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A preparação dos professores de Educação Física das 

escolas municipais de Cruz Alta para o processo de 

inclusão de alunos com necessidades especiais

La preparación de los profesores de Educación Física de las escuelas municipales de 

Cruz Alta para el proceso de inclusión de los alumnos con necesidades especiales

The preparation of teachers of Physical Education schools municipal 

of Cruz Alta case for the inclusion of students with special needs

 

*Profª Adjunta II do Centro de Ciências da Saúde e Ciências Humanas e Comunicação

da UNICRUZ. Licenciada em Educação Física. Especialista em Educação; Mestre

em Ciências do Movimento Humano. Doutora em Ciências Sociais – Políticas

e Práticas Sociais. Pesquisadora do GEPEFE – Grupo de Estudos e Pesquisas

em Educação Física Escolar da UNICRUZ

**Acadêmica do Curso de Educação Física da UNICRUZ. Estudante integrante

do GEPEFE – Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Física Escolar da UNICRUZ

Solange Beatriz Billig Garces*

sbgarces@hotmail.com

Tatiane Tatsch**

tatti.tatti@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve como objetivo verificar a preparação dos professores de Educação Física das escolas municipais de Cruz Alta para o processo de inclusão de alunos com necessidades especiais. A pesquisa realizada caracterizou-se como descritiva interpretativa, através de entrevista gravada, em que os sujeitos foram 14 professores de Educação Física dos anos iniciais, que atuam em 17 escolas da rede municipal de ensino de Cruz Alta. Como instrumento de pesquisa utilizou-se um roteiro de entrevista estruturada para os professores de Educação Física. Realizou-se a análise de dados de forma quantitativa, a partir de percentuais estatísticos, apresentados em tabelas e qualitativamente a partir de análise de categorias, conforme prevê a análise de conteúdo. Através da pesquisa percebeu-se que 92,85% dos professores entrevistados são graduados pela Universidade de Cruz Alta, sendo que 42,85% se formaram antes da década de 2000, quando foi incluída nos currículos disciplina específica sobre necessidades especiais e por isso somente 35,72% dos entrevistados tiveram em sua formação inicial disciplina relacionada à Educação Física Inclusiva. Os professores relataram que ainda sentem dificuldades para atender os alunos com necessidades especiais devido à insegurança, falta de capacitação, estrutura física adaptada, materiais e recursos, escassez de cursos específicos para Educação Física Inclusiva, além da discriminação da sociedade com esses alunos. Enfim, esse processo está em fase inicial, e o professor, entre erros e acertos, busca uma educação física que contemple a todos.

          Unitermos: Educação Física. Formação. Inclusão. Necessidades especiais.

 

Abstract

          This study aimed to verify the preparation of physical education teachers from schools in Cruz Alta to the process of inclusion of students with special needs. The research was characterized as descriptive interpretative through recorded interviews in which subjects were 14 physical education teachers of the early years, working in 17 schools in the municipal schools of Cruz Alta. The research instrument used a structured interview guide for teachers of Physical Education. We carried out the analysis of the quantitative data from statistical percentages presented in tables and qualitatively from analysis of categories, as envisaged in the content analysis. Through research it was found that 92.85% of the interviewed teachers are graduates of the University of Cruz Alta, and 42.85% were formed before the 2000s, when it was included in the curricula specific course on special needs and therefore only 35.72% of respondents had their initial training in discipline related to Inclusive Physical Education. Teachers reported that they still find it difficult to serve students with special needs due to insecurity, lack of training, adapted physical structure, materials and resources, lack of specific courses for Inclusive Physical Education, in addition to societal discrimination with these students. Anyway, this process is in the initial phase, and teacher, between right and wrong, seeks a physical education that includes everyone.

          Keywords: Physical Education. Training. Inclusion. Special needs.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A sociedade a partir da instituição dos direitos humanos busca o respeito e a valorização do ser humano, independente de suas necessidades ou diferenças sociais. Esse acontecimento caracteriza-se como “inclusão”. Para Nascimento, Oliveira e Marinho (2006), a inclusão desenvolve sentimentos de respeito à diferença, de cooperação e solidariedade. Esse processo inclusivo, além de desenvolver esses sentimentos, modifica os espaços e as funções escolares, desde funcionários, políticas pedagógicas, currículo e também as disciplinas e, em especial, a Educação Física.

