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Danças sociais e bailes, memórias e códigos sociais. 

Início da colonização de Chapecó, SC e atualidade

Danzas sociales y bailes, memorias y códigos sociales. El inicio de la colonización de Chapecó, SC y la actualidad

Social dances and balls, memories and social codes. Beginning of the colonization in Chapecó, SC and present

 

*Discente do programa de Pós Graduação Lato Sensu em Educação

Associação Educacional Frei Nivaldo Liebel, ASSEFRENI

Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas, Facisa Celer Faculdades

Graduação em Educação Física, UnC, Concórdia

**Orientadores

***Co-orientadora. Revisora do artigo para publicação

Educação Física, UnC, Concórdia

(Brasil)

Daniela Scartazzini*

danielascartazzini@hotmail.com

Ms. Luiz Carlos Sordi**

Ms. Luis Henrique Rangrab**

Ms. Ivana Schneider***

ivana.profe@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Objetivou-se com esta pesquisa estudar as danças sociais difundidas pelos primeiros colonizadores, da primeira comunidade rural do município de Chapecó: a comunidade de Colônia Cella. Observou-se estas danças onde eram transmitidas, em eventos festivos onde as mesmas eram utilizadas, bem como estudou-se as danças sociais e bailes realizados atualmente na mesma comunidade. A partir dos dados coletados; compreendeu-se quais são os códigos sociais processados através destas danças e eventos. Entrevistou-se oito moradores da comunidade, todos com idade acima de 40 anos e no baile realizado dia 13 de junho de 2009 observou-se presente os princípios básicos da etnometodologia, teoria que embasa esta pesquisa. Concluiu-se que as formas de dança, e eventos afins, trazidas pelos primeiros colonizadores desta região estão sendo pragmaticamente substituídas, assim como as regras sociais que elas codificam. E, constatou-se que tanto as danças como os bailes condensam, processam e transmitem as modificações atualizadas na sociedade.

          Unitermos: Danças sociais. Significação simbólica. Códigos sociais.

Abstract

          The research of this work was aimed to study the social dances spread by early settlers, of the first rural community in the municipality of Chapecó: Colônia Cella community. It was observed where these dances were transmitted, in festive events where they were used, as well as it was studied the social dances and balls performed in the same community. From the data collected, it was understood which social codes are processed through these dances and events. Eight residents of the community were interviews, all of them over 40 years old and the dance was held on June 13, 2009 it was observed the basic principles of ethnomethodology, theory that support this research. It was concluded that the dance forms, and related events, brought by the first settlers of this region are being replaced pragmatically, as well as social rules that they encode.And, it was found that both the dances and the balls are condensed, process and transmit the updated changes in society.

          Keywords: Social dances. Symbolic significance. Social codes.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 187, Diciembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A dança social (denomina-se neste artigo dança social como todos os tipos de danças realizadas especial e unicamente para a diversão, sem qualquer objetivo de apresentação das mesmas) provavelmente surgiu da cognição subjetiva de grupos de determinado meio cultural. Pode ser considerada uma locução de saberes e emoções, uma representação do saber intrínseco de um sujeito ou de uma comunidade. Uma manifestação corporal das práticas, crenças e valores sociais coletivos que são exibidos em sua magnitude nas festas e comemorações que, por sua vez carregam regras de condutas sociais construídas no meio em que acontecem ao mesmo tempo em que contribuem para a construção do meio e, que dão suporte e significado para a forma como a vida é vivida neste local (LABAN, 1990).

