Globalização, cultura e futebol no Brasil Globalización, cultura y fútbol en Brasil |
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Graduado em Geografia e Educação Física, especialista em Didática e Docência e Mestre em Desenvolvimento Regional pela Universidade do Contestado, UnC (Brasil) |
Douglas Tajes Junior |
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Resumo O futebol é o maior fenômeno social do Brasil. Representa a identidade nacional e também consegue dar significado aos desejos de potência da maioria absoluta dos brasileiros. O mundo está sofrendo, de uma forma acelerada, grandes transformações, fatos que tem fortes impactos positivos e negativos na vida das pessoas e da sociedade, quer do ponto de vista econômico, quer do ponto de vista cultural, quer ainda do ponto de vista das relações sociais. Tal fenômeno é conhecido como globalização. Compreendendo o futebol como fenômeno social instituído em meio à teia relacional que compõe o todo da realidade, e, portanto, faz parte desta transformação que vem ocorrendo na aldeia global desde os primórdios. Procuramos assim, apontar algumas peculiaridades entre esses três fatores: globalização, cultura e futebol brasileiro. O objetivo do estudo é fazer uma analogia entre globalização, cultura e o futebol no Brasil. A metodologia empregada fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, será de perfil qualitativo baseada em dados primários e secundários. O presente estudo realizado disponibiliza um viés pouco elucidado na bibliografia, pois trata de assuntos de extrema complexidade como: Globalização, Cultura e Futebol. O futebol está presente na cultura nacional desde os primórdios. Perfazendo vários períodos da nossa história, mesmo contrariando alguns intelectuais, o futebol se confunde com determinados fatos históricos relevantes do país. Quando falamos (e estudamos o futebol) não se fala apenas de um jogo, mas da própria história do país, emaranhada com a evolução e desenvolvimento nas quatro linhas do campo. Unitermos: Globalização. Cultura. Futebol.
Abstract The soccer is the biggest social phenomenon of Brazil. It represents the national identity and also it obtains to give meant to the desires of power of the absolute majority of the Brazilians. The world is suffering, of a sped up form, great transformations, facts that have forts positive impacts and negative in the life of the people and the society, it wants of the economic point of view, wants of the cultural point of view, and still wants of the point of view of the social relations. Such phenomenon is known as globalization. Understanding the soccer as instituted social phenomenon in way to the network of relationships that composes all in the reality, and, therefore, it is part of this transformation that comes occurring in the global village since the beginning. We look for thus, to point some peculiarities between these three factors: globalization, culture and Brazilian soccer. The objective of the study is to make an analogy between globalization, culture and the soccer in Brazil. The methodology is based on the dialectic proposed by Hegel, the based qualitative profile in primary and secondary data. The present carried through study provides a bias little elucidated in the bibliography, therefore deals with subjects of extreme complexity as: Globalization, Culture and Soccer. The soccer is present in the national culture since the beginning. Rebuilding some periods of our history, exactly opposing some intellectuals, the soccer if confuses with definitive excellent historical facts of the country. When we speak (and we study the soccer) is not said only of a game, but of the proper history of the country, entangled with the evolution and development in the four lines of the field. Keywords: Globalization. Culture. Soccer.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
O fenômeno da globalização é uma realidade irreversível e, de certa maneira, irremediavelmente incontida. Vivemos em um mundo dinâmico em constante processo de integração que, independentemente de nossas vontades, cria uma relação de pertencimento entre nós sujeitos, os objetos de consumo, o espaço local e o espaço global. De certa forma, existe uma inconsciência que opera esses mecanismos já que a noção de grupo social como componente de um país está fortemente ligada à presença das fronteiras geograficamente demarcadas.
Os territórios como espaços geográficos limitados e institucionalizados por um conjunto cultural do qual faz parte a língua, os costumes, os hábitos alimentares, o vestuário, os símbolos e todos os outros elementos que unificam e constituem a particularidade de cada território estabelecido parecem reforçar a idéia de isolamento e distanciamento. Mas, na verdade, não é isso que ocorre, pois a dimensão alcançada pelos produtos da indústria cultural, por exemplo, demonstra o poder simbólico das práticas culturais cotidianas como sendo fenômenos mundiais e nos remetem a outra perspectiva de análise, a saber, a perspectiva dos processos de desterritorialização, ou seja, um processo de redefinição das fronteiras geopolíticas a partir das interpenetrações culturais mundializadas. E, esse é o caso do futebol.
O futebol está presente em inúmeras cenas do cotidiano do brasileiro. É um dos grandes eventos aglutinador de emoções e partícipe do espírito da construção nacional. O futebol no Brasil interessa tanto às metrópoles quanto às pequenas localidades. O futebol como um fenômeno sociocultural, tem participação na economia, transformação de elementos culturais em mercadoria.
O objetivo do estudo é fazer uma analogia entre globalização, cultura e o futebol no Brasil. A metodologia empregada fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, será de perfil qualitativo baseada em dados primários e secundários. O presente estudo realizado disponibiliza um viés pouco elucidado na bibliografia, pois trata de assuntos de extrema complexidade como: Globalização, Cultura e Futebol. Essas novas concepções podem subsidiar a elaboração de trabalhos futuros, através da sistematização do conhecimento gerado na efetivação do estudo, o que será possível a partir do cruzamento de indicadores e variáveis, sobre essas temáticas.
