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Análise do perfil psicomotor de adolescentes deficientes visuais 

praticantes de natação em relação à estruturação espaço-temporal

Análisis del perfil psicomotor de adolescentes discapacitados
visuales practicantes de natación en relación a la estructuración espacio-temporal

Psychomotor profile analysis on visually impaired teenage swimmers regarding to spatial-temporal reasoning

 

*Graduada em Educação Física Estácio/FIC

**Mestre em Educação e Gestão, Docente Estácio/FIC e FCC

***Mestre em Saúde pública, Docente Estácio/FIC

****Mestre em Saúde Coletiva, Docente FAMETRO e FCC

*****Mestranda em Saúde Pública, Técnica da SECEL

(Brasil)

Sheyla Oliveira de Andrade Gonçalves*

Eduardo Jorge Lima**

Francisco Trindade Silva***

Demétrius Cavalcanti Brandão****

Juliana Leite Soares*****

demetriuscb@yahoo.com.br

 

 

 

 

Resumo

          Devido às propriedades físicas da água, a natação permite ao indivíduo uma liberdade de movimentos e um maior número de experiências motoras, sendo esta considerada um dos esportes mais apropriados para pessoas com algum tipo de deficiência. E baseando-se nisto, o presente estudo tem como objetivo fazer uma análise do perfil psicomotor de adolescentes deficientes visuais praticantes de natação em relação à estruturação espaço-temporal. Fizeram parte da amostra nove adolescentes deficientes visuais de ambos os sexos com idade entre doze e dezoito anos, divididos em dois grupos: praticantes regulares de natação e não praticantes de natação. A pesquisa caracterizou-se como descritiva e quantitativa, observando, analisando e correlacionando os dados coletados através da investigação. Como instrumento de pesquisa foram utilizados testes adaptados à realidade dos indivíduos, baseados na Bateria psicomotora sugerida por Fonseca. Os resultados apresentaram um melhor perfil psicomotor, em relação à estruturação espaço-temporal, nos adolescentes que praticam regularmente natação em comparação com os que não praticam, revelando uma boa influência da prática de natação no desenvolvimento psicomotor de pessoas com deficiência visual.

          Unitermos: Pessoa com deficiência visual. Desempenho psicomotor. Natação.

 

Abstract

          Due to the water physical properties, swimming allows individuals to have free movements and a greater number of motor experiences which is considered one of the most appropriate sports for people with disabilities. Based on that, this study aims to analyze the psychomotor profile of visually impaired teenage swimmers regarding to spatial-temporal reasoning, as well as, identifying gaps and progress in this very aspect. The sample consisted of nine visually impaired teenagers, of both genders, between twelve and eighteen years old, divided in two groups: regular swimmers and non-regular swimmers. The research was descriptive and quantitative, observing, analyzing and correlating the collected data. The research instruments used were tests adapted to the individuals’ reality, based on the psychomotor tests suggested by Fonseca. The results show a better psychomotor profile, regarding to spatial-temporal reasoning, on regular teenage swimmers than non-regular teenage swimmers, showing a good influence of swimming in the psychomotor development of visual impaired people.

          Keywords: People with visual impairment. Psychomotor performance. Swimming.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Para Bueno (1998), a água é um dos meios mais precoces de intervenção pedagógica e psicomotora, sendo a natação uma atividade física que engloba várias finalidades como: terapia, competição ou lazer, funcionando como meio de segurança, educação física e saúde, além de ser um dos meios mais prazerosos para qualquer indivíduo que o descubra realmente.

    Através da água muitos benefícios são alcançados, e isto se dá devido as suas propriedades biomecânicas. Segundo Skinner e Thomson (1985), a densidade relativa da água (relação entre a massa do corpo e o volume de água deslocado) determina a flutuabilidade de um corpo. E esta, por sua vez, se baseia no Princípio de Arquimedes, explicando que a flutuação é a força que atua no sentido contrário a força da gravidade (empuxo), exercendo uma força ascendente em qualquer corpo que esteja imerso na água. E sobre a pressão hidrostática, Baum (2000) diz que está relacionada com a Lei de Pascoal, ou seja, a pressão do líquido é exercida igualmente em toda a superfície de um corpo submerso.

