O que comem os adolescentes brasileiros? Diferenças entre comportamentos alimentares de adolescentes de escolas particulares e públicas em uma região do Brasil ¿Qué comen los adolescentes brasileños? Diferencias entre el comportamiento alimentario de los adolescentes de las escuelas privadas y públicas en una región de Brasil |
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*Graduanda em Nutrição da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de Brasília. Bolsista de Iniciação Tecnológica, CNPQ, UnB **Mestranda em Nutrição Humana, UnB ***Doutora em Ciências da Saúde/UnB, Docente do Curso de Nutrição, UnB (Brasil) |
Ada dos Santos Bento* Stefanie Eugenia dos Anjos Campos Coelho** Muriel Bauermann Gubert*** |
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Resumo O objetivo do estudo foi verificar possíveis diferenças no consumo de alimentos nacionais e regionais entre os adolescentes de escolas públicas e particulares de uma região do Brasil, assim como diferenças no comportamento alimentar desses dois grupos. O estudo caracterizado como transversal foi realizado por meio de coleta online entre alunos do 9º ano de escolas públicas e privadas nas capitais da região Centro-Oeste do Brasil. Foi utilizado instrumento com questões sobre variáveis demográficas e variáveis quanto ao consumo de alimentos saudáveis e regionais, além de questões sobre o comportamento alimentar. As análises utilizadas foram descritivas e de associação, considerando-se significativas aquelas com p<0,05. Quanto aos resultados, foi observada diferença significativa no conhecimento de alimentos da cultura nacional, sendo que alunos de escolas públicas os conhecem com maior freqüência. Entretanto não foi observada diferença significativa quanto ao conhecimento de alimentos típicos da região estudada. Observa-se que alunos de escolas públicas consomem mais alimentos saudáveis e também alimentos não saudáveis (p>0,05). Os alunos de escolas públicas almoçam em casa mais freqüentemente, além de realizaram suas refeições no quarto com menor freqüência. Porém, os alunos de escolas particulares realizam suas refeições principais com os pais durante 3 dias ou mais na semana mais freqüentemente do que os alunos de escolas públicas. Portanto nota-se a necessidade de intervenção nutricional quanto ao consumo de alimentos regionais, já que foi observado que os adolescentes de ambos os tipos de escolas conhecem esses alimentos, porém não os consomem com tanta freqüência. Conclui-se que há algumas diferenças no comportamento alimentar de alunos de escolas públicas e privadas da região Centro-Oeste do Brasil. Unitermos: Adolescente. Comportamento alimentar. Cultura.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O processo de desenvolvimento humano ocorre de forma multidimensional sendo influenciado por diversos fatores, entre eles os biológicos, psicológicos, socioculturais, econômicos e históricos. A adolescência é a fase do ciclo da vida em que o desenvolvimento atinge seu auge, sendo que neste período ocorre a maior parte destas mudanças¹. Pode-se dizer também que é nessa época que algumas características do comportamento alimentar também estão sendo moldadas e da mesma forma, influenciadas por vários fatores².
A cultura participa da determinação das escolhas alimentares, pois é através dela que se aprende o que, quando, com quem e por que comer. As práticas alimentares estão associadas ao contexto cultural em que cada um está inserido³. No Brasil, por exemplo, é tradição de norte a sul o consumo de arroz e feijão e em cada região há também seus hábitos alimentares peculiares, regionais4.
A alimentação dos brasileiros vem sofrendo modificações nos últimos anos devido principalmente à urbanização e à globalização³. Observa-se atualmente um maior consumo de produtos ultraprocessados e menor de alimentos tradicionais, quando comparado com a alimentação algumas décadas atrás. Esse fato representa um aspecto negativo para a saúde da população brasileira, tendo em vista o conteúdo excessivo de sal, açúcar e gordura nestes produtos6. É comum a presença maciça desses produtos na alimentação de jovens, o que representa um fator de risco para o desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis associadas a uma alimentação inadequada7. Segundo dados da última Pesquisa de Orçamento Familiar (2010)8, os adolescentes (14-18 anos) de ambos os sexos apresentam maior média de consumo de colesterol, açúcares totais e ácidos graxos saturados comparados com adultos e idosos.
