Riscos ocupacionais na atenção primária à saúde: o contexto laboral dos profissionais Los riesgos laborales en la atención primaria en salud: el contexto laboral de los profesionales Occupational risks in primary health care: the context of employment professionals |
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*Acadêmico do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Membro do Grupo de Pesquisa em Enfermagem da UNIMONTES. Montes Claros, Minas Gerais **Acadêmicas do Curso de Graduação em Enfermagem da UNIMONTES. Montes Claros, Minas Gerais ***Enfermeira. Professora Mestre do Departamento de Enfermagem da UNIMONTES. Membro do Grupo de Pesquisa em Enfermagem da UNIMONTES. Montes Claros, Minas Gerais ****Enfermeiro. Professor Especialista do Departamento de Enfermagem da UNIMONTES. Montes Claros, Minas Gerais *****Enfermeira. Professora Doutora do Departamento de Enfermagem da UNIMONTES. Membro do Grupo de Pesquisa em Enfermagem da UNIMONTES. Montes Claros, Minas Gerais (Brasil) |
Cássio de Almeida Lima* cassio-enfermagem2011@hotmail.com Sarah Caroline Oliveira de Souza** Camilly Roberta da Silva** Helena Daniella de Morais Silva** Fernanda Marques da Costa*** Marden Costa Lopes**** Maisa Tavares de Souza Leite***** |
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Resumo Os riscos ocupacionais são mais reconhecidos no ambiente hospitalar. Contudo, na Atenção Primária à Saúde também há a exposição a esses riscos. Este estudo objetivou identificar, por meio de uma revisão de literatura, o contexto laboral dos profissionais da saúde, em especial do enfermeiro, atuantes no nível primário de atenção à saúde, quanto à exposição aos riscos ocupacionais. Realizou-se a busca de artigos científicos nas bases de dados BDENF, LILACS e SCIELO, entre novembro de 2012 e janeiro de 2013. Foram selecionados 20 artigos. A negligência dos trabalhadores com a sua própria saúde durante suas atividades e cenários inadequados de atuação propiciam o aumento da exposição aos riscos ocupacionais, sobretudo aos psicossociais e biológicos. Assim, podem ocorrer efeitos negativos para o desempenho e a qualidade de vida dos profissionais, para a atenção prestada aos usuários e, ainda, dificultar a execução dos princípios da Atenção Primária à Saúde. Unitermos: Risco ocupacional. Atenção Primária à Saúde. Profissionais da saúde. Enfermagem.
Abstract The occupational hazards are the most recognized in the hospital environment. However, the Primary Health Care also has exposure to these risks. This study aimed to identify, through a literature review, the working context of health professionals, especially nurses, working in primary health care, in terms of exposure to occupational hazards. The search of scientific articles was conducted in the databases BDENF, LILACS and SCIELO, between November 2012 and January 2013. Were selected 20 articles. The negligence of workers with their health during their activities and inadequate performance scenarios provide increased exposure to occupational hazards, especially to psychosocial and biological. So, there may be negative effects on the performance and quality of life for professionals in the care provided to users, and also hinders the implementation of the principles of Primary Health. Descriptors: Occupational Risk; Primary Health Care; Health Professionals; Nursing.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A Atenção Primária à Saúde (APS) adotou dimensões internacionais a partir da Conferência de Cuidados Primários de Saúde realizada em Alma-Ata, em 1978 (DIAS et al., 2009). A APS caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrangem a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação e a manutenção da saúde. É desenvolvida por meio do exercício de práticas gerenciais e sanitárias democráticas e participativas, sob a forma de trabalho em equipe, dirigidas a populações de territórios bem delimitados, pelas quais assume a responsabilidade sanitária, considerando a dinamicidade existente no território em que vivem essas populações. Utiliza tecnologias de elevada complexidade e baixa densidade, que devem solucionar os problemas de saúde mais frequentes e relevantes em seu território. Constitui-se no contato preferencial dos usuários com os sistemas de saúde e se norteia pelos princípios da universalidade, acessibilidade, coordenação do cuidado, vínculo, continuidade, integralidade, responsabilização, humanização, equidade e participação social (BRASIL, 2006).
