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Algumas considerações sobre sedentarismo x 

benefícios da prática regular da atividade física

Algunas consideraciones sobre sedentarismo y beneficios de la práctica regular de la actividad física

 

*Bacharela em Educação Física pela ULBRA Carazinho, RS

**Mestre em Educação e Doutoranda em Educação (UPF)

Docente e coordenadora do curso de Educação Física

da ULBRA Carazinho- RS - orientadora

Glaris Menegaz*

Patricia Carlesso Marcelino**

carlesso_patricia@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente trabalho tem como tema central o sedentarismo, suas causas, malefícios e consequências para a saúde. Além disso, o artigo visa propor soluções plausíveis e eficazes para que os indivíduos se motivem a praticar atividades físicas de forma regular. Para alcançar esse objetivo, foi utilizada como metodologia a pesquisa bibliográfica não apenas em livros que abordam o tema, mas também em matérias e reportagens de revistas e jornais que trouxeram uma visão mais atual sobre o assunto. Assim, foi possível perceber que o sedentarismo no Brasil alcança 49,2% dos adultos, o que revela um número alto em comparação com os demais países em desenvolvimento. Entre os motivos que ajudam a aumentar esses índices pode-se destacar a industrialização e a tecnologia, que proporcionam uma tendência maior à inércia dos indivíduos. Contudo, por meio desse estudo, foi possível verificar com base na literatura que esta evolução tecnológica não pode ser ignorada e deve ser utilizada em favor da atividade física, bem como, a informação e o estudo a respeito do tema podem trazer benefícios à população brasileira no sentido de estimular e aumentar a incidência de pessoas fisicamente ativas.

          Unitermos: Sedentarismo. Atividade Física. Qualidade de vida. Obesidade.

 

Resumen
          El presente trabajo se centra en el estilo de vida, sus causas, consecuencias y el daño a la salud. Por otra parte, el artículo tiene como objetivo proponer soluciones posibles y eficaces para que las personas se sientan motivadas para realizar actividades físicas de manera regular. Para lograr este objetivo, se utilizó como metodología de búsqueda en la literatura no sólo en los libros que tratan el tema, sino también en los materiales y artículos de revistas y periódicos que trajeron una más actual sobre el tema. Por lo tanto, se reveló que el estilo de vida sedentario en Brasil alcanzó un 49,2% de los adultos, lo que revela un número alto en comparación con otros países en desarrollo. Entre las razones que ayudan a aumentar estas tasas puede resaltar la industrialización y la tecnología que proporcionan una mayor tendencia a la inercia de los individuos. Sin embargo, a través de este estudio, se observó que la literatura basada en el desarrollo tecnológico no puede ser ignorada y debe ser utilizado en favor de la actividad física, así como la información y estudio sobre el tema puede beneficiar a la población brasileña para estimular y aumentar la incidencia de las personas físicamente activas.

          Palabras clave: Sedentario. Actividad física. Qualidade vida. Obesidad.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 187, Diciembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    A tecnologia desenvolvida através dos tempos, muitas vezes colabora com a inatividade física. A partir do advento da Revolução Industrial, os avanços tecnológicos ficaram mais freqüentes e começaram potencializar o nível de sedentarismo, principalmente, na vida do homem urbano-ocidental. A industrialização provocou o surgimento de novas tecnologias. Possivelmente, a união da industrialização e das novas tecnologias ocasionou o aparecimento de um marco nas questões do sedentarismo e de uma involução do movimento corporal.

    A condição de sedentarismo está relacionada ao nível de condicionamento físico baixo, e não à idade avançada e/ou a um percentual de gordura elevado. Uma pessoa sedentária ou fisicamente inativa não realiza habitualmente atividade física com intensidade suficiente, volume adequado e freqüência compatível para o desenvolvimento de aptidão física. Para se afirmar que uma pessoa é sedentária, deve-se avaliar o quanto ela gasta de energia durante a atividade executada no trabalho e no lazer. Um indivíduo para ser considerado sedentário deve possuir um gasto calórico em atividades físicas, no trabalho e no lazer inferior a 1000 kcal por semana (MENDES; LEITE, 2008).

    Os níveis de sedentarismo são elevados e variam de acordo com a população estudada. No Brasil 49,2% estão no patamar de inatividade física, o país é menos ativo do que a média dos países em desenvolvimento. As razões são complexas, passam por criminalidade, ambientes desfavoráveis, pobreza e falta de acesso a espaços públicos de lazer, segundo o pesquisador Pedro Curi Hallal do centro de Estudos Epidemiológicos da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).