Apesar deste processo de globalização da alimentação e da diminuição de consumo de alimento tradicionais, ainda é possível observar a presença significativa desses alimentos, como arroz e feijão, na alimentação dos brasileiros9. Ou seja, o que se observa não é a cultura tradicional sendo ocupada por uma global, mas sim o que está ocorrendo é uma sobreposição de culturas3.
Os adolescentes tendem a incorporar novos hábitos alimentares mais rapidamente talvez porque tentem mostrar que estão rejeitando as tradições, costumes e o que é socialmente aceito. Em populações migrantes observa-se que os jovens alteram seus hábitos de acordo com o novo contexto social antes dos outros membros da família3. Além disso, os adolescentes realizam suas escolhas alimentares como tentativa de se encaixar em determinado grupo social. Em uma pesquisa realizada nos Estados Unidos com o objetivo de verificar a diferença da influência dos pais e de amigos nas escolhas alimentares de adolescentes foi possível observar que adolescentes meninas tendem a consumir mais alimentos saudáveis quando estão na presença de amigas. Isso ocorre, pois desejam se destacar no grupo e passar impressão para as amigas de que tem uma alimentação saudável10.
Outro fator que atualmente influencia alimentação das pessoas em geral e principalmente a de adolescentes é a mídia. Esta utiliza slogans atrativos, comerciais joviais e linguagem moderna e convincente para persuadir o público a comprar seus produtos que na maioria das vezes são alimentos não saudáveis¹. O fato de passar muitas horas do dia assistindo TV ou utilizando outras mídias como computador ou vídeo game está associado, portanto ao aumento do consumo desses alimentos11.
Observam-se também diferenças no consumo de alimentos por adolescentes que estudam na rede pública e os da rede privada. Em um estudo realizado em uma capital do Brasil foi possível observar que alunos de escolas particulares consumiam mais lanches não saudáveis como refrigerantes, pizzas, salgados o que provavelmente está associado ao maior consumo de energia e de lipídios por esses adolescentes. Entretanto para os alunos da rede pública observou-se consumo insuficiente de energia, lipídio e vitamina A o que favorece a ocorrência de desnutrição e deficiências nutricionais12. Porém não há na literatura estudos que mostrem as diferenças entre o consumo de alimentos regionais por adolescentes brasileiros que estudam escolas públicas e privadas.
Além de diferenças no consumo alimentar entre alunos de escolas públicas e privadas é possível observar também diferenças socioeconômicas entre esses dois grupos. Uma pesquisa que investigou a diferença entre candidatos de escolas públicas e privados aprovados em Universidade Federal do Brasil destacou que as maiorias dos alunos provenientes de escola particular possuíam fator sócio econômico elevado, sendo que apenas 6,8% dos participantes inscritos apresentavam fator baixo, já em relação aos alunos de escola pública observou-se o inverso13.
Este trabalho, portanto, tem como objetivo mapear a cultura alimentar entre adolescentes em uma região do Brasil, identificando o conhecimento e consumo de alimentos e preparações regionais e verificar possíveis diferenças de consumo de alimentos saudáveis e não saudáveis entre os alunos de públicas e particulares, assim como o comportamento alimentar desses dois grupos.
Metodologia
O presente estudo é do tipo transversal e foi realizado com uma amostra de adolescentes do 9º ano do ensino fundamental matriculados em escolas públicas e privadas nas capitais de uma região do Brasil. Ele faz parte da pesquisa intitulada “Mapeamento da Cultura Alimentar da População Adolescente nas Capitais Brasileiras e no Distrito Federal”. Foram escolhidos adolescentes dessa série escolar devido à idade aproximada de 13-15 anos e ao fato de que nessa idade os jovens já têm escolarização suficiente para responder questionário autoaplicável.
O desenho do estudo foi feito segundo o modelo utilizada na última Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em 200914 para possibilitar comparações. Para o cálculo do tamanho da amostra, o erro máximo estabelecido foi de 0,05 e o nível de confiança de 95%.
