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Uso indiscriminado de esteróides anabólicos 

androgênicos e seus efeitos adversos: uma breve revisão

El uso indiscriminado de esteroides anabólicos androgénicos y sus efectos adversos: una breve revisión

 

*Biomédica

**Educador Físico e Mestrando do Programa de Pós Graduação

em Biociências e Reabilitação do Centro Universitário Metodista-IPA

***Bolsista de Iniciação Científica- PROBIC/FAPERGS

****Professor e Pesquisador Programa de Pós Graduação em Biociências

e Reabilitação do Centro Universitário Metodista-IPA. Porto Alegre, RS

Luíza Caminha*

Rodrigo Rodrigues**

Amaranta Ramos***

Maristela Padilha****

Marcello Mascarenhas****

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Os esteróides anabólicos androgênicos (EAA) são drogas sintetizadas a partir da testosterona. Eles promovem tanto um efeito anabólico, quanto um efeito androgênico. O objetivo do estudo foi realizar uma revisão bibliográfica sobre o uso desses esteróides e seus reflexos na infertilidade através de modelos experimental. O uso de EAA é comum em muitos países, se tornando um problema de saúde pública. Com o uso de EAA se difundindo largamente entre os atletas das diferentes modalidades, as entidades esportivas internacionais há algum tempo vêm incentivando o desenvolvimento de métodos de conhecimento, a fim de desestimular seu uso indiscriminado.

          Unitermos: Esteróides anabólicos androgênicos. Testosterona. Nandrolona. Modelo experimental. Infertilidade.

 

Abstract

          Anabolic androgenic steroids (AAS) are drugs synthesized from testosterone. They provide both an anabolic effect, as an androgenic effect. The aim of this study was to conduct a literature review on the use of these steroids and their effects on infertility through experimental models. The use of AAS is common in many countries, becoming a public health problem. With the use of EAA spreading widely among athletes of different sports, international sports bodies for some time been encouraging the development of methods of knowledge in order to discourage indiscriminate use.

          Keywords: Anabolic androgenic steroids. Testosterone. Nandrolone. Experimental model. Infertility.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O uso abusivo de esteróides anabólicos androgênicos (EAA) está associado a vários efeitos colaterais nocivos à saúde (BAHRKE; YESALIS, 2004; EVANS, 2004; POPE; KATZ, 2003; RICH et al., 1999, apud IRIART; CHAVES; ORLEANS, 2009). Estudos constataram que os usuários abusivos de EAA quase 100% apresentam algum tipo de efeitos colateral (HARTGENS; KUIPERS, 2004; PARKINSON; EVANS, 2006; VENÂNCIO et al., 2010).

    No Brasil, vários casos de danos à saúde causados pelo consumo de anabolizantes têm sido relatados, mas pouco tem sido feito para a prevenção do uso dessas substâncias entre os jovens (IRIART; ANDRADE, 2002; IRIART; CHAVES; ORLEANS, 2009; SILVA et al., 2007; SILVA; MOREAU, 2003). O abuso de EAA, dentro e fora do cenário esportivo, se constitui atualmente em grande preocupação social, governamental e das mais importantes agências sanitárias e esportivas, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Comitê Olímpico Internacional (SILVA et al., 2007).

    Os usuários de EAA utilizam esses compostos em doses excessivas pela administração de um único tipo ou de uma mistura de vários EAA. Dessa maneira, este estudo tem como finalidade avaliar a combinação de decanoato de testosterona com decanoato de nandrolona verificando se, quando tomados em conjunto com o exercício, seus efeitos são potencializados. Sendo assim, o presente estudo tem o intuito de revisar sobre uso desses esteróides e modelo experimental e infertilidade masculina. A pesquisa bibliográfica foi realizada nas bases de dados Scielo e Pubmed, do ano 2000 até o presente, procurando artigos originais e de revisão sobre o tema, buscando os seguintes termos: esteróides anabólicos androgênicos, exercício físico, espermatogênese e modelo experimental.

Esteróides anabólicos androgênicos

    Classicamente, hormônios são substâncias químicas produzidas pelas glândulas endócrinas, liberadas na corrente sanguínea para agirem em células alvo distantes do local de sua secreção (KADI et al., 2000). Os hormônios esteróides são produzidos pelo córtex da supra renal e pelas gônadas (ovários e testículos), tendo a testosterona como um dos mais importantes hormônios deste grupo (BOFF, 2008).