    Para Winnick (2004), é devido a essas propriedades que o ambiente aquático facilita a amplitude de movimento das articulações, melhora a força e a resistência muscular, o controle respiratório e a aptidão cardiorrespiratória, promovendo assim, através da natação, uma melhoria nas habilidades de locomoção, postura, fala, bem como no desenvolvimento psicossocial e cognitivo.

    Segundo Magalhães (2002), o olho é responsável pela aquisição de aproximadamente 80% do conhecimento humano. Diante disso, diz-se que a visão exerce um papel valioso na aquisição do conceito do espaço e na percepção de sua tridimensionalidade. Pensando nesta afirmação fica o seguinte questionamento: “Como se dá o desenvolvimento psicomotor de um indivíduo com deficiência visual?”

    Sobre isto, Bahia (2007), diz que para o deficiente visual estruturar a aquisição de suas habilidades, na maioria das vezes, ele utiliza uma informação fragmentada, a qual é oferecida pelas demais modalidades sensoriais, levando-o a trabalhar com uma maior quantidade de informações, embora um valor informativo menor. Isto faz com que os seus processos cognitivos se tornem lentos, prolixos, difíceis e suscetíveis a erros.

    Para Abrantes, Luz e Barreto (2006), a prática da natação tem sido de grande importância para o desenvolvimento global de pessoas com deficiência visual, trazendo benefícios que influenciam diretamente nas suas atividades diárias, tendo em vista que a prática de atividades motoras constitui-se num dos principais instrumentos para o desenvolvimento das potencialidades individuais e coletivas desta população, neste sentido, este estudo dedica-se a fazer uma análise da influência da natação no desenvolvimento da estruturação espaço-temporal de adolescentes deficientes visuais praticantes de natação em comparação com um grupo com semelhante ou igual nível de deficiência visual não praticante de natação e, consequentemente, identificar as defasagens e os avanços na estruturação espaço-temporal destes.

    Para abordar qualquer questão referente à deficiência visual é necessário conhecer entender algumas definições:

    “Deficiência - toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano”. (Decreto N° 3.298 de 20/12/99 - DOU de 21/12/99 apud GURGEL, 2009, p. 13).

    Outra definição é dada por Oliveira e Perim (2009), afirmando que a deficiência da visão se refere a uma limitação sensorial que anula ou reduz a capacidade de ver, abrangendo vários graus de acuidade visual e, permitindo várias classificações da redução de visão. Assim, quando se adota uma determinada classificação, deve-se ter em mente quais são as finalidades propostas pra sua utilização.

    No Manual de orientação para os professores de Educação Física do Comitê Paraolímpico Brasileiro, a cegueira pode ser subdividida em cegueira total ou parcial: “Entende-se por cegueira total a completa perda da visão. [...] não sendo possível distinguir nem mesmo a luz. [...] Pessoas que só percebem vultos, a curta distância, se enquadrariam no que se conceitua como cegueira parcial”. (CONDE, SOBRINHO e SENATORE, 2006, p. 28).

    De acordo com Coll, Marchesi e Palacios (2004), o sistema de lecto-escrita utilizado pelas pessoas cegas e por aquelas que têm deficiências visuais muito graves é o Braille, pois se trata de um sistema para ser explorado de forma tátil, onde sua unidade básica é a célula, formada por combinações de pontos em relevo.

    Sena (2005), afirma ainda que o Braille é ensinado, aprendido e lido de um modo quase idêntico à escrita e leitura comuns, sendo que a diferença é que um leitor experiente de Braille usa as duas mãos, uma adiante da outra, que se movem em sentido horizontal ao longo da linha utilizando-se de um toque leve e uma pressão uniforme.

    Dentre todas as valências psicomotoras serão enfatizadas as seguintes:

  • Organização espacial – para Bueno (1998) é a tomada de consciência da situação das coisas entre si. É ter a noção de direção (acima, abaixo, à frente, atrás, ao lado), e de distância (longe, perto, curto, comprido) em integração.

  • Organização temporal – de acordo com Bueno (1998), é a capacidade de relacionar ações a uma determinada dimensão de tempo, de ordem e de duração, onde sucessões de acontecimentos e de intervalo de tempo são fundamentais.

  • Estruturação espaço-temporal – segundo Bueno (1998), é a capacidade de avaliar tempo-espaço, interagindo-a numa sucessão e em grandeza espacial. E afirma ainda que “ela permite ao indivíduo não só se movimentar e se reconhecer no espaço, mas também relacionar e dar sequência aos seus gestos, localizar as partes do seu corpo e situá-los no espaço [...]”.

