O comportamento da variabilidade da freqüência cardíaca durante a aplicação de um jogo cognitivo El comportamiento de la variabilidad de la frecuencia cardiaca durante la aplicación de un juego cognitivo |
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Departamento de Psicologia Universidade Federal de Santa Catarina (Brasil) |
Karen Cristine Teixeira Lucas Sombrio Emílio Takase |
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Resumo Variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) são oscilações dos intervalos entre batimentos cardíacos consecutivos que estão relacionadas às influências do SNA sobre o nódulo sinusal. Essas alterações dizem respeito a como o coração lida e responde a estímulos fisiológicos e ambientais e têm modulação efetuada pelo SNA. Por se caracterizar de um método não invasivo de aquisição de dados psicofisiológicos, a VFC tem sido amplamente utilizada em estudos científicos. A partir do referencial exposto, este artigo tem como objetivo descrever o comportamento da VFC durante a execução de um jogo cognitivo em situação de cooperação e sem auxílio de grupo. A partir dos resultados conclui-se que os participantes tiveram melhor desempenho psicofisiológico nas situações de jogo em que tiveram auxílio de um grupo na tomada de decisão. Unitermos: Variabilidade da freqüência cardíaca. Sistema nervoso autônomo. Psicofisiologia. Jogos cognitivos.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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O Sistema Nervoso Autônomo (SNA) é uma porção do sistema nervoso que regula a atividade de órgãos viscerais, como glândulas músculo liso e o músculo estriado cardíaco. É através de suas divisões antagônicas que o organismo mantém a homeostase, “assim, variáveis como temperatura corporal, pressão arterial, pH do plasma, hormônios circulantes, glicose, etc. estariam sob controle rigoroso” (Nishida, 2007, p. 156).
O coração recebe, pelo miocárdio, terminações simpáticas (SNS) que controlam as situações de gasto energético, preparando o organismo para a luta ou fuga. A estimulação simpática culmina no aumento da freqüência cardíaca e de sua força contrátil (Nishida, 2007). Já as terminações parassimpáticas, presentes no nódulo sinusal, miocárdio atrial e nódulo atrioventricular, controlam as situações de economia e obtenção de energia. De forma inversa, a ação parassimpática (SNP) diminui a freqüência cardíaca e a força contrátil do músculo cardíaco.
A atividade elétrica do coração é proveniente de uma desigualdade na quantidade relativa de íons sódio e potássio, dentro e fora das células do miocárdio e esta atividade consiste de ondas características. A onda P está relacionada à despolarização dos átrios, o complexo QRS à despolarização dos ventrículos e a onda T à repolarização ventricular (Lopes et al, 2003). É através dos picos R que se estrutura a mensuração da variabilidade da freqüência cardíaca.
Variabilidade da freqüência cardíaca (VFC) é o nome dado às oscilações R-R expressas em milissegundos, ou, segundo Vanderlei, Pastre, Hoshi, Carvalho & Godoy (2009, p. 206): oscilações dos intervalos entre batimentos cardíacos consecutivos que estão relacionadas às influências do SNA sobre o nódulo sinusal. Essas alterações dizem respeito a como o coração lida e responde a estímulos fisiológicos e ambientais, como respiração, estresse, etc. e têm modulação efetuada pelo SNA.
A VFC pode ser utilizada como mecanismo de verificação de eventos relacionados ao SNA em atletas, sujeitos saudáveis e enfermos. (Aubert, Seps & Beckers, 2003; Vanderlei et al, 2009). Por esta razão, a VFC tem sido amplamente investigada em relação à atividade cortical que, segundo Thayer et al (2009), modula a função cardiovascular, através do sistema nervoso simpático e parassimpático.
Alta VFC indica adaptabilidade do indivíduo à situação, ou seja, há eficiência do controle homeostático pelo SNA. Níveis baixos de variabilidade da freqüência cardíaca estão relacionados ao estresse e desempenho em atividades cognitivas prejudicadas, já o inverso está relacionado a níveis baixos de ansiedade, melhor tempo de reação, precisão e maior número de respostas corretas em atividades cognitivas (Teixeira, 2008).