    Nesta área fica evidente o quanto é importante o conhecimento do professor, já que a prática de atividade física contempla aspectos importantes para o desenvolvimento dos alunos como os aspectos motores, cognitivos, afetivos e atitudinais. A formação de um professor não se completa com a sua formação inicial, mas precisa ser continuada ao longo de sua carreira profissional, e isso se expressa importante na formação dos egressos dos cursos de Educação Física, conforme referendam Cruz e Ferreira (2005, p.165) ao afirmar que “a preparação decorrente de uma habilitação profissional obtida em um curso de nível superior é aprimorada tanto em função das vivências profissionais quanto dos investimentos acadêmicos futuros”. Assim, torna-se indispensável analisar como foi a formação inicial dos professores de Educação Física, verificando se este profissional possui ou busca conhecimentos específicos sobre a inclusão na sua formação continuada, a fim de atender alunos com necessidades especiais, e se o município oferece a esses profissionais formação continuada específica em Educação Física Inclusiva.

    Portanto, conhecer as políticas públicas de inclusão, estudar e obter formação continuada sobre processos inclusivos e de respeito às diferenças é um dever e direito dos professores, para que possam realizar seu trabalho da forma mais qualificada possível. Além disso, com essa atitude inclusiva as crianças com necessidades especiais sentir-se-ão não só parte do grupo a que pertencem, mas terão uma vida mais digna e cidadã, tornando-se capazes de relacionar-se com o mundo. Então, refletir sobre a formação inclusiva na área da Educação Física é um processo extremamente relevante e necessário, em um momento no qual a esfera pública se abre para conviver com o diferente, respeitando a diversidade em todas as suas manifestações.

Metodologia

    A pesquisa caracterizou-se como descritiva interpretativa, na qual os sujeitos foram 14 professores de Educação Física dos anos iniciais, que atuam em 17 escolas da rede municipal de ensino de Cruz Alta-RS. A seleção da amostra constituiu-se de forma intencional pelas escolas que possuíam professores ministrando aulas de Educação Física nos anos iniciais.

    O instrumento de pesquisa foi um roteiro de entrevista estruturada para os professores de Educação Física, elaborado pela pesquisadora e validado por especialistas da área. Realizou-se a análise dos dados quantitativamente, através de estatística descritiva, apresentados em tabelas e qualitativamente, a partir de categorias identificadas por análise de conteúdo, conforme prevê Bardin (1977).

    O projeto de pesquisa foi aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa sob CAAE nº 05502612.4.00005322.

Resultados e discussões

    A metodologia da educação física, ao longo do tempo, perdeu aquela identidade tecnicista e despertou o olhar para uma educação que prioriza o aluno como um ser pensante, um ser reflexivo e não mero reprodutor de movimento. Carvalho (2004, p. 39) mostra em sua citação a diferença da visão dos professores conforme sua metodologia: “Enquanto uns valorizam as metodologias, outros colocam sua energia em torno dos alunos, os aprendizes. Enquanto aquele é o professor que transmite conhecimentos, este é o educador preocupado com a pessoa de seu aluno”.

    Em busca de respostas sobre o processo de inclusão dos professores de educação física dos anos iniciais do ensino fundamental, conheceu-se a trajetória desses profissionais, desde sua formação inicial até os dias de hoje, em relação ao processo de inclusão.

Tabela 1. Caracterização dos professores de Educação Física

    Ao analisar a tabela verificou-se que a maioria (71,42%) dos professores é mulher. Em relação a sua formação, 92,85% tiveram sua formação inicial na instituição comunitária Universidade de Cruz Alta. Observa-se que o maior percentual de professores concluiu sua formação inicial na década de 2001 a 2010. Em relação à formação específica, sobre como atuar com pessoas com necessidades especiais, obtida em sua formação inicial, 64,28% disseram não possuir essa formação, enquanto que 35,72% a obtiveram na forma de uma disciplina chamada Educação Física Adaptada. Cruz (2005, p.64) diz que “não se pode ignorar que parte dos professores atuantes em nossas escolas não teve, durante sua formação, acesso a qualquer informação relacionada ao assunto deficiência – particularmente aqueles formados até o final da década de oitenta”. Porém, os professores de educação física que tiveram essa disciplina relataram não ter sido suficiente para que se sintam seguros a atender esses alunos, conforme as seguintes falas:

    “Não, quando fiz a faculdade ela era um campo só, não tinha, não abria um leque como hoje, era aquele conteúdo da grade, bem tecnicista. A educação física inovou.” (Prof. Suj. 5)

    Percebeu-se que aqueles que se formaram antes de 2002 não tiveram essa formação específica, já que a disciplina, na Universidade de Cruz Alta, inseriu-se ao currículo a partir do ano de 2002. Ainda em relação a sua formação inicial, questionou-se se os professores participaram de projetos de pesquisa e de extensão relacionados à Educação Especial. Destes, três professores responderam que tiveram experiências na área da educação especial além da disciplina, como por exemplo, na elaboração de Trabalhos de Conclusão de Curso e atividades de extensão, e relataram que a experiência foi positiva, inclusive como decisão para continuidade de estudos como a busca pela pós-graduação, segundo seus relatos:

    “Além dessa disciplina, eu fiz a monografia com deficientes visuais na escola Margarida Pardelhas. A gente estudou o cotidiano desses alunos na escola, foi bem interessante, a gente não estudou especifico as aulas de educação física. Mas tudo o que eles faziam, como era a locomoção, a rotina na escola, a gente analisou tudo isso, foi bem bom.” (Prof.Suj. 11)

    Lopes e Valdés (2003. p 197) evidenciam que “a área da Educação Física que prevê a atuação do professor com alunos portadores de deficiência só surgiu no Brasil oficialmente, nos cursos de graduação no ano de 1987”. Desta forma, até que as instituições de ensino se adaptassem a essa nova realidade levou mais alguns anos, o que justifica o número de professores entrevistados sem contato com a disciplina de educação física adaptada.

    Devido à inclusão fazer parte da proposta pedagógica das escolas, 100% dos professores já tiveram a experiência de atuar com algum aluno com necessidades especiais. Ao analisar a tabela 2, percebem-se os tipos de necessidades mais prevalentes nas escolas, evidenciados pelos professores de educação física entrevistados.

Tabela 2. Prevalência de necessidades especiais nas escolas regulares

    Questionou-se os professores a respeito do número de alunos com necessidades especiais com os quais esses profissionais trabalham e os resultados demonstraram que 85,72% deles desenvolvem suas aulas com 01 a 05 alunos, 7,14% com 6 a 10 alunos e 7,14% com 11 a 15 alunos. Todavia, esses professores trabalham em diferentes horários e turmas, não ultrapassando a dois alunos por turma ao mesmo tempo.

    Todos os professores relataram ter experiência em ministrar aulas para alunos com necessidades especiais. A partir disso, levantaram-se as categorias referentes às experiências positivas e negativas no desenvolvimento das aulas de Educação Física:

a)     Experiência Positiva:

  • motivo para aprofundar conhecimentos;

  • processos de aprendizagem mais lentos e mais diversificados;

  • processos de aprendizagem mais significativos;

  • trabalho coletivo entre os alunos, auxiliando-se uns aos outros;

  • proximidade maior entre professor e aluno;

  • troca de experiências e relatos entre os próprios professores.

b)     Experiências negativas:

  • preconceito dos pais;

  • necessidade de auxílio de monitor e a falta deste;

  • agressividade de alguns alunos e/ou apresentação de um quadro mais agravado, o que causa medo ou assusta os demais colegas;

  • necessidade de atendimento mais individualizado.

    Embora alguns professores relatem experiências negativas, as positivas prevalecem, motivando-os a aprofundar conhecimentos, pois embora os processos de aprendizagem sejam mais lentos, quando ocorrem são mais significativos, tanto para o aluno como para o professor. Lopes e Marquezan (2000) comentam que os pontos negativos são “preocupantes no processo de integração/inclusão”. No entanto, algumas necessidades especiais se tornam tão “naturais” que nem são mais consideradas como necessidade especial. Conforme a seguinte fala:

    “Na verdade a gente não considera, eu tive um aluno com problemas de má formação, na escola entrou agora, um aluno com má formação no bracinho, mas é tranqüilo. Ele corre muito bem, ele se locomove muito bem, ele interage muito bem, faz, não tem problema nenhum.”( Prof. Suj. 3)

    Quando questionado se os professores sentem dificuldade em ministrar e planejar suas aulas, 01 professora relatou que sentiu alguma dificuldade anteriormente à realização de cursos de capacitação e 09 relataram que ainda sentem dificuldades em ministrar aulas para crianças com necessidades especiais, caracterizando-as em:

    Entretanto, fica claro na resposta de uma professora o não entendimento do que realmente é inclusão, conforme sua fala:

    “Sinto dificuldade de incluir eles nas atividades, a turma está a mil, ai tu vê o cadeirante, pra ti como professor vê o cadeirante que tem tanta coisa que ele não consegue fazer, daí ele fica olhando com vontade de correr. Algumas coisas tu consegue estimular o aluno, a outro correr junto, levar a cadeira, mas tem muitas atividades como picar a bola, jogar handebol é bem complicado, o próprio futebol, né! E os alunos que tem deficiência psicológica alguns são muitos violentos, acabam atrapalhando e acabam batendo nos colegas, daí vem toda aquela questão de conversa.” (Prof. Suj.8).

    Falkenbach et al. (2008) explicitam ser comum o medo e a insegurança dos professores em trabalhar com os alunos com necessidades especiais, pois falta para estes profissionais conhecimentos específicos sobre inclusão.

    Ao questionar os professores se eles se sentem aptos para trabalhar com crianças com necessidades especiais nas aulas de Educação Física, 10 responderam que não estão totalmente preparados para atuar. Todavia, um dos professores que diz estar apto não teve em sua formação inicial nenhuma noção de educação física inclusiva, mas foi atrás desse conhecimento, conforme a sua fala:

    “Eu nunca tive problema para atender esses alunos, porque minha formação em educação física foi muito antiga, foi em 1991, daí eu fui buscar formações para poder trabalhar não só com alunos incluídos, mas com os outros também. Porque os tempos vão evoluindo e o professor parado sem informação não consegue ir para frente.” (Prof. Suj.5)

    Os demais, que se sentem aptos, foram em busca de formação complementar, através da coordenação pedagógica do município e troca de experiências com colegas. Já as dificuldades citadas pelos outros docentes são: a falta de conhecimento específico, a falta de monitores e turmas numerosas, rejeição de alguns profissionais, ambientes físicos não adaptados, insegurança e dúvidas de como ministrar as aulas e a falta de acompanhamento de profissionais especializados para auxílio e troca de saberes.

    Questionou-se sobre a relação dos demais alunos com os que apresentam necessidades especiais, e percebeu-se que a maioria dos alunos os acolhe, embora não entendam e, enfim, todos acabam os querendo no seu grupo. Conforme Carvalho Lopes e Nabeiro (2008, p.501), em sua pesquisa com alunos “ditos normais”, “vemos que a eficiência em breve ocupará o espaço da deficiência, pois desde pequenos as crianças já estão construindo outra imagem das pessoas com deficiência, que é formada pelas potencialidades e não pelas incapacidades”, caracterizando que a presença desses alunos com necessidades especiais nas escolas regulares contribui para ambos os alunos.

    Os alunos ainda protegem, cuidam, auxiliam, ajudam, respeitam e gostam dos alunos com necessidade especiais, principalmente quando estes participam das atividades. Algumas vezes os professores precisam fazer acontecer a interação entre os alunos, pois alguns retratam o preconceito trazido de casa, dos pais, o que atrapalha um pouco a relação entre eles, conforme a seguinte fala:

    “A maioria não tem preconceito, o preconceito vem dos pais. Inclusive esse aluno cadeirante quando chegou à escola, (um aluno do quarto ano) tinha meninas que diziam para mim. Profe, eu não vou mais fazer educação física, não vou mais para o pátio. Por quê? Ah, meu pai disse que não é para chegar perto do cadeirante porque vou ficar igual a ele, daí eu disse: Que ignorância do teu pai, ele esta numa cadeira de rodas, mas tu só vai ficar numa cadeira de rodas se tiver um problema de saúde, sofrer um acidente ou qualquer coisa terrível. Porque se você brincar com ele você não vai ficar cadeirante. Ai eu comecei a trabalhar, comecei a explicar porque o aluno era assim. O porquê que aconteceu... Daí, não é assim que fica doente de um dia para o outro. Daí, eles começaram a se habituar ao colega e começaram a aceitar o colega. Eles começaram a ser meus monitores, cada dia um vai contribuir com ele. O trabalho de braço ele fazia, todo trabalho de braço com bola, tudo ele trabalhava, ele somente não tinha o movimento das pernas na cadeira. Quando brincava de pega-pega, ele tinha que brincar também. Como ele tinha os braços que se moviam, ele pegava, daí os colegas a cada 5 minutos empurravam e era a vez dele pegar”. (Prof.Suj.5)