    As manifestações corporais relacionadas à dança social provavelmente foram, e ainda são estimuladas por diversos fatores que seguem ligados aos movimentos de trabalho e de adoração, cito: Estímulo visual e rítmico; Estímulo corporal; Reconhecimento e utilização de novas formas de movimento; Prazer físico e/ou espiritual; Socialização, entre outros (RODRIGUÊS,1997; MARQUES, 2010)

    As vivências humanas, os objetos, as situações sociais já são impregnadas de múltiplos sentidos atribuídos a eles; cultural e socialmente cada um de nós já é uma trama de paisagens significativas construídas socialmente e, por isso, por nós circulam conceitos, elaborações, compreensões e escolhas em diálogo com as dinâmicas sociais. Escolhas e vivências de gênero, nacionalidade, classe, etnia, religião, idade, orientação sexual, constituição física, possibilidades corporais, afetos, realidades psíquicas são construídas nos fluxos sociais que internalizamos e elaboramos, nos trânsitos socioafetivo-culturais com que dialogamos a todo o momento (MARIZ, 2007, p. 28).

    Atualmente encontram-se no município de Chapecó as sedes das principais empresas processadoras e produtoras de carne de suíno e frango do Brasil. A transformação industrial, unida a globalização e ao fácil acesso aos meios de comunicação de massa, provavelmente tem colaborado para a modificação do cotidiano do sujeito e das comunidades; da qualidade de suas corporeidades, dos seus movimentos, da sua percepção individual e coletiva, dos seus objetivos individuais e comuns, das suas necessidades e da forma como expressam toda essa gama de sentimentos. Em síntese o corpo individual e o corpo coletivo modificam-se, pois são solicitados para outro tipo de atitude em outra realidade, são muitas vezes estimulados a seguirem outros exemplos que não os que se encontram em seu meio, para que, com estas novas ações permaneçam sentindo-se parte integrante do “mundo globalizado”. “A compreensão intersubjetiva se realiza por meio de um processo no qual os atores esperam “reciprocidade”, apesar das diferentes perspectivas que orientam as compreensões da realidade de cada um deles”. Enfim, para se sentir membro do grupo é necessário dominar a linguagem que o grupo utiliza (SCHÜTZ apud GUESSER, 2003 p.157).

    Um município consolida-se também tendo a arte e o lazer como ponte para a socialização. A partir deste prisma questiona-se: como eram difundidas, por quem eram difundidas e quais eram as danças sociais e eventos festivos utilizados no inicio da construção da primeira comunidade rural chapecoense? Quais eram os códigos de conduta demonstrados através destas danças e eventos? Como estas ações acontecem no tempo atual?

    Capra no prefácio do livro Teia da Vida cita as palavras de Ted Perry: “Isto sabemos, todas as coisas estão ligadas como o sangue que une uma família”. Em análise percebe-se nesta citação a consciência da ecologia profunda, do hibrismo da vida: Desta forma considera-se que as danças sociais investigadas não perderam sua essência, mesmo assim, renovaram-se e adquiriram novos movimentos, movimentos que solicitam novas qualidades que acompanham uma nova estética e uma nova necessidade hábil e que, provavelmente caracterizam o surgimento de novos valores, de novos códigos individuais e coletivos em detrimento aos valores que até então foram pilastras sociais (VISIONOX, 2010).

    Realizou-se esta pesquisa objetivando estudar as danças sociais difundidos pelos primeiros colonizadores da primeira comunidade rural do município de Chapecó: a comunidade de Colônia Cella. A forma como estas danças eram transmitidas e os eventos festivos onde as mesmas eram utilizadas, bem como, estudar as danças sociais e bailes realizados atualmente na mesma comunidade. A partir dos dados coletados verificou-se quais são os códigos sociais processados através destas danças e eventos.

Materiais e métodos

    Esta pesquisa tem uma inspiração antropológica, através de conversas, observações e experimentações buscou estudar as formas de dança e festas que os primeiros colonizadores trouxeram e difundiram nesta região, bem como entender os códigos de conduta demonstrados através destas danças e eventos. A forma como as danças foram aprendidas, transmitidas e modificadas. Bem como observar as danças sociais e eventos atuais com o mesmo olhar.

    É de caráter qualitativo sendo definida por Strauss e Corbin (2008, p. 23) como “qualquer tipo de pesquisa que produza resultados não alcançados através de procedimentos estatísticos ou de outros meios de quantificação, buscando perceber os fatos e interpretá-los sem o auxílio da lógica matemática.

