Universidade e o desenvolvimento
regional La universidad desarrollo regional deportivo: posibles aportes |
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Graduado em Geografia e Educação Física, especialista em Didática e Docência Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade do Contestado, UnC (Brasil) |
Douglas Tajes Junior |
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Resumo O presente artigo pretende elucidar algumas colocações referentes ao papel das Universidades sobre o desenvolvimento regional desportivo. Sabendo que, nesta década, o Brasil será sede de dois megaeventos esportivos (Copa do Mundo FIFA 2014 e Olimpíadas de 2016), pergunto: existe algo que as Universidades possam fazer para adensar o desenvolvimento regional desportivo? Sendo a Universidade uma instituição que socializa cultura e conhecimento através do ensino, o faz porque produz saberes através da pesquisa e o dissemina através da extensão para a totalidade da sociedade. As atividades físicas e esportivas formam um conjunto de atividades em que as universidades têm focalizado sua atenção. E, isso pode ser fomentado pela abordagem da hélice tríplice. O objetivo do estudo é fazer uma analogia sobre as possíveis contribuições da Universidade para o Desenvolvimento Regional Desportivo. A metodologia empregada fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, de perfil qualitativo baseada em dados primários e secundários. É fundamental que ocorra uma fusão entre os três atores universidade-indústria-governo para a alavancagem do desenvolvimento regional desportivo brasileiro, pois é, função da universidade garantir o acesso adequado e permanente aos cidadãos à produção científica acumulada no âmbito acadêmico. Ainda mais, em um país com grandes diferenças regionais esportivas entre os Estados como acontece no Brasil. Assim outras regiões poderiam também ser vistas como territórios inovadores esportivos, o que auxiliaria também no quesito do desenvolvimento regional brasileiro. Unitermos: Universidade. Desenvolvimento regional e desporto.
Abstract The present article intends to elucidate some referring ranks to the paper of the Universities on the porting regional development. Knowing that, in this decade, Brazil will be headquarters of two sports mega events (World Cup FIFA 2014 and Olympics Games 2016), I ask: exists something that the Universities can make to accumulate the porting regional development? Being the University an institution that socializes culture and knowledge through education makes, it because it produces to know through the research it spreads and it through the extension for the totality of the society. The physical and sports activities form a set of activities where the universities have focused its attention. And, this can be fomented by the boarding of the triple helix. The objective of the study is to make an analogy on the possible contributions of the University for the Porting Regional Development. The methodology is based on the dialectic proposed by Hegel, the based qualitative profile in primary and secondary data. It is basic that a fusing occurs enters the three actors university-industry-government for the leverage of the regional development porting Brazilian, therefore is, function of the university to guarantee the adequate and permanent access to the citizens to the accumulated scientific production in the academic scope. Still more, in a country with great sports regional differences between the States as it happens in Brazil. Thus other regions could also be seen as esportivos innovative territories, what it would also assist in the question of the Brazilian regional development.Keywords: University. Regional development and sport.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 186, Noviembre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Nesta década, os principais eventos esportivos mundiais serão realizados no país em um período de cinco anos. Dentre eles, podemos destacar: a Copa do Mundo FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos Rio 2016. Confira o quadro abaixo:
Fonte: Ministério do Esporte, 2010
Sem dúvida, tais eventos irão causar um impacto considerável em diversas áreas. Apenas para se ter uma idéia, um estudo sobre o impacto econômico da Olimpíada realizado pela Fundação Instituto de Administração, encomendado pelo Ministério do Esporte (2010), mostra que os Jogos movimentaram cinqüenta e cinco (55) setores diferentes da economia. Só a Copa do Mundo FIFA 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 podem injetar entre R$ 80 bilhões e R$ 130 bilhões na economia até 2027. Estamos, portanto, frente ao ponto de partida para uma integração entre universidade e seu entorno desportivo em escala regional, que é a compreensão dos respectivos papéis dos diversos atores que compõem esse cenário. A mobilização de uma região, produzindo aquilo que podemos chamar de movimento endógeno na busca do desenvolvimento regional. E a universidade, deve auxiliar, mostrando seu empenho, no papel de detentora do conhecimento e adensando a construção de um projeto de desenvolvimento para a sua região. Não esquecer que, o processo de desenvolvimento não pode ser reduzido ao desenvolvimento econômico e que os aspectos, educacionais, culturais, sociais, políticos, artísticos, esportivos, ambientais, também fazem parte desse plano estratégico de desenvolvimento regional.