    Os esteróides anabólicos androgênicos (EAA) são drogas sintetizadas a partir da testosterona, usados medicinalmente há pelo menos cinco décadas. Por possuírem potente efeito anabólico, atuam como reguladores da massa muscular, modulando a síntese protéica (WOOD, 2004; BOFF, 2008; SHOKRI; AITKEN; ABDOLVAHHABI, 2009).

    Os EAA são derivados sintéticos da testosterona e promovem tanto um efeito anabólico (com o aumento da massa muscular esquelética), quanto um efeito androgênico (FOLETTO et al., 2010; KANAYAMA; HUDSON; POPE, 2008). De acordo com a Food and Drug Administration (FDA), os EAA foram desenvolvidos para o uso farmacológico no tratamento de diversas patologias como o hipogonadismo, com o intuito de aumentar a concentração de testosterona e seus derivados, sendo essenciais ao desenvolvimento e manutenção das características sexuais masculinas. (CUNHA et al., 2004).

    O tratamento com EAA também é recomendado nos casos de anemia refratária, osteoporose, deficiência de crescimento, atraso no início da puberdade em homens, deficiência androgênica parcial em homens idosos, no tratamento de deficiência androgênica secundária a doenças crônicas e para condições de desnutrição onde há perda de massa muscular (FEINBERG; LUMIA; MCGINNIS, 1997; FOLETTO et al., 2010; NARAGHI; ABOLHASANI; KASHANI, 2010; NOORAFSHAN; KARBALAY; ARDEKANI, 2005; TAN; SCALLY, 2009).

    Os usuários de EAA utilizam esses compostos em doses terapêuticas excessivas (10-100 vezes), pela administração de um único tipo ou de uma mistura de vários EAA, com pouca ou nenhuma consideração pelas conseqüências (CLARK; HARROLD; FAST, 1997; FEINBERG; LUMIA; MCGINNIS, 1997).

Testosterona e seus derivados

    A testosterona é um hormônio esteróide, originado do colesterol, sendo o principal hormônio androgênico para o homem, tendo também importante papel anabólico. Cerca de 95% é secretada pelas células de Leydig, localizadas nos testículos, e 5% pela porção cortical da glândula adrenal (KADI et al., 2000).

    Sua secreção depende do controle hipotalâmico que, por meio da secreção do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), estimula a hipófise anterior a liberar o hormônio folículo estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH). Estes induzem a diferenciação e maturação das células de Leydig, após interagirem com seus receptores de membrana específicos, processo este que induz a produção da testosterona endógena. Por outro lado, o excesso de testosterona suprime a secreção dos hormônios gonadotróficos diminuindo a secreção dos mesmos (CUNHA et al., 2004; SILVA, et al., 2007).

    Outro importante hormônio na secreção da testosterona é a prolactina, que atua controlando a entrada do colesterol na mitocôndria onde ele será transformado em pregnenolona, o principal precursor dos hormônios esteróides. Esta por sua vez difunde-se ao citosol indo até o retículo endoplasmático liso, onde por ação de enzimas é convertida, subseqüentemente, em Δ-5 pregnenolona, 17α hidroxipregnenolona, dihidroepiandrosterona (DHEA), androstenediol e finalmente pela ação da enzima 17β hidroxiesteróide desidrogenase, em testosterona (CUNHA et al., 2004).

    A ação da testosterona pode agir de forma direta ou indireta, neste último caso o hormônio é convertido por ação da enzima 5α redutase, em dihidrotestosterona (DHT) ou 5α androstenediol, porém no músculo a enzima tem pouca ação, mostrando que existe ação direta da testosterona sobre o tecido muscular (MILES, 1992; ROSA E SILVA; SÁ, 2006).

    A testosterona e seu metabólito diidrotestosterona exercem seus efeitos sobre a expressão gênica e, portanto, afetam a masculinidade através de receptores de androgênicos (CANALE et al., 2005; ZITZMANN, 2007). Em indivíduos do sexo masculino, com gônadas em funcionamento normal, os receptores androgênicos estão saturados pelos níveis fisiológicos de testosterona. Nesse contexto, doses supra fisiológicas de esteróides anabolizantes podem estimular o aumento do número desses receptores, favorecendo a expressão de suas funções (KADI et al., 2000).

