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1.     Introdução

    O presente estudo aborda a questão da Educação Física possuir riquezas de conteúdos que podem ser trabalhados na escola. Dessa forma, questionamos se a dança é um conteúdo importante para a aprendizagem e construção de valores dos alunos na escola?

    Tendo em vista que a dança é um conteúdo situado, desde 1971, como unidade da disciplina de Educação Física podemos observar que é minimamente tratada como componente folclórico e raramente valorizada por ter um conhecimento próprio e uma linguagem expressiva específica.

    Aplicar o conteúdo da dança nas aulas de Educação Física escolar é de grande relevância, tendo em vista que contribui para a construção de uma relação de cooperação, integração, respeito mútuo e socialização.

    Contendo inúmeras possibilidades de ensino, a presença da dança se torna essencial para uma educação integral dos alunos. Isto porque, segundo Verderi (2000, p. 33): “a verdadeira educação deve formar o homem para a vida, devemos a nossos alunos formação de valores, de metas.”

2.     Porque aplicar o conteúdo de dança na escola?

    De acordo com Brasileiro (2003) somente em recentes processos de discussão, para além da Educação Física, é que a dança veio inserir-se como conteúdo nos currículos escolares, como prática pedagógica sistematizada. E é esse movimento recente que nos faz refletir sobre sua posição como conhecimento a ser tratado nos espaços escolares.

    É legitima a presença histórica, científica e de intervenção da dança na Educação Física. Apesar de que a dança configura se também como área de formação independente da Educação Física a apropriação deste conteúdo pela Educação Física acontece em particular pelo objeto de estudo, pesquisa e intervenção, ou seja, pelo corpo e pelo movimento.

    Para BRAUN e SARAIVA (2000), a dança e a Educação Física têm em comum o movimento corporal humano, ou seja, as duas áreas utilizam a expressão corporal como linguagem (GASPARI, 2005)

    Brasileiro (2003) afirma ainda que a dança é minimamente tratada como componente folclórico no interior das escolas, seja pela Educação Física ou pela Educação Artística/Arte Educação; raramente é valorizada por ter um conhecimento próprio e uma linguagem expressiva específica. Ela é reconhecida como atividade extra-escolar, extra-curricular etc.

    Nas aulas de Educação Física, especificamente, temos observado,pelas poucas experiências relatadas/sistematizadas, o privilégio das danças do universo popular como forma de resgatar a cultura de cada região. Acreditamos na importância de recuperar danças que configurem a história da nossa região e nos permitam uma localização como produtores de nossa cultura. Porém constatamos a necessidade de conhecer um universo mais amplo de referências sobre a dança e seus diferentes repertórios, bem como as possibilidades de improvisação e reconstrução coreográfica dos repertórios já construídos (BRASILEIRO, 2003).

    Lima e Carneiro (2011) enfatizam que a dança é um forte elemento, entre as práticas corporais, no desenvolvimento da capacidade de expressão, socialização, conscientização corporal e criatividade.

    De outra forma, atual realidade da prática da Educação Física escolar é apresentada com uma redução drástica dos conteúdos aplicados nas aulas. Muitas vezes as aulas se resumem a exercícios de preparação física e a prática esportiva de um número limitado de modalidades, tais como vôlei, futsal, handebol e basquete.

    Assim, sob a nossa observação ao longo de 20 anos de experiência na área, a dança é renegada significativamente pelos professores. A origem dessa deficiência parece estar na falta de formação exitosa nessa área profissional, que sem o domínio do conteúdo, o educador não se acha apto a desenvolvê-lo. (LIMA e CARNEIRO, 2011)

    Assim como prevê a lei 046/2002 considerando as exigências de qualidade e de ética profissional nas intervenções, o profissional de Educação Física deverá estar capacitado para: atuar em todas as dimensões de seu campo profissional, o que supõe pleno domínio da natureza do conhecimento da Educação Física e das práticas essenciais de sua produção, difusão, socialização e de competências técnicos instrumentais a partir de uma atitude crítico- reflexiva e ética.