O objetivo do estudo é fazer uma analogia sobre as possíveis contribuições da Universidade para o Desenvolvimento Regional Desportivo. O presente estudo realizado disponibiliza um viés pouco elucidado na bibliografia, pois trata de assuntos de extrema complexidade como: universidade e desenvolvimento regional desportivo. Essas novas concepções podem subsidiar a elaboração de trabalhos futuros, através da sistematização do conhecimento gerado na efetivação do estudo, o que será possível a partir do cruzamento de indicadores e variáveis, sobre fatores e agentes que contribuem para as possíveis contribuições da Universidade para Desenvolvimento Regional Desportivo.
O trabalho se apresenta da seguinte maneira: na segunda seção trataremos da universidade e cultura esportiva. Na terceira, ciência e alto rendimento. Na quarta, profissionalização já. A conclusão encerra o trabalho.
Material e métodos
A metodologia empregada fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, será de perfil qualitativo baseada em dados primários e secundários. Primários oriundos de pesquisa documental. A característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ser recolhidas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois (MARCONI e LAKATOS, 1996, p. 62). E secundários oriundos de pesquisa bibliográfica.
Resultados e discussão
Universidade e cultura esportiva
A Universidade, conforme se pode observar pelo próprio nome, pressupõe a universalidade de conhecimentos. A idéia de universidade está acompanhada da idéia de multidisciplinaridade, tornando-se claro que deve haver a contemplação de todas as áreas do conhecimento científico. Por esse sentido, para criação de uma nova universidade é exigido pelas autoridades educacionais, à atuação em três áreas do conhecimento. Através dos conhecimentos científicos que manipula, a universidade age em três frentes diversas. Uma delas é o ensino, permitindo formação profissional, técnica científica às pessoas. Outra é a pesquisa, a base para a busca e descoberta do conhecimento científico. É através da pesquisa realizada pela universidade que a ciência se desenvolve em busca do conhecimento da realidade. Finalmente, mas não necessariamente em último lugar, considera-se como importante a extensão universitária. Esta se materializa na prestação de serviços à sociedade e na integração com a mesma (OLIVEIRA, 2001).
A Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) proclamou 2005 como o Ano Internacional do Desporto e da Educação Física. O organismo internacional preconiza a utilização de atividades físicas para promover a educação, a saúde, o desenvolvimento e a paz, buscando atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio que visam até 2015: a redução das taxas de pobreza e de fome, a garantia de acesso de todas as crianças ao ensino primário e o combate à AIDS (INSTITUTO DE DESPORTO DE PORTUGAL, 2005).
Os governos, as diversas agências das Nações Unidas e as instituições ligadas ao esporte (Universidades) são convidados a promover o esporte e a educação física para todos, incluindo-os como meio para alcançar as metas de desenvolvimento acordadas internacionalmente. Nesse sentido devem trabalhar coletivamente para que as atividades físicas apresentem oportunidades para o exercício da cooperação e da solidariedade para promover a cultura da paz e da igualdade entre os sexos e social, e defender o diálogo e a harmonia. São convidados a: reconhecer o valor das contribuições do esporte e da educação física para o desenvolvimento econômico e social; encorajar a construção e restauração de instalações esportivas; baseado no levantamento das necessidades locais, promover atividades físicas como uma ferramenta para o desenvolvimento da saúde, educação, sociedade e cultura; fortalecer a cooperação e a parceria entre a família, a escola, os clubes, as comunidades locais, os líderes, os setores público e privado, para assegurar a complementaridade de esforços e fazer o esporte e a educação física acessível a todos; e assegurar que os jovens talentos possam desenvolver seu potencial atlético sem ameaças à sua segurança e integridade física e moral (NAÇÕES UNIDAS, 2003).