    Contudo, estes efeitos não podem ser separados totalmente devido ao fato de que o mecanismo de ação, tanto anabólico quanto androgênico, envolve a ligação com receptores comuns que interagem com o ácido desoxirribonucléico (DNA) e ativam a expressão gênica. Desta maneira, a resposta será anabólica ou androgênica, dependendo do tecido alvo, não existindo um esteróide anabolizante considerado exclusivamente anabólico (CUNHA et al., 2004).

    Dentre os EAA disponíveis comercialmente, o decanoato de nandrolona é um dos mais utilizados no mundo (KUTSCHER; LUND; PERRY, 2002). Normalmente ela é utilizada em ciclos que duram de 6 a 12 semanas com as doses sendo aumentadas de acordo com o ciclo (FERRY, 1999). Comparativamente à testosterona, a nandrolona apresenta maior ação anabólica e menor atividade androgênica. (WILSON, 1988). Ao entrar na célula esta também sofre ação da enzima 5α-redutase originando o metabólito 7α-19-nortestosterona que possui maior afinidade ao receptor anabólico.

Uso de esteróides anabólicos androgênicos

    Em resposta ao uso abusivo, em 1991 a testosterona foi declarada uma substância controlada (CRESPILHO, 2008; WOOD, 2004). A utilização de EAA como a testosterona, usada por atletas para aumentar o desempenho, é uma prática que começou décadas atrás e que persiste até hoje, mas uma preocupação especial se deve ao consumo desses hormônios por não atletas ou pessoas que não necessitam de suplementação exógena dessas drogas (CRESPILHO, 2008; NARAGHI; ABOLHASANI; KASHANI, 2010; SHOKRI; AITKEN; ABDOLVAHHABI, 2009), onde há o interesse nas alterações provocadas na composição corporal, observados com o aumento da massa magra e na redução da gordura subcutânea (FOLETTO et al., 2010; VENÂNCIO et al., 2010).

    Evidências sugerem que a incidência de abuso de EAA entre adolescentes nos EUA é alta. Além disso, de acordo com pesquisas do National Household Survey on Drug Abuse, a média de idade para a primeira administração de substâncias anabólicas é de 18 anos (DIMEO; WOOD, 2004a; WOOD, 2004b; CRESPILHO, 2008; IRIART; CHAVES; ORLEANS, 2009; VENÂNCIO et al., 2010).

    O consumo para fins estéticos dos anabolizantes ainda é pouco estudado no Brasil. Estudos qualitativos descrevem o grande consumo dessas substâncias, incluindo o uso de produtos veterinários, entre praticantes de musculação em Salvador (Bahia) e no Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). (IRIART; ANDRADE, 2002; SABINO, 2002; IRIART, CHAVES, ORLEANS, 2009). Estudos quantitativos realizados em academias de musculação de São Paulo (São Paulo) (SILVA; MOREAU, 2003), Porto Alegre (Rio Grande do Sul) (SILVA et al., 2007) e Goiânia (Goiás) (ARAÚJO; ANDREOLO; SILVA, 2002) encontraram altas prevalências do uso de anabolizantes (respectivamente, 19%; 11,1% e 9%).

    Foi constatado que quase 100% dos usuários de esteróides anabolizantes apresentam algum efeito colateral. Dentre eles, os mais comuns são acne, atrofia testicular, retenção hídrica, alterações do humor e ginecomastia. (HARTGENS; KUIPERS, 2004; PARKINSON; EVANS, 2006; VENÂNCIO et al., 2010). O uso abusivo leva a conseqüências negativas endócrinas, hepáticas e distúrbios cardiovasculares. (CRESPILHO, 2008; WOOD, 2004). O abuso de EAA também pode ser um fator etiológico de infertilidade masculina. (NARAGHI; ABOLHASANI; KASHANI, 2010).

Uso de esteróides anabólicos androgênicos associado ao treinamento físico

    O uso de EAA está associado à melhora do desempenho físico por aumentar as reservas energéticas musculares, como por exemplo, a concentração de glicogênio. (BREDA et al., 1993). Um estudo com animais tratados com EAA apresentou aumento da atividade da enzima glicogênio sintase I e das reservas de glicogênio no músculo sóleo. (SILVA; DANIELSKI; CZEPIELEWSKI, 2002). Além disso, existem dados que relatam que a administração de EAA está relacionada à melhora do desempenho atlético por aumentar a massa muscular e a resistência ao treinamento de alta intensidade. (SILVA; DANIELSKI; CZEPIELEWSKI, 2002).

