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Afetividade entre professor e alunos no ensino fundamental, anos finais

La afectividad entre el profesor y los alumnos en la escuela primaria, años finales

 

*Acadêmica do Curso de Educação Física Licenciatura da UNIVATES.

**Mestre em Ciência do Movimento Humano, UFSM

Coordenador do curso de Educação Física Licenciatura UNIVATES, RS

Professor do Curso de Educação Física da UNIVATES, RS

Roberta Kunzler Schneider*

Derli Juliano Neuenfeldt**

beta_kschneider@hotmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O presente artigo trata-se de uma reflexão e de um relato do Estágio Supervisionado II -Ensino Fundamental- Anos Finais. Tem como tema a afetividade entre professor e alunos, vivenciados durante as aulas ministradas em uma Escola Estadual do município de Poço das Antas - RS. Inicialmente foi elaborada a proposta pedagógica a partir do estudo do PPP da escola, entrevistas realizadas com diretora, coordenadora pedagógica e professor titular das turmas do 6º ano e 6ª série, durante o dia 20/08 e 05/09/2012. Os conteúdos trabalhados durante os dois meses foram o Basquetebol, Voleibol, Rugby, Ginástica, Golfe, Jogos cooperativos e recreativos. Assim que as aulas práticas começaram a serem ministradas, houve a percepção de que os alunos possuíam grande resistência em dialogar com a estagiária e demais professores, agiam de forma estranha, como se estivessem com medo ou com vergonha. A partir da quinta semana de aula, os alunos começaram a agir de outra maneira, passaram a ser mais confiantes. Até a última semana em que foram ministradas as aulas, era visível quão diferente estavam seus comportamentos e atitudes. Sendo assim, pude notar a evolução que tiveram. Acredito que cada aula que ministrei foi uma vitória, para mim e para os alunos. Conseguir mudar hábitos, principalmente hábitos afetivos, foi uma tarefa árdua, porém não impossível e que consegui realizar. Sendo assim, concluo que o Estágio Supervisionado II foi uma tarefa árdua de ser realizada, mas muito gratificante e satisfatória.

          Unitermos: Estágio Supervisionado II. Afetividade. Comportamento. Satisfação.

 

Abstract

          The present article is a reflection and a report about “Supervised internship II”- Fundamental Level- Last Years, the theme is affection between teacher and students experienced by the academic Roberta Kunzler Schneider, during classes taken at a State School, in the city of Poco das Antas – RS. Firstly the pedagogical proposal was elaborated upon a reflection of the School “PPP” study, interviews realized with the principal, pedagogical coordinator and the sixth year and sixth grade titular teacher, during the days of August 20th and September 5th, 2012. The contents worked during these two months were: Basketball, Volleyball, Rugby, Gymnastics, Golf, Cooperative and recreational games. All the activities were focused to be developed in a recreational and cooperative way. As soon as the classes started to be given by me, I could notice that the students had a big resistance in having a simple talk with me and other teachers, they acted in a strange manner, as they were afraid or ashamed. From the fifth week of class, the students started to act in another way. They passed to be more confident. Until the last week that I gave classes, it could be seen how different their behavior and attitudes were. Thus, I could notice the evolution they had. I believe that each class that I gave was a victory, for me and for the students. Can change habits, mainly affective habits is a hard task, but it is not impossible and I accomplished it. So, I conclude that “Supervised internship II” was a hard task to be fulfilled, however very rewarding and satisfactory.

          Keywords: Supervised internship. Affection. Behavior. Satisfaction.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 187, Diciembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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A proposta de trabalho

    O curso de graduação em Educação Física Licenciatura da UNIVATES/Lajeado/RS possui três estágios num total de 420 horas, que buscam proporcionar aos acadêmicos vivências como docentes em todos os níveis de Ensino da Educação Básica.

