Capacidades motoras em deficientes intelectuais: uma proposta voltada ao tênis de mesa Las capacidades motoras en discapacitados intelectuales: una propuesta orientada al tenis de mesa |
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*Graduado em Educação Física - UNOESC São Miguel do Oeste **Mestre em Ciências do Movimento Humano. Universidade Autônoma de Asunción Professor do Curso de Educação Física da Unoesc, Campus de São Miguel do Oeste, SC ***Mestre em Ciência do Movimento Humano pela UFSM. Professora do curso de Educação Física da Unoesc, campus de São Miguel do Oeste, SC (Brasil) |
Jaicon Melvis Dilli* Eliéser Felipe Livinalli** Andréa Jaqueline Prates Ribeiro*** |
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Resumo A Educação Física Adaptada busca auxiliar no processo de desenvolvimento de pessoas com deficiência intelectual, através de estratégias e métodos adequados a pessoas com essas características. Acredita-se que o Tênis de Mesa e suas adaptações apresentem-se como proposta a auxiliar na melhoria de várias capacidades motoras, promovendo saúde e bem estar aos indivíduos com deficiência intelectual, por agregar valor ao seu praticante não só no âmbito motor, mas também afetivos, cognitivos e sociais. Nesta perspectiva, o estudo em tela visa elaborar e desenvolver uma proposta didático-metodológica baseada no Tênis de Mesa voltado às capacidades motoras de alunos com deficiência intelectual. Para isso, realizou-se uma pesquisa social quali e quantitativa, tendo como amostra 10 (dez) alunos adultos com deficiência intelectual de uma escola de ensino especial de São Miguel do Oeste - SC, na qual foram realizados pré e pós-testes a fim de avaliar as alterações nas capacidades motoras de equilíbrio e potência dos membros superiores com base na Avaliação do Desempenho Motor de Gorla (2008), tempo de reação adaptado do teste de Proficiência Motora de Bruininks-Ozeretski (1978) e orientação espacial com o teste “Reconhecimento da posição relativa de três objetos” adaptado de Rosa Neto (2002); entrevistas não-estruturada e semi-estruturada com os alunos pesquisados e com a professora de Educação Física da instituição, respectivamente, no intuito de verificar suas percepções quanto à proposta e a atuação do acadêmico; e análise dos Diários de Campo como registro complementar das percepções do pesquisador. Os resultados dos testes apontam para melhorias estatisticamente significativas no equilíbrio dos alunos (P ≤ 0,05), visto que o valor foi de P = 0,032. Nas demais capacidades estudadas – potência dos membros superiores, velocidade de reação e orientação espacial – não houve melhora estatisticamente significativa, mas ainda assim, os alunos obtiveram melhores resultados nos pós-testes se comparados aos pré-testes. As entrevistas com os alunos pesquisados revelaram alto grau de sedentarismo fora do ambiente escolar, porém revelou também a total aceitação da proposta pedagógica com o conteúdo Tênis de Mesa e suas adaptações. A professora de Educação Física da instituição destacou em sua entrevista as vantagens de aplicação deste conteúdo e a boa atuação do acadêmico enquanto docente durante o processo de intervenção, em razão da manutenção do envolvimento e do interesse dos alunos em todas as aulas por ele ministradas. Os Diários de Campo apresentaram as diversas atividades realizadas com o conteúdo Tênis de Mesa e suas adaptações durante as 10 (dez) horas/aula práticas, constatando as dificuldades, evoluções e reações dos alunos participantes da pesquisa quanto a aprendizagem do fundamentos básicos e prática da modalidade. O estudo confirma a possibilidade de elaboração e desenvolvimento de uma proposta didático-metodológica baseada no Tênis de Mesa voltado às capacidades motoras de alunos com deficiência intelectual, vislumbrando melhorias estatisticamente significativas em todas as capacidades avaliadas se mais horas/aula fossem realizadas, apesar da escassa literatura encontrada para embasar a investigação. Sugerem-se portanto, mais estudos na área para validação de testes específicos e para a ampliação das oportunidades de pesquisa. Unitermos: Deficiência intelectual. Educação Física Adaptada. Capacidades motoras. Tênis de Mesa.
Abstract The Adapted Physical Education seeks to assist in the development of people with intellectual disabilities through strategies and methods suitable for people with these characteristics. It is believed that the Table Tennis and its adaptations introduce yourself as a proposal to assist in the improvement of various motor skills, promoting health and wellness to individuals with intellectual disabilities, by adding value to the practitioner not only in the engine, but also affective, cognitive and social. In this perspective, the study aims to screen and to develop a proposal based on didactic and methodological Table Tennis returned to the motor skills of students with intellectual disabilities. For this, we carried out a qualitative and quantitative social research, and a sample of 10 (ten) adult learners with intellectual disabilities from a special education school in São Miguel do Oeste - SC, which were performed pre-and post-test in order to evaluate changes in motor skills of balance and power of upper limbs based on Performance Evaluation Engine Gorla (2008), adapted from the reaction time test of Motor Proficiency Bruininks-Ozeretski (1978) and spatial orientation to the test "Recognition the relative position of three objects" adapted from Rosa Neto (2002), unstructured interviews and semi-structured interviews with students surveyed and the Physical Education teacher of the institution, respectively, in order to ascertain their perceptions about the proposed action and the academic, and analysis of the diaries as a record field of complementary perceptions of the researcher. The test results indicate statistically significant improvements in the balance of the students (P ≤ 0.05), whereas the value was P = 0.032. In the other study skills - power of the upper limbs, reaction speed and spatial orientation - there was no statistically significant improvement, but still, the students performed better on posttests compared to pretest. The interviews with the students surveyed were highly sedentary lifestyle outside of school, but also revealed the full acceptance of pedagogical content with Table Tennis and its adaptations. The Physical Education teacher of the institution said in his interview with the advantages of application of content and good performance of the academic as teacher during the intervention process, because of the maintenance of the involvement and interest of students in every class he taught. The Diaries of Field presented the various activities carried out with the content table tennis and its adaptations during ten (10) hours / classroom practices, noting the difficulties, developments and reactions of students participating in the research and learning the basics and practice of mode. The study confirms the possibility of drafting and developing a proposal based on didactic and methodological Table Tennis returned to the motor skills of students with intellectual disabilities, seeing statistically significant improvements in all capacities evaluated more hours / classes were held despite the scarce literature found to support research. We suggest therefore, further studies in the area for specific tests and validation for the expansion of research opportunities. Keywords: Intellectual disability. Adapted Physical Education. Motor skills. Table Tennis.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 186, Noviembre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução e justificativa
A inclusão de pessoas com necessidades especiais ainda é um grande desafio no sistema educacional brasileiro. Na esfera governamental Leis e Decretos são aprovados de maneira a garantir tal direito a esse segmento da população. (BRASIL, 2008).