    De acordo com Coll, Marchesi e Palacios (2004), tudo parece indicar que os cegos, ao chegar à adolescência, conseguem “remediar”, graças à linguagem, os problemas figurativos resultantes de sua dificuldade visual.

    Bahia (2007) diz que a água funciona como um amálgama envolvendo o corpo e possibilitando uma melhor consciência dos movimentos, facilitando assim a construção de uma independência e autonomia nos deslocamentos no tempo e no espaço.

    Em relação às sensações recebidas na água, Catteau e Garoff (1990) lembram que existem três canais de sensibilidades: exteroceptiva (tato, visão, audição, paladar e olfato), proprioceptiva (sentido cinestésico-sensibilidade postural) e interoceptiva (ligada a vida orgânica e vegetativa).

Material e métodos

    Este estudo caracteriza-se por dois enfoques: descritivo e quantitativo. Descritivo porque segundo Cervo, Bervian e Silva (2007), um estudo descritivo observa, registra, analisa e correlaciona fatos (variáveis). E quantitativo porque para Creswell (2007), usamos alegações pré-positivistas para o desenvolvimento do conhecimento, onde empregamos estratégias de investigação como a coleta de dados.

    A pesquisa foi desenvolvida com os alunos participantes do Projeto Amigos Especiais, realizada nas dependências da FIC – Unidade Via Corpvs na Rua Eliseu Uchoa Becco, nº 600 - Cocó - Fortaleza, CE, no período de abril a maio de 2012. O Projeto possui dezoito alunos entre crianças, adolescentes e adultos, porém, somente dez fizeram parte da amostra. Sendo estes de ambos os sexos, com idade entre doze e dezoito anos, com cegueira total ou parcial (B1, B2 e B3), divididos em dois grupos: cinco praticantes regulares de natação e cinco não praticantes de natação. Com cegueira total ou parcial congênita ou adquirida, praticantes regulares de natação há no mínimo 90 dias, salientando que era necessária uma prática semanal de no mínimo 50 minutos cada aula. E no outro grupo seguem-se os mesmos critérios, porém não praticantes de natação. Adolescentes que não deram continuidade ao estudo, não realizando todos os testes ou se omitindo de algum.

Análise e obtenção dos dados

    Para a coleta de dados foi aplicada uma bateria de seis testes adaptados à realidade dos adolescentes, e realizados em um período de 15 dias, no horário das aulas do Projeto Amigos Especiais (de 17h00min as 19h00min).

    A presente investigação buscou fazer uma análise psicomotora em relação à estruturação espaço-temporal de adolescentes deficientes visuais . A coleta de dados foi feita através de testes adaptados baseando-se nos testes psicomotores sugeridos por Fonseca (1995). A pesquisa compreendeu em analisar a capacidade concreta de calcular as distâncias, o tempo e os ajustamentos dos planos motores necessários para percorrê-los, pondo em jogo a noção do corpo e a lateralização do mesmo em relação à trajetória sugerida. Em todos os testes o nível de realização foi medido numericamente, sendo a cotação máxima da prova de 4 pontos e a mínima de 1 ponto, da seguinte forma:

  1. Perfil Apráxico – não executa o movimento ou realiza de forma incompleta e muito descoordenada;

  2. Perfil Dispráxico - realização imperfeita e com dificuldade de controle;

  3. Perfil Eupráxico – realização completa, podendo revelar certa imprecisão;

  4. Perfil Hiperpráxico – nenhuma dificuldade na execução do movimento.

    Acerte o centro: Ao receber uma folha de papel A4 e um lápis nº 2, sentado numa cadeira e apoiando-se numa mesa, o adolescente marca um ponto no centro da folha, que foi analisado através de uma escala.

    Traço de linha: Sentado numa cadeira e apoiando-se numa mesa, o adolescente traça uma linha horizontal e uniforme (sem interrupções) no centro de uma folha de papel A4, que foi analisado através de uma escala.

    Análise espacial: Foi sugerido ao adolescente que andasse normalmente de um ponto a outro na distância de 5 metros, sinalizando o início e o final do percurso com um apito. Após, tendo como base a distância percorrida, o adolescente realizou novamente o mesmo percurso, sendo sinalizado somente o início deste, devendo parar por sua própria orientação com os pés paralelos em cima da marca final (30 cm de largura e 1 m de comprimento).