O córtex pré-frontal é responsável pela ‘liderança’ do cérebro e pelo manejo de informações disponíveis. Ele participa ativamente do processo de estabelecimento de metas e objetivos e também do planejamento de estratégias para colocar estas metas em prática. É também função do córtex pré-frontal selecionar e coordenar e seqüenciar as habilidades cognitivas necessárias e apropriadas para a execução das metas propostas, e “finalmente, o córtex pré-frontal é responsável pela avaliação do sucesso ou do fracasso de nossas ações em relação aos nossos objetivos” (Goldberg, 2002, p. 46).
Quando o córtex pré-frontal é desativado há predominância do SNS (atuação do Sistema Límbico) associada com a desinibição de circuitos defensivos. Neste caso há baixa VFC, hipoatividade pré-frontal e pouca ativação do SNP. Quando isto ocorre, pode haver déficits nas funções cognitivas e instalação de quadros depressivos e/ou ansiogênicos. Segundo Weinberg e Gould (2001, p. 96) “a ansiedade é um estado emocional negativo caracterizado por nervosismo, preocupação e apreensão e associado com ativação ou agitação do corpo”. Ela pode ser dividida de duas maneiras diferentes, a primeira a divide em ansiedade somática e ansiedade cognitiva. A ansiedade somática refere-se à ativação física do sujeito, já a ansiedade cognitiva diz respeito ao pensamento, como, por exemplo, preocupações.
A segunda maneira divide a ansiedade em: ansiedade-traço e ansiedade-estado. A ansiedade-traço é aquela presente na personalidade da pessoa, que como tudo que é relativo à personalidade é, constante e segue um determinado padrão. Já a ansiedade-estado refere apenas ao momento, ou seja, é um estado de humor variável (Weinberg e Gould, 2001). Relacionada a estes conceitos está a ativação, que é uma preparação psicofisiológica de um sujeito em um dado momento, ou seja, o grau de preparação e envolvimento de um indivíduo para a ação (Weinberg & Gould, 2001). A ativação propicia melhor percepção da situação e de suas demandas, assim como processamento mais rápido da informação disponível, o que possibilita a busca de soluções plausíveis e prepara o organismo para agir com rapidez e vigor.
Tanto a ativação como a ansiedade podem afetar o desempenho de forma negativa e também positiva. Um modelo bastante difundido de explicação para a influência da ativação é a Hipótese do U invertido. De acordo com Weinberg e Gould (2001, p. 105) “na baixa ativação os níveis de desempenho ficarão abaixo do padrão normal (...). À medida que a ativação aumenta, melhora o desempenho – até um ponto ideal em que ocorre o desempenho desejado. Quando a ativação ultrapassa um determinado ponto ideal, o desempenho volta a ficar abaixo do padrão normal.
Segundo o modelo de Zonas individualizadas de desempenho ideal, os indivíduos trabalham em zonas ideais de ansiedade-estado para obter um bom desempenho (Weinberg & Gould, 2001). A diferença deste modelo para a Hipótese do U invertido é que o nível ideal não necessariamente está no ponto médio, mas pode estar nas extremidades do processo de ativação. Ou seja, algumas pessoas se saem melhor em tarefas cognitivas e físicas com alta ansiedade-estado, já outras com baixa ansiedade-estado.
O objetivo deste artigo é mensurar e analisar o comportamento da variabilidade da freqüência cardíaca e, por meio desta, do sistema nervoso autônomo para verificar se há diferenças durante a execução de um jogo em duas situações diferenciadas: com auxílio grupal e sem auxílio grupal.