    O processo de coleta de dados da pesquisa foi realizado nos meses de junho e julho de 2009. O estudo foi realizado na comunidade de Colônia Cella A mesma situa-se a 10 Km de Chapecó. É a comunidade mais antiga deste município e comemora neste ano 82 anos de colonização. Sua população aproximada é de 1.500 habitantes dos quais 90% possuem grau de parentesco com a família Cella, desbravadora desta região. A economia é baseada na agricultura, na suinocultura, na pecuária e na avicultura. A maior parte dos imigrantes que colonizaram Colônia Cella são descendentes de italianos e oriundas do estado do Rio Grande do Sul. Para a realização deste estudo buscou-se ouvir a história relatada por 8 (oito) moradores da comunidade de Colônia Cella. A pesquisadora participou efetivamente de1 (um) baile que aconteceu no dia 13 de junho de 2009 no salão comunitário desta comunidade. Portando, foram duas as formas da coleta de dados:

    As entrevistas foram através de conversas que foram filmadas e seguiram um roteiro pré-estabelecido, porém estas conversas corriam livremente conforme a disposição do entrevistado em contar suas memórias. Cinco entrevistas forma realizadas na casa dos moradores e as outras três foram realizadas no Centro Comunitário no dia do encontro para a aula semanal de ginástica. Neste dia vários moradores estavam presentes, porém somente três concordaram em gravar a entrevista, os demais não quiseram gravar, pois repetiriam as mesmas falas dos seus colegas e amigos.

Resultados

    Segundo "todos" os moradores entrevistados as principais danças sociais difundidas na comunidade, na época de sua fundação foram o chote, a valsa, a marcha, o tango, a rancheira, o vaneirão. Estes emigrantes colonizadores trouxeram estas danças consigo quando vieram do estado do Rio Grande do Sul. O chote: Considerado como chote antigo os pares executam dois passos para um lado e um passo para o outro. Na forma moderna os pares realizam dois passos para cada lado. A valsa: era dançada com dois movimentos para cada lado ao mesmo tempo que giram. A modificação mais mencionada foi a da diminuição da intensidade dos giros. A Marcha: Não foram mencionadas modificações na dança por parte dos pesquisados. O Tango: Não foram mencionadas modificações na dança. O vaneirão: Não foram mencionadas modificações na dança. A rancheira: Não foram mencionadas modificações na dança.

    Segundo os relatos a transmissão das danças sociais era feita dentro da própria família, entre os irmãos, visinhos e observando os que sabiam dançar. Os treinos aconteciam dentro de casa. O evento do rádio possibilitou que os treinos fossem acompanhados por música.

    Na época da fundação desta comunidade e até a construção do salão de baile comunitário, que se deu no ano de 1965, os bailes aconteciam nas próprias casas e, mais constantemente nos paióis. Geralmente havia um gaiteiro que embalava a festa, podia haver também alguém que acompanhasse o gaiteiro fazendo a marcação rítmica da música com tampas de panela ou um pandeiro. Outro fato mencionado foi sobre a variedade do repertório musical que geralmente era pequena, mas este não era um fato capaz de diminuir a animação. Participavam destas festas/bailes às famílias que residiam na comunidade.

    Neste formato de baile, que também é uma forma de retratar a vida cotidiana de sua época, os corpos compartilham o espaço com respeito e generosidade, as pessoas preocupam-se em aprender a técnica da dança e dançar da melhor forma possível. Há demonstração de alegria coletiva, as pessoas esperam com ansiedade o dia de encontrarem-se para dançar e se divertirem juntas, coletivamente. Esta atitude muito provavelmente foi gerada a partir de um convívio social amável, respeitoso e de compartilhamento. Havia prazer em ensinar, em aprender e em saber fazer.