    Este artigo tem por objetivo a reflexão e o relato do Estágio Supervisionado II – Ensino Fundamental- Anos Finais, realizado por mim, nas turmas de 6º ano e 6ª série, na Escola Estadual de Ensino Médio Poço das Antas, Poço das Antas/RS/BRA. O estágio ocorreu no período de 11/09 a 20/11/2012, com a carga horária semanal de quatro horas e dez minutos.

    Ainda a disciplina possui 150 horas distribuídas da seguinte forma: dez horas destinadas ao reconhecimento do contexto escolar, entrevistas com direção e professor de Educação Física, observações das turmas de estágio nas aulas de Educação Física, dez horas na elaboração da Proposta Pedagógica, trinta horas para realização de encontros gerais, vinte horas para realização de atividades extra-classe, vinte horas destinadas ao planejamento das aulas, dez horas de orientações individuais e dez horas para a elaboração do Artigo Final. Além disso, são realizadas, pelos professores-supervisores, visitas às instituições de ensino.

    A proposta pedagógica apresentada e discutida com os acadêmicos de Educação Física, além de ter o objetivo de oferecer experiência concreta de planejamento do ensino e de docência com alunos e alunas, buscou desafiá-los a trabalhar com conteúdos diversificados. O objetivo não foi negar as práticas já existentes, mas refletir sobre as possibilidades de se proporcionar novas vivências aos alunos. (WEIZENMANN e NEUENFELDT, 2003, p. 01)

    Assim, inicialmente propôs-se que os acadêmicos buscassem diálogo com os professores titulares das escolas, para saber se os mesmos gostariam que os acadêmicos desenvolvessem alguma atividade e/ou conteúdo específico para as futuras aulas. Posteriormente os acadêmicos deveriam optar em trabalhar algum conteúdo a mais, do que aquele proposto pelo professor.

    É válido lembrar que o estágio exige um envolvimento maior do que simplesmente “ir à escola dar aulas”. Deve ocorrer um envolvimento com a vida escolar. Já que é importante para o docente, vivenciar todas as atribuições que a profissão de ser professor exige, que não se restringem apenas às atividades em sala de aula. Por isso a importância das atividades extraclasse.

    Sendo assim, este artigo traz o relato e reflexões de uma experiência realizada por uma acadêmica do curso de Educação Física, através da proposta da disciplina.

As primeiras impressões da acadêmica na escola

    A escolha da escola para a realização do Estágio Supervisionado II -Ensino Fundamental- Anos Finais foi realizada por mim, acadêmica do curso de Educação Física. Fiz o estágio na escola que estudei durante onze anos, onde cursei o Ensino Fundamental e Médio. Ainda, estar familiarizada com a escola me passou mais segurança para estagiar no período de 11/09 a 20/11/2012.

    Os primeiros contatos que tive com escola foram estranhos, acreditava que as entrevistas com coordenação pedagógica, diretora e professor titular, reconhecimento da infra-estrutura e material disponível e as observações das aulas ocorreriam de outra forma, mais “leve”, isto é, estaria em casa novamente porém agora no papel de educadora. Talvez a troca de papel, foi a causa de tamanha “estranheza”. Porém, em uma das conversas, que tive no início das visitas com uma secretária e uma merendeira notei que elas sentiam algo parecido com o que eu estava sentindo. Elas relataram o seguinte:

    “É Roberta! Chega ser algo estranho em te ver vindo assistir aulas e conferir se escola está do mesmo jeito que deixastes há dois anos atrás”. (Descrição das atividades realizadas na escola, comentário informal da secretária da escola, 29/08/2012)

    “Quem diria menininha, que um dia eu te veria aqui como professora!”. (Descrição das atividades realizadas na escola, comentário informal da merendeira da escola, 29/08/2012)

    Imaginei que este sentimento de estranheza iria desaparecer assim que começasse a ministrar as aulas de Educação Física, até porque frequentei bastante a sala dos professores como aluna, principalmente no Ensino Médio, já que fazia parte do Grêmio Estudantil, e fui líder das turmas, enfim sempre havia algum motivo para ir até lá. Porém estava enganada, assim como o professor de Biologia, que relatou:

    “Nossa! Tu já vens aqui na sala “umas três semanas” e eu ainda acho estranho te ver aqui entre nós! Não que seja algo ruim, muito pelo contrário, mas ainda associo tua imagem como minha aluna e não como colega! Mas já estou me acostumando, não te preocupa. (risos)”. (Diário de Campo, nº 03,25/09/2012)

    É válido salientar que os professores, funcionários e diretoria me receberam muito bem, como se estivessem esperando pelo dia que voltaria para lá. Todos os professores que lá estão fizeram parte da minha formação educacional, pois são os mesmos professores que continuam atuando na escola. Acredito que isso foi de extrema importância para que eu pudesse realizar meu trabalho na escola de forma tranquila, prazerosa e segura.

    Ainda, referente à escolha das turmas, estas foram feitas de maneira com que eu pudesse aproveitar mais à tarde na escola, de maneira com que eu pudesse dar o número máximo de aulas nesse turno. Sendo assim, acabei escolhendo por duas turmas que tivessem aula no mesmo dia. Que foram as turmas do 6º ano – que tinha aula nos três primeiros períodos da tarde, e a turma da 6ª série - que tinha aula nos dois últimos períodos da tarde. Ainda nesse momento, a coordenadora pedagógica me informou que a turma do 6º ano era grande, no total de 33 alunos, sendo que eram bem agitados, já a turma da 6ª série era menor com 22 alunos, porém eram agitados de uma forma menos intensa. Ambas as turmas possuem aulas de forma mistas.

    Para a definição dos conteúdos a serem trabalhados, entrevistei o professor titular que pediu para desenvolver os conteúdos de basquetebol, voleibol e jogos recreativos, já que se tratava de duas turmas mais novas, que não possuíam muita vivência nas modalidades. Quando questionei de passar algo novo para eles como golfe ou ginástica ele aparentemente ficou com receio e respondeu que:

    “Roberta! As turmas são grandes e bem agitados, principalmente o sexto ano. Não que eu não queira que trabalhes essa modalidade, mas tenha cuidado, busque trabalhar bastante recreação com eles, pois são coisas que eles realmente gostam de realizar. Mas se tu tens vontade trabalhe com eles o que quiser, mas não esqueça de passar o basquetebol e o voleibol.” (Entrevista, 28/08/2012)

    Com base nas entrevistas que realizei com o professor de Educação Física defini o cronograma de atividades a serem desenvolvidas de forma com que eu pudesse proporcionar aos alunos novas vivências. Por fim os conteúdos definidos foram o basquetebol, jogos cooperativos e recreativos, o voleibol,o rugby, a ginástica e o golfe.

    Através das observações realizadas das aulas do professor titular, antes de iniciar a ministrar as aulas de ambas as turmas, repararei em alguns comportamentos das turmas. O 6º ano mostrou-se ser uma turma muito agitada, resistentes quanto ao trabalho misto e sempre tentavam “enfrentar” o professor. Um grupo de meninos mostrou-se muito desrespeitoso e sempre tentava de alguma forma incomodar ou fazer brincadeiras de mau gosto com os colegas mais novos. Já a turma de 6ª série mostrou-se ser uma turma mais comportada, calma, participativa, dinâmica, madura, democrática, sem resistência à questão do gênero e a inovações. Os alunos dessa turma possuem uma relação muito boa, não somente com o professor de Educação Física, mas principalmente entre eles. Também possuem um espírito muito brincalhão, mas não deixam isso prejudicar suas aulas.

    Em ambas as turmas eu já conhecia a maioria dos alunos, o que em minha opinião poderia dificultar um pouco as aulas que futuramente ministraria, devido ao fato deles me conhecerem como amiga, isto é conhecendo meu lado descontraído e mais despreocupada, fazendo com que não me levassem a sério. Porém ao mesmo tempo esse meu vínculo com os alunos me deixava mais tranquilizada, já que conhecia o jeito e alguns comportamentos de alguns alunos, o que poderia facilitar a forma que ensinaria os novos conteúdos para eles compreenderem melhor.