  • Cotação 4 – Se realizado com os dois pés na marca final;

  • Cotação 3 – Se realizado com um passo de diferença em relação a marca;

  • Cotação 2 – Se realizado com dois passos de diferença;

  • Cotação 1 – Se realizado com mais de 2 passos de diferença.

    Orientação: Consistiu em subir em um banco sueco (5 m de comprimento, 20 cm de largura e 20 cm de altura) posicionado à sua frente e saltar horizontalmente com os pés paralelos e unidos dentro do setor marcado no chão nas proporções 1, 1,5 e 2 metros já sugerindo a cotação, e logo após o salto caminhar dentro deste setor até a marca final, não sendo avaliada a distância do salto, mais sim a precisão da posição final dentro do setor percorrido.

    Mapeamento: Retratando a capacidade espacial e a capacidade de interiorização de uma trajetória espacial apresentada num levantamento das coordenadas espaciais e objetais de uma sala, o observador juntamente com o adolescente percorreu a trajetória fazendo o levantamento espacial, logo após reproduz as seguintes trajetórias: “1 – 2 – 3 – 1” e “1 – 3 – 2 – 1”.

    Cotação 4 – Realização perfeita e econômica, seguindo corretamente a trajetória sugerida. Cotação 3 – Realização controlada e adequada, errando somente um ponto da trajetória. Cotação 2 – Realização com dificuldades de controle, errando dois pontos da trajetória. Cotação 1 – Realização imperfeita, incompleta e descoordenada, errando mais de dois pontos da trajetória.

    Direcionamento: Foi sugerido que o adolescente andasse normalmente dentro de setor marcado no chão até receber um toque com uma vara (cabo de vassoura) no ombro para girar o corpo à 90º para o mesmo lado onde recebeu o toque.

    Aspectos éticos: A pesquisa foi desenvolvida respeitando a veracidade das informações coletadas na sua totalidade. Sendo utilizado um termo de consentimento livre esclarecido, de acordo com a resolução 196/96 do CNS.

Resultados

    O estudo apresenta os seguintes resultados: os cinco praticantes de natação apresentaram um perfil psicomotor entre eupráxico e hiperpráxico. Já o grupo não praticante de natação apresentou resultados variados, dois com resultados semelhantes aos adolescentes praticantes de natação (eupráxico e hiperpráxico), um com perfil entre dispráxico e eupráxico, e outro com perfil entre apráxico e dispráxico, sendo um grau de defasagem entre severo e moderado, o que é melhor ilustrado através dos gráficos abaixo.

    O gráfico 1 demonstra os resultados colhidos através do teste “Acerte o centro”, que consistia em marcar um ponto no centro de uma folha de papel A4. Dos nove, sete adolescentes atingiram uma cotação numérica entre 3 e 2, dos quais cinco são praticantes regulares de natação. As demais cotações 1 e 4 foram obtidas por adolescentes não praticantes de natação.

    No gráfico 2 estão representados os resultados do teste “Traço de linha”, que solicitava aos adolescentes traçar uma linha uniforme no centro da folha de papel A4. Neste, cinco atingiram a cotação máxima, dos quais quatro são praticantes de natação. Dois adolescentes atingiram a cotação 3, sendo um deles praticante de natação. Outros dois atingiram a cotação 2, ambos adolescentes praticantes de natação.

    Os resultados do teste “Análise espacial”, que observa a capacidade concreta de calcular as distâncias de um ponto a outro, está representado no gráfico 3, possibilitando visualizar que a maioria dos pesquisados (cinco) atingiram a cotação 3, dos quais três são adolescentes praticantes de natação. Dos três que conseguiram a cotação 4, somente um não pratica natação. E o deficiente visual que atingiu a cotação mínima (1) também não pratica natação.

    O teste “Orientação” mostra seus resultados no gráfico 4. Este teste consistia em subir num banco sueco (instrumento utilizado para o treinamento da ginástica), saltar para frente e logo após caminhar numa distância de 5 metros. Dos seis deficientes visuais que atingiram a cotação 3, quatro não são praticantes de natação, contudo, a cotação 4 somente foi atingida por dois adolescentes praticantes regulares de natação.

