Iniciação esportiva de atletas de orientação brasileiros. Um estudo qualitativo diagnóstico La iniciación deportiva de atletas de orientación brasileños. Un estudio cualitativo diagnóstico |
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Bacharel em Ciências Militares pela Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN, Resende, RJ). Acadêmico do Curso de Licenciatura em Educação Física da Faculdade União das Américas (UNIAMÉRICA, Foz do Iguaçu, PR) |
Gilson Tomelin (Brasil) |
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Resumo O presente artigo trata da investigação da iniciação esportiva de atletas do desporto orientação que atingiram a elite e aqueles que estão iniciando no desporto. Participaram dessa pesquisa atletas participantes de competições no Brasil e no mundo, trazendo ao leitor pontos de vistas de suas experiências. Para isso foi utilizado um questionário explorando aspectos da iniciação esportiva e da continuidade na pratica do desporto. Chegou-se a conclusão que devido a orientação ser um esporte novo em nosso país, muito influenciado pelo contato com militares e ainda ser de pouco divulgação, não temos grandes avanços no contexto nacional. A grande competição que projetou nacionalmente o esporte ocorreu no Rio de Janeiro em 2011, nos Jogos Mundiais Militares, com a conquista da medalha de bronze pela equipe feminina brasileira. Unitermos: Desporto Orientação. Iniciação. Militares.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
É crescente o número de investigações nas ciências do esporte que têm como temática principal a iniciação esportiva. Segundo Viana, Andrade e Brandt (2001) ainda é pequeno o número de estudos realizados especificamente com esporte para crianças e adolescentes. Podemos destacar dois principais focos para as pesquisas dessa área, as que objetivam um melhor desempenho atlético para o aprendiz e as que visam a prática esportiva como meio para o desenvolvimento integral e sadio de seus praticantes.
Conforme a Confederação Brasileira de Orientação (CBO 2012), Orientação é um esporte no qual os competidores navegam de forma independente através do terreno. Os competidores devem visitar uma série de pontos de controle marcados no terreno no menor tempo possível, auxiliados somente por mapa e bússola. O percurso, definido pela localização dos pontos de controle, não é revelado aos competidores antes de suas partidas.
Trata-se de uma atividade multidisciplinar, na qual o terreno exige vivências motoras, cognitivas e físicas, variadas e diversas. O mapa de Orientação retrata, minuciosamente os detalhes de uma região (relevo, vegetação, hidrografia, edificações e outros), através de símbolos convencionados internacionalmente.
O autor, por ser praticante de orientação, observa em todas as competições que o número de atletas é crescente, porém a divulgação não toma a devida proporção quanto se verifica a sua qualificação.
2. Problemática, objetivos e finalidades da pesquisa
Podemos enunciar a hipótese dessa investigação da seguinte maneira: os atletas tiveram a influência militar, seja por serem militares, dependentes ou amigos militares ou a escolha do esporte foi opção por ser uma modalidade nova, diferente e envolvente pelas suas características peculiares.
Os objetivos da investigação são de investigar a iniciação esportiva de atletas de orientação brasileiros que estão iniciando na modalidade e os melhores colocados no ranking da Confederação Brasileira de Orientação (CBO). Para isso irá se verificar quais são foram os métodos de iniciação esportiva utilizados pelos atletas que atingiram a elite e pelos atletas iniciantes na orientação, realizando comparativos a par dos dois dados, concluindo quais as condições e evoluções dessa iniciação.
3. Discussão teórica
Estar orientado e orientar-se é a habilidade de conscientemente conhecer sua localização no mapa e deslocar-se de um ponto a outro. Provavelmente, o primeiro orientista foi Adão, o qual se deslocou pelo Jardim do Éden e posteriormente pelo deserto. Corroborando na afirmativa de que a habilidade de se orientar não é, certamente, uma coisa nova.