Apesar de instrumentos internacionais advogarem o esporte como direito humano fundamental para todos, portanto não apenas um meio, mas também um fim em si mesmo, o direito ao esporte e à brincadeira é freqüentemente negado. Isto ocorre por causa da discriminação e pela negligência política, exemplificada pelo declínio nos gastos com a educação física e pela falta de espaços apropriados para o esporte. No plano do indivíduo, a prática esportiva é vital ao seu desenvolvimento integral promovendo sua saúde física, emocional e social. Essa fornece oportunidades de lazer e auto-expressão, benéficas a todos e em especial a jovens desfavorecidos. Fornece alternativa saudável a atividades prejudiciais como o uso de drogas e a criminalidade. Além de todos esses fatores, a prática de atividades físicas tem relação direta como à melhoria dos desempenhos acadêmicos de crianças e jovens. O objetivo das Nações Unidas de utilizar o esporte como aliado não é a criação de novos campeões ou o desenvolvimento do esporte, mas a utilização do esporte como facilitador da participação, da inclusão e da cidadania, inserindo-o em atividades mais abrangentes do desenvolvimento e da construção da paz (NAÇÕES UNIDAS, 2003).
Dentre algumas das estratégias para enfrentar o grande problema da exclusão social, do absenteísmo, da solidão e da pobreza estão as que contam com o desporto como meio. Entretanto, são grandes os desafios para a inclusão de crianças, jovens, adultos e idosos às diferentes ambiências da prática desportiva, em virtude das dificuldades de acesso, oportunidades e conscientização para a sua prática (SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010).
O Perfil dos Municípios Brasileiros (IBGE, 2008), mostra como o Brasil está longe de proporcionar a toda a população o simples acesso ao esporte. Segundo a pesquisa, 69% das cidades têm ações, programas ou projetos de esporte (educacional). O dado, porém, não leva em conta a eficiência de cada iniciativa ou a qualidade das instalações e a capacitação dos professores. Outra estatística (IBGE, 2008), é mais precisa para indicar esse longo caminho a ser percorrido. Apenas 53% das escolas públicas brasileiras têm área para quadras esportivas. Essa carência pode, perfeitamente, ser resolvida com o aproveitamento de espaços direta ou indiretamente ligados ao poder público. As Universidades Federais, Estaduais e Municipais, que possuem espaços destinados para essa finalidade, devem, através de algum departamento competente (muito provável, o de Educação Física) na medida do possível, ofertar esses espaços, para programas ou atividades esportivas, destinados a comunidade, e assim, ofertando horas de estágios para que seus acadêmicos possam se defrontar com a realidade da profissão e possibilitando uma empatia com a parcela da sociedade que se identifica com esses hábitos desde a tenra idade e formando assim uma cultura esportiva, que possa perdurar por longos anos. E as universidades que não possuírem ambiências para a prática desportiva, tem um papel muito importante em “abrir certas portas”, a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB), órgão ligado ao poder público, possui 1.556 unidades espalhadas pelo país, todas com quadras poliesportivas. O Serviço Social da Indústria (SESI), entidade ligada à indústria, mas financiada com dinheiro público, possui mais de três mil áreas esportivas. As Universidades podem contribuir “abrindo certas portas”, elaborando projetos para execução de atividades de cunho esportivo nessas áreas, para crianças e jovens em idade escolar. Pois, é difícil imaginar que não existe nestes mais de 4.500 equipamentos esportivos algum tipo de ociosidade. Desta forma, as universidades (principalmente as espalhadas pelo interior do Brasil), podem realizar um diagnóstico da situação esportiva do seu território e atuar efetivamente na sua solução. Além de exercer um papel preponderante no desenvolvimento regional desportivo e na descentralização da produção do conhecimento e do saber.
