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O envelhecimento no Brasil: comparações
entre os anos de 1950 e 2000

El envejecimiento en Brasil: comparaciones entre los años 1950 y 2000

 

Mestre em Desenvolvimento Social

pela Universidade Estadual de Montes Claros, Unimontes

(Brasil)

Máximo Alessandro Mendes Ottoni

maximo.ottoni@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Neste trabalho, buscou-se pesquisar algumas obras que fazem referência aos idosos, com um breve histórico do pensamento Oriental e Ocidental e, no que diz respeito ao Brasil, comparou-se esta faixa etária nas décadas de 1950 e 2000. Fez-se, também, menção a algumas possíveis projeções sobre os idosos. Nesse contexto, existe um consentimento sobre a opinião de que a maioria dos países, incluindo o Brasil, está se tornando um país com população idosa superior às outras demais fases da vida. Somando-se a isso, foram colocadas algumas questões relativas às possíveis conseqüências desse crescimento e prováveis soluções para a minimização do impacto populacional.

          Unitermos: Idosos. Envelhecimento. Brasil.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 186, Noviembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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1.     Introdução

    Na atualidade, a população mundial vem alcançando uma alta expectativa de vida e o Brasil acompanha essa tendência. Com a maior longevidade dos brasileiros, questões como Previdência Social e Saúde adquirem maior status, pois o aumento da população economicamente inativa torna-se um fator preponderante para o aumento de gastos dos cofres públicos. Estudos na atual sociedade apontam para uma nova tendência nas sociedades futuras: a 4ª idade, o que compreenderá pessoas acima dos 80 anos (CAMARANO, 1999).

    O trabalho proposto pretende comparar as décadas de 1950 e 2000, mostrando algumas projeções e os possíveis impactos gerados pelo prolongamento da vida dos brasileiros.

2.     Desenvolvimento

2.1.     Breve histórico sobre o envelhecimento no Oriente

    Santos (2001) diz que o envelhecimento é visto de diferentes formas nas diversas civilizações. No Oriente, especificamente na China, Lao-Tsé (604-531 a.C.), fundador do Taoísmo, percebe a velhice como um momento supremo, de alcance espiritual máximo, comentando que, ao completar 60 anos de idade, o ser humano atinge o momento de libertar-se de seu corpo através do êxtase de se tornar um santo.

    Outro filósofo citado pelo autor foi Confúcio (551-479 a.C.), profundo conhecedor da alma humana, que externou conceitos de moral e de sabedoria. Sua filosofia visava à organização nacionalista da sociedade, baseando-se no princípio da simpatia universal, que era obtido por meio da educação, estendendo-se do ser humano através da família e do Estado, considerando esse como a grande família.

    A estrutura do Confucionismo tem como base a família. Segundo esta filosofia, os moradores de uma determinada residência devem obediência ao ser humano masculino mais velho. A autoridade do patriarca mantém-se elevada com a idade e até mesmo a mulher, tão subordinada nessa civilização, na velhice, tem poderes mais altos do que os jovens masculinos, adquirindo também influência preponderante na educação dos netos. Para Confúcio a autoridade da velhice é justificada pela posse da sabedoria.

    Beauvoir (1990) em seus estudos, também escolhe a China devido ao valor com o qual os idosos são tratados nessa civilização. Na China, os cargos mais elevados estavam nas mãos dos idosos, assim como a autoridade dentro da família, em que o patriarca detinha todos os poderes. O filho mais novo obedecia ao irmão mais velho, e as filhas mulheres eram subjugadas e, poderiam até serem vendidas como escravas. Relativo à idade, a data dos 50 anos era um período importante para os chineses; mas, aos 70 anos, quem ocupasse cargos oficiais deveriam deixá-los para se prepararem para a morte.

    Dessa forma, é visto na civilização oriental uma história de profundo respeito e admiração aos idosos, sendo esses detentores do conhecimento e protagonistas das decisões da família e da comunidade. Essa visão se diferencia quando se trata do envelhecimento na civilização ocidental.

2.2.     Breve histórico do envelhecimento no Ocidente

    No Ocidente, o primeiro texto referindo à velhice encontra-se no Egito, no ano 2.500 a.C. quando a beleza física e o vigor eram cantados e exaltados por Ptah-Hotep, filósofo e poeta, que afirmou a seguinte frase sobre a velhice:

    Quão penoso é o fim do ancião! Vai dia a dia enfraquecendo: a visão baixa, seus ouvidos se tornam surdos, o nariz se obstruí e nada mais pode cheirar, a boca se torna silenciosa e já não fala. Suas faculdades intelectuais se reduzem e torna-se impossível recordar o que foi ontem. Doem-lhe todos os ossos. A ocupação a que outrora se entregara com prazer, só a realiza agora com dificuldade e desaparece o sentido do gosto. A velhice é a pior desgraça que pode acontecer a um homem (Beauvoir, 1990, p.114).