No outro extremo vê-se instituições públicas, suas estruturas e profissionais com um mínimo de suporte necessário para atender a essa demanda. Em contrapartida, outras entidades tomam para si esse compromisso e buscam atender públicos específicos, e é nessas entidades que pessoas com deficiência intelectual encontram o apoio necessário para desenvolverem-se cognitiva, afetiva e socialmente e, dependendo do grau de deficiência, ter autonomia em suas vidas. (DIEHL, 2008).
O termo deficiência intelectual gera dúvidas sobre sua definição e neste estudo será entendido como Winnick (2004, p. 126) a descreve: “limitações cognitivas e funcionais em áreas como habilidades da vida diária, habilidades sociais e comunicação”.
Neste sentido a Educação Física busca auxiliar no processo de desenvolvimento de pessoas com essas características, através de estratégias e métodos adequados a pessoas com necessidades especiais, criando um campo específico desta área de conhecimento: a Educação Física Adaptada. (FERREIRA, 2010).
Entre outros campos de atuação, a Educação Física Adaptada, busca desenvolver as capacidades motoras de indivíduos, tais como equilíbrio, potência, velocidade de reação e orientação espacial para deficientes mentais, quer nos espaços do ensino regular ou de entidades educativas especiais. (DIEHL, 2008).
Winnick (2004, p. 4) define a Educação Física Adaptada (EFA) como:
um programa individualizado de aptidão física e motora, habilidades e padrões motores fundamentais e habilidades de esporte aquáticos e dança, além de jogos e esportes individuais e coletivos; um programa elaborado para suprir as necessidades especiais dos indivíduos.
Dentre os conteúdos de ensino que podem ser explorados na EFA está o Tênis de Mesa que, reconhecendo as limitações deste público, busca se reformular de maneira que sua prática permita tanto o exercício conforme os objetivos do professor – de melhoria das capacidades motoras dos alunos – quanto proporcionar prazer aos seus praticantes na forma do Tênis de Mesa Adaptado e do Polybat, com regras e materiais diferenciados. (WINNICK, 2004; DUARTE, STRAPASSON, 2005; MARINOVIC, IIZUKA, NAGAOKA, 2006).
Vilani (2006, p. 4) destaca que a prática do Tênis de Mesa “implica dentre outros aspectos de ordem social, em um grande benefício para os aspectos funcionais do ser humano de ordem das questões inerentes ao desenvolvimento motor e à saúde”.
Já o Polybat se destina principalmente aos alunos portadores de necessidades especiais com maior comprometimento motor e que não conseguem executar os movimentos básicos do Tênis de Mesa, proporcionando ganhos, entre outros, na coordenação motora e na concentração. (DUARTE; STRAPASSON, 2005).
A partir disso, acredita-se que o Tênis de Mesa e suas adaptações apresente-se como proposta a auxiliar na melhoria das capacidades motoras acima descritas e outras, promovendo saúde e bem estar aos indivíduos com deficiência intelectual, por agregar valor ao seu praticante não só no âmbito motor, mas também afetivos, cognitivos e sociais. (ROBLES, 2007).
Pelo acima exposto, o presente estudo busca verificar se o Tênis de Mesa pode servir como base de uma proposta didático-metodológica voltado às capacidades motoras de alunos com deficiência intelectual de uma escola especial de São Miguel do Oeste – SC.
2. Metodologia
2.1. Caracterização da pesquisa
O presente estudo caracteriza-se como uma pesquisa social quali e quantitativa.
2.2. Amostra
A amostra foi intencional, composta de 10 alunos deficientes intelectuais e uma professora de Educação Física pertencentes a uma turma de uma escola de educação especial de São Miguel do Oeste-SC.
Todos os alunos apresentam retardo mental moderado e pela idade compõem uma das turmas do Nível de Atendimento “Serviço Pedagógico Específico”, conforme o convênio firmado entre a escola e o governo do Estado de Santa Catarina. Conforme os laudos diagnósticos da amostra, 2 (duas) alunas apresentam epilepsia, 2 (dois) alunos tem diagnose de esquizofrenia não especificada, uma aluna apresenta deficiência auditiva e uma aluna é portadora da Síndrome de Turner.
São 4 (quatro) alunos do sexo feminino e 6 (seis) alunos do sexo masculino com idade média de 40 ± 8,04 anos para toda a amostra. A idade dos alunos do sexo feminino situa-se no valor de 39 ± 7,53 anos. Já para os alunos do sexo masculino a idade situa-se em 40,67 ± 9 anos.