A prática do enfermeiro, nesse panorama, é mediada por competências profissionais, saberes, habilidades e visões de mundo. A seu exercício cotidiano indica valores e concepções relacionadas ao contexto social e histórico existente. Esses valores e concepções definem a forma pela qual o profissional de enfermagem constrói sua prática de cuidado no desenvolvimento de suas ações. Tal profissão, em sua trajetória, é associada ao termo cuidado e esse é identificado na prática do enfermeiro como razão de ser, estimativa de valor social e econômico, desde o surgimento da profissão (FERREIRA; ACIOLI, 2010).
A enfermagem é a profissão do cuidar. Mas quem cuida do enfermeiro, que muitas vezes negligencia o seu próprio autocuidado? A atenção da equipe no ambiente de trabalho concentra-se no cuidar, mas no cuidar relacionado aos outros. E o enfermeiro, em sua atividade laboral, está sujeito aos riscos ocupacionais (BESSA et al., 2010). Observa-se no cotidiano dos profissionais de enfermagem certo desconhecimento em relação aos elos entre o seu processo de trabalho e o processo saúde-doença, ocasionado pelo despreparo desses profissionais em reconhecer o trabalho como um possível agente causal nos agravos à saúde, aliado à falta de informações sobre os riscos ocupacionais aos quais estão suscetíveis (CAVALCANTE et al., 2006).
Dessa forma, é preciso haver a busca de informações sobre os riscos ocupacionais que acometem os trabalhadores da saúde para que se estabeleçam medidas preventivas que visem à promoção da saúde dos profissionais e a elaboração de estratégias educativas direcionadas a esses, a fim de que conheçam os riscos de sua profissão e quais as medidas de biossegurança devem praticar para se protegerem. Adicionalmente, considera-se importante a realização de mais estudos acerca da saúde física e mental dos trabalhadores da APS (CHIOD; MARZIALE, 2006).
Há uma quantidade considerável de estudos realizados a respeito do ambiente hospitalar, mas existem poucos sobre a saúde dos profissionais que atuam na APS, especificamente em relação aos riscos ocupacionais a que se expõem nesse nível de atenção à saúde. Este estudo objetivou identificar, nesse cenário, as realidades vivenciadas pelos trabalhadores da saúde, sobretudo pelo enfermeiro, quanto aos riscos ocupacionais existentes na APS, para se identificar os contextos que proporcionam tal exposição e se possa construir possíveis subsídios para sua resolução ou minimização.
Métodos
O presente estudo se caracteriza como uma revisão de literatura, ancorada na premissa de que a familiaridade com a literatura proporciona uma visão holística do conhecimento atual sobre uma temática específica (POLIT; BECK; HUNGLER, 2011) e delineada através de etapas (MARCONI; LAKATOS, 2009).
Após a delimitação do tema, riscos ocupacionais no trabalho dos profissionais na Atenção Primária à Saúde, realizou-se a busca de artigos científicos nas bases de dados Banco de Dados em Enfermagem (BDENF), Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online (SCIELO). Essa etapa ocorreu entre novembro de 2012 e janeiro de 2013. Foram utilizados os descritores Risco Ocupacional; Atenção Primária à Saúde; Profissionais da Saúde; Enfermagem. Durante a leitura exaustiva e a seleção dos artigos, foram aplicados como critérios de inclusão: a publicação entre os anos de 2006 e 2013; disponibilidade dos artigos na íntegra e nos idiomas português ou inglês; e pertinência do conteúdo à temática. Atendendo a esses critérios, esta revisão de literatura compreende 20 artigos científicos, que atenderam a todos os critérios de inclusão aplicados ao conjunto inicial de artigos encontrados.