    Em recente estudo global envolvendo 122 países publicado na revista britânica “The Lancet” revela que a inatividade física é o maior contribuinte para a causa de mortes no mundo, sendo responsável pelo mesmo número de mortes atribuídas ao ato de fumar. O grupo de sedentários é formado por 1,5 bilhão de pessoas, o que representa 31,1%dos adultos. Entre os adolescentes, o número é maior 80% deles, entre 13 e 15 anos, não atingem a recomendação de uma hora por dia de atividade física. Considera-se inativo quem não utiliza pelo menos 150 minutos por semana fazendo alguma atividade física (caminhada durante 30 minutos, cinco dias por semana ou exercícios mais vigorosos por 20 minutos, três vezes na semana).

    Portanto, a importância da atividade física para a saúde das pessoas é reconhecidamente de grande magnitude. A adoção de um estilo de vida não-sedentário, calcado na prática regular de atividade física, encerra a possibilidade de reduzir diretamente o risco de desenvolvimento da maior parte das doenças crônico-degenerativas, além de servir como elemento promotor de mudanças com relação a fatores de risco para numerosas outras doenças.

    Além dos efeitos benéficos na prevenção e no controle de doença arterial coronariana (DAC) e hipertensão arterial sistêmica (HAS) (redução na morbidade e mortalidade em pessoas ativas quando comparadas com sedentárias), a atividade física regular também auxilia na prevenção e no controle do diabetes mellitus e da osteoporose, nos sintomas e na complicação na menopausa na menor incidência de acidente vascular cerebral, no perfil lipídico mais favorável e, possivelmente, no menor risco de câncer de cólon e no combate à obesidade, patologia esta associada ao desenvolvimento de muitas doenças crônico-degenerativas (ASTRAND, 1992; HASKELL, 1994; WAIB & BURINI, 1995; GALLO Jr. et al., 1995, SILVA, 1999, FORTI, 1999, SUBBIAH, 2002 apud GONÇALVES e VILARTA, p. 249). Entre os diversos fatores de risco associados à etiologia das doenças crônicas não transmissíveis, destaca-se o estilo de vida sedentário.

    A literatura tem mostrado cada vez mais que a pratica de atividade física é fator relevante na prevenção primária e como suporte terapêutico dessas doenças. A pratica regular da atividade física aeróbica é a terapia de menor custo para promoção de saúde e prevenção de doenças. O aumento da capacidade ventilatória (VO2 max) decorrente da atividade física aeróbica regular traz consigo também uma maior disposição para todas as outras atividades cotidianas e menor cansaço. Além disso, a atividade física age sobre o psique dos praticantes, diminuindo o isolamento, a depressão e favorecendo a socialização e a formação de novos grupos, além de melhorar a auto-imagem.

2.     Obesidade x sedentarismo

    Um estilo de vida fisicamente inativo é um fator de risco para o ganho de peso com a idade; além disso, indivíduos obesos são em geral muito sedentários, já que o excesso de massa corporal é um obstáculo para a adoção de um estilo de vida fisicamente mais ativo. E mais, o sedentarismo nas pessoas com sobre peso ou obesidade, aumenta a probabilidade de morbidades, comuns ao excesso de peso ou de morte prematura.

    Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde - OMS (1998) classifica-se como sobre peso, indivíduos com IMC que varia de 25 a 29,9 Kg/m² e obesidade quando o IMC for de 30 Kg/m² ou mais. Indivíduos com IMC acima de 40 são considerados de alto risco e podem se submeter a cirurgias de redução de estômago através do Sistema Único de Saúde.

    Apesar do papel importante da atividade física no controle do peso corporal, os indivíduos com sobrepeso parecem ter uma dificuldade especial para manterem sua participação nos programas de exercícios. A revisão de literatura realizada por Dishman concluiu que a obesidade é uma barreira à atividade física e que os obesos apresentam taxas de desistência aos programas maiores do que 70% em um período de 6 a 12 meses (BOUCHARD, 2003).

    O mesmo autor diz ser a obesidade e o estilo de vida fisicamente inativo, dois dos fatores de risco mais prevalentes das doenças crônicas comuns do mundo ocidental, dentre elas, as cardiovasculares, o diabetes a hipertensão arterial e muitas outras. Segundo Nieman (1999) o exercício pode influenciar o peso corporal sob três ângulos diferentes: a prevenção do ganho de peso, o tratamento da obesidade e a manutenção do peso corporal desejável após a perda de peso.