O investimento de esporte na base escolar cria a pré-condição para desenvolver a cultura esportiva. Com profissionais capacitados, apoiados por uma universidade (produção do conhecimento e do saber). O passo seguinte é identificar talentos ainda dentro da escola. Depois, encaminhá-los há um programa de desenvolvimento dessa habilidade, também supervisionado por uma universidade. Mas, não mais como parte da aula de Educação Física, mas como uma atividade extracurricular, voltada para o alto rendimento. Estes três passos estão na base dos dois modelos esportivos mais bem-sucedidos das Américas: Estados Unidos da América (EUA) e Cuba. Que construíram sua excelência seguindo modelos similares, com base na valorização do esporte educacional.
Até a revolução castrista, em 1958, a prática esportiva na ilha era restrita a sócios de clubes freqüentados por ricos. O panorama começou a mudar com a inclusão da Educação Física no Sistema Nacional de Educação. Da prática massiva nas escolas eram pinçados possíveis talentos, encaminhados a entidades de iniciação desportiva, institutos de aperfeiçoamento técnico e, por fim, centros de alto rendimento (todos com algum tipo de amparo da universidade). Nos EUA, o trabalho de esporte educacional é o ponto de partida de um caminho que começa na escola primária, passa pelo Ensino Médio e desemboca na universidade. Entre 2008 e 2009, 52% dos estudantes do Ensino Médio participaram de atividades esportivas em seus colégios. O EUA, é o único país do mundo onde os atletas para se tornarem profissionais, precisam participar de uma Liga Universitária. Uma prova do poder da universidade e a cultura esportiva. Observe a figura 1.
Figura. Estrutura do basquetebol dos EUA.
A estrutura do basquetebol dos EUA lembra uma grande pirâmide: na base está o basquetebol das escolas; logo acima, o universitário e as ligas profissionais de segundo escalão; e, no topo, os clubes profissionais da NBA.
Com esse exemplo, podemos ver qual a contribuição das universidades para o desenvolvimento regional do desporto nos EUA.
Ciência e alto rendimento
Além da importância do esporte na base: o investimento público ou privado. Mas precisamos da formação de ídolos. É fundamental que o acesso ao esporte seja garantido, mas a intenção e a vontade de praticá-lo não surgirão espontaneamente. É este o papel do esporte de alto rendimento na equação.
Localidades que possuem universidades tendem a ter um bom contingente de massa crítica, o que de certa forma, atrai as equipes esportivas de alto rendimento para usufruir desse conhecimento e infraestrutura, para a sua preparação. Vou citar um exemplo hipotético: uma equipe de futebol profissional está se preparando para a disputa de um campeonato estadual, mas, não possui equipamentos essenciais para a realização de testes importantíssimos no início dos treinamentos para mensurar o nível da condição física de seus atletas. Então, através de uma universidade que, possua esses aparelhos, o clube pode firmar uma parceria que é vantajosa para ambos. O clube usufrui da infraestrutura da universidade que necessita e a universidade, usufrui dos dados obtidos destes testes para publicações de trabalhos científicos. Corroborando desta forma, com a produção de que ela necessita e auxiliando o processo de desenvolvimento regional desportivo.