O trabalho se apresenta da seguinte maneira: na segunda seção trataremos da globalização e chegada do futebol ao Brasil. Na terceira seção, abordaremos o futebol como instrumento político. Na quarta, cultura imposta pela mídia. A conclusão encerra o trabalho.
Material e métodos
A metodologia empregada fundamenta-se na dialética proposta por Hegel, será de perfil qualitativo baseada em dados primários e secundários. Primários oriundos de pesquisa documental. A característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina de fontes primárias. Estas podem ser recolhidas no momento em que o fato ou fenômeno ocorre, ou depois (MARCONI e LAKATOS, 1996, p. 62). E secundários oriundos de pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material cartográfico, etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre o assunto (MARCONI e LAKATOS, 1996, p. 71).
Desta forma, foram analisados trabalhos que relatam os assuntos pertinentes a temática do estudo: Globalização, Cultura e Futebol Brasileiro.
Resultados e discussão
Globalização e chegada do futebol ao Brasil
A globalização é muito mais antiga do que alguns pensam. E o futebol é fruto dela aqui no Brasil.
Charles William Miller nasceu em São Paulo, em 24 de novembro de 1874, filho do engenheiro escocês John Miller e da brasileira Carlota Alexandrina Fox Miller. Carlota, por sua vez, era filha dos ingleses Henry Fox e Harriet Mathilda Rudge Fox. A descendência de Miller era resultado de um conjunto de fatores que transformaram São Paulo em centro de atração do capital inglês no final do século XIX.
O pai de Miller viera ao Brasil para trabalhar na São Paulo Railway, ou San Paulo (Brazilian) Railway Company Limited, como consta nos documentos da empresa na Inglaterra, em meio ao boom de construção de ferrovias no Brasil. Em 1851, havia apenas 15 km de estradas de ferro no país, menos de 70 anos depois, esse número saltaria para cerca de 28.600 km. O capital para esse tipo de construção era basicamente inglês, primeiro apenas como investimento indireto, depois com empresas totalmente britânicas atuando no setor. Era esse precisamente o caso da São Paulo Railway, que ficou com a “joia da Coroa” das ferrovias nacionais: a que ligava o Vale do Paraíba a Santos. Eram apenas 139 km, mas tornou-se um dos empreendimentos mais importantes da economia brasileira na ocasião, porque serviu para escoar a produção de café, cujo valor na pauta de exportações do Brasil havia assumido posição insuperável em meados do século XIX, foi o principal produto brasileiro no exterior durante quase um século, e o Brasil controlava 80% do mercado mundial, por meio da industrialização e da entrada maciça de imigrantes e a conseqüente introdução de hábitos e cultura estrangeiros, no meio dos quais estava o “esporte bretão” (GUTERMAN, 2009).
Tamanha riqueza, como era previsível, atraiu a atenção da principal potência mundial na época, o Império Britânico. O investimento seguiu o padrão daquele que ficou conhecido como “o século dos ingleses” na América Latina. A partir da segunda década do século XIX até o final da Primeira Guerra Mundial, o Reino Unido liderou os investimentos em infraestrutura e bens de capital no continente, acompanhando os movimentos de independência. Enquanto a Europa, capitaneada por ingleses, prussianos e russos, tentava derrotar Napoleão, a América Latina absorvia um terço das exportações de manufaturados britânicos. No caso específico do Brasil, as relações privilegiadas dos britânicos datavam pelo menos desde a vinda da família real portuguesa para o Rio e a conseqüente transferência da Corte para cá, em 1808.
As comunidades britânicas atraídas para trabalhar no Brasil são insignificantes do ponto de vista demográfico, como relata Guterman (2009), razão pela qual não aparecem entre os maiores contingentes de imigrantes recebidos pelo país entre o final do século XIX e o começo do século XX. Os registros indicam que os ingleses viviam em grupos de até 300 funcionários das empresas do Reino Unido e trabalhavam em tarefas específicas, como ajustar trilhos e operar máquinas. Raros eram os ingleses pobres, estes imigravam para os Estados Unidos da América (EUA), e não para o Brasil. São Paulo recebeu ingleses das classes média e alta, pessoas “com bolsos recheados de moedas de prata”, em busca de “grandes empreendimentos” e com um certo “padrão de educação”.
Embora São Paulo e Rio de Janeiro já tivessem boas escolas no final do Império e no começo da República, havia um ar de exibicionista, entre os imigrantes mais ricos e a aristocracia local, em mandar os filhos estudar na Europa. Charles Miller, por exemplo, foi mandado pelos pais à Inglaterra para estudar quando tinha 9 anos, em 1884. A família esperava que, no Banister Court School, em Southampton, ele se formasse para entrar na administração dos negócios ingleses em São Paulo. Foi lá que ele descobriu o futebol e pôde desenvolver suas habilidades. O jovem ficou na Banister até 1894 (GUTERMAN, 2009).