Para participação dos alunos e da professora da amostra no estudo, o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), foi assinado por eles mesmo, pelos pais e/ou responsáveis.
2.3. Instrumentos de coleta de dados
Para a coleta de dados utilizaram-se de vários instrumentos.
Dentro da Avaliação do Desempenho Motor apresentado por Gorla (2008) foram utilizados dois testes: equilíbrio (stork stand) e potência de membros superiores
Como instrumento para a velocidade de reação, adaptou-se o teste de Proficiência Motora de BRUININKS-OZERETSKI (1978), em que o aluno senta-se em uma cadeira próximo da parede com uma fita adesiva paralela ao chão numa altura que permita toda a régua ultrapassá-la ao cair e que o aluno possa realizar o teste.
Para avaliar a orientação espacial do grupo, foi utilizado o teste adaptado de Rosa Neto (2002) “Reconhecimento da posição relativa de três objetos”. Utilizando-se de três cubos de cores diferentes posicionados à frente do examinado que deverá estar sentado e permanecer de braços cruzados para responder questões sobre a posição de um cubo em relação aos outros (Anexo G).
Entrevista semi-estruturada focalizada à professora de educação física da instituição , adaptada de Silva (2006) pela flexibilidade na exploração das questões básicas sob o suporte dos conceitos e possibilidades relacionados ao tema (TRIVIÑOS, 1987, p. 146).
Conforme levantado na instituição, os alunos da amostra têm condições de responder à questões levantadas acerca da atividades, porém não o têm na forma escrita. Por essa razão a entrevista voltada os alunos foi não estruturada (Apêndice B) adaptada de Saviani (2005) e utilizou-se do auxílio de um gravador, mediante autorização. Richardson (1999, p. 208) afirma que a entrevista não estruturada “visa obter do entrevistado o que ele considera os aspectos mais relevantes de determinado problema”.
Diário de campo elaborado pelo pesquisador, consistindo em um registro pessoal do pesquisador que reúne suas percepções acerca do objeto de estudo, somando informações que escapam aos demais instrumentos elencados (MINAYO, 1994).
2.4. Procedimentos de coleta de dados
Em contato com a Diretora da instituição foi verificada a possibilidade de realização do estudo envolvendo alunos com deficiência mental utilizando-se da prática do Tênis de Mesa.
Após breve análise apresentou o pesquisador à professora de Educação Física da escola que também aprovou a proposta e apresentou a turma de alunos a ser trabalhada bem como a estrutura física disponível para a etapa de intervenção. Também foram coletados dados sobre o perfil dos alunos e as possibilidades de levantamento das suas percepções acerca das atividades.
Formalizou-se o pedido de estudo de intervenção pelo PAE e TCE. Estruturou-se o projeto de intervenção que, após avaliação e aprovação da banca para sua execução e redação deste relatório final. Este projeto de intervenção também passou pela sanção do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP), aprovando-o sob o número de CAAE: 0258.0.151.000-11.
Como atividade inicial realizou-se a primeira bateria de testes motores (pré-testes) a fim de levantar o perfil motor dos alunos da amostra no início do processo de intervenção.
Da segunda à décima primeira aulas foram executadas atividades inerentes à prática do Tênis de Mesa e do Polybat. Durante esse período o Diário de Campo foi o instrumento de registro sobre as situações relevantes ao estudo.
Na décima segunda aula foi realizada a segunda bateria de testes motores (pós-testes) para possibilitar o comparativo e identificar possíveis alterações da prática do Tênis de Mesa e do Polybat às capacidades motoras, objeto do estudo. Também nesta última aula a professora e os alunos foram entrevistados no intuito de verificar suas percepções sobre a proposta apresentada nessas doze aulas.
Para todo esse processo foi necessária a autorização dos alunos e/ou seus responsáveis pelo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Também foi solicitado acesso aos Laudos Diagnósticos dos alunos, mediante o “Termo de Compromisso para Utilização de Dados de Arquivo (Prontuário)”, a fim de relacionar o perfil dos alunos com os resultados nos pré e pós testes, bem como nas aulas práticas. A profissional de Educação Física da instituição, enquanto participante do estudo, também assinará o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
Após a análise e discussão dos dados será entregue o relatório à instituição no intuito de auxiliar em sua missão formativa de seus alunos. Os pais e/ou responsáveis e os alunos também receberão os resultados em relatório individual.
2.6. Proposta de intervenção
As aulas foram planejadas utilizando-se dos conceitos desenvolvimentistas, pois como toda modalidade, inicia-se o ensino pelos aspectos básicos – teoria da modalidade e fundamentos – para depois conduzir os alunos às tarefas mais complexas - tática e estratégia de jogo.
As aulas foram desenvolvidas em ginásio, adotando-se aulas práticas, com pequenas demonstrações, para melhor compreensão dos conteúdos, e tiveram duração de uma hora. Para o alcance dos objetivos utilizou-se diversos materiais, tais como: bolas de várias modalidades, arcos, bastões, cones, mesa de tênis de mesa, raquetes, aparadores, etc.
O processo avaliativo deu-se por critérios comportamentais e sócio-afetivos, tais como participação, interesse, busca por superação e cooperação.
Utilizando-se dos conceitos desenvolvimentistas foram ministradas dez aulas de maneira dirigida. Na primeira e décima segunda aulas realizaram-se os pré e pós-testes, respectivamente, a fim de verificar possíveis ganhos no desenvolvimento motor dos alunos.
Durante todas as dez aulas práticas utilizou-se do diário de campo, no intuito de registrar observações do pesquisador acerca das reações e resultados dos alunos frente a proposta pedagógica.
Desenvolveram-se os fundamentos básicos do Tênis de Mesa com os alunos por intermédio de dinâmicas e a própria prática e conhecimento das regras básicas, bem como do Polybat.