As escolas públicas e particulares foram ordenadas por sorteio aleatório, a partir dos dados do Censo Escolar de 2010, entre as escolas que informaram possuir turmas de 9º ano do ensino fundamental e laboratório de informática. Foi feito contato inicial por telefone com as escolas de acordo com a ordem em que se encontravam na tabela, caso a escola se situasse na zona urbana, tivesse alunos do 9º ano com exceção da Educação de Jovens e Adultos e tivesse laboratório de informática com acesso a internet, esta estaria apta a ser convidada para representar seu estado ou o Distrito Federal. Caso a escola não atendesse algum dos critérios ou não aceitasse participar da pesquisa a próxima da lista seria convidada. No contato inicial foi perguntado também o número de alunos que estavam matriculados no 9º ano para verificar se seria necessário convidar a próxima escola, dessa forma o número de escola participante de cada estado foi de acordo com o tamanho da amostra para alunos das escolas públicas e particulares.
A coleta de dados foi realizada após visita in loco feita por dois nutricionistas da equipe de pesquisa, que realizaram em cada Estado uma reunião para esclarecimentos sobre o acesso e preenchimento do questionário. As reuniões foram realizadas com apoio das Secretarias de Educação Municipal ou Estadual e Distrital e nelas estavam presentes além dos dois pesquisadores da Universidade de Brasília, representantes de cada escola, seja pública ou privada, e das secretarias de educação. Nesse momento foi explicada a importância da pesquisa e a logística da coleta de dados e foram distribuídos também os Termos de Consentimento que deveriam ser preenchidos pelos os pais dos alunos que participaram da pesquisa.
A realização deste trabalho foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Brasília (protocolo nº 034/11). Somente participaram da pesquisa as escolas que assinaram o Termo de Ciência Institucional e os alunos que os pais assinaram os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido.
O instrumento da pesquisa foi desenvolvido de forma online e por isso a importância da escola ter laboratório de informática com acesso à internet. Nas reuniões foram definidas as datas em que cada escola iria realizar a coleta de dados. Para cada escola e para cada dia de coleta foi definida uma palavra chave que permitia acesso ao questionário, dessa forma foi possível identificar a escola dos alunos da amostra.
No questionário, as perguntas realizadas inicialmente eram sobre o padrão do consumo alimentar dos adolescentes e os fatores que influenciam a escolha alimentar. No segundo bloco de perguntas foram apresentados alguns alimentos específicos da cultura brasileira e também da região analisada e os adolescentes deveriam responder se conheciam o alimento e se já havia consumido. O próximo bloco de perguntas era composto por variáveis sócio demográficas, como o tempo que mora na cidade, sexo, idade e escolaridade dos pais e a identificação do participante.
Nos resultados da pesquisa são apresentadas as relações entre o fato de o adolescente ser de escola pública ou privada e o consumo e/ou conhecimento de alimentos regionais, o consumo de alimentos saudáveis e não saudáveis e o comportamento alimentar, além de associações com variáveis sócio demográficas.
As análises foram feitas no SPSS versão 20.0. Utilizou-se o teste Qui-quadrado para analisar as associações entre as variáveis, considerando-se associações significativas quando p>0,05.
As associações quanto ao conhecimento e consumo de alimentos regionais foram feitas a partir da divisão desses alimentos em dois grupos, os alimentos tidos como nacionais e os específicos da região estudada. Os alimentos utilizados na pesquisa como de representatividade nacional foram: batata doce, cará, coco, couve, cozido, dobradinha, feijoada, jiló, mandioca, arroz carreteiro, canjica, quiabo e uva. Os alimentos específicos da região foram: abacate, almeirão, angu, bacuri, batata baroa, beldroega, buriti, curau, empadão, feijão tropeiro, frango com açafrão, galinhada, guabiroba, gueroba, inhame, jabuticaba, jaca, jenipapo, abobora, bolo de mandioca, maxixe, pamonha, pequi, peixada, pirão, serralha, taioba e vaca atolada. Para a análise do consumo e do conhecimento de alimentos típicos brasileiros e da região, os alimentos foram agrupados em uma única variável (Alimentos Nacionais e Regionais), dessa maneira serão apresentados os resultados para todos os alimentos. Ou seja, considerou-se como resposta de conhecimento ou consumo desses alimentos quando o adolescente afirmou conhecer e consumir todos os alimentos do grupo.
Para avaliar o consumo de alimentos saudáveis utilizou-se os seguintes alimentos: feijão, frutas, salada crua, hortaliças cozidas e leite e para os alimentos não saudáveis considerou-se os alimentos: batata frita, embutidos, guloseimas, refrigerante, biscoito doce e biscoito salgado. Os mesmo alimentos utilizados na última PeNSE14. Foi perguntado também a autoavaliação da alimentação dos adolescentes.