Riscos ocupacionais no contexto laboral da atenção primária à saúde
O trabalho dos profissionais na APS está envolto em vários riscos ocupacionais, que podem causar danos à saúde dos trabalhadores e, consequentemente, interferir na qualidade dos serviços prestados aos usuários (CHIOD; MARZIALE, 2006). Apesar da presença dos riscos, o que se percebe é que existe negligência tanto por parte dos trabalhadores quanto por parte das instituições de saúde, no que diz respeito à saúde ocupacional dos enfermeiros (BESSA et al., 2010). Milani et al. (2011) afirmam que a avaliação da presença de riscos pelos profissionais da área da saúde no ambiente de trabalho, embora seja subjetiva, pode ser uma premissa eficaz na tomada de decisão para a adoção de práticas seguras.
Em um estudo analítico de natureza qualitativa que verificou a percepção dos trabalhadores em um município do Rio Grande do Sul sobre os riscos aos quais estavam expostos na sua atuação, os riscos percebidos se relacionaram à violência física e moral, acidente típico de trabalho, desgaste emocional, irresolutividade do trabalho e doença ocupacional. Os resultados apontaram predominantemente para o binômio objeto-sujeito do trabalho e para os traços socioambientais das comunidades adscritas: cercas elétricas, cachorros, cavalos e animais peçonhentos. Os profissionais se deparavam com esses aspectos durante a prática da visita domiciliária (CEZAR-VAZ et al., 2009).
De acordo com Neves et al. (2011), na APS, há uma equipe multiprofissional responsável pelo atendimento ao usuário. Contudo, comumente essa equipe desempenha ações de forma não coordenada, sendo a maioria desenvolvida de forma individual, o que gera sobrecarga e estresse. A frequência em que ocorre a improvisação nesse nível de atenção a torna rotineira tanto na gestão quanto na assistência. Esse bloqueio diminui a motivação e a disposição dos profissionais no seu cotidiano, o que oportuniza o risco psicossocial.
Em revisão de literatura sobre a exposição dos trabalhadores na APS, os riscos psicossociais foram abordados nos 12 estudos analisados, seguidos pelos riscos biológicos, que foram identificados em 8. Os riscos físicos foram investigados em 7 pesquisas, enquanto os riscos químicos e ergonômicos foram abordados em 5 estudos. Todas as pesquisas eram de autoria de enfermeiras (CHIOD; MARZIALE, 2006). Em outra revisão, com 42 resumos publicados no Centro de Estudos e Pesquisas em Enfermagem entre 1979 e 2004, os riscos psicossociais também se destacaram, ao lado dos riscos biológicos e químicos. Em menor escala, ficaram os riscos físicos, de acidentes e ergonômicos. Nesse estudo, percebeu-se reduzida ênfase dispensada à subjetividade do trabalhador de enfermagem relacionada à temática, o que sugere lacuna nesse item (CASTRO; FARIAS, 2008).
Conforme investigação sobre a violência sofrida por 15 profissionais de uma unidade básica de saúde na APS no município de Porto Alegre, as agressões decorreram do processo de trabalho, das necessidades de saúde do cliente e das comunidades, do risco de exposição à agressão, do agressor, do tipo de agressão, da gestão em saúde e do próprio profissional. Eventos como raiva, fúria, intimidação e xingamento foram percebidos como agressões pelos referidos profissionais. Repensar a organização do processo de trabalho nos serviços de APS pode amenizar a vulnerabilidade dos profissionais às intempéries da violência. Os fatores associados ao risco psicossocial poderiam ser amenizados por meio de educação permanente e reflexão, maior flexibilidade nas relações humanas, melhora da estrutura dos serviços, dispositivos de segurança, menor tempo de espera do usuário e modificação nas atitudes dos profissionais frente aos atos de violência (KAISER; BIANCHI, 2008).
Bessa et al. (2010) assinalam que existem também as cargas físicas a que o enfermeiro está exposto, que encerram a exposição à iluminação precária, dificultando a realização de procedimentos; a falta de arejamento nos consultórios de enfermagem; e as instalações elétricas inadequadas, o que propicia o risco de choque elétrico, principalmente durante o exame papanicolaou. Os profissionais também podem sofrer acidente de trajeto, ao viajarem por estradas sem infraestrutura adequada em veículos velhos, enferrujados, com pneus gastos, bancos soltos, sem cintos de segurança e, frequentemente, com excesso de lotação.