    Observou-se que o preconceito em relação aos alunos com necessidades especiais é maior entre os que apresentam deficiência mental. Gorgatti et al. (2004), em sua pesquisa, também encontraram discriminação do aluno com deficiência mental pelos alunos “ditos normais”. Gorgatti et al. (2004, p. 66) defendem a “Teoria de Contato”, que é o convívio dos alunos, pois conforme sua pesquisa com alunos que estudam em escolas regulares, comparando-se com os que estudam em escolas segregadas, a aceitação dos alunos das escolas regulares é positiva aos que apresentam necessidades especiais, portanto a escola inclusiva propicia a socialização e aceitação desses indivíduos.

    “Alguns discriminam os que têm necessidades psicológicas, mas o cadeirante é bem quisto pela turma. Todos querem ajudar, carregar, que faze com que ele participe o alongamento a gente faz com ele. Dependendo o aluno né!” (Prof.Suj.8)

    Na continuidade perguntou-se aos professores se possuem formação continuada, ou se desejam fazer e em que área.

Tabela 3. Tipo de formação continuada

    Sobre a formação continuada dos professores, verificou-se que a maioria possui pós-graduação, porém em outras áreas, e somente 17,64% dos professores têm formação continuada na área de Educação Especial. Ainda se pesquisou se os professores já fizeram ou desejam fazer cursos sobre inclusão de crianças com necessidades especiais nas aulas de educação física. Reponderam que gostariam de buscar mais conhecimentos sobre a inclusão de pessoas com necessidades especiais nas aulas de educação física. No entanto, essa capacitação não é muito fácil de ser encontrada, pois os cursos sobre inclusão, quando oferecidos pelo município, são direcionados à direção e supervisão da escola e estruturados em um âmbito geral para todas as áreas, além de muitas vezes serem de alto custo, o que dificulta para o profissional. Contudo, acreditam que realizar essa formação irá contribuir para a sua qualificação e aprimoramento, através da troca de saberes com outros profissionais que já possuem experiência com a inclusão, melhorando o atendimento dessas crianças.

    Segundo Falkenbach et al. (2008), a busca pela formação é o primeiro passo para transformar a aprendizagem inclusiva, visando a uma educação de qualidade para todos, respeitando as potencialidades e individualidades de cada ser humano.

    “Sim, eu tenho um curso de 400 horas, só que ele não é direcionado para o curso de educação física, ele é direcionado pro todo. Mas eu queria fazer um especifico.” (Prof. Suj. 6)

    “Já, inclusive a prefeitura nos proporcionou na semana passada, e daí teve um curso sobre necessidades especiais na educação física”. (Prof.Suj.13)

    A inclusão está nas escolas, e diante disso torna-se necessário saber como os profissionais veem a importância da educação física para essas crianças com necessidades especiais. Os professores relataram que a educação física é extremamente importante para as crianças, sendo elas com necessidades especiais ou não. Para Silva (2004, p.14) “a Educação Física escolar deve dar oportunidade a todos os alunos para que eles desenvolvam suas potencialidades de forma democrática e não seletiva, visando a seu aprimoramento como seres humanos”. Então, a prática contribui tanto no desenvolvimento da consciência corporal, coordenação motora, quanto cognitiva e afetiva.

    A relação dos alunos nas aulas de educação física propicia a interação com os colegas, desenvolvendo a socialização entre eles. Estímulos dos colegas e dos professores contribuem para que esses alunos tentem cada vez mais desenvolver suas potencialidades. Os relatos dos professores de educação física justificam que essa prática é fundamental para os alunos com necessidades especiais, tanto para seu desenvolvimento motor quanto para sua expressão, pois através da expressão corporal conseguem demonstrar seus sentimentos. No entanto, os professores dizem ainda ter dificuldades por não possuírem experiências com determinadas necessidades e que a falta de um monitor também prejudica o desenvolvimento das aulas. Sendo assim, Beyer (2002, p.163) justifica esses problemas como um “descompasso do que se quer e o que se propõem”, pois a distância entre o que se considera “intregracionista/inclusivista” fica muito longe do que se tem de recursos humanos e materiais disponíveis. Conforme Levy e Facion (2009, p.147), mesmo que os professores busquem formação, “nota-se que o professor aplica, em sua prática diária, muito pouco do que aprende, em consequência da sobrecarga, da dupla jornada de trabalho e da falta de recursos e materiais pedagógicos”.