Comparado ao que acontecia na própria Inglaterra, era um paradoxo e tanto. O futebol inglês nasceu em meio a o crescimento da massa operária. Era um jogo que trazia para os locais públicos toda a raiva das classes baixas do país, atulhadas nas cidades cada vez mais hostis. A repressão ao futebol jogado na rua, comum no início do século XIX na Inglaterra, é a prova de que o esporte era visto como coisa da ralé, ainda mais porque invariavelmente acabava em pancadaria e depredação. Por causa disso, o futebol passou a ser jogado em locais específicos, principalmente nas escolas públicas. Foi à primeira tentativa de uniformizar as regras do jogo, isso por volta de 1850 (GUTERMAN, 2009).
Multiplicaram-se os times, que já nasciam com vocação profissional, uma oportunidade rara para os operários e estudantes ganharem algum dinheiro, o futebol inglês era, assim, jogado majoritariamente por gente pobre. O jogo continuou violento, mas, a partir de 1863, contava com regras aceitas pela maioria, inclusive uma que impedia o zagueiro de dar um pontapé no atacante para impedi-lo de chegar ao gol (GUTERMAN, 2009).
No Brasil, por outro lado, o pedigree elitista do futebol permeava tudo, inclusive a estrutura do esporte. O primeiro campo oficial do país foi o terreno da Chácara Dulley, no Bom Retiro, onde já se jogava críquete, então o esporte preferido dos ingleses no Brasil. A chácara pertencia à família de Charles D. Dulley, engenheiro americano que chefiou a construção da ferrovia entre São Paulo e Rio, aberta em 1877. O terreno ficava a poucos metros da Estação da Luz, onde hoje está um quartel da Polícia Militar, e a Avenida Tiradentes, ao final da Rua Três Rios, porque fora aberta pelo tal marquês, que lá também tinha uma propriedade. Na mesma Chácara Dulley, como a confirmar esse traço de nobreza, houve a introdução do golfe no país. Mas o futebol, por razões diversas, acabou predominando (GUTERMAN, 2009).
Aos ingleses bem-sucedidos juntou-se a elite cafeeira paulistana. O primeiro estádio de futebol digno desse nome no Brasil foi uma adaptação do Velódromo Paulistano, erguido em 1892 por encomenda de Antonio da Silva Prado, ou simplesmente conselheiro Antonio Prado. Empresário de vários negócios, inclusive no setor ferroviário, Antonio Prado era neto do barão de Iguape e herdeiro de uma das famílias mais ricas do Brasil, ligada ao café e às estradas de ferro. Teve também forte carreira política, chegando a ser prefeito de São Paulo. O terreno onde foi construído o Velódromo era da mãe de Prado, Veridiana de Almeida Prado, ou simplesmente “Dona Veridiana”. Ficava onde hoje é a Praça Roosevelt, e nas redondezas jogava-se pelota basca. Na época, o ciclismo era moda em São Paulo, e a idéia era ter um lugar fechado onde a elite paulistana pudesse exercitar-se, ao local afluíam amigos da família Prado, mais tarde, surgiria ali o Clube Atlético Paulistano. Em 1901, foi adaptado para receber jogos de futebol (GUTERMAN, 2009).
Até esse momento, porém, o futebol era praticado em condições precárias, de acordo com os registros da época. Em 1864, ou seja, 30 anos antes de Charles Miller regressar ao Brasil com o futebol na bagagem, marinheiros estrangeiros, sobretudo ingleses, foram vistos disputando peladas nos capinzais desertos do litoral brasileiro. Há ainda registro de jogos nas mesmas condições entre 1874 e 1878. A praia da Glória, no Rio, e um descampado em frente à residência da princesa Isabel são citados como locais desses prélios, dos quais participavam funcionários de firmas inglesas de navegação, de cabos submarinos, bancos, docas e ferrovias, como The Leopoldina Railway Company. A participação de brasileiros aparenta ser rara, a não ser como assistentes ou coadjuvantes desse estranho esporte. Jogava-se também no interior de São Paulo, em Jundiaí, um certo “Mr. Hugh” organizou jogos entre brasileiros e ingleses da São Paulo Railway, em Itu, um padre jesuíta do São Luiz, colégio da elite cafeeira fundado em 1867 e que em 1918 se mudaria para seu atual endereço perto da avenida Paulista, estimulou os alunos a jogar à maneira de Eton, tradicionalíssima escola inglesa onde os estudantes chutavam bola contra a parede, na falta de local apropriado para esse esporte. Como se nota, são iniciativas esparsas e movidas por mera diversão, sempre coordenadas por ingleses ou inspiradas por eles. Não havia campo adequado nem equipamento, as bolas, por exemplo, eram uma raridade. O que Miller introduziria no Brasil seria o perfil competitivo do futebol, com suas regras, limitações e artimanhas, provável razão pela qual ele é considerado o pioneiro desse esporte no país (GUTERMAN, 2009).
Para a questão do desenvolvimento, temos que destacar que as antigas colônias, possessões ou países que viviam sob mandato e recentemente se tornaram independentes da Grã-Bretanha e da França, de longe as maiores potências coloniais, mas também da Holanda, de Portugal, dos EUA e do Japão, o imperialismo foi uma realidade que deixou marcas profundas na psique nacional e proporcionava uma explicação imediata para o subdesenvolvimento (HARRISON et al, 2002).