Como muitos outros desportos modernos que se difundiram mundialmente durante os últimos trinta anos, a Orientação também foi aplicada para solucionar um problema: encorajar os jovens a utilizar a natureza como meio para o desenvolvimento físico e mental (Pasini, 2004)
A Orientação é um esporte de baixo custo adequado para ambos os sexos e todas as idades (IOF, 2012), tendo em vista não utilizar de instalações físicas e nem equipamentos especiais de alto custo.
Diante desta fragilidade técnica e da necessidade de se formar atletas de alto nível para disputar eventos internacionais, chega-se a necessidade de pesquisar de onde estão partindo as iniciativas e motivações de novos atletas e àqueles que chegaram a elite do esporte no Brasil.
4. Metodologia
Os procedimentos metodológicos serão os seguintes: leituras preliminares para aprofundamento do tema e pesquisas integrando atletas novatos, observando como estão iniciando na atividade de orientação, e atletas que estão já nas categorias de elite da modalidade, fazendo-se comparativos entre ambos, tirando conclusões a respeito da iniciação esportiva da modalidade.
Por se tratar de uma pesquisa com variáveis relativamente conhecidas, a pesquisa é do tipo descritiva. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Assis Gurgacz (FAG), de Cascavel-PR, pelo parecer nº 158/2012.
Foi realizada uma pesquisa de campo através de questionários de autoria do pesquisador baseado na experiência do autor na prática da modalidade e em estudo científico já realizado por VIANA, ANDRADE e HYPERLINK "http://www.scielo.br/cgi-bin/wxis.exe/iah/?IsisScript=iah/iah.xis&base=article^dlibrary&format=iso.pft&lang=i&nextAction=lnk&indexSearch=AU&exprSearch=BRANDT,+RICARDO"BRANDT (2001) em iniciação esportiva de velejadores. Estes questionários foram realizados através de entrevistas executadas durante os eventos de orientação em 2012: na 3ª Etapa do Campeonato de Orientação, realizada em Santa Rosa, RS; no Campeonato Sulamericano de Orientação, realizado em Rio Negro, PR; e na 6ª etapa do Circuito Paranaense de Orientação, em Foz do Iguaçu, PR. A população abrangida foram os atletas melhores ranqueados pela Confederação Brasileira de orientação da categoria ELITE (22 atletas - 14 masculinos e 8 femininos) e atletas das categorias NOVATOS, na faixa etária até a categoria H 21 N (28 atletas - 17 masculinos e 11 femininos)
O roteiro de entrevista elaborado abordou variados temas pertinentes à orientação, tendo em vista o pouco conhecimento teórico produzido sobre a prática deste esporte no Brasil. As questões ligadas ao tema "iniciação esportiva", abordado neste estudo, estavam incluídas no bloco sobre o histórico desta iniciação. Outros pontos de interesse do pesquisador foram induzidos, questionando-os somente no caso de não serem abordados espontaneamente pelo atleta, visando direcionar a máxima obtenção de dados a respeito da iniciação.
Os depoimentos foram registrados por meio de gravador de voz digital, transcritos e arquivados em forma de texto digitalizado para a facilitação das leituras. Para a diferenciação entre os discursos de cada participante, os mesmos serão identificados no texto com as letras M ou F, que indicam o sexo masculino ou feminino, seguidos da letra E ou I, que indica o nível elite ou iniciante e do número que identifica a ordem cronológica em que as entrevistas foram realizadas. Ex.: MN1 (primeiro atleta masculino novato entrevistado); FE3 (terceira atleta feminina da elite entrevistada).
5. Análise e discussão dos dados da pesquisa
Para melhor compreensão dos dados, serão apresentados os dados partindo dos atletas que já estão na categoria elite e, sequentemente, os atletas novatos, realizando um comparativo entre as classes abrangidas.