Outro exemplo: o esporte australiano saiu arrasado dos Jogos Olímpicos de Montreal, em 1976. No quadro de medalhas, uma prata e quatro bronzes. Na volta para casa, iniciou-se o debate sobre formas de aprimorar a formação de atletas. Em 1981, foi inaugurado o Instituto Australiano de Esporte (AIS), que, com uma equipe multidisciplinar, investiu pesado em pesquisa científica e desenvolvimento tecnológico e viu assim a história mudar. Foram três Olimpíadas para os australianos se fixarem entre os dez primeiros no quadro de medalhas. Por trás do AIS está a Comissão Australiana de Esportes, órgão responsável, entre outras coisas, por distribuir bolsas de estudo para o Instituto. Entre as contrapartidas exigidas está o desenvolvimento acadêmico, humano e esportivo no atleta (PLATONOV, 2008). A universidade está atrelada ao desenvolvimento regional desportivo, pois, só existe uma mudança de patamar se isso estiver pautado em ciência e tecnologia. E o melhor lugar para isso acontecer é na universidade.
Profissionalização já
Um novo viés se abre para as universidades. É fundamental o investimento em profissionalização, desde o gestor mais ligado a quem pratica esporte até aquele que irá definir as diretrizes de governos, clubes e federações. A primeira ponta a ser aprimorada é o professor de Educação Física. Pois, é ele o responsável por levar aos alunos todo o projeto de desenvolvimento regional desportivo. De nada adianta um amplo programa de massificação se o responsável por conduzir o processo não está apto para tal função. A Carta Brasileira de Educação Física (2000) exprime a necessidade de professores capacitados a disseminar entre os alunos os valores éticos, morais e sociais inerentes ao esporte.
Outro exemplo, diz respeito diretamente aos escritórios das entidades de prática e gestão. Em um repetição do que ocorreu em outros setores da economia, a profissionalização do esporte criou uma série de novos empregos sem que houvesse mão de obra qualificada suficiente.
Há pouco mais do que sessenta cursos de Administração Esportiva pelo Brasil a fora, a maioria situada em São Paulo. Ampliar a rede é fundamental para a formação de novos gestores, assim como desenvolver um currículo de fato voltado para a gestão esportiva, e não, para apenas palestras com ex-atletas de sucesso, como vem acontecendo.
A responsabilidade tem de ser compartilhada entre poder público, universidades e, sobretudo, entidades ligadas ao esporte. Clubes, federações e confederações. Essas poderiam firmar parcerias com as universidades e ajudar a custear as despesas dos cursos, para oportunizar uma formação acadêmica aos seus gestores como, criar uma rede de troca de informações.
No Brasil não vejo muita preocupação com um assunto tão sério e, lembrando, estamos às vésperas de sermos o ponto de encontro do esporte mundial nessa década.
No entanto, uma grande iniciativa no campo da gestão desportiva foi à criação da Aliança Internacional de Gestão do Desporto (AIGD), cuja reunião inaugural deu-se na cidade de Guimarães, Portugal, em junho de 2009. José Pedro Sarmento Lopes, professor da Universidade do Porto, com o auxílio de seus colaboradores efetivou o projeto da AIGD.
A Aliança pretende-se tornar-se num movimento cívico de todos os que se expressem em Português e Espanhol ao qual poderão aderir instituições governamentais e não governamentais, empresas públicas e privadas, universidades e escolas, associações de classe, sociedades científicas, membros do movimento associativo desportivo e pessoas individuais que se assumam como promotores do desenvolvimento Humano através do Desporto. (SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010).
Pires; Lopes (2001) atentam para o fato de que a abordagem apenas pragmática da gestão do desporto, tanto na investigação como no ensino, vem sendo superada por uma perspectiva que inclua, na abordagem dos problemas, uma visão filosófica. A utilização apenas de uma racionalidade instrumental é ineficaz para a compressão dos processos de gestão desportiva. Há de se lançar mão de uma perspectiva que observe também uma racionalidade substantiva, ligada aos valores, aos sentidos e significados e não apenas à técnica. Nessa perspectiva, a preocupação com a gestão desportiva valoriza os aspectos funcionais, mas não descarta os sentidos e significados que os processos de gestão adquirem no quotidiano do mundo social.