Os referidos autores seguem dizendo que, para os países do que seria chamado de Terceiro Mundo, que se tornaram independentes há um século ou mais, como a América Latina, o imperialismo tomou a forma de “dependência”, a teoria segundo a qual os países pobres da “periferia” foram defraudados pelos países capitalistas ricos do “centro”, que baixaram os preços de bens manufaturados, e cujas empresas multinacionais obtinham lucros excessivos à custa dos países pobres.
Como pudemos observar com os relatos acima, o fenômeno da globalização é muito mais antigo do que poderíamos imaginar. Agora, recordo-me de rumores contra esse movimento global de diminuição das fronteiras e alfândega cultural imposta por alguns intelectuais nacionalistas. Pergunto: qual seria a reação de um intelectual nacionalista, empenhado na defesa de nossa identidade cultural se acaso vivesse na época em que o futebol começou a penetrar na nossa realidade cultural? Como sabemos, é um fato importante para a maioria dos brasileiros. Esporte de nacionalidade inglesa, o futebol chega à nossa terra no auge do colonialismo inglês, que de resto já dominava a economia brasileira há muito tempo. Ingressa no Brasil como esporte de elite, e vai sendo gradualmente assimilado pelo povo. Seria razoável supor que no momento em que o futebol ingressou no Brasil ele reagisse indignado amparado no argumento da nossa autenticidade cultural, alegando provavelmente que o futebol não passava de um instrumento de dominação cultural imposto pelo colonialismo inglês. Falaria, em nome do povo, cuja integridade cultural precisaria ser por ele defendida. Infelizmente, o povo, demonstra mesmo quando tutelado politicamente, como é ainda no século XXI, ser sujeito de determinados desejos e vontades. Mas o futebol representa no Brasil, além da unidade identitária, nossa maior fonte de orgulho nacional. Nem o avanço da globalização econômica e cultural, dissolvendo fronteiras, transportando jogadores e até clássicos (como foi o jogo entre o Grêmio de FootBall Porto Alegrense e o Sport Club Internacional, o clássico de número 384 em suas histórias, foi disputado fora do Brasil. O confronto foi em Rivera, no Uruguai, a mudança de país para o clássico partiu de uma iniciativa dos comerciantes locais. Eles decidiram pagar o custo do jogo, pensando nos dividendos que teriam com a presença dos dois clubes mais famosos da região).
Romper fronteiras é, para o futebol brasileiro, um desafio que se aproxima cada vez mais. Na verdade seria um caminho inverso. Com o público consolidado dentro do país, os clubes de futebol precisam buscar novos mercados e fãs. Essa foi à lógica que permeou a invasão estrangeira dos grandes clubes da Europa e que, no passado, era o que sustentava boa parte dos clubes brasileiros. O Santos de Pelé é um exemplo, desse desenvolvimento do futebol dentro do contexto da globalização cultural que é o futebol.
Mas a nossa questão de colônia ainda permanece, o nosso principal produto de exportação no caso do futebol para as grandes potências européias é o jovem jogador de futebol. Com o processo de globalização, muitos clubes europeus, possuem observadores técnicos, observando os jovens talentos brasileiros em diversos territórios. A transação é bem parecida com a que acontecia com os bens manufaturados, os clubes vêm ao país e preferem angariar os jovens talentos, ao invés de levar um talento já formado que custaria mais investimento. Desta forma, o custo benefício é maior e, a possível transação posterior pagaria o investimento inicial.
O futebol como instrumento político
Na década de 40, estabeleceu uma relação e duas direções. A primeira delas referiu-se à maneira como o governo de Getúlio Vargas constituía sua administração e a segunda questão à influência da regulamentação na prática do futebol, bem como, as possíveis interlocuções com a sociedade (MEZZADRI, 2007).
A discussão do processo de desenvolvimento do Estado brasileiro, em geral, e do futebol em particular, passava pela forma como o governo de Getúlio Vargas vinha administrando o país. O poder da burocracia no Estado Novo estava concentrado nas mãos dos políticos, que buscavam regulamentar a grande maioria das áreas de alcance da sociedade, a partir dos padrões estabelecidos por este governo. Essa posição foi evidenciada pelos discursos e propostas do governo. Cabe destacar que as ações políticas representavam a centralização do poder das relações do Estado frente à sociedade (MEZZADRI, 2007).
Ao analisar a introdução do futebol e o seu desenvolvimento em desporto popular no Brasil, encontramos a ele vinculado os processos de urbanização e industrialização ocorridos na nossa sociedade no início do século XX. As grandes cidades do país, em destaque São Paulo e Rio de Janeiro, encabeçaram esse “processo civilizador” no Brasil, fato que, quando analisado na perspectiva da teorização sobre os desportos, nos ajuda a compreender a evolução e a importância dada por essas duas cidades aos esportes e as questões a eles relacionadas, como eugenia, saúde e educação física.
Porém, nessa época o futebol ainda não era tido como um esporte popular no país, o “esporte-rei” brasileiro. Essa condição foi construída historicamente através de um lento e conflituoso processo. Nessa luta entre os diferentes campos de poder, o futebol por vezes avançou, e por vezes retrocedeu no vivido social, até se tornar um elemento ritualístico na sociedade brasileira e vital de ser analisado para melhor compreendê-la.
