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História da Dança de Salão no Brasil: São Paulo, SP do século XIX

Historia del Baile de Salón em Brasil: el Sao Paulo, SP del siglo XIX

 

Mestre em Ciências Biológicas, UFPR

Especialista em Educação, IBPEX

Licenciada em Ciências Biológicas, UFPR

Maristela Zamoner

maristela.zamoner@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          O objetivo deste trabalho é, pelo estudo de periódicos, reconhecer características da prática de Danças de Baile na sociedade de São Paulo durante o século XIX. Foram analisados todos os periódicos do século XIX, provenientes de São Paulo, disponibilizados pela Hemeroteca Digital Brasileira até setembro de 2013, totalizando 43 deles, que cobrem o intervalo de 1827 a 1900. Conclui-se que esta sociedade do século XIX tinha a dança como uma atividade bastante importante, o que se percebe por revelações como: havia muitas sociedades de dança que promoviam bailes, ensaios e aulas; vários colégios ofertaram aulas de dança para meninos e/ou meninas como parte da educação formal; a dança estava presente na literatura oferecida pelos periódicos; partituras de música para dança foram anunciadas a venda; muitos espetáculos foram anunciados tendo a dança em seu escopo e foram reconhecidos 14 nomes de professores de dança atuantes no intervalo pesquisado. A Valsa, primeira Dança de Salão, foi a dança que teve maior ocorrência entre as Danças de Baile verificadas nesta pesquisa.

          Unitermos: Dança de Salão. São Paulo. História. Professores. Mestres. Ensino. Século XIX.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    Atualmente, entende-se que a Dança de Salão surgiu e se consolidou como parte das Danças de Baile, o que ocorreu de forma mais significativa durante o século XIX (Zamoner, 2013a). Desta forma, a compreensão do contexto das Danças de Baile nas diferentes sociedades do século XIX é relevante como fundamento necessário para o conhecimento sistematizado da História da Dança de Salão.

    A literatura atual sobre a Dança de Salão em São Paulo não disponibiliza muitas informações sobre o século XIX. Pinho (1970), com primeira edição de 1942, em seu capítulo “Salões e Festas na Província de São Paulo”, inicia seus relatos abordando o intervalo de tempo entre 1809 e 1810, referindo-se a damas “amantes da dança”, danças que se seguiam a jantares e bailes ocorridos na Província de São Paulo. Por este registro, percebe-se que já ocorriam, na Província de São Paulo, neste intervalo entre 1809 e 1810, Danças de Baile. Na seqüência da leitura registra-se sob o ano de 1820 que se dançava a écossaise (Schottich), justificando-se que já se ouvira falar sobre a Valsa, entretanto, abraçar as damas era algo considerado, neste contexto, inconveniente, assim, citou-se que não se arriscava dança-la. Segundo Andrade (1989), Schottisch é uma dança antiga, executada por pares que realizam movimentos sincrônicos, portanto, muito provavelmente, necessitando de aprendizado prévio para sua prática, o que indica a possível existência de professores.

    Pinho (1970) ainda apresenta diversas narrativas sobre bailes e danças em São Paulo no século XIX, em sua maioria resultado das análises de textos produzidos por viajantes em visita ao Brasil, a exemplo de Mawe (1987) e Saint-Hilaire (1975) entre outros.

    Em Moura (1999) relata-se a prática de Valsa, Contradanças, Schottishs, Polca, Tarantela, Bolero e Solo Inglês nas palavras de Maria Paes de Barros, uma senhora que nascera em 1851 e, portanto, vivera a mocidade na segunda metade do século XIX. Dona Maria, como é chamada, fala sobre duas professoras de dança italianas, peritas na arte, que dariam lições com todas as bases, iniciando com as quatro posições. Relata que a dança era considerada requisito da boa educação, afinal, iam aos bailes da época as famílias mais importantes.

    Os registros sobre a existência de professores de dança são particularmente relevantes do ponto de vista histórico. Uma das razões é que a identificação de professores de dança em determinada localidade e tempo é importante para o estudo histórico porque pode servir como índice de quanto se dançava (Elmerich, 1987).

    A digitalização de documentos produzidos em séculos passados, como jornais, revistas, livros entre outros, vem permitindo que as sociedades das diferentes épocas e localidades sejam conhecidas em suas características mais peculiares, sendo que uma delas é a inserção da dança em seu âmago. Em São Paulo houve produção de periódicos no século XIX que, nos últimos anos, vêm sendo disponibilizados para consulta digital, destacando-se neste contexto, a Hemeroteca Digital Brasileira.