    Uma forma comprovada de combater a obesidade e o sedentarismo é participar de atividades físicas regulares por toda vida. A atividade física regular, realizada 3 vezes por semana, por 30 minutos, em níveis moderados reduz acentuadamente o risco de morte e ou o desenvolvimento de muitas das principais doenças. Existem muitos perigos à saúde associados à obesidade. Muitos especialistas da área da saúde acreditam que a obesidade constitui um dos problemas mais importantes tanto do ponto de vista médico quanto do de saúde pública de nossa era.

    Segundo a Organização Mundial da Saúde - OMS (1940) “a saúde é um estado de completo bem estar físico, mental e social, e não meramente a ausência de doença ou enfermidade”. A aptidão física é uma condição na qual o indivíduo possui energia e vitalidade suficientes para realizar as tarefas diárias e participar de atividades recreativas sem fadiga (NIEMAN, 1999).

    Conforme o referido autor existe uma fórmula que pode auxiliar as pessoas a viver mais tempo, evitar e até curar doenças, aliviar o estresse, sem efeitos colaterais, de forma grátis e só depende da nossa vontade, que é a atividade física, simples exercícios. A modificação da dieta aliada ao aumento da atividade física é uma prescrição universal para o controle de peso.

    A atividade física foi acrescentada à dieta porque há evidências substanciais de que é um ingrediente essencial na manutenção de peso a longo prazo. Para todos os indivíduos, sejam fisicamente ativos ou inativos, é recomendada uma “dieta prudente” para a saúde geral e para a prevenção de doenças.

    O Dietary Guidelines for Americans, de 1995, do US Department of Agriculture (USDA) aconselha todas as pessoas a tentar seguir as recomendações da Pirâmide Alimentar (BOUCHARD, 2003).

3.     Atividade física como prevenção e manutenção da saúde e qualidade de vida

    Níveis crescentes tanto de inatividade como de obesidade revelam problemas importantes de saúde para a sociedade ocidental. Estas causas de morbidade e de mortalidade, que podem ser prevenidas, necessitam de estratégias direcionadas para o aumento do gasto energético, como parte de nosso estilo de vida. Os benefícios substanciais irão aparecer com a redução dos custos de assistência médica e de custos indiretos, com a melhoria da qualidade de vida. O desafio aos profissionais da área de saúde publica é o de difundir a mensagem da atividade física para a grande maioria da população, que ainda não entendeu os prejuízos que a vida moderna sedentária esta causando sua saúde.

    Cerca de metade das crianças obesas em idade escolar se torna adultos obesos e mais de 80% dos adolescentes obesos permanecem desse jeito na vida adulta (BOUCHARD, 2003). Para as crianças, os pais, e os professores são aconselhados a fornecer muitas oportunidades de jogos e de esportes simples. O prazer tem sido identificado como uma das principais razões da prática da atividade física pelas crianças. Pais fisicamente ativos e servindo de modelo fornecem um suporte para que a criança seja ativa.

    Em uma perspectiva atual, no âmbito da avaliação das condições de saúde, temos um expressivo interesse em compreender aspectos comportamentais, influentes na mudança do quadro de saúde individual e coletivo.

    Nessa lógica tem se tornado consistente o estudo da prática de atividade física, dada sua importante relação com eventos de saúde e qualidade de vida em jovens, adultos e idosos. Estudos demonstram que a atividade física sofre redução exatamente no fim da adolescência, e esse é o período da vida em que o aconselhamento para a prática de atividade física deve ser fortalecido.

    Há uma elevada exposição a assistir televisão sentado, fora do ambiente de trabalho, por pelo menos 3 horas entre brasileiros. Para alguns autores, o tempo excessivo em comportamento sedentário pode trazer conseqüências negativas para a saúde, como aumentar o risco de doenças cardiovasculares, independentemente da atividade física. Políticas de promoção da atividade física podem incluir mensagens de diminuição de comportamento sedentário, buscando alternativas de entretenimento, menos vinculadas ao comportamento sedentário e ao tempo assistindo televisão.

    Em 2006, foi publicada a Política Nacional de Promoção da Saúde e dentre suas prioridades foi inserido o tema da atividade física, o que tem resultado em ações e agendas concretas. Foi estruturado um sistema de monitoramento dos indicadores referentes à prática da atividade física de fatores de risco de proteção a doenças crônicas não transmissíveis, o que inclui o monitoramento dos indicadores referentes à prática da atividade física.