Dança social atual observada pela pesquisadora no baile da comunidade

    As pernas permanecem paralelas, o peso do corpo é alternado entre uma e outra perna com um balançar de quadril. Os braços ficam soltos e acompanham o balançar do corpo. Por momentos, em determinadas músicas algumas pessoas pulam; em outros momentos há movimentos sensuais geralmente realizados pelas mulheres. Analisando a forma atual de dança e comportamento nos bailes, e comparando-as com as formas relatadas, pôde-se perceber retratada uma nova forma de dança bem como uma nova forma de comportamento: atualmente os corpos movem-se livres de regras, e a grande maioria dos participantes (que realizam alguma forma de movimento dançante) realizam uma dança que não se assemelha com as formas de movimento das danças sociais relatadas na memória oral. No baile observado percebeu-se que os participantes imitam a forma de dançar realizada pelos(as) cantores(as) ou bailarinos(as) da banda, que geralmente reproduzem os movimentos sugeridos pela música. Há a ausência total de qualquer espécie de giro sobre o próprio eixo ou pelo salão, por vezes o quadril, apenas das mulheres, realiza um movimento de circundução.

    Os novos códigos de conduta estão sendo transmitidos e vividos através desta nova dança e deste novo formato de baile, através desta nova estrutura social. Percebe-se nesta nova linguagem corporal a acentuação do individualismo e o uso da generosidade apenas com pessoas que compartilham da mesma roda, do mesmo grupo. Percebe-se também a desvalorização da família tendo em vista que nos bailes atuais as gerações não se encontram, não compartilham o mesmo espaço social de lazer. Os participantes do novo baile, na maioria jovens, dividem-se em pequenos grupos dispostos em pequenas rodas, esta atitude nos remete ao antigo ato, largamente utilizado por diversas culturas, de dançar em roda. Neste novo baile há muitas pessoas que caminham constantemente pelo salão, por entre as pequenas rodas. Os corpos esbarram-se constantemente, e esta atitude por vezes gera indignação e mal estar entre os participantes. Muitos dos participantes permanecem parados, não utilizam-se da dança. Ouvem a música, observam as outras pessoas e, geralmente, estão bebendo cerveja. Ao contrário dos relatos colhidos onde comportamento e dança buscavam unir a comunidade e a família e proporcionar uma demonstração de caráter, uma afirmação de amizade e companheirismo, observou-se como grande modificação o fato de que no baile observado há demonstração de alegria, mas não há preocupação com o outro. Percebe-se nitidamente o princípio da prática/realização onde a prática do dia-a-dia, a pressa, a violência disseminada na sociedade, a falta de tempo, as regras do mercado de trabalho constroem uma realidade altamente competitiva e provocam insegurança com relação ao outro. As pessoas sofrem o processo da modernização do seu tempo e relatam esse processo na atitude corporal. Desta forma as danças sociais locais e festas, que anteriormente supriam a noção de membro perdem espaço para as danças maciçamente divulgadas pela televisão e outros meios de comunicação, não apenas perdem espaço como não são chamadas para dialogar com as mesmas.

Conclusões

    Conclui-se que as formas de dança e eventos afins trazidas pelos primeiros colonizadores desta região estão sendo pragmaticamente substituídas, assim como as regras sociais que elas codificam. As formas de dança relatadas através da memória oral ainda existem e permanecem sendo executadas quase que da mesma forma, porém não são utilizadas pela população jovem, que as substituem pragmaticamente pelos movimentos dançantes difundidos pelos meios de comunicação de massa. Nesta observação fica a dúvida se as danças não são mais utilizadas por falta de vontade da população jovem ou se por falta de espaço e oportunidade.

    Atualmente as pessoas de diferentes faixas etárias não conseguem mais compartilhar do mesmo baile, as famílias não se encontram mais neste tipo de lazer, e não trocam mais a experiência e o exemplo da dança e da música nem de toda simbologia que ambas carregam consigo. E, constatou-se que tanto as danças como os bailes condensam informações sobre os códigos sociais, e são meios que processam e transmitem as modificações atualizadas na sociedade.

Referências

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