    O objetivo deste trabalho é, pelo estudo de periódicos, reconhecer características da inserção das Danças de Baile na sociedade de São Paulo do século XIX e identificar nomes de professores que ensinavam estas danças neste período.

Metodologia

    A definição de quais periódicos fariam parte da pesquisa foi estabelecida com base na busca filtrada por “São Paulo” no acervo de periódicos da Hemeroteca Digital Brasileira. Dentre eles, foram elencados todos que tinham qualquer edição realizada no século XIX.

    Cada um dos periódicos elencados foi acessado procedendo-se a busca pelo unitermo “dança”. Registraram-se os totais de suas ocorrências e verificou-se a natureza de cada uma delas.

    Os periódicos encontrados foram tabelados agregando dados do intervalo de anos em que foram produzidos, as quantidades de ocorrências da palavra “dança” e de professores que neles constavam. Os nomes de professores encontrados foram tabelados separadamente, apresentando consigo o ano em que apareceram, periódico, se a ocorrência era única ou não e, quando presente, o endereço em que as aulas foram ofertadas.

    De forma complementar, com a finalidade de confrontar informações, foram consultados periódicos do século XIX produzidos em outras localidades brasileiras.

    Notou-se que alguns exemplares consultados estavam em condições sofríveis, qualidade ilegível, mutilados, incompletos, faltando edições ou danificados. O filtro de palavras, embora muito eficiente, apresentou raras falhas, trazendo uma ou outra palavra semelhante à buscada ou não identificando sua presença. Portanto, esta metodologia absorve falhas no sentido de que pode haver outras ocorrências além do que foi possível obter por este método. Entretanto, notou-se que esta dificuldade, não impediu que se reconhecessem claramente características conforme se objetiva nesta pesquisa.

    Consultas complementares a outras fontes de literatura e dados de libretos brasileiros e europeus foram procedidas para o reconhecimento de possíveis relações entre os dados obtidos e apresentações cênicas do século XIX. Confrontos e confirmações destas informações foram realizados entre maio de 2012 e setembro de 2013, nos endereços eletrônicos: http://www.internetculturale.it; http://polovea.sebina.it; http://catalogo.bnportugal.pt; http://trove.nla.gov.au; http://www.amadeusonline.net; http://openlibrary.org; http://www.worldcat.org; http://orlabs.oclc.org; http://www.bn.br.

Resultados

    Foram encontrados 43 periódicos de São Paulo, produzidos no século XIX cobrindo o intervalo de tempo entre 1827 e 1900. São eles, seguidos dos anos cujas edições foram disponibilizadas:

  1. A Alvorada (1880);

  2. A Constituinte: Orgam liberal, diário (1879-1880);

  3. A Epocha (1863);

  4. A Família: jornal litterario dedicado a educação da mae de família (1888-1894);

  5. A Ordem (1862);

  6. A Penna (1897);

  7. A Phenix (1838-1841);

  8. A Reacção (1879-1897);

  9. A tribuna do Braz (1897);

  10. A vida moderna: literatura actualidades artes (1886-1887);

  11. Almanak da Província de São Paulo (1873);

  12. As Orphãs (1890);

  13. Auctoridade (1896);

  14. Banana Freguezes (1897);

  15. Cenaculo (1898);

  16. Correio Paulistano: supplemento litterario (1854-1900);

  17. Diário de São Paulo: Jornal diário livre (1865-1878);

  18. Jornal da República (1879-1880);

  19. Jornal da Tarde (1878-1881);

  20. O Amigo das Letras (1830);

  21. O Archivo Ilustrado (1899-1900);

  22. O Caboclo (1863);

  23. O Democrata Federal (1895);

  24. O Domingo (1889-1890);

  25. O Farol Paulistano (1827-1831);

  26. O Kaleidoscopio (1860);

  27. O Malho: orgão de uma associação (1897);

  28. O Mensageiro do Coração de Jesus (1896 a 1900);

  29. O Mercantil (1890-1891);

  30. O Mosaico (1860);

  31. O Novo Farol Paulistano (1831-1837);

  32. O Piracicaba folha imparcial (1876-1877);

  33. O Publicador paulistano (1857-1859);

  34. O Tymbira: jornal politico, litterario e artístico (1860);

  35. O Ypiranga (1867-1869);

  36. Radical Paulistano: orgam do Club Radical Paulistano (1869);

  37. Relatórios dos Presidentes dos Estados Unidos Brasileiros (1890-1900);

  38. Revista da Academia Litteraria (1863);

  39. Revista da Associação Tributos a Lettras (1866);

  40. Revista da Associação-Recreio Instructivo (1861-1863);

  41. Revista do Jardim da Infância (1896-1897);

  42. Revista do Museu Paulista (1895-1898);

  43. Revista Litteraria Paulistana: jornal de instrução e recreio (1860).

    As buscas nestes periódicos trouxeram 1977 apontamentos do unitermo, sendo que cada um deles foi analisado quanto ao contexto em que estava inserido. Todas as ocorrências que traziam consigo nomes de professores de dança foram registradas. Notou-se que 79 apontamentos corresponderam a palavras semelhantes ao unitermo de busca.

Professores de Dança

    O Quadro 01 mostra os resultados obtidos para cada um daqueles periódicos que revelaram algum nome de professor de dança, juntamente com seus intervalos de publicações e número de professores encontrados.

Quadro 01. Periódicos que compuseram a pesquisa tendo revelado nomes de professores,

 incluindo seus respectivos intervalos de publicações e número de professores encontrados

    A leitura de todas as ocorrências dos unitermos de busca revelou professores que anunciaram aulas sem registrar seu nome e que muitas sociedades de dança e colégios falavam no ensino da dança, eventualmente, referenciando a presença de um professor sem, necessariamente, citar seu nome.

    Quanto aos nomes dos professores, o Quadro 02 os apresenta, nos termos em que foram publicados, seguindo-se o ano e periódico em que ocorreram e se foram publicados apenas uma vez ou mais. Alguns professores fizeram anúncios de aulas e solicitaram que o leitor procurasse o jornal para obter o contato, não disponibilizando seus endereços.

Quadro 02. Elenco dos nomes de professores encontrados na pesquisa, ano e periódico de 

ocorrência e se houve uma citação ou mais. Os nomes estão listados conforme foram publicados.

    Abaixo há a transcrição do anúncio mais antigo localizado nesta pesquisa (O Farol Paulistano, 1831), com as características do uso da língua portuguesa no ano de sua publicação.

    - Mr. Anjo Chaves Professor de Dança torna a participar ao respeitavel Publico, que em sua caza rua de S. Bento n.6 da lições de dança a todas as pessôas que de seu prestimo e arte se quiserem utilisar: insina-se o que requer uma educação cuidadosa, sendo a dança uma qualidade que embelesa, e orna as pessôas civilizadas, por ser o metodo Francez com que se propõe a insinar, o mais seguido, e o mais adoptado em todas as capitaes d´Europa, servindo não só para o entretenimento que ministra a dança, como para a polidez do porte, movimentos, atitudes e maior civilidade. Tambem se compromette o annunciante a dar lições por cazas particulares;

    assim como a ensaiar, e dirigir bailes no melhor gosto annunciado.

    Segundo Deaecto (2007), “O Farol Paulistano” foi o primeiro periódico impresso pela imprensa legal em São Paulo/SP. Em 17 de maio de 2013, uma pesquisa tendo como base “O Farol Paulistano”, revelou na página 1936 do número 455 de 24 de fevereiro de 1831, o anúncio deste professor de dança que se autodenominava “Mr. Anjo Chaves”, oferecendo aulas de dança e organização de bailes em São Paulo (Zamoner, 2013b). O mesmo anúncio já havia sido reproduzido na íntegra por Guedes e Berlinck (2000), em seu trabalho sobre os anúncios de jornais brasileiros do século XIX, publicado pela Universidade de São Paulo. É pertinente notar, os anúncios que se seguem a este, referem-se à fuga de escravos, típico da época da escravidão, revelando um contraste de valores com a divulgação de aulas de dança associadas à civilidade.