    Quando questionado aos professores se recebiam algum amparo da escola para trabalhar com esses alunos na educação física, 12 professores responderam receber amparo da escola e trocar experiências com outros professores, inclusive com o da sala de recursos e a dedicação da direção para atender aos seus pedidos. Estes profissionais ainda salientam que buscam mais conhecimentos, sem ficar na dependência da escola ou secretaria para atender esses alunos. Já 02 professores relatam que há falta de monitores, embora reivindicado, e um professor reivindica que outros profissionais da escola poderiam auxiliá-lo.

    “Quando recebi o autista sim, que foi o mais chocante, pedimos auxilio a secretaria da educação, ai falava que ia nos ajudar porque tem direito a monitoria, porque ele não para na sala. Mas, eu acho que vai muito da pessoa, muito do profissional, muito da gente buscar esse recurso do que a escola ou a secretaria auxiliar.” (Prof. Suj. 1)

    “Sim! O amparo da diretora, dos colegas, ajuda nas ambas escolas que trabalho, me deu suporte.” (Prof.Suj.10)

    “Não, como já falei anteriormente, nos todos reivindicamos que tenha um monitor.” (Prof.Suj.13)

    Stelmachuk e Mazzota (2012) em um de seus estudos mostram a visão de supervisores que dizem que os auxiliares (monitores) ajudariam nas aulas, mas que os professores conseguiram trabalhar sozinhos, já na visão dos professores a falta desse auxiliar prejudicaria a aprendizagem dos alunos. Desta maneira, torna-se compreensível o pedido incessante de monitores pelos professores de educação física.

    Em relação ao espaço físico e a disposição de recursos e materiais específicos para atender os alunos com necessidades especiais, alguns professores dizem que a adaptação está acontecendo, no entanto ainda há escolas em que não se realizou nenhuma adaptação. Os profissionais relatam que possuem alguns materiais, mas não o suficiente, e que depende da gestão escolar a aquisição desses materiais. As escolas foram contempladas com as salas de recursos, segundo relato dos professores, no entanto são poucas as que estão em funcionamento.

    A estrutura física de algumas escolas apresenta risco para os alunos, o que indica ainda não estarem preparadas fisicamente para atender às necessidades desses alunos. Para Silva (2004, p.91), “a ausência de recursos evidenciou como item que mais prejudica as práticas da Educação Física inclusiva; não justificando a ausência de recursos para não buscar a prática inclusiva, mas reconhecendo a necessidade de espaços e materiais adequados para realização do trabalho”.

    “Não, assim como a maior parte da escola de rede municipal não estão, porque são modificações arquitetônicas e essas modificações levam em consideração uma gama de materiais muito grande, de preparação, construção de rampa, corrimão pro acesso desse pessoal, enfim”. (Prof.Suj.14)

    “Não, pra ir pro pátio se é um caso com deficiência visual consegue, ou auditiva a gente leva, agora um cadeirante é difícil, ou tu vai estourar toda coluna, porque tu vai ter que carregar, não tem rampa, é escada. Tem rampa de acesso a escola, mas não de acesso no pátio, porque nosso pátio é onde era a escola e ele oferece risco”. (Prof.Suj.7)

    “Depende do tipo de deficiência, se fosse visual não teria, eu não conheço a salinha do AEE, tem que ver se tem, a bola tem que ser especifica, mas acredito que não totalmente, eu não tenho conhecimento aqui, de manhã desde que eu peguei não tive nenhum aluno aqui, acredito que o cadeirante venha o ano que vem.” (Prof.Suj.11)

    Ainda em relação aos alunos com necessidades especiais, os professores dizem que o que falta para que esses alunos sejam inseridos no ambiente escolar é uma sensibilização e aceitação maior dos profissionais, da comunidade, dos pais e uma preparação maior do grupo escolar. Segundo Falkenbach et al. (2008, p3), “um avanço na inclusão será quando a escola comum puder oferecer professores aptos a acompanhar, interferir e proporcionar ferramentas que favoreçam o aprendizado respeitando cada indivíduo no grupo, em suas riquezas e limitações”.