    Enfim, a importância de vivenciarmos, (re)conhecermos e desmistificarmos papéis que foram atribuídos de maneira estereotipada à dança, valorizando a sua riqueza cultural e tendo o espaço escolar e seus freqüentadores como parte de um contexto social mais amplo, onde os sujeitos trazem e expressam, em suas ações diárias, características que foram assimiladas e reconstruídas ao longo da vida. (FUGIKAWA, GUASTI, 2006)

    A escola, portanto, é um espaço social importante em nossas vidas, e, como em outros ambientes, ela também recebe influências de diversos fatores, históricos culturais e sociais, que são determinados pelos interesses e pelos objetivos dos grupos que detém o poder.É também no espaço escolar que nós construímos e “escrevemos”a nossa história de vida, a nossa individualidade e nossas relações sociais. (FUGIKAWA, GUASTI, 2006)

    Neste processo dinâmico de influenciar e ser influenciado, de ensinar e aprender, estão os conhecimentos científicos que cada disciplina possui, os quais contribuem com a formação dos indivíduos. Dessa forma, uma das disciplinas integrantes do currículo escolar é a Educação Física, a qual se propõe a pensar a dança – um de seus Conteúdos Estruturantes – sob múltiplos olhares (FUGIKAWA, GUASTI, 2006).

    Defende-se então o desenvolvimento de um trabalho diferenciado com a dança, tratando este tema de forma a não evidenciar a modalidade somente em seus moldes de reprodução mecânica, mas que se caracterize por oportunizar um conhecimento a partir de suas vivências cotidianas e de sua realidade social, estando diretamente ligado com o processo de construção dos saberes (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

3.     Metodologia

    Segundo Thiollent (1985, p. 14) apud Mattos, Rosseto Junior e Blecher (2008, p. 34) este estudo é denominado de pesquisa-ação. A pesquisa-ação é uma pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e na qual os pesquisadores e os participantes estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo.

    Dessa forma o trabalho pedagógico desenvolveu se a partir dos seguintes passos:

1. Conversa com as crianças sobre o entendimento acerca da Dança, elas foram indagadas sobre os conhecimentos acerca das danças típicas da região centro-oeste, em especial do estado de Goiás;

2. Pesquisa sobre os tipos de dança que existem na região centro-oeste (divisão dos alunos em grupos, cada grupo pesquisou sobre um Estado da região Centro-oeste);

3. Apresentação das pesquisas dos alunos;

4. Problematização sobre a cultura regional goiana;

5. Apresentação de um vídeo sobre catira (Catira Infantil –Grupo de catira Pedro Pedrinho);

6. Vivência dos movimentos da catira;

7. Construção de uma coreografia de catira;

8. Diálogos em todas as aulas sobre os conteúdos abordados e sobre a participação efetiva nas aulas de Educação Física.

4.     Resultados e discussão

    As práticas corporais devem ser um lugar de possibilidades afetivas, lúdicas e estéticas de apreender e entender o mundo e de agir nele (VAGO, 2009). Assim, o eixo corpo-movimento deve ser visto como uma forma de comunicação com o mundo, constituinte e construtora de cultura, mas também possibilitada por ela, a linguagem, que na qualidade de cultura habita o mundo simbólico (BETTI, 2005).

    A dança – como elemento da cultura de movimento, fenômeno que em sua gênese apresenta uma riqueza de possibilidades em vivências corporais, sociais e afetivas – tem papel especial na formação humana (SARAIVA et al, 2005b).

    Enquanto elemento da cultura corporal, a dança então deve pensar o corpo como uma realidade cultural, de usufruir seu corpo, sem padrões estéticos, sem tiranias de perfeição, sem ditadura. Assim, contribuímos para a construção do movimento humano enquanto possibilidade de expressão humana.

