociais.
Diagnóstico inicial: 2011-2013
Através de estudos preliminares (AMARAL, SANTOS, MORAIS & KOCH 2012; KOCH et al. 2012; KOCH & BICCA, 2013) na região dos Campos de Cima da Serra4 foram detectadas as práticas corporais e esportes mais constantes entre os habitantes e visitantes das localidades. Por ordem de preferência e frequência entre os praticantes, as atividades que mais aparecem nos espaços públicos são: caminhada (trekking), ciclismo, corrida, futebol, cavalgada, vôlei, alongamento (yoga, e tai chi chuan), pesca, skate, natação, slackline, canoagem e futevôlei entre outras. Em espaços específicos, como o Parque das Laranjeiras (Três Coroas), também foram observadas as práticas do rafting, da tirolesa, do rapel e do paint ball.
As atividades de ciclismo, por ocorrerem com certa regularidade e atraírem um número elevado de participantes, receberam atenção maior nos primeiros anos de atividades desta linha de pesquisa, onde foram avaliadas as sensações provocadas nos ciclistas a partir da prática esportiva em meio à natureza. As conclusões apontam para uma expressiva melhoria na qualidade de vida das pessoas que realizam atividades em contato com o meio ambiente. A maioria dos entrevistados nos estudos realizados destacou que sentia alegria, tranquilidade, energia, entusiasmo, motivação e sensações agradáveis. Outras práticas corporais (rafting, rapel, canoagem, caminhada, e vôlei) também passaram pela mesma metodologia, porém, com menor ênfase, onde igualmente as boas sensações foram registradas pelos pesquisadores.
Este diagnóstico inicial contou com a colaboração dos acadêmicos Ana Quézia Roldão da Silva Klein, Bruna Benin Bicca, Fabiano Marin, Gisele Linck Amaral, Lidiane Isabel Castilhos dos Santos, Luanda Morais, e Priscila Linck Amaral, alunos de graduação dos cursos de Pedagogia e Gestão Ambiental (Unidade de São Francisco de Paula/UERGS).
Projetos de pesquisa para 2014
Em 2014, ano em que o Brasil sediará a Copa do Mundo de Futebol, os estudos ficarão mais focados nos efeitos e produtividades deste megaevento esportivo na região dos Campos de Cima de Serra. Sendo Porto Alegre (cidade distante cerca de 150 km desta região) uma das sub-sedes da Copa do Mundo, recebendo cinco jogos da competição, espera-se que haja um grande fluxo de visitantes nas cidades que compõem os Campos de Cima da Serra. Também aparecem entre os possíveis base camps5 das seleções classificadas para Copa do Mundo FIFA 2014 as cidades de Bento Gonçalves, Caxias do Sul e Farroupilha, entre outras. Estes três municípios estão inseridos na região ou muito próximos da mesma, portanto, já há um projeto de pesquisa visando o estudo dos efeitos da Copa do Mundo nestas localidades, sejam estes positivos ou negativos.
Trabalhos do curso de especialização (Educação para Sustentabilidade) também estão vinculados à linha de pesquisa Estudos Olímpicos em Práticas Corporais e Meio Ambiente, com previsão de término para 20-14-2015. Um dos estudos trata-se de um projeto de ação de implantação de uma pousada de ecoturismo e turismo de aventura, onde serão exploradas várias atividades físicas e esportivas em meio à natureza. O outro trabalho propõe uma análise dos impactos ambientais causados pelos novos estádios de futebol de Porto Alegre: a Arena Grêmio (em atividade desde dezembro de 2012), e o Novo Beira Rio (Gigante para Sempre) com previsão de inauguração oficial em abril de 2014.
Ainda existe a proposta de investigar quais as práticas corporais que prevalecem nas escolas de São Francisco de Paula, projeto que agregará novos acadêmicos dos cursos de graduação da unidade da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul sediada na cidade. Este estudo terá como objetivo identificar os esportes, atividades físicas e recreativas presentes no cenário escolar e quais as influências que os mesmos sofrem da mídia e da cultura local.
Acreditamos que após os primeiros passos da linha de pesquisa Estudos Olímpicos em Práticas Corporais e Meio Ambiente, ainda teremos longas caminhadas pela frente neste campo de estudo nos próximos anos.
Notas
Filosofia de vida que utiliza o esporte como instrumento para a promoção de paz, união, respeito por regras, adversários, diferenças culturais, étnicas e religiosas. Sua base é formada pela combinação entre esporte, cultura e meio ambiente. O objetivo é contribuir na construção de um mundo melhor, sem qualquer tipo de discriminação, encarando o esporte como um direito de todos. Tem como ideal a participação em massa, a educação, a integração cultural e a busca pela excelência através do esporte. Seus princípios são a amizade, a compreensão mútua, a igualdade, a solidariedade e o "fair play" (jogo limpo). Esses valores devem ser aplicados para além do esporte.