    Além disto, o Ministério da Saúde financiou nos últimos 5 anos, cerca de mil municípios que vem desenvolvendo projetos locais de promoção à atividade física, inserindo a promoção da saúde como tema prioritário no SUS.

    Ainda torna-se um grande desafio abordar o tema da promoção da saúde na sua complexidade, o que remete às articulações intersetoriais, visando a reorganização dos espaços urbanos favorecendo a mobilidade urbana e a prática do lazer ativo. Estes dados visam apoiar as políticas públicas no desenho de estratégias que promovam ações sustentadas de promoção da saúde, especialmente de atividade física, visando o alcance de resultados que impactem positivamente na qualidade de vida da população (HALLAL, 2008).

    Parece haver consenso de que a Qualidade de Vida de pessoas idosas depende de fatores como ausência de doenças, envolvimento com a vida e manutenção das capacidades físicas e mentais. Existem diferenças e distinções dos objetivos da atividade física para idosos e adultos jovens. No caso dos adultos jovens o exercício é recomendado para a prevenção de doenças e para aumentar a expectativa de vida. Para os idosos espera-se que o exercício e a atividade física possam combater a fragilidade e a vulnerabilidade causada pela inatividade, minimizar as mudanças biológicas do envelhecimento, reverter a síndrome do desuso, controlar as doenças crônicas, maximizar a saúde psicológica, aumentar a mobilidade e a atividade locomotora e auxiliar na reabilitação de agravos agudos e crônicos (SPIDURSO & CRONIN, 2001 apud SHEPHARD, 2003).

    A atividade física não pode ser encarada social e biologicamente como privilégio da juventude, devendo ser estendida a todas as faixas etárias principalmente durante o envelhecimento. Além disso, não há limitações universais para a prática de exercícios físicos, que obedecendo a determinados princípios, produzem uma série de adaptações morfofuncionais, cujos efeitos benéficos acabam por prevenir algumas das enfermidades degenerativas, as chamadas “enfermidades da civilização do século XX” e contribuir para a saúde geral do indivíduo (FONSECA et al., 1997; GHORAYEB, LOPES, BAPTISTA, 1999 apud SHEPHARD, 2003).

    Portanto, é preciso estabelecer prioridades para diferentes idades, de acordo com as características e necessidades de cada grupo, sem diminuir a relevância de um ou outro objetivo. Os currículos da Educação Física devem enfatizar o desenvolvimento de atividades motoras e a promoção de atividades físicas relacionadas à saúde. A Educação Física escolar é responsável por uma variedade de desideratos, mas dispõe de condições estruturais e tempo muito abaixo do ideal para atingi-los.

    Para isso os alunos precisam ser fisicamente ativos, na escola e fora dela. Os programas de Educação Física no ensino fundamental e médio sugerem seqüência natural de experiências e oportunidades de maior aprendizagem nos objetivos enfatizados em cada período. Paralelamente, deveria haver em todas as séries instrução adaptada, recuperações paralelas, atenção a questões de segurança e prevenção de acidentes, além de experiências pessoais e grupais que promovam a auto-estima e a sociabilidade (NAHAS, 2001 apud GONÇALVES, A.; VILARTA, R., 2004).

    Um estudo da clínica Cooper revela que as pessoas gastavam no início do século passado, cerca de 5000 kcal/dia. Esse gasto caiu para menos de 2500 kcal, o que representa uma diminuição de cerca de 500 kcal em relação ao que se gastava há cem anos. Isso representa um acumulo de cerca de 180.000 kcal ao ano a mais do que no início do século XX.

    As crianças e os jovens consomem uma quantidade excessiva de energia assistindo televisão, vídeos ou jogando videogames quando não estão na escola. Existe uma discussão se esses hábitos sedentários estão ou não relacionados com a obesidade e se eles podem ou não fazer com que as crianças e os jovens pratiquem as quantidades de atividades físicas recomendadas. A maioria dos estudos comprovou que existe uma relação real e que essas atividades sedentárias devem ser limitadas a menos de uma ou duas horas por dia, de forma a permitir que sobre tempo suficiente para atividades mais árduas.