Os donos do poder (a oligarquia cafeeira e os novos setores elitistas provenientes do espaço urbano, como a burguesia industrial) durante a segunda fase do governo getulista, o Estado Novo (1937-1945), procuraram legitimar a constituição de um estado autoritário e fazer vingar a construção da Nação brasileira, uma, indivisível e moderna apoiando-se em princípios elitistas, conservadores, nacionalistas e autoritários (OLIVEIRA, VELLOSO e GOMES, 1982).
A transferência do modelo liberal de administração, constituído até o final dos da década de 20, para o modelo centralizador interferiu diretamente na sociedade. O Estado tornou-se um agente ativo na organização política, social e econômica da sociedade. Como o próprio Getúlio Vargas diria, em um de seus discursos contra o modelo liberal:
O Estado não conhece direitos de indivíduos contra a coletividade. O indivíduo não têm direito, têm deveres! Os direitos pertencem à coletividade! O Estado, sobrepondo-se à luta de interesses, garante só os direitos da coletividade e faz cumprir os deveres para com ela. O Estado não quer reconhecer a luta de classes. As leis trabalhistas são as leis de harmonia social. (GETÚLIO VARGAS, 1938)
Percebemos com essa posição a intenção do governo em promover ações para a coletividade, ou seja, nas suas propostas políticas pretendia-se abranger o maior número possível de indivíduos. Com isso projetava-se a criação de uma identidade nacional, até então pulverizada pelo interior do país. O governo naquele momento estava se cercando de projetos em todas as áreas, como na saúde, lei trabalhista, educação e, particularmente no assunto do nosso estudo, no esporte e no futebol.
Em relação à institucionalização do futebol, aparentemente existiu uma característica administrativa comandada pelos burocratas e pelos políticos, com uma participação restrita da sociedade e dos indivíduos nas tomadas de decisões, um modelo tradicional de administração. Segundo Spink (1993), uma administração tradicional constitui-se por uma forma autoritária, ou seja, a administração aconteceu a partir da centralização do poder, governado pelos burocratas, que interpretam as necessidades sociais, políticas, econômicas e culturais da população. Desta forma, a representação dos cidadãos nas tomadas de decisões do governo não ocorre diretamente, pois há que se considerar que a sociedade nem sempre tem condições ou acesso ao confronto político de forma democrática com oportunidades iguais.
A partir da primeira metade do século XX, o futebol serviu como ferramenta para as ambições do Estado e acabou se tornando um dos mais importantes elementos da cultura brasileira. Talvez o primeiro grande sinal desse fenômeno tenha sido o reconhecimento da profissão de jogador de futebol pelo governo Vargas, que se aproveitou da imensa popularidade do esporte para disseminar seus ideais por todo território brasileiro (PEREIRA, 2000). Além disso, no estabelecimento de suas diretrizes governamentais, Vargas não tardou a criar mecanismos para o exercício de um intenso controle sobre todo o desporto nacional, o que automaticamente fez com que o Estado se tornasse o grande investidor da indústria esportiva brasileira, fato esse refletido na criação do Conselho Nacional do Desporto (CND), e muito visível pelo começo da provisão de estruturas financiadas pelo poder público, simbolizada inicialmente pela construção do Estádio Pacaembu (SAUERBRONN 2001; AGOSTINHO 2001; CARVALHO, GONÇALVES et al. 2005).
A administração centralizadora e nacionalista do Brasil a partir do Estado Novo leva, inicialmente, a se focalizar o futebol na direção da organização legislativa brasileira. Uma das primeiras ações reguladoras do esporte conseqüentemente no futebol, surgiu com o Decreto Lei nº. 3.199, de 14 de abril de 1941 (BRASIL. Decreto-Lei nº. 3.199 de abril de 1941). Com base na própria lei, podemos entender os aspectos conceituais preestabelecidas, os valores morais ditados pelo governo e a posição autoritária, forjando uma nova organização social. A partir daí, delimita-se o espaço para a criação da identidade nacional, vinculada à prática esportiva e do futebol (MEZZADRI, 2007).
Art. 3- Compete precipuamente ao Conselho Nacional de Desportos:
[...]
b) incentivar, por todos os meios, o desenvolvimento do amadorismo, como prática de desportos educativa por excelência, e ao mesmo tempo exercer rigorosa vigilância sobre o profissionalismo, com o objetivo de mantê-lo dentro de princípios de estrita moralidade;
c) decidir quanto à participação de delegações dos desportos nacionais em jogos internacionais, ouvidas as competentes entidades de alta direção, e bem assim fiscalizar a constituição das mesmas;
d) estudar a situação das entidades desportivas existentes no país para fim de opinar quanto às subvenções que lhes devam ser concedidas pelo Governo Federal e ainda fiscalizar a aplicação dessas subvenções.
