O desenvolvimento psicomotor de alunos com idade entre 7 e 9 anos, sem acesso a aulas de Educação Física escolar El desarrollo psicomotor de alumnos de 7 a 9 años, sin acceso a clases de Educación Física escolar |
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* Professora de Educação Física das redes municipais de Lajeado e Estrela/RS Graduada em Educação Física pela UNISC. Especialista em Psicomotricidade pela Pontifícia Universidade Católica, PUCRS **Doutora em Ciências da Motricidade Humana pela Universidade Técnica de Lisboa, TCL. Coordenadora do Mestrado em Promoção da Saúde na Universidade de Santa Cruz do Sul – UNISC |
Rita de Cassia Quadros da Rosa* Miria Suzana Burgos** (Brasil) |
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Resumo Na escola, a disciplina responsável pelo desenvolvimento dos elementos que compõem a motricidade, bem como das habilidades motoras, é a educação física. Por contrassenso, no Brasil, não há uma obrigatoriedade quanto à atuação de professores de educação física como responsáveis pela disciplina na educação infantil e nem mesmo nas séries iniciais do ensino fundamental. O presente estudo tem como objetivo verificar o desenvolvimento motor de escolares que não tem acesso a aulas de educação física escolar. A amostra compreende um total de 79 escolares, e está distribuída da seguinte maneira: 7 anos (n=22), 8 anos (n=25) e 9 anos (n=32). Para a avaliação motora, foi utilizada a Escala de Desenvolvimento Motor – EDM (ROSA NETO, 2002), para avaliação dos elementos referentes à motricidade global, equilíbrio e organização espacial. Os resultados deste estudo não evidenciaram importantes déficits no desenvolvimento psicomotor da população investigada. Unitermos: Desenvolvimento psicomotor. Crianças. Educação Física.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O desenvolvimento motor é um dos campos de investigação que compõem a área do comportamento motor e pode ser definido como um processo contínuo de transformações do indivíduo ao longo de toda a vida (GALLAHUE; OZMUN, 2005). Segundo Tani et al (2010), estudos relacionados ao comportamento motor, tem se difundido nas últimas décadas, contemplando predominantemente populações atípicas, relações com variáveis maturacionais, estado nutricional, aptidão física, diferenças entre sexos e transtornos neurofisiológicos (SEIDLER, 2007; LARSON et al, 2007; FONSECA; BELTRAME; TKAC, 2008; BRAGA et al, 2009; ALVES et al, 2010; SARAIVA; RODRIGUES, 2010; GOODWAY; ROBINSON; CROWE, 2010; PUCIATO et al, 2011).
Rosa Neto et al (2010) sugere que o período em que ocorrem melhorias neuromotoras mais acentuadas é a infância, especialmente a primeira infância. Já com relação à aquisição de habilidades motoras, investigações tem demonstrado que este processo acontece de forma acelerada durante toda a infância e início da adolescência, períodos de frequência escolar (SALLIS; PROCHASKA; TAYLOR, 2000; LARSON et al, 2007; SEIDLER, 2008; ROSA NETO et al, 2010; PUCIATO et al, 2011). Na escola, a disciplina responsável pelo desenvolvimento dos elementos que compõem a motricidade, bem como das habilidades motoras, é a educação física. Por contrassenso, no Brasil, não há uma obrigatoriedade quanto à atuação de professores de educação física como responsáveis pela disciplina na educação infantil e nem mesmo nas séries iniciais do ensino fundamental. A despeito desta realidade, ocorre-nos questionar se o estado brasileiro estaria cumprindo com o princípio da educação pública integral e de qualidade, descrito na da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, no. 9.394/96 (BRASIL 1998).
De acordo com o exposto, e com vistas a contribuir para a produção científica sobre o desenvolvimento motor de crianças em idade escolar, o presente estudo tem como objetivo verificar o desenvolvimento motor de escolares que não tem acesso a aulas de educação física escolar.
Procedimentos metodológicos
Trata-se de um estudo exploratório descritivo, o qual foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade de Santa Cruz do Sul, mediante processo 2669/10. Os responsáveis pelos participantes foram esclarecidos sobre os procedimentos referentes ao mesmo, assinaram e devolveram o termo. Foram selecionados de forma intencional, 125 alunos sem nenhum tipo de necessidade especial ou atraso diagnosticado; destes, setenta e nove (n=79) compõem a amostra, pois devolveram o termo de consentimento livre e esclarecido devidamente assinado. A composição da amostra, por idade é a seguinte: 7 anos (n=22), 8 anos (n=25) e 9 anos (n=32). Nenhum dos alunos selecionados tinha acesso a aulas de Educação Física escolar com professor formado na área.