    Devido a esse processo estar se iniciando, percebe-se ainda a rejeição da sociedade com relação ao “ser diferente”. Na visão de um dos professores, o que falta é um amparo psicológico para os docentes e um maior investimento financeiro do governo, pois estes profissionais trabalham com turmas imensas e ainda precisam destinar mais atenção aos alunos com necessidades especiais, sendo que muitas vezes faltam recursos, materiais e monitores para auxiliar o professor na hora da aula, o que prejudica a aprendizagem dos alunos.

    “Justamente, esse processo de formação do que é inclusão é a conceituação de que é inclusão. Hoje em dia a idéia de inclusão é muito difusa, ela precisa da aceitação de todos, inclusive da comunidade. Em relação à formação dos profissionais envolvidos com a educação inclusiva é a formação pede tempo ardo, as variáveis que se tem dentro dessa preparação do profissional, da comunidade e dos alunos para que possam receber esta dentro do ambiente escolar. O assunto é muito falado, mas na realidade existe uma dificuldade, que as vezes são empecilhos ou que as vezes impedem que o processo de inclusão seja concretizado na sua totalidade. Com isso, tanto os profissionais que trabalham com a inclusão, quanto os familiares acabam por sofrer. Geralmente os gestores da escola tentam alternativas, para que sejam atendidos esses alunos, mas às vezes acabam esbarrando em entraves burocráticos, ou até mesmo materiais e físico, então como em muitas outras áreas, a educação tem inventar, e essa invenção nem sempre é a mais condizente com a realidade ou com o que o aluno necessita.” (Prof.Suj.14)

    Falkenbach et al.(2008, p.2) explicitam que “o processo de sucesso na inclusão tem como um de seus alicerces a capacitação e formação dos professores”. Dessa maneira, viu-se a necessidade de questionar os professores quanto à educação continuada, se é oferecida pelo município formação sobre inclusão de pessoas com necessidades especiais para a educação física. Segundo o relato dos professores, a maioria não recorda de ter sido oferecido pela Secretaria Municipal de Educação algum curso específico para educação física inclusiva, pois os cursos são de âmbito geral, agregando todas as áreas da educação. No período da pesquisa o município estava oferecendo um curso sobre educação inclusiva, já que este faz parte do Polo de Educação Inclusiva desde 2005. Os professores relataram que foi ofertada uma palestra específica sobre educação física inclusiva no mês de setembro deste ano.

    Ao analisar as entrevistas, foi possível observar que os profissionais necessitam de mais capacitação e um amparo maior dos governos, tanto em aspectos financeiros, para aquisição de materiais específicos para trabalhar com as diversas necessidades especiais, quanto em aspecto de promoção de cursos específicos para a área de educação física. Além de monitores para facilitar a atenção a esses alunos, contribuindo para a sua aprendizagem, torna-se também indispensável um apoio psicológico para os professores, já que segundo Levy e Facion (2009, p.157) “na ausência de condições ideais para o exercício de suas funções, o professor é conduzido a um estado de ansiedade constante”, o que pode acarretar um mau desempenho nas aulas, prejudicando seu andamento e também interferindo negativamente na aprendizagem dos alunos.

Conclusão

    A inclusão é o primeiro passo para que todos sejam aceitos no ambiente escolar, porém para que este processo aconteça é necessária uma maior conscientização da sociedade, melhor preparação dos profissionais e dos ambientes físicos, para que de fato esse processo seja vivenciado.

    Visando esse processo, ainda em estágio inicial, torna-se indispensável chamar a atenção dos governos para que deem uma maior atenção e amparo às escolas, a fim de que estas possam preparar-se para oferecer recursos materiais e espaços adaptados aos alunos com necessidades especiais.

    Outro ponto que deve ser revisto é o incentivo aos professores para que busquem formação continuada e específica em educação inclusiva na área de Educação Física, uma vez que a formação inicial não é suficiente para o atendimento aos alunos, pois conforme os relatos dos professores a falta de cursos específicos dificulta o conhecimento e troca de experiências com docentes que já possuem uma vivência maior com esse processo inclusivo. Contudo, conscientizar a sociedade é o primeiro passo para que a inclusão não seja apenas uma ideia, mas uma realidade, e o segundo é buscar uma educação de qualidade, na qual as pessoas com necessidades especiais possam tornar-se mais independentes. Portanto, incluir é respeitar o outro acima de tudo e propiciar a essas pessoas uma vida mais digna e humana, independente de suas diferenças e/ou necessidades, é mostrar que também são capazes, a partir de suas possibilidades.

Referências

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