(BRASIL. Decreto-Lei nº. 3.199 de abril de 1941)
Portanto, o futebol que já naquele momento histórico, era considerado profissional, deveria sofrer rigorosa vigilância por parte do governo. Com isso, o governo procura centralizar em suas mãos a organização, a fiscalização e a estrutura do futebol. Fica ainda mais evidente quando observamos que o futebol não possuía uma Confederação autônoma. A Federação Brasileira de Futebol estava subordinada ao Conselho Nacional de Desportos (CND). A questão que permanece com essas ações é sobre a forma centralizadora utilizada pelo governo federal para alcançar os objetivos propostos e suas possíveis inserções no futebol. Para melhor compreensão das ações Do Governo Federal, explanaremos sobre o discurso do próprio Getúlio Vargas na inauguração do Estádio do Pacaembu:
Ao declarar inaugurado este Estádio, sob impressão das entusiásticas e vibrantes aclamações com que fui recebido, não posso deixar de dirigir-vos algumas palavras de vivo e sincero louvor. Este monumento consagrado à cultura física da mocidade, em pleno coração da capital paulista, é motivo de justo orgulho para todos os brasileiros e autoriza a aplaudir merecidamente a administração que o construiu.
As linhas sombrias e belas de sua imponente massa de cimento e ferro, não valem, como uma afirmação da nossa capacidade e do esforço criador do novo regime na execução do seu programa de realizações.
É ainda e sobretudo este monumental campo de jogos desportivos uma obra de sadio patriotismo, pela sua finalidade de cultura física e educação física.
Agora mesmo assistimos ao desfile de dez mil atletas, em cujas evoluções havia a precisão e a disciplina, conjugadas no simbolismo das cores nacionais. Diante dessa demonstração da mocidade forte e vibrante, índice eugênico da raça, - mocidade em que confio e que me faz orgulhoso de ser brasileiro – quero dizer-vos:
Povo de São Paulo
Compreendestes perfeitamente que o Estádio do Pacaembu é obra vossa e para ela contribuístes como o vosso esforço e a vossa solidariedade. E compreendestes ainda que este momento é como um marco da grandeza de São Paulo a serviço do Brasil.
Declaro, assim, inaugurado o Estádio do Pacaembu.
(NEGREIROS, 1997 p. 42)
Dentro desta filosofia, verificamos que além do Estádio do Pacaembu, foram construídos a partis da década de 50, inúmeros outros Estádios, como por exemplo: Castelão – Governo do Estado do Ceará; Maracanã – Governo do Estado do Rio de Janeiro; Fonte Nova – Governo do Estado da Bahia; Mineirão – Governo do Estado de Minas Gerais; Rei Pelé – Governo do Estado de Alagoas; Estádio Cláudio Vasconcelos Machado – Prefeitura Municipal de Natal; Vivaldão – Governo do Estado do Amazonas; Mangueirão – Governo do Estado do Pará; Mané Garrincha – Governo do Distrito Federal; Serra Dourada – Governo do Estado de Goiás; entre outras centenas de Estádios Estaduais e Municipais espalhados pelo país. Estes exemplos de construção dos Estádios por parte dos governos estaduais e municipais demonstram claramente uma das opções políticas adotadas para manter as ações governamentais próximas com o desenvolvimento da estrutura do futebol. Em paralelo às construções dos Estádios, mais uma ação foi sendo desenvolvida pelo poder público no decorrer destas décadas. Tratava-se das ações mais diretas para o futebol. Os Departamentos de Esporte dos Municípios começaram a desenvolver ações centralizadoras na prática do futebol. Começava ali, uma grande troca de interesses. O poder público enxerga no futebol um grande meio de estabelecer intervenções nesta modalidade e obter possíveis vantagens eleitorais com essas ações. Lilhales (2001) relata que, havia investimentos por parte dos governos municipais no pagamento de arbitragem dos campeonatos de futebol, compra de uniformes das equipes e premiações (troféus e medalhas) para os vencedores dos campeonatos organizados pelo poder público. Essa prática, centralizadora de gestão pública, que teve início no Estado Novo, perdura até hoje nas repartições públicas municipais destinadas a gestão esportiva de todas as regiões nacionais.
A idéia de um líder político símbolo da “pessoa coletiva” constituída pelo povo dessa nação, de um Estado autoritário com desejos democráticos, como a “expressão natural” das necessidades do país e a criação de um homem excepcional – o trabalhador brasileiro – como o único capaz de expressar e construir a nova ordem, também fizeram parte de uma construção ideológica sistematizada e articulada pelo governo estado novista para a sua autolegitimação (MIRANDA, 2007). Na esteira desse projeto governista engendrador de uma identidade nacional brasileira, a necessidade de diminuir ao máximo a presença da herança regionalista, proveniente do período denominado pela historiografia de República Velha, constitui-se como fundamental. Vargas, garantindo direitos aos trabalhadores, conquistou notável popularidade junto á classe operária, e um dos instrumentos utilizados para pelo poder para cimentar essa relação foi o rádio. O Ministro do Trabalho, por exemplo, fazia palestras radiofônicas semanais, procurando aproximar as classes populares e o governo. O mundo do futebol também revelou os efeitos da comunicação de massa. A partir de 1936, as transmissões radiofônicas dos jogos levaram o futebol para os lugares distantes dos principais centros e atraíram torcedores para os clubes protagonistas. Percebendo o caráter extremamente popular que o futebol já possuía,o governo escolheu os Estádios de São Januário (RJ) e Pacaembu (SP), a partir de 1940, como palco para as comemorações do 1º de Maio, o Dia do Trabalho (CARRILHO, 2010).