    Estudos desenvolvidos em laboratório demonstraram que animais sedentários tratados com nandrolona por seis semanas também apresentaram aumento das concentrações de glicogênio no músculo sóleo. Porém, quando o treinamento físico resistido (saltos em meio líquido) foi associado ao tratamento com EAA, não ocorreu efeito adicional sobre este parâmetro. (CUNHA et al., 2003). Apesar do uso de EAA estar mais relacionado a indivíduos praticantes de exercícios que envolvam potência muscular e força, muitos atletas de modalidades aeróbias utilizam EAA. Esses indivíduos têm como objetivo diminuir o catabolismo induzido pelo grande volume de treinamento (GEORGIEVA; BOYADJIEV, 2004).

    Há estudos que investigaram a resistência em corrida submáxima com uso de EAA, em um destes, verificou-se a melhora de 41% no desempenho aeróbio (ZYL; NOAKES; LAMBERT, 1995). No entanto, outro estudo mostra que o uso de EAA não altera a fadiga em ratos treinados em natação (CAVALCANTE; SILVA; GALLACC, 2004). O EAA é eficaz em aumentar a hipertrofia e as concentrações de proteína muscular apenas quando associado ao treinamento de força, esses efeitos parecem ser observados no músculo plantar, caracterizado por ser predominantemente composto por fibras glicolíticas. O treinamento de força é eficaz em aumentar a força muscular nas patas traseiras dos animais. No entanto, o EAA parece não exercer influência sobre esse aumento (CARMO, 2011).

    Os programas de treinamento desportivo e de reabilitação normalmente são constituídos por um conjunto de exercícios, os quais incluem alongamento antes e/ou após a série de exercícios contra resistidos (GAJDOSIK, 2001; KRAEMER et. al., 2002). Um método freqüentemente utilizado para o ganho de massa muscular, com conseqüente hipertrofia, é o exercício contra resistido, tanto em humanos como em animais (TIMSON, 1990).

    O treinamento de contra resistência consiste na realização de exercícios utilizando diversos modos de sobrecarga, como pesos, máquinas específicas, elásticos, massa corporal ou outra forma de equipamento que contribua para o desenvolvimento da força, potência ou resistência muscular (CONLEY; ROZENEK, 2001;POLITO, 2003).

    A hipertrofia muscular conseqüente da prática de exercício contra resistido pode ser traduzida como um aumento na área de secção transversa das fibras musculares (crescimento radial) assim como um aumento no número de sarcômeros sem série (crescimento longitudinal), decorrente de um incremento na síntese protéica (SECCHI, 2008).

    Assim como o exercício aeróbio, o exercício físico contra resistido pode modificar a composição corporal (ÄSTRAN, 1991; RADAK et al., 1999). Entretanto, quando o exercício é realizado de forma inadequada, o desenvolvimento e a função dos sistemas orgânicos podem ser prejudicados (RIKLI, 2000). Dependendo da intensidade, duração e freqüência com que o exercício físico resistido é praticado, este pode desencadear o desenvolvimento de hipertrofia das fibras musculares (HUNTER et al., 1998).

Modelo experimental

    As funções reprodutivas nos machos de diferentes espécies animais podem ser avaliadas utilizando diversas técnicas, incluindo exame clínico, avaliação de sêmen, ultra sonografia, dosagens hormonais, investigações bioquímicas, culturas microbiológicas, testes de libido, entre outros (LEONG; MATTHEWS, 1982; LOPATE; THRELFALL; ROSOL, 1989).

    A secreção das glândulas vesiculares e da próstata compõe o plasma seminal do sêmen. Elas são responsivas aos andrógenos e sua função está intimamente relacionada à dos testículos. A aferição dos produtos como a frutose na vesícula seminal e o ácido cítrico na próstata pode, além de oferecer indícios de seu estado funcional, demonstrar a qualidade do sêmen (OSHIO; GUERRA, 2009; RISBRIDGER; TAYLOR, 2006). Como os produtos dessas glândulas contribuem para a viabilidade do esperma após a ejaculação até o momento da fecundação, uma contribuição insuficiente desses órgãos poderia significar perda de qualidade do sêmen (DAS et al., 2004; OSHIO; GUERRA, 2009).