Silva; Terra; Votre (2006) apresentam uma proposta de formação para o empreendedorismo social, tendo a atividade física, em suas múltiplas manifestações, como fator indutor de desenvolvimento e não vindo a reboque dele. Utilizam o argumento da hélice tríplice para estudar as relações entre universidade-indústria-governo no âmbito do desenvolvimento local, com ênfase na responsabilidade social. Para isso, destacam o papel da universidade e sua forma de atuação, que deve passar a compreender espaços em contextos mais abrangentes. Para eles:
O modelo descritivo e explicativo proposto por Etzkowitz e Leydesdorff (1996) apóia-se na concepção de que as regiões são vistas e interpretadas pelas universidades e empresas como espaços de inovação e não apenas como áreas geográficas, geoeducacionais, culturais ou empresariais. Portanto, a interação operada e esperada pela hélice tríplice se caracteriza pela presença das universidades como instituições de ciência e tecnologia com responsabilidade social quanto ao retorno de suas pesquisas, com perfil empreendedor e que atuam em conjunto com parceiros governamentais e empresariais (das indústrias e do comércio) como empreendedores cívicos, com vistas a construir estratégias para o surgimento e crescimento de novos espaços pró-ativos nas regiões em que estão inseridos.
Voltando à criação da AIGD, trata-se de um marco na área de gestão do desporto, pois cria um espaço de consenso, onde, diferentes atores poderão interagir e construir sinergias que visam propiciar um espaço de inovação no campo desportivo. O desenvolvimento, segundo o modelo da hélice tríplice, ocorre em três espaços mentais não-lineares: conhecimento, consenso e inovação.
O espaço de conhecimento provê arranjos estruturais para o saber, transformando o saber tácito em explícito; o espaço de consenso estimula o fazer, levando os atores a trabalharem juntos; o espaço de inovação favorece a organização de novos e/ou velhos elementos de forma criativa, fortalecendo o processo de inovação. Os espaços de consenso e inovação constroem-se cooperativamente nas parcerias entre os atores do desenvolvimento (ETZKOWITZ, 2005 apud SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010).
A abordagem da hélice tríplice, desenvolvida a partir dos trabalhos pioneiros de Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff (LEYDESDORFF E ETZKOWITZ , 1996, 1998 apud MELLO, 2004). Ela se fundamenta no entendimento de que o conhecimento se desenvolve dinamicamente, fluindo tanto no interior das organizações como através das fronteiras institucionais e de que a geração de riqueza pode se dar através do conhecimento produzido por arranjos institucionais entre “organizadores” do conhecimento, tais como universidades, indústrias e agências governamentais. Ela assume que a base de conhecimento e o seu papel na inovação podem ser explicados em termos de mudanças nas relações entre universidade (universidade e outras instituições produtoras de conhecimento), indústria e governo (local, regional, nacional e trans-nacional).
No modelo da hélice tríplice, a interação entre os atores promove uma infraestrutura de conhecimento que alicerça o desenvolvimento das regiões. As relações que se processam permitem às instituições exercerem o papel da outra, produzindo organizações híbridas que emergem das interfaces. Observe a figura 2.
Figura 2. Modelo da hélice tríplice de relações entre Universidade-Indústria-Governo
Fonte: Etzkowitz & Leydesdorff (2000)
A abordagem da hélice tríplice situa a dinâmica da inovação num contexto em evolução, onde novas e complexas relações se estabelecem entre as três esferas institucionais (hélices) universidade, indústria e governo, relações estas derivadas de transformações internas em cada hélice, das influências de cada hélice sobre as demais, da criação de novas redes surgidas da interação entre as três hélices; e do efeito recursivo dessas redes tanto nas espirais de onde elas emergem como na sociedade como um todo (MELLO, 2004).
Da interação entre as três hélices surgem novas camadas de organizações e redes trilaterais. Estamos falando, por exemplo, de programas de pesquisa cooperativos (redes) envolvendo o mundo acadêmico, o mundo industrial e a governança pública.