    O “Cruzeiro Jornal Politico, Literario e Mercantil” de 31 de julho de 1829, da Typografia do Cruzeiro, de Pernambuco, traz o anúncio que segue:

    Angelo Chaves Dansarino tem sala de danças de novo methodo Francez na rua da Cruz do Recife, no. 18, em que ensinara o que requer uma educação cuidadosa, sendo a dança huma quallidade que embelesa e orna as pessoas civilizadas. Assignatura mensal serà a preço modico em attenção à concorrência que houver. O Mestre de Dança se offerece a dirigir em cazas particulares os Bailes que se destinarem, assim como dar lições nas Cazas onde lhe fizeram a honra de o chamarem.

    A semelhança dos textos e dos nomes permite que se cogite a possibilidade de se tratar do mesmo profissional. Nos dois anos que antecederam ao anuncio de Anjo Chaves no jornal “O Farol Paulistano”, de São Paulo, Angelo Chaves anunciou aulas no jornal “O Cruzeiro Jornal Politico, Literario e Mercantil”, de Pernambuco. No ano de 1830 Angelo Chaves anunciou também, no mesmo periódico pernambucano, um espetáculo de dança oferecendo seu endereço para venda de ingressos. Antes de apresenta-lo, porém, anunciou o cancelamento devido a dificuldades com os ensaios. No ano seguinte consta o anúncio de Anjo Chaves em São Paulo. Este resultado não indica e nem sugere que Mr. Anjo Chaves possa ter sido pioneiro no ensino destas danças em São Paulo/SP.

    Um dado que pode ser relevante sobre a história da Dança de Salão em São Paulo no século XIX diz respeito às professoras Marcellina, Clotilde e Ambrosina, todas com sobrenomes italianos, ministrando aulas no mesmo endereço. Elas anunciavam suas aulas colocando o nome de duas professoras ao mesmo tempo em cada anúncio, por exemplo (“Correio Paulistano”, 1883):

    LIÇÕES DE DANÇA

    Clotilde e Ambrosina Martinelli dão lições de dança, tanto em colégios como em casas particulares, por preço muito razoavel, para o que podem ser procuradas, todos os dias na

    Marmoraria Imperial

    Rua de S. Bento n. 33

    e na

    Alameda do Triumpho n. 5

    N. B – Tambem dão lições em sua casa, Alameda do Triumpho, a senhoras e meninos de ambos os sexos, todas as quintas-feiras e domingos.

    Estes anúncios vislumbram a possibilidade de que estas professoras fossem aquelas à que Dona Maria Paes de Barros se refere (Moura, 1999). Dona Maria viveu sua mocidade em anos que coincidem com os destas publicações, na mesma localidade e são os únicos anúncios encontrados trazendo dois nomes de professoras com sobrenomes italianos. No Correio Paulistano de agosto de 1886 é constatado um anúncio de Rafael Martinelli que se declara sócio de Clotilde Martinelli, viúva de seu irmão de Fernando Martinelli, “no ramo de negócio de mármores”. O nome “Clotilde Martinelli” consta ainda em um libreto do Teatro Nuovo di Napoli, datado de 1851, como soprano da opera buffa “Le precauzioni ossia Il carnevale di Venezia”.

    Entre os anos de 1857 e 1858 o professor de nome Girolamo de Mattia fez anúncios no jornal “Correio Paulistano”, de circulação em São Paulo. No ano de 1858 o professor anuncia que regressou a cidade, indicando que estivera fora. O nome “G. De Mattia” foi verificado no ano de 1871 no documento “Brasil. Ministério do Império”, no Rio de Janeiro, como professor de dança em uma instituição de ensino formal. É possível que se trate do mesmo professor que, portanto, moraria em São Paulo onde ministrava aulas de dança particulares e posteriormente mudou-se para o Rio de Janeiro, onde passou a ministrar aulas em instituições de ensino formal.

Dança no ensino formal

    Foram encontrados muitos anúncios de colégios de educação formal que ofereciam aulas de dança aos seus alunos, meninos e/ou meninas, como parte integrante da educação. Alguns deles não se localizavam em São Paulo/SP, mas, visavam seu público, o que permite pensar que as danças faziam parte da educação e dos costumes desta sociedade neste tempo. O Quadro 03 traz uma listagem dos colégios mais freqüentes nos periódicos.

Quadro 03. Colégios que funcionaram no século XIX ofertando aulas de dança no ensino formal em São Paulo, seguidos por ano e periódico de ocorrência

Artigos

    Ocorrências da palavra “dança” também foram encontradas em artigos. Alguns, faziam críticas severas ao Tango. Outros consideravam que a dança era parte importante das qualidades da mulher, um sustentava o contrário desta idéia e ainda um deles registrava que o bom homem não conversa muito e não dança.