A avaliação do comportamento alimentar foi feita a partir de perguntas quanto ao tempo que adolescentes passavam durante o dia expostos à mídia, como assistindo TV ou utilizado o computador ou internet e fato deles realizarem suas refeições enquanto praticam essas atividades. Além disso, observou-se a diferença da freqüência com que os adolescentes realizavam suas refeições em casa, no quarto e com pais entre os alunos dos dois tipos de escolas.
Resultados
A amostra final foi composta por 2456 adolescentes com média de idade de 14 anos (DP = 1,1 anos), sendo 52% do sexo feminino (n=1269). Além disso, a maior parte dos alunos da amostra estudava em escola pública (72%; n=1766). Na tabela 1 observa-se o local onde os participantes residem e o nível de escolaridade das mães.
Tabela 1. Capital da região Centro-Oeste onde residem e diferenças entre escolaridade da mãe de adolescentes de escolas públicas e particulares, 2012
Sobre o local de residência observa-se que a maioria dos alunos informou morar na cidade de residência há mais de 10 anos (84%; n= 2042). A partir da tabela 1 é possível observar que o nível de escolaridade mais alto foi mais prevalente nas mães dos alunos de escolar particulares (63%), sendo que para os alunos de escolas públicas a prevalência desse nível de escolaridade foi menor (23%).
Na tabela 2 é apresentada a freqüência do consumo e conhecimento de todos os alimentos nacionais e regionais e a freqüência de consumo adequado de alimentos saudáveis e não saudáveis.
Tabela 2. Consumo alimentar de adolescentes de escolas públicas e particulares da região Centro-Oeste, 2012
Sobre o conhecimento de alimentos nacionais observa-se que maior parte dos alunos de escolas públicas afirmou conhecê-los (93,0%), quando a prevalência de alunos de escolar particulares foi menor (91,0%). A maior parte dos alunos de escolas públicas (68,0%) também afirmou consumir esses alimentos, enquanto que para o de alunos particulares somente metade dos adolescentes que responderam essa questão afirmou consumi-los. Porém para ambos os grupos verifica-se menor freqüência de consumo do que de conhecimento, indicando que os adolescentes em sua maioria conhecem esses alimentos, porém uma minoria os consome. Já para os alimentos típicos da região Centro-Oeste não houve diferença significativa entre conhecimento ou consumo desses alimentos por adolescentes dos dois tipos de escolas.
A partir da tabela 2 pode-se aferir que os alimentos saudáveis mais consumidos pelos adolescentes de escolas pública e privadas foram o feijão (70,5% e 65,0%, respectivamente) e o leite (51,0% e 59,0%, respectivamente), enquanto que o consumo dos não saudáveis os que tiveram menor prevalência de consumo adequado foram guloseimas (9,0% e 7,0%, respectivamente) e refrigerantes (8,0% e 15,0%, respectivamente). Nota-se ainda que as diferenças entre o consumo fossem significativas entre os adolescentes de escolas públicas e privadas com exceção do consumo de frutas e de salgados fritos. Observa-se que o consumo adequado dos alunos de escolas públicas de alimentos saudáveis foi mais freqüente somente para o feijão, enquanto que para o de alimentos não saudáveis foi observada maior freqüência para quase todos os alimentos com exceção dos biscoitos doces e salgados e refrigerantes. Ou seja, os adolescentes de escolas públicas consomem com maior freqüência na semana grande parte dos alimentos saudáveis quanto os dos não saudáveis.
Na tabela 3 é possível observar a autoavaliação da alimentação dos adolescentes de escolas públicas e privadas, assim como os hábitos relacionados à alimentação desses adolescentes.Tanto os alunos de escolas públicas quanto os de escolas particulares consideram em sua maior parte a sua alimentação saudável (45,0% e 49,0%, respectivamente) seguido da alimentação pouco saudável (41,0% e 33,0%, respectivamente).