Quadro 1. Planejamento das aulas
2.7. Técnica de análise dos dados
Para fins de análise dos dados coletados utilizou-se de estatística descritiva (média e desvio padrão), e análise teste t de Student pareado para os resultados dos pré e pós-testes. Para as entrevistas foi utilizada a análise de conteúdo. Para análise dos dados do Diário de Campo utilizou-se da técnica hermenêutica-dialética para análise de seus registros.
3. Apresentação e discussão dos resultados
3.1. Pré e pós-testes
Tabulados os dados utilizou-se do teste t de Student para aferir a validade estatística do estudo, que veio a confirmar que o resultado dos testes que teve melhora estatisticamente significativa foi o de equilíbrio.
Gráfico 1. Teste de equilíbrio
O Gráfico 1 ilustra o aumento de aproximadamente 28 (vinte e oito) segundos na média entre o pré e o pós-teste do grupo de alunos pesquisados, equivalendo a um ganho de mais de 45% (quarenta e cinco por cento) nesta capacidade motora, havendo uma melhora estatisticamente significativa (P ≤ 0,05), visto que o valor foi de P = 0,032. Verifica-se com isto que as atividades voltadas ao Tênis de Mesa auxiliaram na melhora do equilíbrio dos alunos.
Pacheco e Valência (1993) e Fonseca (2001) citados por Melo (2008, p.19) ressaltam o que mais caracteriza o deficiente intelectual no âmbito físico são: "falta de equilíbrio, dificuldades de locomoção, dificuldades de coordenação e de manipulação".
Mansur e Marcon (2006, p. 13) complementam:
A insuficiência do equilíbrio motor pode indicar disfunção cerebelar. O cerebelo é essencial para o controle motor e sua disfunção intervém no equilíbrio, fala, coordenação dos membros e olhos, organização espacial, resultando em atraso no desenvolvimento motor.
Canciglieri (apud CBTM 2008, p. 16), descreve que:
O Tênis de Mesa é caracterizado por exigir de seus atletas uma movimentação corporal intensa (deslocamentos, rotações, flexões, etc.), exigindo adaptações de equilíbrio das estruturas corporais devido às constantes alterações do centro de gravidade durante o treinamento ou o jogo. (...)
No caso dos mesatenistas, os atletas estão em uma constante alteração postural durante o treinamento ou jogo, promovendo assim a necessidade de ajustes constantes em suas estruturas corporais sempre na busca de um ponto de equilíbrio adequando para a execução de sua técnica de jogo.
Para Gonçalves et al. (2008, p. 3), o equilíbrio
é um dos sentidos básicos que permite o ajustamento do homem ao meio. Tem um grande número de fatores interferindo em sua atuação. O aspecto fisiológico recai nas atuações do ouvido interno, no sentido da visão e no sistema nervoso central. É conseguida por uma combinação de ações musculares com o propósito de assumir ou sustentar o corpo sobre uma base, contra a lei da gravidade. (...)
O equilíbrio e a coordenação tornaram-se requisitos básicos para a vida de relação do homem. Do equilíbrio depende o corpo para manter-se em pé, sendo a sua mobilidade fruto do coordenado relacionamento das partes do corpo.
Em seu estudo com portadores da Síndrome de Down, Sherril (1998, apud FREITAS, 2005, p. 29) identificou que "uma das habilidades menos desenvolvidas em indivíduos com SD é o equilíbrio, que apresenta um desempenho de um a três anos abaixo das outras pessoas consideradas “normais”".
Gráfico 2. Teste de potência dos membros superiores
A potência dos membros superiores dos alunos participantes do estudo comparando dados de pré e pós-teste, não apresentou melhora estatisticamente significativa (P ≤ 0,05), sendo que o valor foi de P = 0,952. Mesmo assim, como pode ser verificado no Gráfico 2, houve aumento e, por conseqüência, melhora na potência de 0,7 kg/m/seg na média do pré ao pós-teste após a intervenção.
Pollock et al. (1993, apud BARROS et al., 2001) diz que “aprimoramento da força muscular ou da potência aeróbica pode ter um impacto positivo na resistência muscular”. Barros et al. (2001) também cita Fernhall (1994) que deficientes intelectuais de ambos os sexos e de todas as idades “possuem baixos níveis de resistência muscular comparados com pessoas ditas normais. O baixo nível de força muscular pode ser devido ao estilo de vida”. Esta última afirmativa será confirmada mais adiante quando da análise das entrevistas dos alunos.
Gráfico 3. Teste de velocidade de reação
No teste de Velocidade de Reação, quanto menor a mediana do aluno no pós-teste em relação ao pré, melhor o resultado. Visto da perspectiva geral a média dos alunos após as 10 (dez) horas/aula de intervenção reduziu em 1,3 centímetros, como pode ser verificado no Gráfico 3, não apresentando um resultado estatisticamente significativo (P ≤ 0,05), tendo como valor P = 0,664. Para Weineck (1999, p. 379), velocidade de reação é “a capacidade de reação a um estímulo num menor espaço de tempo”. Ainda assim, houve melhora na média do pós-teste dos alunos se comparados ao pré.
O gráfico 4 apresenta as médias dos pré e pós-testes da orientação espacial. Os alunos não obtiveram resultados estatisticamente significativos (P ≤ 0,05), atingido o valor de P = 0,614. A quantidade de acertos dos alunos sofreu variação entre os pré e pós-testes realizados, elevando em 0,5 décimos de acertos. Este resultado também se deve à reduzida amostra bem como ao diminuto grau de pontuação para o teste (de 0 à 6 acertos), em que, qualquer resultado negativo entre pré e pós-teste afetaria significativamente sua média. Mesmo com isso, houve melhora na orientação espacial dos alunos pesquisados, resultado das atividades propostas, e, acredita-se, com grande influência da melhora da capacidade de equilíbrio, relatada acima.