5.1. Atletas da Categoria Elite
Os atuais atletas que estão na elite da Orientação, querem sejam da categoria masculina ou na feminina, tiveram sua iniciação tardia. Isso até mesmo se justifica pela orientação no Brasil ser um esporte relativamente novo. Temos uma idade de iniciação avançada dos atletas, com a média de 25 anos (gráfico 1).
Gráfico 1. Idade da iniciação dos atletas da Categoria Elite
A orientação foi trazido ao Brasil no ano de 1970 por militares que foram observar competições na Europa e, em 1974 foi incluído no Currículo da Escola de Educação Física do Exército e neste mesmo ano surge a primeira publicação técnica brasileira sobre este desporto (CBO 2012). A criação da nossa confederação data de 1999.
Essa é uma característica que não favorece o desenvolvimento do atleta, tendo em visa esse “conhecimento” ter sido adquirido já em uma idade mais avançada. Segundo Papalia (2006), é na adolescência (fase do desenvolvimento humano que dura 12 ou 13 anos até o inicio dos 20 anos) que o comportamento motor é caracterizado pela fase de habilidades motoras especializadas. O nível de desempenho permanente de um indivíduo pode variar desde o status profissional e olímpico até competições universitárias e escolares, incluindo a participação em habilidades organizadas ou não-organizadas, competitivas ou cooperativas, esportivas recreacionais ou da simples vida diária.
Outra característica desses atletas é a grande maioria militares das Forças Armadas, o que alinha à origem do esporte,
Outro aspecto relevante é o fato motivacional do início do desenvolvimento da atividade. Foi dita por 55% (gráfico 2) dos entrevistados como “obrigatória”. Não havia “voluntários” para participar da modalidade, e assim a grande maioria foi designada para competir. A base da atividade nesses atletas era simplesmente a orientação trazida das escolas militares, a qual pouco se assemelha ao desporto.
Gráfico 2. Início da prática da orientação
O desenvolvimento desse aprendizado partiu de orientações de atletas mais experientes, os quais passavam suas técnicas e experiências adquiridas principalmente nos treinamento realizado na CDMB (Comissão de Desportos Militares do Brasil). Já o feminino também teve grande influência de militares e concretizou-se com os Jogos Mundiais Militares de 2011, realizado na cidade do Rio de Janeiro. Devido a falta de mulheres na equipe brasileira, as Forças Armadas contrataram as atletas que já corriam nas competições civis, tornando-se atletas militares de alto rendimento. Esse fato alavancou ainda mais o esporte, com a inédita 3ª Colocação da equipe feminina brasileira. Isto tudo dito com ar de muito orgulho pela FE2.
Quando questionado aos atletas que praticavam outras modalidades e mudaram para a orientação (gráfico 3), tivemos algumas repostas que se repetiram em mais de uma entrevista: Já o atleta ME2 afirma que a discussão após a execução dos percursos nos mapas era o principal fator para continuar cada vez mais competindo. Reuniam-se todos os atletas e debatiam sobre as diferentes rotas (caminhos) tomadas durante a competição. Para a FE4, “a aventura de entrar na floreta era o grande desafio”. Cada competição e o caminho para uma nova competição era desafiador. Para a FE1, as viagens e a oportunidade de conhecer novas cidades, novos lugares, tornaram um atrativo fantástico no mundo da orientação.
Gráfico 3. Motivos que levam a mudança para a orientação
5.2. Atletas da Categoria Novato
Não diferente dos atletas da elite, esses atletas todos tiveram influencia de parentes ou amigos militares. A grande maioria dos atletas novatos são parentes de militares praticantes ou alunos dos Colégios Militares. Mas aqueles que não estão nesse universo, tiveram algum contato através de terceiros que tiveram algum contato com o meio militar.
A grande novidade nesta evolução que 93% (gráfico 4) dos atletas já passaram pelas chamadas “clínicas de orientação”, ou seja, aulas de iniciação ao desporto, a qual abrange conhecimentos técnicos e táticos do esporte. Isso fará com que cheguem à categoria elite com uma boa experiência técnica.