A afetividade entre professor e alunos

    O primeiro contato com ambas as turmas foi um momento único em minha vida. Eu nunca havia ministrado uma aula de Educação Física fora do contexto universitário.

    No dia em que entrei na sala, como professora, não sabia ao certo o que falar, como me apresentar, como me expressar ou como dirigir a palavra aos alunos. Inicialmente o professor titular me apresentou, falou da minha personalidade como aluna e pessoa. Esse momento de “introdução” da aula foi como um “acalmador” de pensamentos e sentimentos que estavam dentro de mim, pois ter trinta e três alunos a sua frente mais um ex-professor e ex-diretor seu, não era a primeira aula dos sonhos que eu havia imaginado.

    Assim que comecei a me apresentar, vi nos olhos de alguns alunos a expectativa que eu, de alguma forma acenasse com o olhar ou apenas os reconhecesse. Assim que terminei minha apresentação pedi para os alunos se apresentarem – falando seus nomes e o bairro em que viviam. Durante esse momento percebi que os alunos são realmente agitados e precisei pedir para eles ficarem em silêncio e ouvirem seus colegas.

    Já na turma da 6ª série todo esse momento ocorreu de forma natural, como se ali eu já estivesse há algum tempo. No momento inicial os alunos já mostraram sua boa educação.

    Nas primeiras aulas ministradas, em ambas as turmas, pude perceber que em todos os momentos os alunos tentavam chamar a atenção de alguma forma, tentavam excluir alguns colegas das atividades ou fazer piadinhas.

    Durante as atividades de contato físico, ouvi dois alunos comentarem entre si que:

    “Até parece ser legal ficar se encostando em qualquer um! Isso é algo muito chato!” (Diário de campo, aula nº 01, 6º ano, 11/09/2012)

    Pude perceber que havia bastante resistência dos alunos quanto à aprendizagem de conteúdos novos. Como podemos notar no comentário de um aluno:

    “Não quero aprender esses tais de fundamentos. Quero ir direto para o jogo, como sempre foi.” (Diário de Campo, aula nº 02, 6º ano, 18/09/2012)

    Ainda, resistência quanto o trabalhar com os colegas diferentes, isto é, colegas que eles não possuem tanta afinidade.

    “Aluno: Professora, não quero ficar nesse grupo! Ao ser indagado: Por que? Respondeu: Porque quero ficar com meus amigos!”. (Diário de Campo, aula nº 02, 6ª série, 18/09/2012)

    A partir desse momento pude perceber que teria um trabalho árduo pela frente. Pois se tratava de duas turmas grandes, com “resistências” iguais. Para tentar amenizar esses dois pontos, buscava conversas informais com os alunos, durante a prática das atividades da aula. Durante essas conversas notei que os alunos tentavam fugir seus olhares dos meus, como se estivessem com medo ou com receio, ainda toda vez que eu encostava neles, eles tentavam se esquivar. Eles realmente pareciam frios, sem sentimentos e com medo de agir de forma diferente:

    “Aluno: - Profe, não encosta em mim! Isso é meio estranho. Eu: - Por que? Aluno: - Sei lá! Eu: - Mas tu não encostas nos guris quando fala com eles? Aluno: -Sim, mas contigo é diferente. Eu: - (risos) Não é diferente é igual, pois também sou tua amiga e ainda professora.” (Diário de Campo, nº 03, 6º ano, 25/09/2012)

    Sabe-se que esses dois pontos de resistência dos alunos comprometem a aprendizagem, a troca de experiências e conhecimentos entre os alunos e professor-aluno. Seguindo essa linha de pensamento, Falkenbach (2002) apud Vygotsky (1996) fala que a interação do aluno com outro aluno, não igual a ele, são ideais para o avanço da aprendizagem.