    Durante a pesquisa nos periódicos notou-se que artigos abordavam as danças, história, modalidades entre outros assuntos, inclusive citando quais danças eram praticadas. Um destes artigos, publicado no Correio Paulistano na edição número 2204 de 1863, intitulado “A sociedade e os bailes”, inicia da seguinte forma:

    Se não tivessem inventado os bailes, os casamentos seriam menos frequentes. A proclamação desta verdade, que ninguem de boa fé póde contestar, deve tornar menos odioso para os pais de familia as reuniões aonde se dança a polka, e se bebem algumas chavenas de chá-verde, com acompanhamento de musica instrumental.

    Os bailes são além disso um meio aprasivel de aproximar os dois sexos e de resolver muitos problemas de sentimento.

    [...]

    Pois na sociedade moderna póde dizer-se que a entrada para o matrimonio é muitas vezes a porta de um salão aonde se dança.

Anúncios

    Dentre os anúncios, além da oferta de aulas, alguns solicitavam professores e vários ofereciam a locar salas para ensaios de danças e partituras de música para dança.

    Entre os anúncios de partituras, no Diário de São Paulo, 1872, são oferecidas para venda na loja de musica Henrique Luiz Levy, “nova quadrilha figurada, pelo professor de dança A. Piagentini” e “Pêra de Satanaz, nova quadrilha figurada, pelo professor de dança Pinto da Rocha, autor das ultimas proesas de Rocambole”. Em periódicos do Rio de Janeiro, o professor J. A. Piacentini anunciou aulas entre os anos de 1858 e 1872 e o professor “Pinto da Rocha”, entre 1874 e 1883. No catálogo da Biblioteca Nacional, classificada como “partitura”, há uma quadrilha impressa na qual consta: “A PRINCEZA IMPERIAL NOVA QUADRILHA DEDICADA A S.A.I.A. SENHORA PRINCEZA D. IZABEL PELO PROFESSOR DE DANÇA J. A. PIACENTINI”. A seqüencial da impressão, que não tem data, contem descrições textuais da execução da quadrilha e uma partitura de música. Também consta que J. A. Piacentini teria publicado uma outra partitura intitulada “Polka figurada: Saxe”, também sem data.

    Uma ocorrência diz respeito a um anúncio intitulado “Reclamação”, solicitando que as autoridades tomassem providências quanto a algazarras em uma casa na ladeira do Riachuelo, “onde todas as noites, das 9 horas até a madrugada, vários indivíduos se reunem, a título de aula de dança” (“Correio Paulistano”, 1895). Algumas edições anteriores traziam anúncios de aulas de dança na Rua Riachuelo, número 49, ministradas por um professor de nome Amandier.

    Notou-se anúncios de um professor de nome Mr. Aubert que ministrava aulas gratuitamente para meninos (Diário de São Paulo e Correio Paulistano, ambos de 1868), entretanto, como seu nome também apareceu em alguns espetáculos de dança circense, é provável que o tipo de dança ensinada não estivesse relacionado às Danças de Baile.

    Em todos os periódicos consultados apenas um anúncio de livro a venda foi constatado, no jornal “O Mercantil”, ano de 1890:

    Arte de dança, ensinada em lições claramente explicadas por meio de já figuras gravadas, contendo, além das contradanças gerais as marcas das contradanças provinciais e seguido de uma explicação do cotilon, I vol. br. r$600, enc. 2$000.

    Verificaram-se anúncios de fármacos para o enfrentamento de doenças que traziam em suas denominações o unitermo de busca, sem que se identificasse qualquer relação com as Danças de Baile: “dança de S. Guy”, “dança de S. Vito”, “dança de S. Victor”.

Sociedades de dança

    Encontraram-se várias ocorrências referentes às sociedades de dança, entre elas: Sociedade de Dança Club Semanal – Campinas (1862); Sociedade de Dança Recreio Juvenil Commercial (1864); Tivoly Paulistano (1864); Sociedade de Dança União Jovial (1868); Sociedade de Dança Democrata (1869); Sociedade de Dança União e Progresso – Campinas (1869); Sociedade de Dança Aurora Jundiahyana – Jundiahy (1871); Sociedade de Dança Sempre Viva e Recreio da Mocidade (1873); Sociedade de Dança Congresso Familiar (1873); Club Therpsichorense (1877); Clube Euterpe Commercial (1877); Club Juvenil (1883).