Gráfico 4. Atletas iniciantes que passaram por clínica de orientação
A atleta FN3 disse que desde sua primeira experiência com o desporto, ajudou em muito o seu desenvolvimento motor no sentido de orientação. Todos estão tendo sua iniciação nas categorias de base da orientação, dentro das suas faixas etárias. Assim, a orientação os proporciona desde cedo, tendo em vista em todas as faixas etárias existir a categoria novata. Isso estimula não somente a aprendizagem, mas também a competitividade tendo em vista todos estarem competindo em condições iguais.
6. Considerações finais
A prática da orientação devido a sua recente história ainda é um desafio para todos os dirigentes do esporte no Brasil. Os primeiros atletas brasileiros, aqueles que trouxeram a modalidade e especializaram-se no exterior, hoje estão na coordenação da Confederação Brasileira e Federações Estaduais de Orientação. Por não ser olímpico ainda, tem sua divulgação um tanto prejudicada em nosso país. O conhecimento ainda torna-se através do meio militar, mantendo a ligação às origens do esporte no mundo e no Brasil.
As competições passaram a fazer parte da vida dos orientistas como uma forma lúdica. Não existem patrocinadores aos atletas, os quais façam proporcionem aos atletas exclusividade na prática da modalidade. Todos tem que conciliar com suas profissões e afazeres, tendo a orientação num segundo plano. Devido às características técnicas, torna-se um esporte relativamente barato quanto à aquisição de equipamento e uniformes obrigatório. Porém, quando analisamos a localização das competições, torna-se caro devido as distâncias a serem percorridas aos locais de competição. Os Clubes de Orientação tem envidados esforços para minimizar os custos para esses deslocamentos, porém esse ainda é um fator preponderante para os competidores.
Finalizando o presente estudo, por sua característica diagnóstica e comparativa dos atletas de elite e novatos, é possível sugerir novas investigações sobre a orientação. A atividade quando desenvolvida fora da vertente competitiva, voltada para a pedagógica, desperta nos alunos um interesse por uma atividade inédita e multidisciplinar. A investigação do contexto das crianças iniciantes na prática da orientação é um elemento que se evidencia na iniciação, seja através da influência da família ou do envolvimento dos atletas com o ambiente militar. Tais resultados demonstram que ainda tem-se muito a evoluir na prática da modalidade, porém quando analisado no tempo de existência, divulgação e resultados obtidos, chega-se a conclusão que já foram grandes as conquistas do esporte no cenário brasileiro.
Referências
CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ORIENTAÇÃO - CBO. Política Nacional de Desenvolvimento do Desporto Orientação. CBO. Santa Maria, 2001.
ESCOLA DE EDUCAÇÃO FÍSICA DO EXÉRCITO. Apostila de Orientação. EsEFEx, Rio de Janeiro, 2000.
FERREIRA, Rui; COSTA, Raquel; PIRES, Natália; SANTOS, Luis; QUINTA-NOVA, Luis; AIRES, Antônio. Orientação – Desporto com Pés e Cabeça. 2. Ed. Federação Portuguesa de Orientação – FPO, Portugal, 2011.
INTERNATIONAL ORIENTEERING FEDERATION - IOF. About Orienteering. Disponivel em: http://orienteering.org/about-orienteering/. Acesso em: 13 mai. 2012
PASINI, Carlos Giovani Delevati. Corrida de Orientação: esporte e ferramenta pedagógica para o ensino. Três Corações: Gráfica Excelsior, 2004.,
VIANA, Maick da Silveira; ANDRADE, Alexandro ; BRANDT, Ricardo. Iniciação esportiva de velejadores Brasileiros: um estudo qualitativo diagnóstico. Revista Brasileira de Ciências e Esporte: Tribo da Ilha. Florianópolis, 2011.
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