    Santos (2001) diz que, a civilização da Grécia antiga floresceu no Mediterrâneo nos anos 4.000 a 1.000 a.C., num país montanhoso, árido, com uma orla bastante acidentada e com numerosas ilhas, que lhe favoreceu o comércio e as atividades marítimas em geral. As cidades que surgiram nas ilhas eram distintas, possuindo hábitos, costumes, vida econômica independentes e, por vezes, eram rivais entre si. Somente a língua e a adoração dos mesmos deuses eram sinais de que os gregos eram pertencentes a um mesmo povo.

    O advento da filosofia na Grécia marca o declínio do pensamento mítico e o começo de um saber racional, acarretando uma transformação geral das perspectivas cosmológicas e consagrando o surgimento de uma forma de pensamento e de sistema de explicação sem analogia no mito. Os gregos foram amantes do corpo jovem e saudável, sempre voltados ao culto e preservação desse corpo, sendo a velhice, de um modo geral, tratada com desdém, muito desconsiderada e até motivo de pavor, principalmente pela perda dos prazeres obtidos através dos sentidos (SANTOS, 2001).

    Beauvoir (1990) faz um comentário que na Grécia Antiga, o sacerdote Minermo (630 a.C.) cantava os prazeres da juventude, mas tinha ódio da velhice. Titon dizia preferir a morte ao envelhecimento. Já o poeta Homero, também da Grécia Antiga (VIII a.C.), acreditava que velhice e sabedoria caminhavam juntas, mas os deuses não gostavam daquela. Entretanto, conforme Lara (1989, p. 30), Homero, em Ilíada, diz: “Já que o destino de todos os homens é a morte, que ela seja a morte de um herói [...]”.

    Mas, conforme Santos (2001), é nos diálogos de Sócrates, através de Platão, que se encontra o verdadeiro interesse pelos problemas dos idosos. Sócrates (469 – 399 a.C.) foi, talvez, o personagem mais enigmático de toda a história da filosofia. Era um ser humano considerado feio, pois não possuía os atributos tidos como belos pelos gregos daquela época, mas, interiormente era especialmente maravilhoso. Na República também são registradas passagens onde Sócrates faz referências ao envelhecimento e diz que, para os seres humanos prudentes e bem preparados, a velhice não constituiu peso algum.

    Comparando as visões a partir do olhar oriental e ocidental percebe-se, na maioria das vezes, uma diferenciação no que se refere à velhice. A primeira vê o idoso como um ser respeitado, detentor de conhecimentos e portador de experiências acumuladas ao longo de sua vida. Já a segunda, vê esse mesmo idoso como um ser incapaz, fraco e digno de pena. Ser idoso seria, praticamente, um castigo, algo que ninguém gostaria de ser.

2.3.     Comparação entre as décadas de 1950-2000 e algumas projeções futuras

    Em uma célebre frase, proferida pelo ex-secretário geral da Organização das Nações Unidas - ONU, Kofi Annan, em uma audiência na Assembléia, citou um provérbio africano que diz que “quando morre um velho, desaparece uma biblioteca”. Annan, além de demonstrar profundo respeito a essa parcela da população, também sinalizava dizendo que a longevidade da população não era agora somente um problema de países desenvolvidos e que, nos próximos 50 anos, a população idosa dos países em desenvolvimento será quadruplicada. Annan também comentou projeções para 2050, dizendo que o número de idosos passará de 600 milhões para algo próximo de dois bilhões. “Em menos de 50 anos, pela primeira vez na história, o mundo terá mais pessoas acima de 60 anos que pessoas com menos de 15 anos.” (PESSINI, 2005, p. 38-39).

    Como o período compreendido entre 1950 e 2000 foi uma época de grandes transformações, dentre elas, o aumento da longevidade das pessoas, optou-se, nesse trabalho, por desenvolver uma perspectiva comparativa com possíveis projeções. Marconi e Lakatos (2007, p. 92) comentam que “o método comparativo é usado tanto para comparações de grupos no presente, no passado, ou entre os existentes e os do passado, quanto entre sociedades de iguais ou de diferentes estágios de desenvolvimento.”