A avaliação motora foi realizada por meio da bateria de testes da Escala de Desenvolvimento Motor – EDM (ROSA NETO, 2007) nos seguintes componentes da motricidade: motricidade global, equilíbrio e organização espacial. A EDM tem como objetivo avaliar o desenvolvimento motor de crianças com idade entre 2 e 11 anos, identificando a idade motora (IM), expressa em meses, e o quociente motor (QM) que pode ser classificado como "muito inferior" (até 69 meses), "inferior" (entre 70 e 79 meses), "normal baixo" (entre 80 e 89 meses), "normal médio" (entre 90 e 109 meses), "normal alto" (entre 110 e 119 meses), "superior" (entre 120 e 129 meses) e "muito superior" (130 meses ou mais). Os participantes foram avaliados a partir do teste correspondente a sua idade cronológica, em cada um dos três componentes da motricidade escolhidos, para esta investigação: motricidade global, equilíbrio e organização espacial. Na ocorrência de fracasso no teste correspondente a sua idade cronológica, era aplicado o teste referente à idade imediatamente anterior, até a obtenção de sucesso ou esgotamento dos mesmos. Quando obtido sucesso no teste referente à sua idade cronológica, seguia-se a aplicação até o fracasso ou o esgotamento destes. Todas as orientações enumeradas por Rosa Neto (2007) referentes ao local e forma de aplicação foram seguidas integralmente.
Na caracterização dos dados foi utilizada a estatística descritiva, apresentando mínimo, máximo, média () e desvio padrão (Dp) dos resultados. O software utilizado foi o SPSS 16.0 for Windows.
Resultados e discussão
As médias referentes à motricidade global (tabela 1), de alunos com 7 e 8 anos, foram sensivelmente inferiores aos valores de referência de Rosa Neto (2007) em uma investigação realizada com crianças de 6 a 10 anos nas cidades de Sevilha e Zaragoza na Espanha e com os estudos de Fonseca, Beltrame e Tkac (2008) com participantes de idades entre 6 e 9 anos. Ao observarmos os valores máximos, mínimos e desvio padrão (Dp), e ao compararmos com o desempenho obtido por alunos de 9 (nove) anos, pode-se perceber também, uma variação importante entre os resultados do grupo. A hipótese a ser considerada com relação a esta pequena inferioridade, e à heterogeneidade dos resultados, é que ao contrário dos estudos citados, os participantes do presente estudo, não tem acesso a aulas de educação física escolar como atividade comum, sendo assim, desenvolvem-se na medida das oportunidades individuais de pratica corporal, em seu cotidiano fora da escola.
Tabela 1. Quocientes Motores (QM) referentes à Motricidade Global
Quanto aos resultados referentes ao equilíbrio (tabela 2), podemos verificar que os valores obtidos por participantes de todas as faixas etárias pesquisadas, encontram-se entre normal baixo (7 anos) e normal alto (8 e 9 anos). Embora se observe um desvio padrão (Dp) alto, heterogeneidade confirmada pelos resultados mínimos e máximos, estes valores são menores e comparação à motricidade global. Ao compararmos as classificações com os valores de referência de Rosa Neto (2007 e 2010), os resultados obtidos pelos participantes deste estudo, em equilíbrio, são um pouco inferiores na faixa etária de 7 (sete) anos, e encontram-se um patamar semelhante, aos 8 (oito) e 9 (nove) anos. Pode-se observar também, que em equilíbrio, os resultados são melhores do que em motricidade global, o que vai de encontro aos achados de Batistella (2001), Rosa Neto e col. (2004), nos quais os maiores índices foram obtidos em motricidade global.
Tabela 2. Quocientes Motores (QM) referentes ao Equilíbrio
A análise dos resultados referentes à organização espacial (tabela 3) demonstra que os valores são inferiores aos de referência apresentados por Rosa Neto (2007) e de estudos de Fonseca, Beltrame e Tkac (2008) que avaliou a interferência do ambiente de lazer e condição sócio-econômica de crianças com idades entre 6 e 9 anos e o estudo de Rocha, Rocha e Bertolasce (2010) que investigou a influência da iniciação esportiva na infância para o desenvolvimento motor de crianças com a mesma faixa etária. Já em seu estudo com aluno portadores de altas habilidades, Rosa Neto (2005) obteve valores semelhantes aos obtidos pelos participantes do presente estudo, classificando-os com índice “normal baixo”.