Tabela 3. Autoavaliação da alimentação de adolescentes e hábitos em relação à alimentação de escolas públicas e particulares da região Centro-Oeste, 2012
Sobre o tempo que utilizam computador ou internet (> 2 horas) observa-se que os adolescentes de escolas públicas (39,0%) utilizam menos do que os de escolas particulares (59,0%), enquanto que para o fato de assistir TV essa associação não foi significativa. Além disso, os alunos de escolas públicas realizam com maior freqüência suas refeições enquanto assistem TV (43,0%). Já para a realização de refeições e uso do computador observa-se o oposto, sendo que para alunos de escolas particulares a freqüência é maior (67,0%).
Quando comparados com alunos de escolas particulares foi possível observar que alunos de escolas públicas almoçam em casa mais freqüentemente (75,0%) além de realizaram suas refeições no quarto com menor freqüência (44,0%). Porém os alunos de escolas particulares realizam suas refeições principais com os pais durante 3 dias ou mais na semana mais freqüentemente (78,0%) do que os alunos de escolas públicas (74,0%).
Discussão
Observa-se que houve pouca diferença entre a prevalência dos sexos dos adolescentes da amostra e que a média da idade foi compatível com o ano escolar escolhido para ser realizada a pesquisa.
É possível observar a partir do tempo que os adolescentes residem na capital que houve pouca migração de um estado para o outro e que mesmo que tenha ocorrido essa mudança o adolescente já reside na atual cidade há algum tempo. Portanto, os adolescentes já estão provavelmente habituados com as preparações regionais do local onde moram.
Sobre a diferença de escolaridade dos pais de alunos de escolas públicas e particulares foi possível observar resultados semelhantes em outro estudo que teve como objetivo analisar associação entre fatores de risco para o excesso de peso em diferentes redes de ensino de um município de São Paulo. Nesse estudo os resultados foram que nove entre dez pais de alunos de escolas particulares estudaram mais de 9 anos enquanto que a prevalência para os pais de alunos de escolas públicas foi de aproximadamente 50%.
Sobre o conhecimento de alimentos tradicionais da cultura brasileira e da região centro-oeste, observa-se que a maior parte dos adolescentes dos dois tipos de escolas afirmou conhecê-los, entretanto não se observou associação significativa com o conhecimento de alimentos típicos da região brasileira estudada e o tipo de escola. Não foram encontrados na literatura dados que permitissem comparação do resultado sobre o consumo de alimentos regionais por adolescentes, porém tendo em vista que a freqüência de conhecimento desses alimentos foi maior do que o consumo destes ressalta-se que deve haver o incentivo do consumo desses alimentos, já que os adolescentes já os conhecem, porém não os consome com a mesma freqüência.
Quanto ao consumo de alimentos saudáveis e não saudáveis, o presente estudo encontrou resultados semelhantes aos dados da última pesquisa nacional, ou seja, os alimentos saudáveis que tiveram maior freqüência de consumo foram o feijão e leite, enquanto que para o consumo de alimentos não saudáveis os dois mais freqüentes foram as guloseimas e o refrigerante. Em relação a diferenças entre os alunos de escolas públicas e privadas destacou-se na pesquisa nacional diferença do consumo dos alimentos específicos como biscoito doces e salgados que foram mais consumidos pelos adolescentes de escolas públicas, o consumo de hortaliças e leite que foi maior para os alunos de escolas particulares, porém na presente pesquisa foi observado maior consumo dos dois grupos de alimentos pelos alunos de escolas públicas.
Em relação à autoavaliação da alimentação foi possível observar que os adolescentes de ambos os tipos de escola consideram sua alimentação saudável, porém essa é uma informação auto referida, não sendo possível então afirmar que é uma percepção correta da realidade. Um estudo com o objetivo de avaliar o consumo de frutas e hortaliças de adolescentes de escolas técnicas de São Paulo observou-se que a maioria dos alunos considerou que estava no estágio de manutenção do modelo transteórico, ou seja, que consumiam frutas e hortaliças em quantidade adequada há mais de 6 meses, porém ao avaliar o consumo desses alimentos por esses adolescentes foi possível observar que havia uma percepção errônea de tal atitude16. Deste modo no presente estudo os adolescentes podem ter considerado sua alimentação saudável, porém pode ser que haja uma percepção errônea quanto essa avaliação.