Materiais e métodos
Sujeitos: Os dois participantes são do sexo feminino, com idade média igual a 21,5 anos. Ambos são praticantes regulares de atividade (atletismo e triatlo respectivamente). A média de horas de sono dos participantes foi igual a sete horas e ambos haviam assistido a aulas por aproximadamente uma hora antes da aplicação do protocolo de pesquisa.
Equipamentos: O software Biomind, criado no Laboratório de Educação Cerebral da Universidade Federal de Santa Catarina, foi utilizado em conjunto com uma cinta transmissora Polar® acoplada, pelo transmissor, em um fone de ouvido com Neodímio. O fone de ouvido dinâmico capta o pulso de 5 kHz emitido pela cinta transmissora no momento da despolarização do batimento cardíaco. O fone de ouvido plugado na entrada do microfone captura o sinal e é processado pelo software. O software decodifica então o sinal de 5 kHz captado através do fone de ouvido de neodímio, acoplado à unidade transmissora.
A unidade transmissora, por sua vez, é conectada a uma cinta elástica colocada na região torácica. O software transforma os intervalos RR brutos em índices da variabilidade da freqüência cardíaca expressos no domínio do tempo, da freqüência e não linear e é exibido em tempo real. Para posterior análise foi utilizado o software Kubios HRV®, que executa a transformação dos dados em índices da VFC. Também foi utilizado o software Windows Excel® para tabulação dos dados e confecção das tabelas.
Jogo Reversi – é um jogo de tabuleiro para dois jogadores. Foi inspirado em um outro jogo de tabuleiro denominado go. Cada jogador usa uma cor, preta ou branca, e põe uma pedra em um tabuleiro 10x10 de cada vez. Cada vez que uma peça do oponente fica presa entre duas pedras do jogador, este muda a pedra para a cor das suas peças (tanto vertical, horizontal ou diagonal). O objetivo é ter mais peças de sua cor ao final do jogo.
Procedimento: Foi pedido aos participantes que não fizessem uso de substâncias que pudessem modificar o comportamento cardíaco, como álcool e cafeínas, e que não tivessem praticado exercício físico pelo menos vinte e quatro horas antes da coleta de dados. A realização do protocolo de pesquisa se deu no período matutino. A cinta elástica com a unidade transmissora acoplada ao fone foi umedecida, para facilitar a captação do sinal cardíaco, e posicionada na região torácica do participante, logo abaixo do osso esterno. A saída do fone de ouvido foi então conectada à entrada relativa ao microfone do computador.
Houve primeiramente três minutos de aquisição de RR de linha de base em repouso, aplicação do jogo e posteriormente mais três minutos de pós-atividade. Os dados da variabilidade da freqüência cardíaca foram transferidos para o software Kubios HRV para que se obtivessem os índices lineares e não lineares para análise. O jogo “A” foi aplicado primeiramente com o sujeito 1 tendo ajuda do grupo de apoio (três pessoas) e o sujeito 2 jogando sozinho, ambos monitorados. Posteriormente esta situação foi invertida, o sujeito 1 passa a jogar sozinho e o sujeito 2 tem auxílio do grupo de apoio (jogo “B”).
Análise dos dados e discussão
Jogo A – sujeito 1 com auxílio do grupo
Durante a linha de base a média dos intervalos RR foi igual a 945,4 ms e seu desvio-padrão é de 50,6 ms. A freqüência cardíaca média situou-se em torno de 63,3 bpm e sua amplitude foi de 7bpm. Estes dados sugerem um estado de ativação relaxada. Os índices HF = 31,9% e LF/HF = 0,6%, ambos do domínio da freqüência, podem indicar uma ação predominante do ramo parassimpático do sistema nervoso autônomo, ausência de ansiedade-estado e estresse. Há menor expressão da atividade simpática, em comparação com a atividade do ramo parassimpático, o que é mostrado pelo índice LF = 18%. O índice D2 = 3, 175 sugere que o sujeito está confortável e adaptado à situação.