Gráfico 4. Teste de orientação espacial.
Seabra Júnior (1994, apud FREITAS, 2005, p. 31) relatou seu estudo sobre os efeitos de um programa de atividade física à deficientes intelectuais no qual verificou-se "melhorias na orientação espacial, na coordenação, na atenção e na motivação bem como mudanças nos aspectos sociais".
Conforme a descrição da amostra do estudo, alguns alunos apresentam em seus laudos diagnósticos, além de retardo mental moderado, casos de epilepsia, esquizofrenia não especificada, deficiência auditiva e Síndrome de Turner, explicitadas na revisão de literatura com suas respectivas complicações motoras. Entretanto não foram percebidas interferências destas complicações nos resultados dos pré e pós-testes, não cabendo portanto, análise específica considerando estas variáveis.
Contudo, registra-se que em indivíduos com deficiência intelectual – que têm mais lentidão em seu aprendizado –, com somente 10 horas/aula de intervenção baseada no Tênis de Mesa, obter-se melhoras em todas as capacidade motoras, é um resultado muito positivo.
3.2. Entrevistas com os alunos
Dados pessoais
Qual a sua idade?
Nem todos os alunos souberam responder a própria idade. Ao todo foram seis alunos que responderam suas idades. Os outros quatro, ou não lembraram ou não conseguiam entender as perguntas.
Trabalham?
Seis alunos responderam que não trabalham atualmente nem trabalharam antes, dois alunos afirmam não estar trabalhando mas já exerceram atividade laboral anteriormente, e apenas um aluno está trabalhando junto à empresa da família, porém informalmente. Tanto a professora de Educação Física destes alunos quanto as diretoras da escola afirmam que pelo menos três dos 10 alunos estudados teriam condições de trabalhar formalmente.
Já estudou em outra escola? Quanto tempo?
Quando perguntados se estudaram em outra escola oito alunos responderam afirmativamente, sendo que sete estudaram no ensino regular com durações variadas e um em outra escola especial. Apenas um respondeu não ter estudado em outra instituição.
Deficiência
Como se chama o que você tem?
A questão “como se chama o que você tem?” precisou, na maioria das entrevistas, de citação de exemplos por parte do acadêmico para que os alunos respondessem. Dois alunos não souberam do que chamar suas deficiências. Quatro alunos a chamam simplesmente de deficiência mental, dois alunos apontaram para as causas das suas deficiências, citando meningite e o trabalho de parto, outro chama sua deficiência de esquizofrenia paranóide.
Como está a sua saúde?
Todos os alunos entrevistados consideram que estão bem de saúde, apesar da aluna nº 04 relatar que se sente agitada com os colegas, já a aluna nº 06 disse estar com problemas na bexiga e o aluno nº 07 relatar ter tonturas (talvez efeito de seus medicamentos e/ou das doenças associadas à deficiência intelectual).
Independência/trabalho/educação
O que você faz sozinho?
Quando perguntados sobre sua independência, oito alunos responderam que realizam todas as atividades tais como higiene pessoal, vestimenta e alimentação sem necessitarem de ajuda. Duas alunos não conseguiram responder. Em seu estudo, Saviani (2005, p. 98) também constatou que a maioria dos deficientes intelectuais entrevistados executam suas atividades pessoais sem necessitarem de auxílio.
Pratica algum esporte?
Apenas uma aluna afirma praticar alguma atividade esportiva fora da escola, revelando reduzido grau de atividade física dos entrevistados. Loss (2010), com amostra semelhante em seu estudo, identificou que 100% de seus entrevistados não realizam atividades físicas regularmente.Estes dados reforçam o compromisso do professor que atua com a Educação Física Adaptada que é o de “potencializar as possibilidades de participação ativa de pessoas com necessidades especiais, em programas com foco na atividade física / movimento corporal humano” (FEIJÓ, 2006), fazendo com que essas pessoas realizem atividade física regular além do ambiente escolar.
Ajuda em casa? Alguém te ajuda?
Todos os alunos – inclusive as alunas 03 e 09 – responderam que ajudam nas tarefas de casa. Uns mais outros menos em atividades como limpar a casa (alunos 01, 04, 05, 06, 07, 08 e 10), lavar a louça (alunos 04, 05, 06, 07 e 08), capinar e cortar lenha (02 e 05), tratar as vacas e tirar leite (01), e fazer compras (07). Nestas atividades apenas os alunos 01, 07 e 08 necessitam de ajuda dos familiares. O estudo de Loss (2010) também confirma a participação dos deficientes intelectuais entrevistados nas tarefas da casa.
Convívio social
Com quem você mora?
Dos dez alunos entrevistados somente a aluna nº 03 não conseguiu responder com quem mora. Os outros nove alunos ou moram com os pais (05 e 10), pais adotivos (02), com a mãe (06, 08, 09), com irmã(o) (04, 07 e 09), com sobrinhos (04, 06, 07), com filhos (06) e com cunhado (07).
O que você gosta de fazer? Com quem?
Ainda sobre o convívio social os alunos relataram o que gostam de fazer e com quem. O aluno 01 respondeu que gosta de confeccionar tapetes sozinho. Quatro alunos gostam de escutar rádio (02, 04, 05 e 07), quatro alunos gostam de assistir TV (04, 05, 07 e 10), a aluna 04 disse também gostar de estudar e escrever, o aluno 05 também gosta de passear, assim como a aluna 08 que passeia com seu cão e gosta de viajar, a aluna 06 gosta de ir em bailes na companhia do seu namorado, e o aluno 07 também gosta de descansar.