    Sartori e Morlino (1991) comentam que uma das principais formas de comparação é a estatística e a história. Já Franco (2000) diz que fazer comparações não é tão simples, pois há a questão de entendimentos de outras línguas, significados, interpretação histórica e cultural de um contexto diferenciado. Mas essa comparação deveria deixar de ser algo estático, como em um museu, e se tornar algo comum, como um espelho onde quem observa se vê e se reconhece.

    Na comparação proposta é importante salientar que outros países, como China, Japão, países europeus e da América do Norte já apresentam grande número de idosos e problemas relacionados ao envelhecimento, destacando-se aposentadorias e doenças da terceira idade. Isso tem gerado custos para o Estado e requer a necessidade de políticas públicas voltadas a essa população. Países em desenvolvimento, como o Brasil e o México, também têm apresentado elevado crescimento de idosos (GARRIDO e MENEZES, 2002).

    Um dos fatores que contribuiu para que o envelhecimento populacional se mostrasse maior foi a baixa taxa de natalidade, que fez com que os países, principalmente os desenvolvidos, se apresentassem com um número maior de anciãos. “(...) A vida adulta se alongou, o que levou a que na Europa e nos Estados Unidos já se reconheça a existência da quarta idade, sendo a terceira idade considerada como nada mais do que o prolongamento da vida adulta.” (CAMARANO, 1999, p.21).

    Camarano (2004) comenta que nos Estados Unidos, em 1950, o número de idosos acima de 85 anos era de 585 mil. Em 1990, esse número alcançou 3 milhões e, as projeções são para que, em pouco tempo, esse número alcance 5 milhões. No Brasil, entre 1950 e 2000, esse número de idosos passou de 493 mil para 900 mil, respectivamente. Muitos pesquisadores acreditam que, estudar a população pertencente à faixa etária de idade igual ou superior a 85 anos é de fundamental importância para a melhoria das questões políticas e de saúde pública para esse contingente populacional.

    A autora diz ainda que, o elevado número da população idosa atual foi consequência de dois fenômenos acontecidos nas décadas de 1950 e 1960: alta fecundidade e redução da mortalidade dos idosos. Esses acontecimentos modificaram a distribuição etária da população, fazendo com que a população idosa atual seja cada vez mais expressiva dentro da população total, o que resultou no alargamento da pirâmide etária.

    Domingues (2009), ao dizer sobre a transição demográfica que ocorreu na América Latina, afirma que ela teve como resultado a diminuição da fecundidade, da mortalidade, do tamanho da família e no prolongamento da vida que, segundo o autor, passou a ser muito mais longa.

    Segundo a ONU, no ano de 1950, a população com 65 anos ou mais era inferior a 3%. Em 2050, essa proporção será de 18%. Levando em consideração que em 1950, a população de idosos de países em desenvolvimento era semelhante à dos mais desenvolvidos (60.6 e 64.2 milhões respectivamente), no ano de 2050 seria quase quatro vezes maior (1,2 bilhões contra 300 milhões). Isso leva às transformações na estrutura etária em curto espaço de tempo, mostrando um rápido processo de envelhecimento, sendo que o Brasil está entre os países mais populosos do mundo e, deverá conciliar questões como desenvolvimento econômico, bem-estar social, redução da pobreza e das diferenças sociais (GARRIDO e MENEZES, 2002).

    Em pesquisa realizada, foi apontado que as pessoas com mais de 75 anos correspondem a 5% da população, mas absorvem quase 30% do total gasto em saúde. Isso mostra um alto custo com essa parcela populacional e, as projeções para o aumento da longevidade indicam que os gastos poderão ser ainda maiores. Já a população mundial acima de 60 anos, que em 1950 era de 8,2%; passou em 2000, para 10%. Projeções sugerem que haverá 21,1% de idosos em 2050 (PESSINI, 2005).

    Nessa mesma pesquisa, a realidade brasileira mostrou uma tendência ao acompanhar os índices mundiais, uma vez que no Brasil, no ano de 1950, havia 4,9% de pessoas com 60 anos ou mais. Em 2000, o índice cresceu para 7,8%. A tendência é que, em 2050, haverá 23,6% de pessoas integrando essa classe social.

    A pesquisa estimou a expectativa de vida do brasileiro, dizendo que entre 1950 e 1955, ela era de 50,9 anos. Entre 2000 e 200, 68,3 anos. A estimativa é que, entre 2045 e 2050, o Brasil atinja uma expectativa de vida de 76,9 anos de idade. Ainda é apresentada uma população atual perto de 11 milhões de pessoas com idade superior aos 60 anos. As projeções para 2020 são próximas de 32 milhões de idosos e, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2000), existem no Brasil 30 mil pessoas com 100 anos ou mais.