    O vínculo estabelecido pelos alunos com os demais serve de trampolim para as suas novas aprendizagens, porque esta confiança afetiva lhe confere o necessário para que possam entender como importantes para si os novos modelos e os comportamentos que vêm aprendendo. (FALKENBACH, 2002, p.26)

    Cada aula ministrada, eu conseguia sentir o que os alunos estavam sentindo, isto é, eu conseguia notar os receios, medos e a insegurança que eles passavam pelo olhar. Passei a perceber que toda a agitação da turma do 6º ano era algo normal da idade, pois na idade deles eu também tinha comportamentos parecidos, porém o que eu não poderia deixar era eles terem falta de educação e desobediência.

    “Logo no início da aula, pedi para o aluno x se retirar da quadra poliesportiva e ir buscar seu caderno para descrever a atividade e me entregar como relatório no final da tarde”. (Diário de Campo nº 03, 6º ano, 25/09/2012)

    A turma da 6ª série me impressionava cada dia mais, pois semana após semana eles me recebiam melhor na sala de aula. Porém meu trabalho continuava em unir mais a turma, isto é, fazer com que todos trabalhassem mais unidos.

    “Nesta data fui recebida com abraços pela turma. Porém na primeira atividade desenvolvida os alunos não quiseram desfazer seus grupinhos, o que acabou gerando um pouco de desconforto para eles realizarem a atividade tranquilamente”. (Diário de Campo, nº 04, 25/09/2012).

    Cada aula que ocorria eu frisava a importância deles trabalharem juntos, cooperarem um com o outro, pois só assim as atividades que eu estava sugerindo ocorreriam de forma mais dinâmica. Ainda, incentivava o momento final da aula, o rito final, momento em que eles deveriam ficar em silêncio e escutar seus colegas falando sobre a aula.

    Segundo Falkenbach (1998) a capacidade de escuta só ocorre quando há o reconhecimento de um e de outro na relação. Isto é, quando os alunos, por intermédio do professor, percebem que estão vivenciando as mesmas atividades, porém possuem visões diferentes e através destas visões diferentes eles podem evoluir, ocorrendo o avanço da aprendizagem.

    Ainda, o rito final não só ajuda os alunos a perceberem que eles podem melhorar suas vivências e sua aprendizagem com os colegas. Esta capacidade de escuta é uma ferramenta para o professor, já que a mesma auxilia na percepção de “falhas” que estão ocorrendo na aula, ela ainda auxilia o professor a compreender o que está ocorrendo com seus alunos.

    Com capacidade de escuta que podemos perceber e respeitar a diversidade cultural, oferecendo ao diferente oportunidades de participar do diálogo intersubjetivo sem que o mesmo perca sua identidade. E óbvio que a capacidade de escuta não livrará o professor das dificuldades de gestão do seu "funcionamento". Estamos falando especificamente da gestão dos afetos e dos gostos pessoais e grupais presentes nas relações intersubjetivas. A capacidade de escuta facilitará essa gestão que, sabemos, influencia, inclusive, as estratégias didáticas dos professores. (MOLINA NETO e MOLINA, p 60, 2002)

    Sendo assim, o rito final, espaço para diálogo e escuta, não foi só um meio de aproximar os alunos como também foi uma grande ferramenta que utilizei para perceber onde estavam ocorrendo falhas e desunião da turma.

    Percebi que a partir da sexta aula, em ambas as turmas, os alunos começaram a evoluir quanto ao quadro de comportamentos. Notei que os alunos da 6ª série buscavam novos colegas para desenvolver as atividades, já no 6º ano houve uma grande evolução quanto à afetividade, pois os alunos passaram a me olhar nos olhos quando conversávamos e por muitas vezes eles me tocavam ou me abraçavam durante a aula.

    “Professora, queremos que hoje a senhora, ou melhor senhorita, forme os grupos ou duplas malucas, queremos trabalhar com outro colega que não seja o mesmo. Queremos mudar de hoje em diante. (Risos)”. (Diário de Campo nº 06, 6ª série, 16/10/2012)

    “Durante a atividade dois alunos me chamaram e quando os olhei fizeram o formato de coração com as mãos. Ao olhar precisei rir da cena, em seguida eles vieram até mim e abraçaram falando que eu havia sido a melhor professora deles até o momento, pois eu lhes entendia”. (Diário de Campo nº 07, 6º ano, 23/10/2012)

    Posso dizer que a partir da sexta semana que ministrei as aulas para as ambas turmas, eles obtiveram um quadro evolutivo muito bom, não somente quanto a afetividade como no trabalho em grupo, tiveram também evolução nas capacidades físicas e cognitivas.