A abordagem da hélice tríplice ressalta que, além de sua subordinação as especificidades locais, o imperativo, por parte dos atores institucionais, de se adaptarem as situações contingências em curso, de passarem a assumir novos papéis e novas funções. Na sua dinâmica, esses novos relacionamentos engendram efeitos retroativos e reflexivos, abrindo espaço para o surgimento de novas camadas institucionais, de novos atores e de novas relações, numa transição sem fim (MELLO, 2004).
Na medida em que o conhecimento se torna cada vez mais um insumo importantíssimo para o desenvolvimento sócio-econômico é natural que a universidade, enquanto um espaço institucional de geração e transmissão de conhecimentos seja vista e analisada como um ator social de destaque (MELLO, 2004).
A tese da hélice tríplice é de que a interação universidade – indústria – governo é a chave para melhorar as condições para inovação numa sociedade baseada no conhecimento.
O argumento da hélice tríplice introduz a tese de que a universidade tem um papel preponderante na sociedade baseada em conhecimento (ETZKOWITZ & LEYDESDORFF, 2000 apud SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010), diferentemente, de outros modelos, que preconizam as empresas/indústrias como líderes na inovação (LUNDVALL, 1992; NELSON, 1993 apud SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010) ou o Estado (SÁBATO & MACKENZIE, 1982 apud SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010).
O modelo das três hélices propõe que as universidades devem preparar profissionais para promoverem a inovação e o desenvolvimento; os governos devem criar aperfeiçoar e consolidar políticas públicas e mecanismos de fomento; e as indústrias, devem integrar o esquema, com base na responsabilidade social, como parceiras dos dois outros atores (SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010).
Conforme Etzkowitz e Leydesdorff (2000) apud (SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010), o modelo da hélice tríplice-1 apresenta uma configuração semelhante ao proposto no triângulo de Sábato (1975), em que o governo engloba a universidade e a indústria, direcionando a relação entre eles. Esse modelo é considerado estático.
O segundo modelo, a hélice tríplice-2, apresenta um distanciamento entre a universidade, a indústria e o governo. Configura-se como um modelo laizzez-faire. As instituições produzem um movimento no desenvolvimento econômico e social, mas atuam isoladamente (SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010).
O terceiro modelo, e o que até o momento vem sendo utilizado com mais ênfase para explicar a mudança paradigmática da sociedade industrial para a sociedade do conhecimento é a hélice tríplice-3. Neste caso, a interação entre as instituições se realiza de forma efetiva, promovendo uma infraestrutura de conhecimento que alicerça o desenvolvimento das regiões (SILVA; LOPES; CARVALHO, 2010).
A realidade brasileira é muito diferente, falta ao país uma bem articulada interação universidade – indústria - governo que possa ser verdadeiramente qualificada como uma hélice tríplice. De qualquer forma, o modelo da hélice tríplice pode ser usado como um conceito ex- ante, uma ferramenta estratégica para abrir caminhos para um processo de catch up, com um objetivo último de se criar uma sociedade do conhecimento (ETZKOWITZ e MELLO, 2004). E, isso pode ser iniciada adotando essa perspectiva do argumento da hélice tríplice para o desenvolvimento regional desportivo.
Conclusões
Como pudemos observar, temos muito que avançar nesse quesito do desenvolvimento regional desportivo. Os atores ligados às universidades têm que realizar um esforço para extrapolar os muros da universidade e levar o conhecimento para as demandas da realidade social externa a esses muros.
Estamos diante de um momento propício para discutir o desenvolvimento do esporte. Os megaeventos esportivos vão atrair a atenção da sociedade, da mídia e devem ser um momento de encorajamento e incentivo aos jovens quanto à prática de exercícios físicos e esportivos. E a universidade deve encabeçar essa discussão, pois ela como detentora do saber, possui requisitos para oportunizar uma mudança de paradigma, expondo novos olhares sobre este prisma. Formação, elaboração de projetos e publicações e eventos devem ser esses novos olhares, para que possa dessa maneira surgir um movimento de descentralização esportiva que oportunize o desenvolvimento regional desportivo.