    Muitos estudos relacionados ao estilo de vida das pessoas e comportamentos adotados são aprendidos na infância e na adolescência e mantidos no adulto jovem. Os especialistas também concordam que hábitos de saúde que os adolescentes tendem a adotar estão relacionados ao fato de determinado comportamento ser aceitável entre seus semelhantes (isto é, pressão dos pares). As evidências científicas demonstram claramente que a atividade física regular e de intensidade moderada acarreta benefícios substanciais para a saúde (NIEMAN, 1999).

    Cada indivíduo adulto deveria acumular 30 minutos ou mais de atividade física moderada na maioria ou, de preferência, em todos os dias da semana. Uma maneira de atingir esse padrão é a caminhada acelerada de 3,2 km por dia. Os 30 minutos podem ser usados de maneira fracionada como subir escadas em vez do elevador, andar em vez de utilizar o carro em pequenas distâncias, exercícios localizados, pedalar na bicicleta ergométrica enquanto assiste televisão, cultivar a jardinagem, entre outros, vale qualquer coisa que proporcione movimento. O importante é evitar tempos prolongados sentados, porém exercícios praticados com maior intensidade trazem maiores benefícios.

    Contudo, a crescente industrialização e o desenvolvimento das novas tecnologias da informação trouxeram consigo o problema da comodidade e da baixa prática de exercícios físicos. Sendo assim, tornou-se mais comum encontrar pessoas sentadas em frente ao computador do que atletas praticando atividades físicas, e não há como negar nem ignorar esse fato crescente na atualidade. “No Brasil, 49,2% das pessoas são inativas, o segundo pior resultado entre os países do continente americano. Perdemos apenas para a Argentina, que tem 68,3% de sedentários. Apesar dos dados alarmantes, o estudo traz perspectivas positivas, inclusive vindas da tecnologia” (BACELO, 2012). Justamente por não haver forma de simplesmente recusar o avanço tecnológico é preciso ceder a esta realidade e utilizá-la em prol de uma melhoria da qualidade de vida através do movimento.

    Conforme reportagem especial do jornal Zero Hora, muitas pessoas estão utilizando a telefonia móvel como um estímulo para o exercício físico. Pode parecer contraditório, mas a realidade é que o avanço tecnológico pode contribuir para incitar seus usuários a se movimentarem. Existem aplicativos de celulares que narram as etapas do treinamento físico, avisando quantos quilômetros a percorrer ainda restam e quantos já foram cumpridos, além de proporcionar estímulos auditivos, através de frases ditas por uma voz eletrônica como “você está indo bem” ou aplausos que são disparados quando algum amigo curte a publicação no facebook.

4.     Qualidade de vida

    Nos anos de 1970 um norte americano compôs a Qualidade de Vida como um conjunto em harmonia de seis dimensões em nossa vida, valores espirituais e éticos; equilíbrio emocional; ambiente social, familiar e comunitário; desafio intelectual; ocupação vocacional; condicionamento físico e nutrição. Mais recentemente, Nahas (2001) propôs o que chama de “Pentágono do Bem-estar”, composto de nutrição adequada; atividade física; comportamento preventivo; relacionamento social e controle de estresse.

    O ponto importante de acordo com o American College of Sports Medicine (ACSM), é que

    Se as pessoas que levam uma vida sedentária adotassem um estilo de vida mais ativo, haveria um enorme benefício para a saúde pública e para o bem estar individual. Um estilo de vida ativo não requer um programa vigoroso e padronizado de exercícios. Ao contrário, pequenas alterações que aumentam a atividade física diária permitirão que os indivíduos reduzam seus riscos de doenças crônicas e poderão contribuir para uma melhoria da qualidade de vida (NIEMAN, 1999).

    Qualidade de vida significa várias coisas. Diz respeito a como as pessoas vivem, sentem e compreendem seu cotidiano. Envolve, portanto, saúde, educação, transporte, moradia, trabalho e participação nas decisões que lhes dizem respeito e determinam como vive o mundo (GONÇALVES e VILARTA, 2004). Portanto, conforme cita Minayo (2002), “é imprescindível exigir que o direito à qualidade de vida e aos bens sociais conquistados pela humanidade sejam socializados”.

    Minayo (apud GONÇALVES e VILARTA, 2004) identificou a expressão Qualidade de Vida (QV) como a figura do discurso conhecida como polissemia, isto é, quando uma única palavra ou um conjunto de vocábulos implica muitos sentidos. Assim, ao dizer Qualidade de Vida pode estar querendo indicar bem-estar pessoal, posse de bens materiais, participação em decisões coletivas e muito mais. De fato, são tão numerosos os sentidos possíveis que já se afirmou que qualidade de vida é daquelas palavras que, querendo dizer muito, acabam por pouco significar.