    O gráfico 5 representa os resultados do teste “Mapeamento”. Neste, foi analisada principalmente a capacidade de interiorização de uma trajetória espacial apresentada num levantamento das coordenadas espaciais, sendo que o adolescente deveria reconhecer uma sala com uma porta, uma cadeira e uma mesa, que seriam suas coordenadas e em seguida faria um percurso baseando-se nestas coordenadas. Dos nove adolescentes, quatro atingiram a cotação máxima, sendo todos eles deficientes visuais praticantes de natação; quatro atingiram a cotação numérica 3, sendo somente um praticante de natação. O adolescente que alcançou a cotação 2 pertence ao grupo dos não praticantes de natação.

    Os resultados do teste “Direcionamento” estão representados no gráfico 6. Este teste solicitou aos adolescentes que andasse num corredor traçado no chão, já sugerindo a cotação, até que fosse tocado no ombro, logo após o toque o mesmo deveria virar 90º para o mesmo lado que foi tocado, observando os ajustes motores à medida que realiza a translação espacial de um ponto para outro num intervalo de tempo. Neste teste, cinco adolescentes alcançaram a cotação 3, dos quais somente dois pertence ao grupo dos deficientes visuais praticantes de natação, porém, três deste mesmo grupo atingiram a cotação máxima. A cotação 2 foi atingida por um adolescente não praticante de natação.

Tabela 1. Perfil psicomotor de adolescentes deficientes visuais praticantes de natação

Discussão

    De acordo com Coll, Marchesi e Palacios (2004), a maior parte das pesquisas realizadas nos últimos anos sobre o desenvolvimento cognoscitivo dos cegos mostra que, ao chegar à adolescência e a fase adulta, atingem um nível de desenvolvimento equivalente ao das pessoas videntes, contudo, devido à ausência da visão, a percepção espacial na pessoa cega é dificultada, fazendo-a utilizar os demais sistemas sensoriais para conhecer o mundo à sua volta, dependendo principalmente do tato e da audição. Por este motivo, Diehl (2006), diz que a estimulação psicomotora da pessoa cega deve começar desde o seu nascimento, preparando o corpo para reconhecer formas, grandezas, texturas, peso, entender sons, desenvolver noções de quantidade e ter noções de tempo e espaço, enriquecendo seu vocabulário cinestésico.

    Para Massaud e Corrêa (2001), a natação é um dos esportes mais apropriados para indivíduos com algum tipo de deficiência, e isto se dá devido aos benefícios e às facilidades proporcionados pela execução de movimentos com o corpo imerso na água, pois as propriedades físicas da água (densidade, pressão hidrostática, viscosidade, entre outras) irão influenciar no comportamento humano, podendo-se esperar, então, uma variedade de efeitos psicológicos, fisiológicos e motores. E estes efeitos também são confirmados por Damasceno (1992), quando diz que a natação por dirigir-se ao estabelecimento do movimento, não inibindo a criatividade, permite ao indivíduo a exploração e o manejo do meio, através de atividades motoras, que contribuem para a estruturação do seu esquema corporal, o que favorece diretamente a estruturação espaço-temporal.

Conclusão

    Podemos questionar o desenvolvimento psicomotor dos cegos, vimos que os deficientes visuais fazem adaptações sensoriais, e não se trata de “hipertrofia” dos demais sentidos, pois não se pode dizer que estes tenham maiores ou menores patamares sensoriais em relação aos videntes, mas que eles podem aprender a utilizá-los melhor ou para outras finalidades distintas do que fazem os videntes.

    Além disso, também podemos observar as defasagens e os avanços psicomotores relacionados à estruturação espaço-temporal, baseando-se na cotação numérica atingida e, assim, promover uma prática específica, procurando superar as defasagens e manter os avanços obtidos, o que é fundamental para a vida destes indivíduos, já que os deficientes visuais estão sempre recrutando diversos fatores psicomotores e cognitivos para realizar uma tarefa que pode parecer muito simples para os videntes, como por exemplo, deslocar-se dentro de sua própria casa, que requer uma interiorização apurada das coordenadas espaciais e objetais do local num intervalo de tempo, calculando passadas e ritmo.

    Com isto, podemos concluir que o envolvimento do indivíduo deficiente visual com a natação traz benefícios não só para o seu desenvolvimento psicomotor, mas também para o seu estado emocional e conseqüentemente a melhoria da sua qualidade de vida.

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