Durante um atendimento típico em um município do interior do Ceará, puderam-se perceber as más condições ergonômicas no trabalho do enfermeiro. Em atendimentos desenvolvidos em educandários as prescrições eram feitas em cadeiras escolares. A prática de pré-natal era feita em camas comuns ou em macas improvisadas no solo. Realizava-se o exame papanicolaou em macas inapropriadas. Normalmente o enfermeiro fazia os exames em pé (BESSA et al., 2010).
E na APS os enfermeiros ainda se expõem ao risco biológico, uma vez que desempenham ações em que entram em contato com micro-organismos patogênicos, presentes em materiais perfurocortantes e em fluidos corpóreos. Ademais, manipulam objetos contaminados, entram em contato com pessoas portadoras de doenças transmissíveis e com secreções e pruridos na realização da coleta de material em exame preventivo e de sangue (NUNES et al., 2010). Assim, características como área física da unidade, fluxo de atendimento, aspectos epidemiológicos da população adscrita, perfil da equipe de saúde e organização da rede de saúde do município devem ser consideradas ao se analisar o possível risco de exposição biológica das ações realizadas nas unidades (CARDOSO; FIGUEIREDO, 2010). Nunes et al. (2010) apontam que as condições sanitárias dos domicílios muitas vezes são precárias, o que impede o profissional de realizar procedimentos simples como a lavagem das mãos, favorecendo ainda mais a exposição ao risco biológico.
Em pesquisa qualitativa realizada com médicos e enfermeiras de dois centros de saúde em Belo Horizonte, os entrevistados reconheceram a existência do risco de infecção pelo vírus da AIDS. No entanto, as representações concernentes ao risco de infecção ao qual o profissional se expõe no cotidiano de seu trabalho na APS demonstraram a classificação, pelos entrevistados na pesquisa, de situação de baixo risco, sobretudo se comparada com outros níveis de assistência. Nessa realidade, pode-se visualizar um discurso acrítico, que visualiza o risco apenas nos serviços de atenção secundária e terciária (SOUZA; FREITAS, 2010). Damasceno et al. (2006) complementam que muitos profissionais não dispensam a atenção necessária para os cuidados com a própria saúde, e menosprezam, frequentemente, os riscos relacionados aos acidentes envolvendo material biológico. A convivência cotidiana com ambiente insalubre pode diminuir a percepção dos trabalhadores sobre a adoção de medidas preventivas para a sua própria segurança.
Também pode ocorrer acidente com material perfurocortante durante procedimentos como vacinação, injeções e retirada de pontos. Ao fazerem o exame papanicolau os enfermeiros entram em contato com secreção vaginal da cliente. Também entram em contato com secreção de feridas e doenças infectocontagiosas, como tuberculose, viroses e parasitoses (BESSA et al., 2010). A aquisição de hepatite decorrente do trabalho também esteve presente nos estudos analisados na revisão de literatura. Dessa forma, os profissionais devem estar atentos quanto à exposição ao material biológico devido ao risco de contaminação pelo vírus da AIDS, da Hepatite B e da Hepatite C (CASTRO; FARIAS, 2008).
Todas as unidades estudadas em investigação sobre o reprocessamento de artigos críticos em unidades básicas de saúde desempenhavam inúmeros procedimentos que envolviam o uso de artigos críticos reprocessados nas atividades diárias. Desses procedimentos, todas realizavam curativos e procedimentos odontológicos, 97,0% faziam procedimentos ginecológicos, 94,0% realizavam suturas, 76,0% faziam pequenos procedimentos cirúrgicos e 59,0% drenagens de abscessos. Nessas unidades, o reprocessamento era efetivado por membros da equipe de enfermagem, 97,0%, de forma que 88,2% eram auxiliares de enfermagem e 8,8% eram técnicos de enfermagem. Das unidades investigadas, 29,4% não possuíam um ocupacional específico escalado diariamente para trabalhar exclusivamente na Central de Material e Esterilização. Consequentemente, o reprocessamento de artigos críticos era uma tarefa coletiva, reservada ao ocupacional que tinha menor número de atividades no dia. Logo, esse contexto pode ameaçar a qualidade do reprocessamento, a segurança do usuário, ambiental e laboral (COSTA; FREITAS, 2009).