Esporte, olimpismo e meio ambiente (2002); Estudos Olímpicos [dois volumes] (2002); Meio ambiente, esporte, lazer e turismo [três volumes] (2007); e Legados de Megaeventos Esportivos (2008).
Fórum Olímpico 2000 (2000), de REPPOLD FILHO, AR; e TODT, NS (eds.); Educação Olímpica e Responsabilidade Social (2007), de RUBIO, K (org.); e Olimpismo e Educação Olímpica no Brasil (2009), de REPPOOLD FILHO, AR; PINTO, LMM; RODRIGUES, RP; e ENGELMAN, S (orgs.).
Região que compreende dez (10) municípios gaúchos: Bom Jesus, São José dos Ausentes, Monte Alegre dos Campos, Cambará do Sul, Pinhal da Serra, Muitos Capões, São Francisco de Paula, Jaquirana, Esmeralda e Vacaria. Também são contemplados nesta linha de pesquisa os municípios de Três Coroas, Igrejinha e Taquara.
Cidade escolhida para abrigar um selecionado durante a estada deste no país sede da Copa do Mundo no decorrer da competição.
Referências
AMARAL, Gisele Linck; SANTOS, Lidiane Isabel Castilhos dos; MORAIS, Luanda; KOCH, Rodrigo. Pedaladas nos Campos de Cima da Serra. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 168, p. 12, 2012. http://www.efdeportes.com/efd168/pedaladas-nos-campos-de-cima-da-serra.htm
COMITÊ OLÍMPICO BRASILEIRO. Olimpismo. Disponível em: http://www.cob.org.br/movimento_olimpico/olimpismo.asp Acesso em: 23 mai 2012.
DOSSIÊ DE CANDIDATURA DO RIO DE JANEIRO A SEDE DOS JOGOS OLÍMPICOS E PARAOLÍMPICOS DE 2016. Rio de Janeiro: CO-RIO, Janeiro de 2009.
KOCH, Rodrigo; BICCA, Bruna Benin. Estudo das práticas corporais no Lago São Bernardo (São Francisco de Paula/RS) em 2012. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 178, p. 6, 2013. http://www.efdeportes.com/efd178/estudo-das-praticas-corporais-no-lago-sao-bernardo.htm
KOCH, Rodrigo; KLEIN, Ana Quézia Roldão da Silva; SANTOS, Lidiane Isabel Castilhos dos; MORAIS, Luanda. A relação homem-natureza pela prática do ciclismo. Lecturas Educación Física y Deportes (Buenos Aires), v. 171, p. 38, 2012. http://www.efdeportes.com/efd171/a-relacao-homem-natureza-pela-pratica-do-ciclismo.htm
MASCARENHAS, Gilmar. Desenvolvimento urbano e grandes eventos esportivos: o legado olímpico nas cidades. In: MASCARENHAS, G; BIENENSTEIN, G; SÁNCHEZ, F. O jogo continua: megaeventos esportivos e cidades. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2011.
MELO, Cristiane Ker de; ALMEIDA, Ana Cristina PC. Nas trilhas da relação Educação Física – Meio Ambiente. In: ALMEIDA, ACPC; DACOSTA, LP. Meio Ambiente, esporte, lazer e turismo: estudos e pesquisas no Brasil 1967 – 2007. Volume 1. Rio de Janeiro: Gama Filho, 2007.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: apresentação dos temas transversais e ética. Volume 8. Secretaria da Educação Fundamental, Brasília: MEC/SEF, 1997.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS: meio ambiente e saúde. Volume 9. Secretaria da Educação Fundamental, Brasília: MEC/SEF, 1997.
SCHMITT, Pál. O Movimento Olímpico e o Meio Ambiente. In: TAVARES, O; DACOSTA, LP; MIRANDA, R. Esporte, olimpismo e meio ambiente: visões internacionais. Rio de Janeiro: Gama Filho, 2002.
VIEIRA, Valdo. Desenvolvimento de um instrumento de identificação de impactos ambientais em práticas esportivas na natureza (IMPAC-AMBES). In: ALMEIDA, ACPC; DACOSTA, LP. Meio Ambiente, esporte, lazer e turismo: estudos e pesquisas no Brasil 1967 – 2007. Volume 2. Rio de Janeiro: Gama Filho, 2007.
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