Ao compararmos a linha de base com a situação de jogo podemos dizer que houve uma queda na média de RR, mas uma compensação em seu desvio-padrão que aumentou. Os dados da freqüência cardíaca e o índice RMSSD não tiveram mudanças consideráveis. LF sofreu um aumento de 66% e HF uma queda de 44%, o que sugere um predomínio simpático e do comportamento de ativação do sistema nervoso autônomo. O índice não linear D2 permanece alto, o que sugere ausência de estresse e de má adaptação.
Já ao efetuarmos uma comparação da situação de jogo com a de pós-atividade, há um aumento da média e do desvio-padrão de RR e ligeira diminuição da FC. Ambos os índices do domínio da freqüência: LF e HF foram mais expressivos, e LF/HF se manteve em 1,6%. Estes dados mostram uma boa modulação do sistema nervoso autônomo do participante que modificou sua expressão conforme a situação vivenciada. A diminuição da freqüência cardíaca no pós-atividade é devido ao relaxamento, ao cessar da necessidade de concentração e ausência da pressão exercida sobre o sujeito durante a atividade.
Tabela 1. Dados da VFC do jogador 1 na partida A
Jogo A – sujeito 2 sem auxílio do grupo
Durante a linha de base a média de RR foi igual a 807,6 ms e seu desvio-padrão de 53,4 ms. Já a freqüência cardíaca média foi 74,61 bpm e seu desvio-padrão de aproximadamente 5 bpm. Os índices do domínio da freqüência LF = 66,1% e LF/HF = 4,3% sugerem presença de ansiedade pré-jogo, mas, todavia, o sujeito encontra-se adaptado à situação segundo D2 = 3,132.
Ao comparar os índices da linha de base com os do período de jogo, nota-se uma queda na média de RR. A freqüência cardíaca se eleva discretamente. A expressão do ramo simpático se eleva ligeiramente durante o jogo, o que demonstra a mobilização do jogador para a atividade. Essa elevação também é fruto da concentração necessária para realização da tarefa.
Já na situação de jogo em relação à pós-atividade, há uma manutenção da média de RR e aumento de 32% em seu desvio-padrão. A freqüência cardíaca também se mantém, o que indica aumento da variabilidade da freqüência cardíaca. Os índices do domínio do tempo RMSSD e pNN50 tiveram incremento de 97 e 147% respectivamente. No domínio da freqüência, verificou-se a maior expressão do sistema nervoso parassimpático que atua no sentido de promover o relaxamento e economia de energia. O índice LF/HF, pela maior atuação do SNP se manteve em 2,4%.
Tabela 2. Dados da VFC do jogador 2 na partida A
Jogo B – sujeito 1 sem auxílio do grupo
De acordo com os dados pode-se dizer que durante a linha de base houve um predomínio da atividade parassimpática, conforme expresso pelos índices LF/HF= 0,4% e HF = 58,9%, do domínio da freqüência. É possível inferir que o sujeito esteve adaptado à situação (D2 = 3,576), relaxado, pois há predominância do SNP e com ausência de ansiedade-estado ou estresse.
A média de RR equivale, na linha de base, a 847,4 ms com desvio padrão significativo igual a 77,2 ms. 21,4% dos intervalos entre RR foram significativos, superiores a 50 ms (pNN50). Quando se enfoca os índices do domínio do tempo: Média RR, Desvio padrão RR, RMSSD e pNN50, pode-se sugerir uma maior variabilidade da freqüência cardíaca do que na situação de jogo e no pós-teste.
Da situação de base para o jogo, pode-se observar uma queda nos índices relativos aos intervalos RR. Isto pode significar uma queda relevante da variabilidade da freqüência cardíaca. O RMSSD apresentou queda, o que evidencia, juntamente com os outros índices, a queda da VFC. A média da FC não teve um aumento significativo e seu desvio padrão também não foi expressivo.