Percepções das aulas do pesquisador
Você gostou das aulas de Tênis de Mesa e Polybat? O que você aprendeu nessas aulas?
Todos os dez alunos gostaram das aulas propostas com os conteúdos Tênis de Mesa e Polybat. Quando perguntados sobre o que aprenderam com as aulas, seis dos dez alunos (01, 02, 05, 07, 09 e 10) relataram que aprenderam a jogar Tênis de Mesa. A aluna 08 respondeu que conheceu o Polybat, enquanto que o aluno 10 também aprendeu a trocar a raquete de lado para rebater melhor. As alunas 03 e 04 não responderam satisfatoriamente ou não souberam responder.
Nessas aulas, você acredita que melhorou seu equilíbrio? Sua potência? Sua velocidade? Sua percepção do espaço a sua volta?
Com exceção da aluna 03, que não conseguiu responder, todos os alunos afirmaram que as aulas proporcionadas melhoraram as capacidades motoras de equilíbrio, potencia, velocidade de reação e orientação espacial.
O que você mais gostou das aulas de Tênis de Mesa e Polybat?
Quando questionados sobre o que mais gostaram das aulas de Tênis de Mesa e Polybat, três alunos relataram os testes motores realizados no primeiro encontro do acadêmico com a turma – teste da régua (velocidade de reação, alunos 01 e 08) e teste de equilíbrio (aluno 05), três alunos citaram que gostaram do jogo propriamente dito de tênis de mesa (alunos 02, 04 e 07), quatro alunos gostaram mais das atividades de controle da bola (05, 06, 09 e 10), uma aluna gostou mais do Polybat (08), uma aluna gostou das atividades na mini-mesa (01), e a aluna 06 também citou a atividade de tiro ao alvo.
Como colocado anteriormente, o ensino do Tênis de Mesa e suas adaptações como o Polybat não tem contra-indicação, além de ser inclusivo, pois pode ser praticado por todos, independente da faixa etária, altura, peso, necessidade especial, etc.
Vilani (2006, apud VILANI, 2004, p. 1) destaca algumas vantagens que o tênis de mesa oferece:
O tênis de mesa é uma modalidade esportiva olímpica que trabalha com diversas capacidades físicas, auxiliando na sociabilização de seus praticantes e com os aspectos cognitivos dos mesmos. Sendo um esporte, onde o grau de dificuldade é mínimo com uma evolução muito rápida, proporcionando um alto nível de prazer e satisfação para seus praticantes iniciantes, principalmente para as crianças, podendo ser praticado pelos diversos biótipos (VILANI, 2006).
Williansom (1995, apud Strapasson; Duarte, 2005, p. 1) aponta para os benefícios do Polybat:
"participação" em um nível motor básico em uma atividade dinâmico perceptiva, desenvolvimento da capacidade de atenção e focalização aumentada, melhora na habilidade após um período de tempo por causa da repetitiva natureza da atividade, melhora de postura, controle de coordenação motora e membros, em situações de competição os jogadores aprendem a responder as dinâmicas situações em que é necessário se tomar decisões.
3.3. Entrevista com a professora
Formação profissional
A professora de Educação Física da escola de ensino especial é graduada na Universidade Federal de Santa Maria-RS com Especialização em Atividade Motora Adaptada pela Universidade Federal de Santa Catarina. Possui cursos de aperfeiçoamento e formação continuada em eventos como Mercomovimento, meeting e cursos oferecidos pelo Estado de Santa Catarina. Dentre as áreas de interesse de atuação a professora citou: Educação Física Adaptada, Deficiência Intelectual e Física, desenvolvimento humano anormal e normal e esportes paraolímpicos.
Experiência profissional
A professora entrevistada já atuou por dois anos no ensino regular em turmas de educação infantil, ensino fundamental e médio. Já atua há quinze anos com ensino especial, seguindo a política da educação especial na definição das turmas e dos conteúdos de esporte, natação, iniciação esportiva, recreação, jogos, brincadeiras, esporte paraolímpico.
Comparando o ensino regular com o ensino especial a professora acredita “que a educação física nas APAES tenha um currículo próprio a seguir, sempre atendendo as diferentes condições que cada educando apresenta, buscando em cima disso otimizar o potencial de cada um, existe uma grande diferença entre as duas, ensino regular existe um grande potencial e muito por se fazer, comportamentos a serem muitas vezes corrigidos e em dias atuais muita afetividade pela relação conturbada que muitos tem em seus lares, também nas APAES devemos aprender a lidar com nossa ansiedade e expectativas sempre esperando que um dia eles nos dêem mais do que esperamos e posso dizer se trabalhado, um dia o resultado vem.
Não posso falar muito do ensino regular mas percebo que existe muito ainda por se fazer, e é importante oportunidade para todos não só para aquele mais hábil, afinal a educação física desenvolve o individuo como um todo e nas APAES isso ainda é mais importante afinal somos todos iguais.”
Motivações à Educação Física Especial
A professora considera que desejou atuar em educação física especial desde o período de graduação, buscando disciplinas e atividades na área durante o curso, e após formar-se, ingressar na APAE de Brusque-SC, onde trabalhou por 5 anos.
Percepções da própria docência
À formação acadêmica, aos projetos de extensão, aos cursos realizados em outros Estados na área e ao seu foco acadêmico em deficiência em geral são creditadas as maiores contribuições à sua atuação em Educação Física Especial, desenvolvendo atividades de acordo com as turmas, utilizando-se dos seguintes conteúdos: recreação, ginástica natural, laboral, localizada, esportes coletivos e individuais, natação, bocha rafa e dança; com os materiais disponíveis na instituição.