Em resposta aos números crescentes de acidentes de trabalho com exposição a material biológico na APS, o Ministério da Saúde, em parceria com os estados e municípios, tem demonstrado uma preocupação em estruturar os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador e disponibilizar treinamentos que subsidiem a prática em saúde nesse campo (SPAGNUOLO; BALDO; GUERRINI, 2008). Recomenda-se a estruturação e/ou ampliação de um programa voltado para uma melhor assistência à saúde do trabalhador, incluindo a imunização dos profissionais de saúde segundo a natureza das atividades exercidas (DAMASCENO et al., 2006). No que tange especificamente à vacinação contra a hepatite B, idealmente, as ações que visem diminuir a incidência dessa grave doença entre os profissionais da APS devem fazer parte de outras voltadas à saúde do trabalhador, que almejem a prevenção e o controle de riscos nos ambientes de trabalho (COSTA et al., 2013).
Há, por conseguinte, a necessidade da criação de estratégias gerenciais de prevenção dos riscos ocupacionais na APS, no intuito de garantir ações de promoção da saúde e a utilização de mecanismos referentes à educação permanente, buscando sensibilizar, capacitar e escutar os trabalhadores, principalmente no que se refere às medidas de biossegurança (SANTOS et al., 2013).
Cavalcante et al. (2006) asseguram que, nesse âmbito, o desafio da enfermagem para enfrentar os riscos ocupacionais implica em reorientar sua prática profissional e diminuir os impactos da sua divisão social. O trajeto que conduz o enfermeiro à exposição aos riscos ocupacionais é determinado por um conjunto de condições: a comunicação, o relacionamento interpessoal, a ausência de consciência do risco do outro e de si mesmo no ambiente laboral. Não há como pensar em intervenções voltadas somente para o indivíduo, sem assumir uma consciência holística do contexto que interfere nesses aspectos, que, indubitavelmente, desde que efetivados em consonância com as normas de biossegurança, podem apoiar e direcionar os profissionais numa perspectiva de maior autoproteção (NEVES et al., 2011).
Considerações finais
Com embasamento na literatura, é possível concluir que na APS os profissionais da saúde, sobretudo o enfermeiro, estão expostos aos riscos ocupacionais. Nesse nível de atenção também há a presença de tais riscos, sejam biológicos, físicos, químicos, ergonômicos, mecânicos ou psicossociais, e não somente no nível terciário de atenção à saúde. O contexto laboral vivenciado na APS é permeado por situações que podem comprometer a saúde dos trabalhadores e, consequentemente, os serviços prestados aos usuários. Entre essas situações se destacam as características ambientais da área geográfica onde se localiza o ambiente de trabalho, as condições sanitárias de tal área e das moradias das pessoas, as especificidades socioculturais, políticas e econômicas da comunidade adscrita, a infraestrutura do local de trabalho e as maneiras como os profissionais exercem suas atribuições.
No que se refere à predominância dos riscos psicossociais e biológicos, os artigos científicos analisados evidenciam o contexto em que ocorrem e suas implicações para profissionais e clientes. Sendo que a incidência de tais riscos é maior sobre o enfermeiro. Os demais riscos são pouco explorados nos estudos.
As medidas que poderiam ser aplicadas na minimização da exposição aos riscos ocupacionais na APS englobam principalmente a educação permanente, além de progressos nas ações políticas de saúde do trabalhador da área da saúde, a identificação de possíveis suscetibilidades dos profissionais para adquirir doenças infectocontagiosas, vacinação dos trabalhadores, melhorias na infraestrutura e no funcionamento dos ambientes laborais e na gestão da APS. Assim, podem-se gerar serviços mais eficazes para os usuários e que não ocasionem agravos ao trabalho, à saúde e à qualidade de vida dos enfermeiros e demais profissionais. Também se faz imperiosa a realização de mais estudos sobre a temática, para esclarecer ainda mais sobre os riscos ocupacionais na APS e propor possíveis soluções para a exposição a esses riscos.
Referências
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