    Creio que essas evoluções se deram por conta da afetividade. Pois antes, como já havia colocado anteriormente, eles pareciam frios e evitavam conversar comigo, nos últimos dias que ministrei as aulas, eles vinham conversar comigo e me buscavam para conversar ou brincar com eles. Ainda, creio que minha compreensão de certas atitudes infantis que eles tinham como rotina a realizá-las, fizeram com que me vissem como professora amiga deles, pois eu acabei tirando proveito desses momentos.

    “Professora, com certeza tu foi a melhor professora que já tivemos, pois foi a única que mostrou que importava com o que nós estavam sentindo ou pensando. Realmente tu se importou com nós e com nossa aprendizagem em todos os sentidos.” (Diário de Campo,6ª série nº 09, 13/11/2012)

    O que para muitos educadores pode ser uma falta de educação, infantilidade ou imaturidade, para mim era vista como apenas algo normal da idade, porém eles deveriam entender que certas brincadeiras tinham momento certo de acontecer e que as mesmas não deveriam prejudicar o “fluxo” da aula. Obviamente no início do estágio, eu reclamava muito do comportamento deles, porém passei a compreendê-los, já que eu também havia passado por isso e sabia que muito daqueles comportamentos eram um meio deles chamarem a atenção.

    De acordo com Machado (1995), o professor, no desempenho de sua função, pode moldar o caráter dos jovens e, portanto, deixar marcas de grande significado nos alunos em formação. Ele é responsável por muitos descobrimentos e experiências que podem ser boas ou não. Como facilitador, deve ter conhecimentos suficientes para trabalhar tanto aspectos físicos e motores, como também os componentes sociais, culturais e psicológicos. (GALVÃO, 2002, p. 67)

    Desta forma, o professor deve estimular os alunos as mais diversas situações, sendo essas situações afetivas, sociais, motoras ou psíquicas. O professor é o meio de formação do ser integral do aluno, isto é, o professor é responsável por “moldar” o aluno, dar a ele características únicas, por isso o professor deve ser amigo do seu aluno e não somente um professor sem sentimentos. Ainda, o professor deve causar ao aluno, boas e positivas impressões e ser afetivamente maduro com os mesmos.

    Novamente quero frisar a importância da afetividade entre professor e aluno através das palavras de Brait:

    O aprender se torna mais interessante quando o aluno se sente parte e contemplado pelas atitudes e métodos de motivação em sala de aula. O prazer pelo aprender não é uma atividade que surge espontaneamente nos alunos, pois, não é uma tarefa que cumprem com satisfação, sendo em alguns casos encarada como obrigação. Para que o professor consiga êxito entre os alunos, cabe uma difícil tarefa de despertá-los à curiosidade, ao aprendizado prazeroso, e à necessidade de cultivar sempre novos conhecimentos em meio às atividades propostas e acompanhadas pelo professor. (BRAIT, p.3, 2010)

    Por fim quero usar as palavras de Falkenbach (2002) que fala da importância da afetividade entre professor e alunos que busquei no meu estágio e que ajudaram muito os alunos na aprendizagem dos conteúdos trabalhados.