Espetáculos

    Diversos espetáculos teatrais trazendo números de dança foram observados sendo anunciados nos periódicos estudados. Entretanto, entende-se que se caracterizaram por outras modalidades de dança diferentes das Danças de Baile, como por exemplo, de caráter circence. Não foram encontradas coincidências entre nomes de professores que anunciaram aulas de Danças de Baile e dançarinos ou coreógrafos dos espetáculos anunciados. Entre as danças anunciadas como parte de espetáculos cênicos destacam-se: “dança de cavalo”; “dança da corda” e “dança das fadas”.

Danças

    Quanto as Danças de Baile, observou-se, entre as mais citadas, primeiramente a Valsa e em seguida a Polka. Também ocorreram muitas citações de Quadrilha, Mazurka, Shottish e Samba e entre as danças menos citadas, Contradança, Habanera, Galopes e Bolero.

Conclusões

    Esta pesquisa tornou visíveis informações desconhecidas da literatura atual sobre Dança de Salão, revelando uma cidade de São Paulo no século XIX com costumes sociais intensamente permeados por prática e ensino das Danças de Baile, dentre as quais se disseminava a Dança de Salão. A Valsa, a primeira Dança de Salão, foi a dança constatada em maior incidência entre as Danças de Baile do século XIX.

    Conclui-se que a sociedade de São Paulo do século XIX tinha a dança como uma atividade importante devido a: muitas sociedades de dança e baile, clubes dançantes que promoviam bailes, ensaios e aulas de dança; vários colégios de ensino formal ofertando aulas de dança para meninos e/ou meninas como parte integrante da educação formal; presença da dança na literatura oferecida pelos periódicos e identificação de 14 nomes de professores em anúncios e listas de profissionais.

    A riqueza de informações relacionadas a estas danças mostra que são pertinentes aprofundamentos em pesquisas nesta área, fazendo uso de documentos produzidos nas épocas estudadas.

Referências bibliográficas

  • Andrade, Mário de. Dicionário musical brasileiro. Belo Horizonte: Itatiaia; Brasília: Ministério da Cultura; São Paulo: Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo, 1989.

  • Deaecto, Marisa Midori. Os primórdios da imprensa paulista: José da Costa Carvalho, fundador de O Farol Paulistano (1827-1831). Revista de História Regional. 12(2): 29-50. Inverno. 2007.

  • Ellmerich, Luis. História da dança. 4ª. edição revisada e ampliada. São Paulo. Editora Nacional. 1987

  • Guedes, Marymarcia; Berlinck, Rosane de Andrade. E os preços eram cômodos... Anúncios de jornais brasileiros, século XIX. São Paulo, Humanitas, FFLCH/USP, 2000.

  • Mawe, John. Viagens ao interior do Brasil. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/ EDUSP, 1978.

  • Moura, Carlos Eugênio Marcondes de Moura. Vida cotidiana em São Paulo no século XIX: memórias, depoimentos, evocações. São Paulo. Unesp. 1999.

  • Piacentini, Joaquim Antonio. A princeza imperial nova quadrilha dedicada a S.A.I.A. senhora princeza D. Izabel pelo professor de dança J. A. Piacentini. Partitura. Rio de Janeiro. Arthur Napoleao & C. Século XIX. Sem data.

  • Piacentini, Joaquim Antonio. Polka figurada: Saxe. Partitura. Rio de Janeiro. Imperial Imprensa de Musica de Filippone e Tornaghi. Século XIX. Sem data.

  • Pinho, Wanderley. Salões e Damas do Segundo Reinado. 4ª. Edição. São Paulo. Livraria Martins Editora, 1970.

  • Saint-Hilaire, Auguste de. Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo Horizonte/São Paulo: Itatiaia/EDUSP, 1975.

  • Zamoner, Maristela. Dança de Salão, conceitos e definições fundamentais. Curitiba. Protexto. 2013a.

  • Zamoner, Maristela. Em 1831 Mr. Anjo Chaves anuncia aulas de dança em São Paulo. Dança de Salão – Maristela Zamoner. Curitiba. 2013b. Disponível em: http://danca-de-salao-maristela-zamoner.blogspot.com.br/2013/05/em-1831-mr-anjo-chaves-anuncia-aulas-de.html.

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