A professora entrevistada considera que obter a sensibilização do aluno com deficiência intelectual a criar hábitos de uma vida saudável – atividade física e alimentação adequada –, como o maior desafio no trabalho com esse público.
Para a professora o Tênis de Mesa é um conteúdo de grande ajuda na Educação Física, exigindo pouco espaço e recursos materiais, beneficiando todas as deficiências com pequenas adaptações.
Percepções da docência do pesquisador
Tecendo suas percepções acerca da docência do pesquisador, a professora acredita que o acadêmico atingiu o objetivo, talvez até superando-o, tendo em vista o envolvimento e desempenho dos educandos pesquisados, relatando que houveram melhoras nas capacidades motoras trabalhadas, em razão da oportunidade de atividades com esse objetivo.
Por fim, pelas observações realizadas das aulas, pela manutenção do envolvimento e interesse do grupo em todas as suas aulas, a professora entrevistada considera que o acadêmico/pesquisador será um excelente professor de educação física.
3.4. Análise e discussão do diário de campo e da docência
Neste tópico, com base nos registros dos diários de campo, serão descritas algumas das principais atividades realizadas com os alunos estudados pelo pesquisador com o conteúdo Tênis de Mesa visando a melhoria das capacidades motoras de equilíbrio, potência dos membros superiores, velocidade de reação e orientação espacial.
O Tênis de Mesa é cientificamente comprovado como o segundo esporte no mundo a fazer mais uso das faculdades cerebrais (raciocínio lógico, intuitivo e criativo; concentração), atuando em uma proporção de 61%, enquanto que as atividades referentes à motricidade em todos os seus parâmetros (os vários tipos de coordenação, aspectos técnicos do esporte, aspectos físicos, etc.) representam apenas 39% do jogo em si. Logicamente, o primeiro esporte a fazer mais uso do cérebro é o Xadrez, que em contrapartida, não possui uma acentuada atividade física e motora (MARTINS, 1999).
Todas as aulas eram precedidas do alongamento adequado às atividades. Com exceção da primeira hora/aula, todas as demais ofereciam uma revisão das atividades da aula anterior como reforço sempre necessário a esse público, além do conteúdo novo. Em mais de uma aula houve ausências de 1 até 5 alunos, o que pode ter comprometido sua evolução nas atividades, e por conseqüência seus resultados nos pós-testes.
Inicialmente o acadêmico estimulou os alunos a familiarizarem-se com os materiais, em especial as raquetes e bolas, que seriam utilizados durante as aulas propostas. Após o contato com o material os alunos tentaram manter o controle da bola parada sobre a raquete sem sair do lugar, depois andando e girando no próprio eixo. O mesmo exercício foi realizado com a bola quicando sobre a raquete, seguidos de rebatidas com a bola “pingada” no chão em duplas, depois com todos os alunos em círculo para a direita e esquerda. Durante os exercícios com a bola parada, a maioria dos alunos os executaram com facilidade. Já com a bola quicando, os alunos não conseguiam manter o controle da bola por muito tempo, enquanto que os exercícios de bola “pingada”, os alunos só tiveram dificuldade no início de cada atividade.
Como seqüência os alunos foram orientados a executar o controle da bola parada e quicando sobre a raquete caminhando sobre as linhas do ginásio e depois sobre uma corda. Outra atividade desenvolvida foi a passagem da bola, em que os alunos em círculo deveriam passar a bola de um colega ao outro sem deixá-la cair. Esta atividade os alunos passavam a bola rolando sobre a raquete. Mais de um alunos o realizava com auxílio da mão livre a fim de evitar a queda da bola. Cinco alunos que não estiveram presentes na primeira aula apresentaram dificuldade nestas atividades, apesar da revisão.
No terceiro encontro utilizou-se principalmente de balões para as atividades voltadas à orientação espacial e à velocidade de reação dos alunos, por meio de rebatidas em duplas inicialmente, seguidas de rebatidas dentro do arco e em círculo com mais de um balão. Percebeu-se entusiasmo dos pesquisados em todas as atividades e a cooperação dos mesmos no revezamento da atividade do arco.
O Tênis de Mesa possui vantagens significativas a serem consideradas na escolha de atividades para as pessoas em questão, como quanto à adaptação do espaço físico necessário, de materiais e equipamentos. Também o custo geral para a prática é menor em relação a outras modalidades, o número mínimo de alunos para sua prática é reduzido, não há contato físico e regras e prática são de fácil aprendizagem.
De qualquer forma, a escolha de uma modalidade esportiva pode depender, dentre outros fatores, das oportunidades que são oferecidas às pessoas em condição de deficiência, de profissionais preparados para atendê-los, da sua condição sócio-econômica, das suas limitações e potencialidades, da suas preferências esportivas, facilidade nos meios de locomoção e transporte, de materiais e locais adequados e do estímulo e respaldo familiar. (DESTRO, 2010, p. 67).
Os alunos puderam exercitar o equilíbrio ao serem estimulados a aprenderem a posição fundamental do Tênis de Mesa e sua movimentação, com atividades como o "Espelho", na qual um aluno executando a posição fundamental da modalidade se movimentava lateralmente e o outro, a sua frente, procurava seguir seus movimentos, simulando um espelho, para depois trocar de lugar com o colega.
Noutra aula reforçaram-se os trabalhos às capacidades de orientação espacial e velocidade de reação, nos quais os alunos lançavam simultaneamente para cima duas bolas de formatos, texturas e pesos diferentes (bolas de tênis, tênis de mesa, voleibol, de borracha, de plástico e balão), uma em cada mão. O mesmo exercício foi proposto, com as diferentes bolas quicando. Os alunos revezavam os diferentes tipos de bolas, nestas duas atividades que buscavam a percepção dos alunos acerca das variações do “tempo de bola”, indispensável à prática do Tênis de Mesa. Os alunos também foram orientados a manusear uma bola de tênis de mesa fazendo-a quicar no chão utilizando apenas uma das mãos, depois com o auxílio da raquete. Em seguida os alunos deveriam lançar a bola para cima e capturá-la antes de tocar o chão somente com uma das mãos, como educativo para a execução do saque do Tênis de Mesa.