    A histopatologia testicular é um dos parâmetros mais sensíveis para análise de possíveis alterações na fertilidade masculina. Aspectos degenerativos testiculares podem ser identificados em seções coradas por hematoxilina e eosina, como a hipocelularidade e morte celular no epitélio seminífero, vacuolização das células de Sertoli, formação de células multinucleadas (células gigantes compostas de espermatócitos e espermátides) e a presença de espermátides arredondadas e restos celulares no epidídimo (OECD, 2004; OSHIO; GUERRA, 2009).

    Vários efeitos colaterais já foram verificados em animais de laboratório tratados com EAA e em seres humanos fazendo uso dessas drogas, tais como problemas cardíacos, alterações da glândula adrenal (FOLETTO et al., 2010; TAKAHASHI; TATSUGI; KOHNO, 2004) e comportamentos agressivos (SALAS; MONTALTO; SISK, 2008). O aumento do risco de câncer de próstata (FOLETTO et al., 2010; POPE; PHILLIPS; OLIVARDIA, 2000; SANTOS, 2003), problemas relacionados à ausência de libido e impotência sexual também são mencionados. (SANTOS, 2003). Em estudos realizados com ratas, onde foram administradas altas doses de EAA, evidenciaram-se alterações histológicas nos ovários e útero (BLASBERG; LANGAN; CLARK, 1997; GEREZ; FREI, CAMARGO, 2005) que levou a uma supressão da capacidade reprodutiva (MOBINI et al., 2007).

    Várias espécies de animais experimentais machos mostraram redução do tamanho testicular e peso após o tratamento com EAA. Ambos os parâmetros, quando diminuídos, prejudicaram a espermatogênese, ao inibir a liberação do hormônio luteinizante e diminuir os níveis de testosterona endógena (BERNDTSON et al., 1979; BERNDTSON; DESJARDINS; EWING, 1974; DESJARDINS; EWING; IRBY, 1973).

    Há vários estudos com ratos mostrando a ação do decanoato de nandrolona, a uma concentração de 5mg/Kg, em combinação a algum exercício físico, podendo ser observado no Quadro 1. Um destes estudos realizado em 2008, onde os ratos foram submetidos a um treinamento de salto em tubo, mostrou como resultado a hipertrofia do músculo sóleo dos ratos tratados (OLIVEIRA, 2008). Em 2009 um outro estudo com ratos, estes foram submetidos a sessões de corrida em esteira ergométrica, o que resultou em uma redução da eficiência da espermatogênese em ratos sedentários, enquanto no treinamento físico esta interferência negativa foi menor (SHOKRI et al., 2009).

    Dois estudos utilizando o decanoato de nandrolona foram realizados no ano de 2010, um dos estudos realizou exercícios de natação em seu treinamento, tendo como resultado alterações ultra estruturais nos testículos dos ratos, número e tamanho das células de Leydig diminuídas no espaço intersticial e um aumento da extensão das mudanças ultra apoptóticas sobre o testículo dos ratos treinados (FOLETTO et al., 2010). O segundo estudo realizado em 2010 também teve como treinamento a natação, porém, com a adição de mais um treinamento de força, mostrando que houve um aumento da hipertrofia e das concentrações de proteína nos ratos submetidos ao treinamento de força (NARAGHI et al., 2010). Em 2011 um estudo utilizou exercício de natação e um treinamento de força, mostrando que o EAA é eficaz em aumentar a hipertrofia e as concentrações de proteína muscular em ratos apenas quando associado ao treinamento de força (CARMO et al., 2011).

Quadro 1. Estudos realizados com ratos tratados com decanoato de nandrolona 5mg/Kg

Efeitos adversos dos esteróides anabólicos androgênicos

    O sistema reprodutor masculino é dependente de hormônios para regular sua função. O FSH é requerido para a espermatogênese, e o LH estimula a produção de andrógenos testiculares pelas células de Leydig. O processo da espermatogênese é dependente da testosterona testicular para se manter e os órgãos sexuais são ligados ao andrógeno para desenvolver suas atividades fisiológicas. A secreção de LH é regulada pelo mecanismo de feedback em função da concentração plasmática de testosterona circulante, que controla a secreção endócrina da hipófise e do hipotálamo. A secreção de FSH é regulada pela testosterona plasmática e também pela inibina, um hormônio peptídico produzido pelas células de Sertoli (RODRIGUES, 2004).