    Após a intervenção os alunos construíram coreografias baseadas na construção teórica e prática da dança com o intuito de “contar” com o corpo e o movimento o que aprenderam, entenderam e vivenciaram no decorrer dos encontros.

    Dessa forma, dançar é então “pensar pra executar” (aluno do 5º ano); “dançar é expressar com o corpo” (aluno do 4º ano); “dançar é contar uma história” (aluno do 5º ano), os relatos dos alunos foram gratificantes e alcançaram o objetivo de entender a dança como expressão corporal, como linguagem, patrimônio histórico da humanidade (COLETIVO DE AUTORES, 1992).

    Como elemento da cultura corporal a dança é uma construção histórico-social que pode e deve ser trabalhada na escola com o intuito de possibilitar vivências significativas para os educandos. Dançar envolve a corporeidade e a expressividade humana (NANNI, 2003). A Dança é uma manifestação social, um fenômeno estético, cultural e simbólico que expressa e constrói sentidos através de movimentos corporais, é uma comunicação não-verbal. (SIQUEIRA, 2006).

5.     Considerações finais

    A Educação Física Escolar constitui diversidade de conteúdos para serem aplicados na escola, mas nem sempre é isso que acontece, visto que há preferência por parte dos alunos e professores por alguns conteúdos assim como o esporte.

    Os profissionais de Educação Física acabam não trabalhando com a dança por terem além do preconceito falta de preparo no quesito de conteúdos, sendo que a mesma na escola pode ser trabalhada com movimentos particulares e individuais e assim vivenciando novas formas de expressão corporal.

    Portanto, privar os alunos de um conhecimento tão vasto que propicia momentos únicos de expressar sentimentos, emoções e também de conhecerem a história e o folclore de um país tão rico seria de extrema irresponsabilidade do profissional.

    Outrora, não há como gostar de algo que não se conhece devendo o conteúdo ser passado de forma criativa, lúdica e reflexiva, e de acordo com a realidade dos alunos os levando a percepção da importância da dança em sua vivência cotidiana.

Referencial bibliográfico

• BETTI, M. BATISTA, S. R. A televisão e o ensino da Educação Física na escola. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas,v. 26, n 02, Jan. 2005.

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• BRAUN, Luciane G. e SARAIVA, Maria do Carmo. Dança e Educação Física: Uma Visão de Acadêmicos do Curso de Educação Física da UFSC. VII Congresso Brasileiro de História da Educação Física, Esporte, Lazer e Dança. Memórias e Descobrimentos: Anais e Resumos. 29 de Maio a 01 de Junho/ 2000. Gramado/ RS.

• CARNEIRO, D. S ; LIMA, P. R. F. Dança como conteúdo da educação física escolar: desafios de sua aplicação. Fiep Bulletin on line. v. 81, 2011.

• COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez,1992

• FUGIKAWA, C. S. L; GUASTI, M. Educação física, dança. Disponível em: http://www.educadores.diaadia.pr.gov.br/arquivos/File/livro_didatico/edfisica.pdf Acesso em: 03/06/2013.

• GASPARI, Telma C. Educação Física Escolar e Dança: uma proposta de intervenção. 2005. 168 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Motricidade) - Instituto de Biociências, Universidade Estadual Paulista, Rio Claro.

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• NANNI, D. Dança Educação, pré- escola a universidade. 2ª ed. Rio de Janeiro: SPRINT, 2003.

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• PEREIRA, M. L; CYNTHIA, D.A. Dança e Educação Física no Brasil: questões polêmicas. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Ano 11 - N° 96, Maio de 2006. http://www.efdeportes.com/efd96/danca.hmt

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• UTUARI, S; SANTIAGO, R.A ; BRASILEIRO, L. T. Arte na escola. 58 boletim ,junho a agosto de 2010.

• VAGO, T. M. Pensar a Educação Física na Escola: Para a formação cultural da infância e juventude. Caderno de Formação RBCE nº 1. Autores Associados. Setembro, 2009.

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