Na aula seguinte os alunos puderam reforçar o aprendizado do saque e procuraram incorporar a recepção como processo evolutivo da docência. Inicialmente o acadêmico realizava os saques para a tentativa de recepção dos alunos, para depois os alunos revezadamente em duplas simularem os dois movimentos, alternando as situações - um sacava e o outro recebia e vice-versa. Percebeu-se a evolução de alguns alunos na execução do saque, entretanto a maioria dos alunos realizava a recepção com dificuldade.
Perante o exposto podemos afirmar que prática de exercício físico regular deverá ser realçada, pois esta assume um papel de primordial importância no incremento da qualidade de vida quando trabalhamos com populações com DM. Quanto mais dinâmicas e adequadas forem as experiências dos indivíduos com DM, partindo da possibilidade de sentirem e agirem com o meio, maiores serão as possibilidades de enriquecimento motor, psicológico e social desta população (FREITAS, 2005, p.32).
Visando a aprendizagem dos movimentos básicos do Tênis de Mesa – forehand e backhand – trabalharam-se alguns educativos seguidos de brincadeiras para estimular a prática destes movimentos, tais como rebatida na caixa, onde os alunos deveriam executar o movimento de forehand ou de backhand na tentativa de acertar a bola dentro de uma caixa de tamanho médio no lado diagonal oposto. A atividade de tiro ao alvo consistia em posicionar materiais de tamanhos e formatos diversos (garrafas pet de 2 litros e 600ml, pequenas caixas, pedaços de isopor, etc.) sobre uma das extremidades da mesa de Tênis de Mesa e no outro lado o aluno portando a raquete realizava rebatidas com o objetivo de acertar esses materiais. Essa atividade proporcionou grande satisfação aos alunos, acredita-se principalmente pelo desafio oferecido, ao mesmo tempo que trabalharam a orientação espacial, executando os movimentos básicos de forehand e backhand em dias de aula alternados para cada movimento.
O Polybat revelou-se em atividade atrativa para boa parte dos alunos que, mesmo de maneira improvisada, o praticaram com entusiasmo. Enquanto dois alunos praticavam o jogo outros quatro seguravam as tábuas de madeira que serviam de paredes laterais, fazendo com que a bola permanecesse por um maior espaço de tempo sobre a superfície. Essa parece ser uma das vantagens do Polybat sobre o Tênis de Mesa, visto que os alunos executavam movimentos mais simples, facilitando sua prática.
O jogo de Polybat pode satisfazer o desejo do aluno portador deficiência, pois é um momento onde estará realizando uma atividade adaptada, com atenção e dedicação exclusiva do professor de Educação Física, não oferecendo risco nenhum à sua estrutura física e melhorando de forma significativa sua auto-estima, coordenação, mobilidade e atenção (Strapasson; Duarte, 2005, p. 4).
Em mais de uma aula uma mini-mesa de Tênis de Mesa também foi utilizada como alternativa dos exercícios de saque e recepção e movimentos de forehand e backhand. Com isso, dispondo de uma mesa com medidas oficiais, metade de outra mesa de Tênis de Mesa e a mini-mesa, o acadêmico conseguia envolver mais alunos simultaneamente e agregando novas situações de aprendizado motor e congnitivo com mesas de diferentes dimensões.
4. Conclusão
A proposta do estudo foi de oferecer o Tênis de Mesa como uma alternativa de conteúdo em aulas de Educação Física Adaptada voltada às capacidades motoras de equilíbrio, potência, velocidade de reação e orientação espacial de alunos com deficiência intelectual de uma instituição de ensino especial de São Miguel do Oeste – SC.
Com o estudo pôde-se concluir que a capacidade motora de equilíbrio foi a única com melhoras estatisticamente significativas, sendo esta uma das capacidades motoras globais mais importantes no dia-a-dia de qualquer indivíduo, e mais ainda no caso de deficientes intelectuais. Mesmo assim o conteúdo Tênis de Mesa proporcionou melhora na potência dos membros superiores, velocidade de reação e orientação espacial dos alunos pesquisados, sem contar a gama de atividades que auxiliam nos âmbitos cognitivo, afetivo e social percebidas pela evolução na aprendizagem e a satisfação dos alunos com os exercícios propostos. Em se tratando de alunos com deficiência intelectual, os resultados são positivos. Possivelmente, se mais aulas fossem ministradas, mais resultados poderiam alcançar alterações estatisticamente significativas.
O envolvimento e a aceitação dos alunos participantes ao conteúdo proposto e as manifestações positivas da professora de Educação Física da própria escola ratificam as afirmativas anteriores. A evolução dos alunos quanto a prática do Tênis de Mesa e suas adaptações deu-se gradualmente, acompanhando o planejamento proposto, constatando o interesse e a satisfação dos pesquisados em todas as dez horas/aulas.
Sugerem-se mais estudos para referendar protocolos de avaliação física para esse público bem como outros estudos com vias de pesquisa para análises mais subjetivas, pois várias foram as adaptações necessárias para a realização de testes de apenas quatro capacidades motoras.
A possibilidade de intervenção numa instituição de ensino especial deveria ser aproveitada por todo acadêmico. Pois além de valor científico, agrega valores humanos, indispensáveis a um futuro profissional de Educação Física. Instiga à reflexão do que pode ser chamado de deficiência.
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