    Qualidade de Vida é uma noção eminentemente humana que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental, e à própria estética existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar. O termo abrange muitos significados, que refletem conhecimentos, experiências e valores de indivíduos e coletividades que a ele se reportam em variadas épocas, espaços e histórias diferentes, sendo, portanto, uma construção social com a marca da relatividade cultural (MINAYO apud GONÇALVES e VILARTA, 2004).

    Diante de tanta complexidade de concepções e práticas sobre qualidade de vida, visualiza-se o quanto há de controvérsias no que se refere a seus indicadores, isto é, em como medi-la. Autores respeitáveis, como Nahas, afirmam que a alteração do estilo de vida, de sedentário para ativo, acompanhado do abandono de hábitos admitidos como lesivos à saúde, como tabagismo e alcoolismo, melhora substancialmente a qualidade de vida das pessoas.

    Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a qualidade de vida caracteriza-se como “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e do sistema de valores em que vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações”. Em nosso país, iniciativas importantes, como a criação da Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV) veio dar um impulso na discussão do tema e que hoje já tem sub sedes em quase todos os Estados mais importantes do Brasil.

    Nos dias atuais, com a urbanização e a industrialização degradando o meio ambiente, são necessárias políticas e também atitudes que modifiquem o comportamento do indivíduo em relação à perda de sua qualidade de vida. É a partir da melhoria dos hábitos de vida como a prática regular de exercícios físicos, sobretudo adolescentes, adultos e adultos que estão envelhecendo, independentemente do sexo e da condição física pode se obter resultados significativos no desempenho orgânico geral dos praticantes, o que pode efetivamente contribuir para a qualidade de vida. Com o aumento da expectativa de vida, a qualidade deve ajustar-se aos anos acrescentados.

5.     Considerações finais

    Uma conclusão aceita por quase todos os especialistas é a de que os exercícios devem ser um hábito regular e contínuo. As pessoas não podem “repousar sobre seus louros” ou “deixar a grama crescer sob seus pés” e achar que os exercícios realizados no passado são suficientes para hoje (NIEMAN, 1999).

    Diante de tantas evidências, não podemos negar que a atividade física, os exercícios, a vida ativa, promove benefícios substanciais à nossa saúde e qualidade de vida. Nota-se, através da contextualização de citações de autores, que o abandono do sedentarismo não é só uma decisão individual, depende do ambiente físico e social que circunda a vida das pessoas.

    Para mudar este quadro, políticas públicas podem ser adotadas em diferentes cidades para melhorar as estruturas já existentes e incorporar novas a serviço da população.

    Redes sociais, como clubes de amigos para caminhar ou pedalar, aulas de ginástica ao ar livre, ambientes propícios como as ciclovias, melhor iluminação em parques e jardins, aumentando os espaços verdes e a segurança, entre outros. Com condições mais favoráveis, pessoas de diferentes grupos sociais podem se beneficiar sem gastos adicionais, proporcionando a todos uma melhor qualidade de vida.

Referências

  • BACELO, J. 10% das mortes estão ligadas ao sedentarismo. Zero Hora, p. 4-5, 18 jul 2012.

  • BOUCHARDT, C. Atividade Física e Obesidade. Barueri: Manole, 2003.

  • GONÇALVES, A.; VILARTA, R. (org). Qualidade de vida e atividade física – explorando teorias e práticas. Barueri: Manole, 2004.

  • HALLAL, P.C. et. al. Prevalência de sedentarismo nas mulheres adultas da cidade de São Leopoldo, Rio Grande do Sul, Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, nov/dez 2005, v. 21, nº 6, p. 1685-1695.

  • HALLAL, P.C. Prática de atividade física e sedentarismo em brasileiros: Resultado da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Ciência saúde coletiva, Rio de Janeiro, set, 2011, v. 16, nº 9, p. 3697-3705.

  • MENDES, R.A.; LEITE, N. Ginástica Laboral. Princípios e aplicações práticas. 2 ed. Barueri: Manole, 2008.

  • NIEMAN, D.C. Exercício e Saúde. São Paulo: Manole, 1999.

  • SHEPHARD, R.J. Envelhecimento, atividade física e saúde. São Paulo: Phorte, 2003.

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