É recomendado pela OMS que o tempo que os adolescentes passem assistindo TV durante o dia seja entre 1-2 horas tendo em vista que essa atividade está associada com o aumento do consumo de alimentos com alta densidade energética e redução do consumo de frutas e hortaliças, além de diminuir o gasto energético17. Em relação ao tempo que passam assistindo televisão não foi possível observar diferença entre adolescentes de escolas públicas e privadas, porém ao comparar os resultados com a pesquisa nacional mais recente observa-se que a prevalência de adolescentes do presente estudo que assistem mais de 2 horas de TV no dia (56%) foi menor do que os dados nacionais onde a prevalência foi de 79,5%. Em estudo realizado em uma capital brasileira foi observado que a média diária de horas que os adolescentes assistem TV foi de 3 horas, sendo que o fato do adolescente assistir esse tempo ou mais esteve associado com maior prevalência de obesidade18.
Sobre o tempo que passam utilizando o computador foi possível observar que os adolescentes de escolas públicas passam menos tempo ao computador do que os de escolas particulares. Isso pode ocorrer devido a menor presença de computador em casa para os alunos de escolas públicas, porém não foram encontrados dados na literatura que comprovassem esse fato. Utilizar durante muito tempo o computador também é uma atividade sedentária que está associada com redução de prática de atividades que promovam maior dispêndio energético favorecendo o ganho de peso e o aumento da prevalência de doenças crônicas não transmissíveis18.
Foi possível observar, além disso, que alunos de ambos os tipos de escolas, mas com maior freqüência para os alunos de escolas públicas realizam suas refeições enquanto assistem televisão, já a alimentação durante o uso de computador foi mais freqüente para os alunos de escolas particulares. Quanto a assistir televisão enquanto os adolescentes realizam suas refeições foi observado em outro estudo que adolescentes de classes econômicas mais baixas realizam mais suas refeições enquanto assistem TV19.
Observa-se que os adolescentes de escolas públicas realizam suas refeições em casa com mais freqüência enquanto os de escolas particulares realizam refeições com os pais mais freqüentemente. Dados nacionais também mostraram que a maior parte dos adolescentes realizam suas refeições principais com os pais em cinco dias ou mais da semana e que essa é prevalência é ligeiramente maior para os alunos de escolas particulares20. O fato de realizar refeições com os pais está associado com o consumo de alimentos saudáveis enquanto o fato de realizá-las enquanto assistem TV está associado com o consumo de alimentos não saudáveis21. Além disso, observa-se que menos da metade dos alunos dos dois tipos de escolas realizam suas refeições no quarto, porém a freqüência é maior para os alunos de escolas particulares.
No geral observa-se que a diferença entre prevalências entre adolescentes de uma região do Brasil de escolas públicas e privadas foi pequena, entretanto foram associações significativas (p>0,05) na sua maioria, isso pode ter ocorrido devido ao tamanho da amostra.
Conclusão
Observa-se que em relação às características demográficas, houve diferença na escolaridade das mães de adolescentes de escolas públicas e privadas.
Porém nota-se a necessidade de realização de mais estudos sobre o consumo de alimentos regionais e nacionais por adolescentes com o objetivo de observar possíveis diferenças no padrão do consumo desses alimentos pelos adolescentes de escolas públicas e privadas.
Além disso, observa-se a necessidade de intervenção nutricional quanto ao incentivo de consumo de alimentos regionais pelos adolescentes em geral, tendo em vista a preservação da cultura alimentar da região, assim como está no Guia Alimentar para população brasileira que afirma que o alimento como fonte de prazer e forma de identidade cultural também é importante para a promoção da saúde.
Em relação ao consumo de alimentos saudáveis observa-se que há necessidade de maior incentivo para os alunos de escolas privadas, e que para a redução do consumo de alimentos não saudáveis devem ser realizadas atividades de educação nutricional principalmente para alunos de escolas públicas. Porém ressalta-se que as ações que promovam aumento do consumo de alimentos saudáveis e redução dos não saudáveis precisam ser realizadas para toda população adolescente.
O tempo destinado para realizar atividades sedentárias como o uso de computador e assistir televisão também ser incentivado a ser reduzido pelos dois grupos de adolescentes, devido à influência negativa dessas atitudes no consumo alimentar, além da associação com o sedentarismo e conseqüentemente com o estado nutricional.
Portanto, conclui-se que há algumas diferenças no comportamento alimentar de adolescentes brasileiros de escolas públicas e privadas.
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