O futebol, um elemento da cultura popular brasileira, nos ampara, para analisar esse contexto político-social, mais especificamente seu projeto de unidade nacional. Desta forma, entramos na seara específica da rivalidade futebolística entre os Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, herdeira de um regionalismo intenso proveniente desses dois pólos de poder no país (especialmente após a Revolução de 1932, promovida pelos paulistas contra o centro do governista, sediado e simbolizado pelo Estado do Rio de Janeiro) (OLIVEIRA, VELLOSO e GOMES, 1982). Sendo o futebol, espaço privilegiado para práticas ritualísticas públicas e diárias nas sociedades contemporâneas, por ter em seu interior um micro cosmo (autônomo da sociedade), temporalidades próprias, espaços definidos (oficiais ou não), tensões e regras específicas (criadoras de uma moralidade, uma ética própria) (HUIZINGA, 2005). O futebol enquanto drama torna-se uma das expressões da identidade nacional dessas sociedades, seus problemas, percepções, elaborações intelectuais e emocionais e seus sentimentos concretamente sentidos e vividos (DA MATA, FLORES, GUEDES e VOGEL, 1982).
Como Caillois (1991), não pensamos em uma sociologia dos jogos, mas em uma sociologia a partir desses, Assim, escolhemos o futebol, dentre outros elementos culturais, para analisar um evento histórico constituinte da sociedade onde ele interage. Os valores e os estilos de cada sociedade podem ser analisados pela preferência dessa por uma determinada categoria de jogo, pois os jogos, os costumes e as instituições mantêm estreitas relações entre si, possibilitando averiguar, com a análise desse relacionamento, o destino das culturas, suas possibilidades de êxito, seu perigo de estancamento e seu desenvolvimento.
Nesse “processo civilizador” por qual passava o país, modernizou-se o futebol, popularizando-o e iniciando sua identificação com o ethos brasileiro (GEERTZ, 1989). Durante o Estado Novo, inúmeras leis e decretos foram feitos nesse sentido, de regularizar e institucionalizar os esportes. O governo de Vargas aproveitou-se da popularidade do futebol, iniciada nesse período quando tal esporte mudava-se da fase amadora para a profissional (conseguindo mais adeptos e fãs no país, em principal nos grandes centros de poder, como os Estados de São Paulo e Rio de Janeiro), para tentar concretizar alguns de seus projetos, tal como a unidade nacional. Porém, o futebol jamais deixou de ser praticado como jogo, como elemento lúdico em nossa sociedade. Por meio desse caráter desregrado ele constituiu-se como drama, elemento ritualístico, compositor da nossa própria identidade nacional. A forte presença dos regionalismos via paixão futebolística corroboram para essa idéia, mesmo quando existia um projeto de unidade nacional os velhos costumes, tradições e ideais regionais continuaram a existir (MIRANDA, 2007).
Cultura imposta pela mídia
Somos um povo em ser, impedido em selo. Um povo mestiço na carne e no espírito, já que a mestiçagem aqui jamais foi crime ou pecado. Nela fomos feitos e ainda continuamos nos fazendo. Essa massa de nativos oriundos da mestiçagem viveu por séculos sem consciência de si, afundada na ninguendade. Assim foi até se definir como nova identidade étnico-nacional, a de brasileiros. (RIBEIRO, 1995).
Com base nessa referência de Darcy Ribeiro, entendendo que o futebol virou uma instituição nacional e nos deu sentido de povo. Para esse intelectual, a falta de uma identidade fixa é o que justamente gera a identidade do brasileiro, como um povo mestiço, fluido, em crise e em constante transformação. Essa “ninguendade” faz o brasileiro apropriar-se de um esporte que, em sua origem inglesa, é tão distinto da realidade nacional. Ao adotar o futebol, o povo brasileiro canibaliza-o, aproximando esse jogo das nossas “cores locais”. E, com isso, cria um outro futebol, afastado “do bem ordenado original britânico para tornar-se a dança cheia de surpresas irracionais e de variações dionisíacas que é” (FREYRE apud MÁRIO FILHO, 2003).
Esse esporte mexe com o coração dos brasileiros, alternando alegrias e decepções. Apesar dos problemas existentes nos clubes de futebol, o esporte se mantém popular e, o preferido da mídia e da população. Atualmente, o futebol que interessa aos meios de comunicação é o de rendimento. A mídia trabalha com o futebol das mais variadas formas. Ela explora o futebol como a sua maior fonte de renda. Retirando receitas dos espaços publicitários dos jogos transmitidos semanalmente (em horários específicos em TV aberta e fechada), estes inclusive com a opção de adesão mediante pagamento para determinados campeonatos inteiros ou apenas partidas isoladas.
Sendo a televisão o veículo mais difundido, Schwartz (1985), enfatizava a importância da televisão na sociedade, definindo-a como o “segundo Deus”, pois assim como Deus, ela também está presente em toda a parte influenciando as pessoas, direta ou indiretamente.