Apesar da queda da variabilidade da freqüência cardíaca, este período foi marcado por um equilíbrio simpato-vagal com leve predominância simpática (LF/HF = 1,3%). Este predomínio pode estar ligado à necessidade de ativação proporcionada pelo SNS, pois o D2 se manteve alto, o que descarta uma possível situação de ansiedade ou estresse. Ao efetuar a análise da situação de jogo em relação ao pós-teste, nota-se a queda da variabilidade da freqüência cardíaca. A mudança na freqüência cardíaca não foi expressiva, mas pode-se dizer que houve uma dificuldade do organismo do sujeito em retornar à linha de base, durante a situação de repouso final.
É evidente o aumento da atuação do ramo simpático do sistema nervoso autônomo nas situações de jogo e pós-teste. No pós-teste o componente de baixa freqüência (atividade simpática) chega a atingir potência de 61,1% contra 22% do componente de alta freqüência (atividade parassimpática). O índice do domínio da freqüência LF/HF é de 2,8%, o que também corrobora a idéia de predomínio simpático. A variabilidade da freqüência cardíaca continua mais baixa do que na linha de base anterior ao jogo cognitivo, com menor oscilação da média de RR e FC. Apesar de o componente de baixa freqüência estar alto, o sujeito continua adaptado à situação, de acordo com o índice não linear D2 = 3,895.
Tabela 3. Dados da VFC do jogador 1 na partida B
Jogo B – sujeito 2 com auxílio do grupo
Os dados sugerem que o ramo simpático é predominantemente atuante durante a linha de base, antes da aplicação do estímulo, conforme expresso pelos índices LF = 61,2% e LF/HF = 3,5. Apesar de haver ansiedade-estado pré-jogo, que, de acordo com sua intensidade pode preparar o sujeito para o bom desempenho da atividade seguinte. O índice D2 = 3,274 sugere que o indivíduo estava adaptado à situação e condições ambientais. A oscilação de RR é relevante no período de linha de base, o que pode indicar certa ativação (RRmin. = 759,1 ms/ RRmáx. = 891,9 ms). O batimento cardíaco tem amplitude de apenas 11,9 bpm com FC Max. = 79,11 bpm.
Comparando os índices da linha de base com aqueles referentes ao tempo de jogo (aplicação do estímulo), pode-se dizer que houve um aumento no desvio-padrão de RR. Isto pode significar uma manutenção da variabilidade da freqüência cardíaca. Outros índices que corroboram esta hipótese são a média da freqüência cardíaca e seu desvio-padrão, que se mantém semelhantes aos da situação de repouso da linha de base. O índice RMSSD também não apresentou queda significativa, mas o pNN50 mostrou queda de 30% aproximadamente.
Segundo o índice LF, o ramo simpático do sistema nervoso autônomo continua igualmente expressivo e há uma queda considerável de 50% do índice HF, o que sugere menor atuação da porção parassimpática. Estes números, juntamente com o índice do domínio da freqüência LF/HF = 5,8% mostram intensa participação do sistema nervoso parassimpático, o que sugere que a situação trouxe ansiedade e estresse ao sujeito ao proporcionar ativação além de seu estado ideal. Já os índices não lineares SD1 E SD2 não apresentaram modificação considerável, mas segundo D2 = 4,013 o indivíduo continua a mostrar adaptabilidade à situação (ascensão de 22%).
Da mesma forma, ao comparar a situação de jogo ao período de pós-atividade é possível inferir que a oscilação de RR continua igualmente expressiva, mas os valores se tornaram menores. A média e o desvio-padrão da FC também não mostraram grandes mudanças. Outros índices do domínio do tempo como RMSSD (queda de apenas 8%) e pNN50 (manteve-se) não tiveram modificações expressivas.
O índice LF que acusa a participação da porção simpática do SNA se manteve, mas, ao contrário do esperado, HF caiu cerca de 50% (HF = 8,8%). Isto sugere uma alta contribuição do sistema nervoso simpático, LF/HF = 11,3% (aumento de quase 100% em relação a este índice), o que nos faz pensar sobre a atuação de alguma variável interveniente, a presença de algum artefato ou até mesmo à dificuldade do participante em retornar à situação inicial. SD1 E SD2 não foram significativos e D2 caiu cerca de 30%, mas se manteve acima de 2, o que sugere ainda adaptabilidade do sujeito.