É fundamental que ocorra uma fusão entre os três atores universidade-indústria-governo para a alavancagem do desenvolvimento regional desportivo brasileiro, pois é, função da universidade garantir o acesso adequado e permanente aos cidadãos à produção científica acumulada no âmbito acadêmico. Ainda mais, em um país com grandes diferenças regionais esportivas entre os Estados como acontece no Brasil. Desta forma outras regiões poderiam também ser vistas como territórios inovadores esportivos, o que auxiliaria também no quesito do desenvolvimento regional brasileiro.
Referências
BRASIL. Ministério dos Esportes. Disponível em: http://www.esporte.gov.br. Acesso em 02 de ago. 2010
ETZKOWITZ, H; LEYDESDORFF, L. The dynamics of innovation: from National Systems and ‘‘Mode 2’’ to a Triple Helix of university–industry–government relations. Research Policy, Londres, v.29, p. 109-123. 2000.
ETZKOWITZ, H.; MELLO, J.M.C. The rise of a triple helix culture: innovation in Brazilian economic and social development. International Journal of Technology Management & Sustainable Development. V2 N3, 159-171, 2004.
IBGE. Perfil dos Municípios Brasileiros (2008). Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/economia/perfilmunic/2008/default.shtm Acesso em 10 de jan. 2011
INSTITUTO DE DESPORTO DE PORTUGAL. Notícias: 2005 ONU proclamou Ano Internacional do Desporto e da Educação Física. Disponível em: http://www.idesporto.pt/noticias_detalhes.asp?Rid=193. Acesso em 21 out. 2006.
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Técnicas de Pesquisa: planejamento e execução de pesquisas, amostragens e técnicas de pesquisas, elaboração, análise e interpretação de dados. 5 ed. São Paulo: Atlas, 2002.
MELLO, J. M. C. A abordagem da Hélice Tríplice e o Desenvolvimento Regional. II Seminário Internacional Empreendedorismo, Pequenas e Médias Empresas e Desenvolvimento Local Rio de Janeiro, 02 a 04 de agosto de 2004. Disponível em: www.itoi.ufrj.br/seminario/anais/Tema%201-2-MELLO.pdf Acesso em 12 de jan. de 2011.
NAÇÕES UNIDAS. Esporte para o desenvolvimento e a paz: em direção à realização das metas de desenvolvimento do milênio. Nações Unidas, 2003. Disponível em: http://www.esporte.gov.br/publicacoes/ . Acesso em 20 nov. 2004.
OLIVEIRA, J. A. de. A Universidade e a formação para a qualidade de vida. Da Vinci. Textos Acadêmicos. Natal : UFRN/Diário de Natal, 28 de abril de 2001, p.3
PIRES, G. M. V. da S.; LOPES, J. P. S. de R. Conceito de gestão do desporto. Novos desafios, diferentes soluções. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, vol. 1, nº 1, 88–103. 2001.
PLATONOV, V. N. Tratado Geral de Treinamento Desportivo. São Paulo: Phorte, 2008
SILVA, C. A. F. da, LOPES, J. P. S. R., CARVALHO, M. J. O Desporto e sua Influência no Desenvolvimento Local: o caso Runporto em Portugal. Rev. Digital, Buenos Aires, Ano 15, nº 150, Nov. 2010. http://www.efdeportes.com/efd150/o-desporto-e-sua-influencia-no-desenvolvimento-local.htm
SILVA, C.; TERRA, B.; VOTRE, S. O modelo da hélice tríplice e o papel da educação física, esporte e lazer no desenvolvimento local. Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Campinas, v. 28, n. 1, p. 167-183, set. 2006.
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