Tabela 3. Quocientes Motores (QM) referentes ao Organização Espacial
Considerações finais
Os resultados deste estudo não evidenciaram déficits importantes no desenvolvimento psicomotor da população investigada, nos elementos correspondentes a motricidade global e equilíbrio. Já no que se refere à organização espacial, as classificações verificadas em todas as faixas etárias ficaram um pouco abaixo do “normal médio”. Contudo, não se pode afirmar que esta inferioridade em relação ao esperado para a faixa etária, se deva ao fato desta população não ter acesso às aulas de educação física escolar, considerando que trata-se de apenas um dos três elementos investigados.
A principal limitação deste estudo se deve possível acesso a atividades físicas regulares e orientadas por parte de uma parcela dos participante, que não foi considerada durante a investigação.
Referências
ALVES, J. et al. Padrão motor do salto horizontal de crianças de 7 a 12 anos, considerando sexo, nível de atividade física e estado nutricional. Revista da Educação Física/UEM. Maringá, v. 21, n. 1, p. 25-35, 2010
BATISTELLA, P. A. Estudo de Parâmetros Motores em Escolares com Idade de 6 a 10 anos da Cidade de Cruz Alta – R.S. Dissertação de mestrado (Ciências do Movimento Humano). Centro de Ciências da Saúde e do Esporte da Universidade do Estado de Santa Catarina – CEFID/UDESC, 2001.
BRAGA, R. et al. A influência de um programa de intervenção motora no desempenho das habilidades locomotoras de crianças com idade entre 6 e 7 anos. Revista da Educação Física/UEM. Maringá, v. 20, n. 2, p. 171-181, 2009.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros curriculares nacionais: documento introdutório. Brasília, 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br. Acesso em: 20 ago. 2011.
FONSECA, F.; BELTRAME, T.; TKAC, C. Relação entre o nível de desenvolvimento motor e variáveis do contexto de desenvolvimento de crianças. Revista da Educação Física/UEM. Maringá, v. 19, no. 2, p. 183-194, 2008.
GALLAHUE, D.L.; OZMUN, J. C. Compreendendo o Desenvolvimento Motor: bebês, crianças, adolescentes e adultos. São Paulo: Ed. Phorte, 2006.
GOODWAY J. D, ROBINSON L. E, CROWE H. Gender differences in fundamental motor skill development in disadvantaged preschoolers from two geographical regions. Research Quartely for Exercise & Sport. Virginia, USA, 2010, vol. 81, p. 17-24.
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PUCIATO, D. et al. Motor Development of Children and Adolescents Aged 8-16 Years in View of Their Somatic Build and Objective Quality of Life of Their Families. Journal of Human Kinetics. Katowice, Poland, v. 28, p. 45-53, 2011.
ROCHA, P. G. M; ROCHA, D. J. O; BERTOLASCE, A. L. A influência da iniciação ao treinamento esportivo sobre o desenvolvimento motor na infância: um estudo de caso. Revista da Educação Física /UEM Maringá, PR, 2010.
ROSA NETO, F et.al. Perfil biopsicossocial de uma criança com indicadores de altas habilidades. Lecturas en Educación Física y Deportes. Buenos Aires, año 10, n.82, marzo, 2005. http://www.efdeportes.com/efd82/psoc.htm
ROSA NETO F. et al. A Importância da avaliação motora em Escolares: análise da confiabilidade da Escala de Desenvolvimento Motor. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. Florianópilis, vol. 12, p. 422-427, 2010.
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SALLIS J. F, PROCHASKA J. J, TAYLOR W. C. A review of correlates of physical activity of children and adolescents. Medicine & Science in Sports & Exercise. Indianapolis, USA, vol. 32, n. 5, 2000.
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SEIDLER, R. D. Older Adults can Learn to Learn New Motor Skills. Behavioural Brain Research. Michigan, USA, vol. 186, p. 118–122, 2007.
TANI, G. et al. Pesquisa na área de comportamento motor: Modelos teóricos, métodos de investigação, instrumentos de análise, desafios, tendências e perspectivas. Revista da Educação Física/UEM. Maringá, vol. 21, p. 1-52, 2010.
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