    A próstata é uma glândula acessória do sistema genital masculino responsável pela secreção e armazenamento de uma ampla gama de produtos do líquido seminal (AUMÜLLER, SEITZ, 1990; PRICE, 1963). Sua secreção fornece aos espermatozóides condições ideais de sobrevivência e viabilidade durante e após a ejaculação. Histologicamente é composta por unidades secretoras túbulo-acinares, envoltas por um estroma rico em células musculares lisas. (PRICE, 1963).

    O controle da diferenciação e da atividade prostática é bastante complexo e depende de uma soma de fatores extrínsecos e intrínsecos (LEE, KOZKOWSKI, GRAYHACK, 1997). Os hormônios androgênicos têm sido apontados como o fator extrínseco de maior importância, atuando na homeostase do órgão maduro e também nos eventos que levam ao seu desenvolvimento embrionário e à maturação funcional (MARKER et al., 2003; VILAMAIOR; TABOGA; CARVALHO, 2006). A forma hidroxilada da testosterona, a di-hidrotestosterona (DHT), é a de maior ação na próstata, devido à alta afinidade com os receptores de andrógeno (CUNHA et al., 1987).

    A infertilidade masculina é uma síndrome multifatorial que abrange uma grande variedade de desordens, que podem ser congênitas ou adquiridas (YANAGIMACHI, 1994). O epitélio seminífero é um dos tecidos que mais prolifera no corpo, sendo, portanto, alvo direto de drogas que atuam sobre a divisão celular. Por esta razão, ao interferir com o processo da espermatogênese, estas drogas podem induzir à esterilidade (HISASI et al., 2000).

    Os EAA combinados ao exercício físico podem induzir a algumas alterações subclínicas no eixo hipotálamo pituitário gonadal (HPG). Tais mudanças incluem principalmente uma redução dos níveis circulantes de testosterona total e livre, bem como do LH. Estes efeitos resultam de um feedback negativo dos androgênios sobre o eixo HPG (NARAGHI; ABOLHASANI; KASHANI, 2010; SHOKRI; AITKEN; ABDOLVAHHABI, 2009).

Padrão de administração dos esteróides anabólicos androgênicos

    Os EAA são freqüentemente usados em combinações. Os usuários de EAA comumente administram dois ou mais esteróides anabólicos associados. Eles podem praticar o chamado stacking ou empilhamento, ou seja, no início de um ciclo de doses baixas do empilhamento as substâncias são administradas e a dose é aumentada gradualmente por 6-12 semanas (GARCÍA, 2011). Na segunda metade do ciclo, as doses são lentamente diminuídas para zero. Outra prática é fazer regimes de dosagens cíclicas chamado pyramiding ou piramidação, eles acreditam que este permite que o corpo tenha tempo para se adaptar às altas doses, e o ciclo livre de drogas dá tempo para o sistema hormonal do corpo se recuperar (AMSTERDAM; OPPERHUIZEN; HARTGENS, 2010). Os EAA administrados por esses usuários podem ser de forma oral ou intramuscular (GARCÍA, 2011). E até algumas vezes esses EAA administrados são de uso veterinário, podendo ser observado na Tabela 1.

Tabela 1. Principais Esteróides Anabólicos Androgênicos utilizados

Controle do uso de esteróides anabólicos androgênicos no esporte

    O abuso de EAA, dentro e fora do cenário esportivo, se constitui atualmente em grande preocupação social, governamental e das mais importantes agências sanitárias e esportivas, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Comitê Olímpico Internacional (SILVA et al., 2007). Certamente os usuários de EAA desconhecem quais são os possíveis efeitos colaterais, com base nestas evidências tornam-se necessárias medidas preventivas, com o intuito de esclarecer aos praticantes de atividade física a respeito dos efeitos colaterais vindos da utilização inadequada do EAA, pois o prejuízo é grande e muitas vezes provocando danos permanentes e irreversíveis, com os possíveis benefícios sendo transitórios (BOFF, 2008).

Considerações gerais

    O uso de EAA é comum em muitos países, se tornando um problema de saúde pública. Sendo assim, é importante que haja mais estudos de revisão sobre combinação duas ou mais substâncias, com o intuito causar hipertrofia. Com o uso de EAA se difundindo largamente entre os atletas das diferentes modalidades, as entidades esportivas internacionais há algum tempo vêm incentivando o desenvolvimento de métodos para sua detecção, a fim de desestimular seu uso indiscriminado.

Referências

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