    A interação social do professor com o aluno e entre os alunos é essencial para a Educação Física Escolar, porque alude que o processo educativo deve estar voltado para ações e comportamentos diferentes, ou seja, o desenvolvimento de novas capacidades se inscreve quando os participantes se envolvem em práticas diferenciadas, não somente naquelas que os alunos vivenciam todo o tempo, mas, sobretudo, naquelas que promovem conhecimentos e vivências corporais diferenciadas do cotidiano e que despertem novas zonas proximais. (FALKENBACH, p.47, 2002)

O envolvimento das atividades extraclasse

    O intuito das atividades extraclasse é vivenciar desde a graduação as atribuições da profissão de professor, isto inclui participar de reuniões escolares, passeios, jogos em que os alunos participam, sejam estes jogos da escola, de nível municipal ou estadual, organização de um ambiente, enfim, são atividades que estejam relacionadas com a escola e que o professor efetivado realiza em um determinado momento de sua carreira.

    Para que as minhas atividades extraclasse tivessem tamanho envolvimento, antes mesmo de começar a estagiar procurei realizá-las de forma que me serviriam como experiência para um momento futuro.

    No dia vinte de agosto dei início a elas, comecei acompanhando as turmas nos JERGS 2012, etapa que ocorreu no município de Poço das Antas. Uma semana após, no dia vinte e oito de outubro participei na elaboração e participação da gincana escolar. No mês de novembro participei de duas atividades, sendo uma realizada no dia sete com o ensaio de uma dança que alguns alunos do 6º ano teriam que apresentar, posteriormente no dia treze com o acompanhamento das turmas no passeio com diferentes programações no município de Lajeado - RS. E no dia quatro de dezembro, organizei a sala de materiais de Educação Física.

    Durante a realização das atividades pude perceber que eu criava mais afinidade, afetividade, respeito e autonomia com os alunos e professores. Em uma das descrições das atividades extraclasse falei que:

    “Esse passeio foi um momento muito significativo para mim, pois funcionou como o fechamento do meu estágio. Passei bastante tempo com os alunos, eles me viram como amiga (companheira para encarar com eles seus medos de irem aos brinquedos) e professora (pessoa responsável, com quem podiam deixar seus documentos e demais pertences pessoais). O passeio foi muito importante para mim, pois consegui crescer profissionalmente e pessoalmente.” (Descrição do dia 13/11/2012)

    Percebi que estas vinte horas de atividades extraclasses tornaram-se prazerosas de serem desenvolvidas. Já que elas possibilitaram uma aproximação minha com alunos e demais professores. E que são de extrema importância para minha vida profissional e indiretamente para minha vida pessoal.

Considerações finais

    Deve se dar importância ao final de um trabalho árduo, a reflexão de cada momento realizado com ambas as turmas. Desde o momento da criação da proposta até o último dia das aulas práticas, foi um desafio enorme e uma conquista maior ainda realizada em minha vida.

    Pode-se dizer que eu não tive os melhores alunos, porém com certeza tive os principais e mais importantes alunos que um professor queira ter. Alunos que individualmente fizeram com que eu tivesse um crescimento, uma evolução em minha carreira.

    Por muitas e muitas vezes reclamei do mau comportamento dos alunos do sexto ano e elogiei os alunos da sexta série. Porém somente no final do estágio notei quão desafiador era ministrar as aulas para ambas turmas, pois de um lado havia uma turma grande, desobediente, arteira, brincalhona, insegura, desunida, imatura, irresponsável. Já do outro lado, havia uma turma média, isto é, uma turma que possuía momentos de desatenção e de brincadeiras porém unida, madura, responsável e obediente. Eram turmas totalmente opostas, em que os desafios eram diferentes. Pois numa era necessário trabalhar constantemente a união, afetividade, o poder e o não poder, fazer com que compreendessem que cooperar seria o melhor caminho a terem o que desejassem, cada dia que de lá saía era uma vitória, não por ter passado o conteúdo, mas pela evolução que os alunos tinham em seus comportamentos. Já na outra turma era desafiador, pois eles queriam sempre mais, sempre mais coisas novas, sempre boas explicações, exigiam de mim uma postura maior do que uma simples estagiária.

    Sendo assim, possuía em minhas mãos dois desafios, ou melhor duas metas, que creio que alcancei com êxito. Já que entrei em ambas turmas com alunos de um jeito e ao me despedir deles via em cada um deles o crescimento pessoal que havia ocorrido neles. O que com certeza me deixou muito orgulhosa.