Tabela 4. Dados da VFC do jogador 2 na partida B
Conclusão
De acordo com os dados e teoria apresentados, pode-se dizer que o jogador 1 teve um melhor desempenho psicofisiológico na partida em que teve o auxílio de um grupo. Isto pode ser verificado pela observação dos índices durante esta partida, em comparação com a linha de base: FC que, durante a partida com auxílio do grupo, se manteve menor; pNN50 foi maior na situação de auxílio; HF teve uma queda menos expressiva. O índice do domínio da freqüência LF/HF posterior na situação de auxílio é menor, e o mesmo índice na linha de base, jogo e pós-atividade é similar à outra situação (sem a presença do grupo). O índice D2 se manteve semelhante nas duas situações.
Com base na análise efetuada, infere-se que o jogador 1 se manteve adaptado em ambas as situações, mas esteve com a freqüência cardíaca menor, mais ativado e com intervalos mais expressivos de RR na situação de auxílio do grupo (cooperação), bem como apenas leve predominância do sistema nervoso simpático (LF/HF = 1,7%). Isto pode se dever à característica individual do jogador 1, ao fato de o grupo fornecer apoio emocional e de confirmação da realidade (Weinberg & Gould, 2001) e haver uma relação de empatia entre o jogador e os membros do grupo.
O jogador 2, no período do jogo, também teve melhor desempenho psicofisiológico em situação de cooperação (presença do grupo). Pode-se inferi-lo com base em alguns índices como: RR teve uma queda menos brusca na situação de cooperação, a FC foi ligeiramente menor (indicação de concentração e atenção); RMSSD, pNN50 e SD2 maiores na situação de auxílio. O índice do domínio da freqüência LF/HF foi maior na situação apenas competitiva, sem o auxílio do grupo, mas já que o D2 ainda esteve alto, sugere que o sujeito esteve adaptado.
Referências
Aubert, A. E; Seps, B. & Beckers, F. (2003). Heart rate variability in athletes. In: Sports Med. 33(12). 889-919.
Goldberg, E. (2002). O cérebro executivo: lobos frontais e a mente civilizada. Rio de Janeiro: Imago.
Lopes, A. L. A. P.; Motta, F. L. T.; Abe, K. C.; Brandão, L. C.; Bassaneze, V.; Nouailhetas, V. L. A. & Aboulafia, J. (2003). Eletrocardiograma. Disponível em: http://www.virtual.epm.br/material/tis/curr-bio/trab2003/g5/ecgnormal.html. Acesso em 19 mai 2012.
Nishida, S. M. (2007). Curso de Fisiologia: ciclo de neurofisiologia. Departamento de Fisiologia, IB UNESP. Botucatu, p. 516-165.
Teixeira, L. B. (2008). Freqüência cardíaca, variabilidade da freqüência cardíaca e o desempenho em uma partida de xadrez. Dissertação de Mestrado – Programa de Pós-graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis. 141p.
Thayer, J. F; Hansen, A. L; Saus-Rose, E. & Johnsen, B. H. (2009). Heart Rate Variability, Prefrontal Neural Function, and Cognitive Performance: The Neurovisceral Integration Perspective on Self-regulation, Adaptation, and Health. Annals of Behavioral Medicine. 37 (2) 141-153.
Vanderlei, L.C.M.; Pastre, C.M.; Hoshi, R.A.; Carvalho, T.D. & Godoy, M. (2009). Noções básicas de variabilidade da freqüência cardíaca e sua aplicabilidade clínica. Rev. Bras. Cir Cardiovasc., 24(2): 205-217.
Weinberg, R. S. & Gould, D. (2001). Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 2. ed. Porto Alegre: Artmed.
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