Segundo Lovisolo (1997), há considerável acordo em caracterizar a cultura, moderna ou pós-moderna, como cultura de espetáculo. A palavra espetáculo ou espetacular passou a significar o grandioso, o emocionante, o admirável. Grande parte da produção dita cultural destina-se a gerar espetáculos, se possível espetaculares. Existe uma vertente do esporte moderno que surgiu sendo espetáculo, mais precisamente como festa competitiva, já com características definidas que seriam mais tarde potencializadas pelos meios de comunicação. O espetáculo esportivo procura causar impacto, emoções, sentimentos, sensibilidade, fazendo-nos rir, chorar ou exaltar. E nisso os jogos de futebol transmitidos pela televisão ganham este atrativo, devido à exposição em programas especializados, que compõem as programações das emissoras de televisão para tornarem determinados jogos em espetáculos de massas, não importando aonde eles serão realizados.
Não rara às vezes, a imprensa escrita ou falada promove uma guerra simbólica entre nações ou clubes esportivos, através da linguagem empregada na cobertura. Linguagem que vai buscar o essencial da sua terminologia ao “campo de batalha”, acentua o caráter violento do jogo e faz com que o espírito do jogador e do público no campo de jogo se identifique cada vez mais com uma autêntica batalha. São vários os trabalhos em nível de Brasil que já identificaram essa linguagem violenta e bélica no discurso da mídia (SANFELICE e HATJE, 2001)
Isso significa que a cultura de massa foi introduzida numa sociedade heterogênea em termos culturais. Tanto a tradição oral, que não foi de todo superada em termos de transmissão de conhecimento para modus operandi e modus vivendi, quando a cultura de massa não tem maiores compromissos com a formação de uma cultura cívica (SAUER e CORREA, 2008).
Outra forma de analisar essa cultura imposta pela mídia são as transmissões do maior evento futebolístico do planeta. A Copa do Mundo de Futebol. No mundial de 2010, foram transmitidas as 64 partidas, mas quais, os jogos do selecionado brasileiro, sempre eram paralisadas as atividades, profissionais e escolares. Nesses jogos desperta-se um espírito cívico em toda a população, um orgulho em ostentar as cores do país, que não vemos em outras datas, como, por exemplo, no Dia da Independência.
A população brasileira entre 15 e 24 anos perfaz mais ou menos 34 milhões, representando 20% do total da população. A escolaridade desse segmento é bastante inferior à média satisfatória considerada pelo UNICEF para a América Latina. Isso significa que a cultura cívica dos jovens brasileiros é precária, haja vista que à instituição por excelência para tal aprendizado (a escola) não está conseguindo manter os jovens por mais de sete anos em seu seio. Em relatório recente do Programme for International Student Assessment (Pisa) da UNESCO, o nível da educação brasileira aparece como um dos piores do mundo (SAUER e CORREA, 2008).
Com o descrito acima, podemos entender como a mídia (principalmente a televisão), tem exercido importante influência sobre certas parcelas da sociedade, moldando e ditando comportamentos. E o futebol, nesse sentido, entra na vida desses adolescentes que, muitas vezes abandonam a escola para correr atrás de um sonho de ser jogador de futebol. Entendemos que a força que a mídia exerce sobre esses garotos é muito forte. Pois, na sua grande maioria, escolhem a tentativa de um futuro no futebol, ao invés de uma busca paralela há esse sonho continuando na escola, por falta de um incentivo familiar e pela grande exposição que os veículos de mídia dão aos astros do futebol. Mas, não relatam o quão difícil é ser um jogador de futebol com fama e dinheiro. Incutindo uma falsa cultura da “vida fácil” dos jogadores de futebol.
Conclusão
O futebol está presente na cultura nacional desde os primórdios. Perfazendo vários períodos da nossa história, mesmo contrariando alguns intelectuais, o futebol se confunde com determinados fatos históricos relevantes do país. Quando falamos (e estudamos o futebol) não se fala apenas de um jogo, mas da própria história do país, emaranhada com a evolução e desenvolvimento nas quatro linhas do campo.
Pudemos analisar de que modo o futebol sintetizou alguns dilemas no país: a proximidade com a economia, quando da sua chegada ao país trazido por um filho da elite que retornará de seus estudos na Europa, os esforços dos dirigentes políticos do país, no sentido de se aproximar do futebol, para conquistar a simpatia do povo, o que demonstrou a relevância que a modalidade já havia conquistado na era do Estado Novista e por último, a influência da mídia, é importante entender a relação entre o esporte e a televisão de maneira ampla, pois é uma parceria que gerou um novo paradigma para a prática do futebol. Esse esporte passa a ser parte da cultura do povo brasileiro, graças à televisão. Além do mero ato de ver um jogo pela televisão, a prática esportiva profissional ganhou dimensões planetárias e passou a mover milhões de pessoas, após a consolidação de seu espaço com as telecomunicações.
Enfim, o futebol se observado por outro olhar, tem muita afinidade com a globalização e a cultura. Dois fenômenos que estão presentes no cotidiano de todos e de certa forma nos influenciam em algum momento de nossas vidas.
Referências
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Digital · Año 18 · N° 185 | Buenos Aires,
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