    O estágio supervisionado é um momento em que nós acadêmicos possuímos para crescermos e aprendermos com nossos erros e acertos. Durante o mesmo, vivenciamos situações inusitadas e corriqueiras, cada situação trazendo uma nova experiência importante para o nosso futuro.

    Sendo assim o estágio é uma ferramenta que cria experiência para nossa vida futura. É um dos momentos mais importantes na vida acadêmica. Ainda, através do mesmo podemos mostrar o nosso talento, nossa vocação e criarmos amizades que levaremos para a vida inteira. Por fim, o estágio é uma forma de quebrarmos um pouco os paradigmas que estão inseridos nas aulas de Educação Física. É tentar fazer o novo e trazer o novo, mesmo que esse novo não funcione tão bem, devemos aproveitar o estágio para levarmos novas vivências corporais aos alunos.

    Concluo que o papel do professor não é só de ministrar aulas ou educar. Sabemos que existem tipos de professores. Sendo que estes tipos de professores estão firmemente impostos em nossa sociedade. Sendo que são três os tipos de professores. O primeiro, querido pelos pais, pois é energeticamente firme com suas palavras e segue friamente as regras impostas pela escola. Geralmente este é o professor visto pela sociedade como o professor que tem respeito dos alunos, porém sabemos que só são respeitados, pois os alunos temem em se expressarem para eles. E temos o professor “boa pinta”, visto pelos pais como o professor irresponsável e imaturo, e é visto pelos alunos como o “bonzinho”, pois o professor não possui nenhum comando de voz sobre nenhum aluno. Sabemos que este professor é “bonzinho”, pois não possui segurança em enfrentar um aluno ou possui medo de que algum aluno reclame para a direção. Sabemos que nenhum destes professores são de fato um professor. E o terceiro tipo, que é o tipo mais raro e menos lembrado pela sociedade é o professor enérgico e “boa pinta”, isto é, um professor que segue as regras e controle da turma, e ainda usa brincadeiras e releva alguns comportamentos dos alunos. Ainda é o professor menos lembrado pelos alunos e quadro de professores, apesar de ser o professor mais “completo”.

    Há muitos anos atrás, os professores eram vistos como pessoas cultas e de extrema importância na sociedade já que eram provedores de sabedoria e possuíam o poder e o direito em suas mãos. Atualmente os professores andam mais desqualificados, não vencem tanta informação e só possuem deveres a cumprir, e os alunos possuem o poder e o direito em suas mãos e não possuem obrigação.

    Esta reflexão que estou fazendo, surgiu em minha mente a partir da sexta aula que ministrei. Pois me dei conta que o professor na sociedade atual, não precisa ter tanto poder em suas mãos ou ter mais direitos, como havia há alguns anos atrás. O aluno por sua vez precisa seguir mais seus deveres e um pouco de seus direitos.

    Nossa educação vive um momento caótico. Existem muitos casos de aluno matando aluno, aluno batendo no professor, professor não ministrando aulas descentes. E ninguém querendo nada sério. E como mudar essa realidade? Creio que um meio mais simples e talvez eficaz seja de o professor ceder, isto é, assumir seu papel de professor. Professor deve ser amigo, deve ser companheiro, deve ser um irmão mais velho que os alunos queiram ter e ainda com muito conhecimento para distribuir em suas aulas. Deve-se quebrar alguns paradigmas e ver o mais simples, que o professor é um ser acolhedor, amigo e principalmente possui muitas coisas a ensinar aos alunos, seja de forma mais leve (com brincadeiras) ou um pouco enérgica (quando necessária). Pois somente assim, conseguiremos mudar o comportamento dos alunos ditos “indisciplinados”. Digo isso, pois foi essa a maneira que encontrei para tornar minhas aulas com os alunos do sexto ano mais agradáveis e divertidas e a forma de deixar os alunos da sexta série mais flexíveis e aceitarem o novo.

Referências bibliográficas

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