    Na década de 1980, avaliando o Brasil, o World Health Statistics Annuals (WHSA) constatou que o país ocupava a 16ª colocação em número de idosos no mundo em 1950 e que, em 2000, passaria para a 7ª posição. Em 1950, a população brasileira era de 54 milhões. Em 2000, era de 170 milhões. Estima-se que em 2050, será de 244 milhões. A população com 65 anos ou mais, passou de 1,6 milhões (1950) para 8,7 milhões (2000), e as previsões para 2050 são de 42 milhões. “Enquanto a população jovem pouco mais que duplicará, a idosa cresceria em aproximadamente 26 vezes em 100 anos” (GARRIDO e MENEZES, 2002).

    O IBGE apontou os primeiros resultados do Censo demográfico brasileiro em 2010, cuja pirâmide etária demonstrou uma redução na taxa de natalidade, número elevado da população jovem e uma maior longevidade na população idosa.

Gráfico 01. Pirâmide Etária de 2010 no Brasil

Fonte: IBGE, 2010

    Os gráficos 02, 03 e 04 fazem parte de um estudo realizado por Castiglioni (2006), na qual sinaliza que a redução da taxa de natalidade e aumento da expectativa de vida coincidem com a realidade brasileira, pois, comparando os gráficos nas décadas de 1950 e 2000, percebe-se que há uma mudança no formato clássico, semelhante à uma pirâmide, na qual existia uma base maior devido à alta taxa de natalidade, e o ápice reduzido, representando os idosos. Na década de 2000, percebe-se uma redução da taxa de natalidade e um alargamento do ápice, sinalizando uma maior longevidade populacional.

Gráfico 02. Pirâmide Etária de 1950 no Brasil

Fonte: Castiglioni (2006)

 

Gráfico 03. Pirâmide Etária de 2000 no Brasil

Fonte: Castiglioni (2006)

    Já as projeções para 2050, apontam uma estrutura tipo “colméia”, semelhante às pirâmides etárias dos países desenvolvidos. A base tende a reduzir devido à baixa taxa de natalidade e, a parte superior se alarga, devido ao prolongamento da esperança de vida.

Gráfico 04. Pirâmide Etária projetada para 2050 no Brasil

Fonte: Castiglioni (2006)

    Camarano (1999) explica que a última taxa de crescimento populacional brasileira se deu na década de 1950, na qual aconteceu um crescimento anual de 3,1% ao ano. Após esse período, as taxas se declinaram, atingindo valores de 1,6% ao ano nos anos de 1990. Comparando os anos de 1950 e 2000, houve uma migração de idosos da zona rural para áreas urbanas, em que existiam em 1950, 43,8% de idosos residindo em áreas urbanas. Já no ano 2000, essa proporção passou para 81,4%.

    Com projeções futuras e com problemas não resolvidos no que diz respeito à saúde da população materna e infantil, a população de adultos jovens e principalmente a população trabalhadora, o aumento acelerado e brusco da população idosa em um país em desenvolvimento como o Brasil, passa a ser incluído entre os sérios problemas de saúde pública (SANTOS, 2001).

    As perspectivas que se vislumbram para o médio prazo são de continuação da redução da mortalidade em todas as idades e, em especial nas avançadas, onde se encontra a maior proporção de pessoas portadoras de doenças crônico-degenerativas, com dificuldades para lidar com as atividades do cotidiano, etc. Portanto, pode-se esperar para o futuro próximo um crescimento das taxas elevadas do contingente de idosos que vivem por mais tempo (CAMARANO, 2006).

Considerações finais

    Diante da literatura apresentada, em que as projeções mostram tendência a uma alta taxa de longevidade mundial, o Brasil necessita, com urgência, de políticas sociais voltadas a essa parcela populacional, pois o prolongamento da vida poderá gerar problemas futuros como dificuldades na concessão de aposentadorias; aumento com gastos públicos em saúde, devido ao maior tempo para a reabilitação de um idoso; gastos com medicamentos específicos para essa faixa etária, dentre outros. Além dessas questões, existem questões atuais, como a redução da pobreza, as diferenças sociais e o desenvolvimento econômico. Somando-se a isso, os cuidados na velhice são específicos e requerem tratamento diferenciado. Portanto, o país terá uma grande questão a ser revolvida: o Brasil está preparado para cuidar da sua população idosa?

Referências

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