A abordagem do fenômeno urbano na Escola de Chicago El abordaje del fenómeno urbano en la Escuela de Chicago |
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Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Montes Claros Pós-graduanda de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade, CPDA da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Pesquisadora do Opará – Grupo de estudos e pesquisas sobre comunidades tradicionais do Rio São Francisco, CNPq |
Thaís Dias Luz Borges Santos (Brasil) |
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Resumo Esse artigo busca refletir, acadêmica e sistematicamente, o fenômeno urbano, fazendo uma revisão crítica à Escola de Chicago. A Escola de Chicago é fundamental quando se pretende realizar um estudo voltado para o urbano. Os teóricos dessa corrente participaram e presenciaram as mudanças acontecidas no inicio do século XX nas cidades industriais americanas. Especificamente a cidade de Chicago foi tomada como objeto dos primeiros estudos sociológicos urbanos, que teorizaram o então emergente fenômeno urbano. A revisão de literatura passa desde Simmel, até Park e Wirth, peças importantes no estudo das relações sociais estabelecidas nos grandes centros urbanos. Unitermos: Fenômeno urbano. Sociabilidade. Cidade. Interação social.
Abstract This article aims to reflect the academic and systematically, the urban phenomenon, making a critical review of the Chicago School. The Chicago School is key when it intends to conduct a study related to the urban. Theorists of this current participated and witnessed the changes taking place in the early twentieth century industrial cities in America. Specifically the city of Chicago was taken as an object of the first urban sociological studies, theorized that the then-emerging urban phenomenon. The literature review is from Simmel, Wirth and Park, important parts in the study of social relations in urban centers. Keywords: Urban phenomenon. Sociability. City. Social interaction.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
Os complexos urbanos abarcam uma gama de indivíduos, seus estilos e maneiras variadas de expressar a cultura. É notável o aumento populacional das grandes cidades, a expansão industrial dos centros, e a diversidade de etnias e manifestações culturais, presentes nas cidades. Nesse sentido, que este trabalho pretende construir uma análise sistemática a cerca do fenômeno urbano na perspectiva da Escola de Chicago, representada aqui pelas obras: “O urbanismo como modo de vida” de Louis Wirth; “A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio urbano” de Robert Ezra Park, assim como algumas considerações sobre a obra de Georg Simmel, “As metrópoles e a vida mental” que influenciou as gerações da Escola de Chicago. A ideia em construir uma reflexão a cerca do fenômeno urbano, surgiu nas aulas da disciplina “Sociologia Urbana: Relações Sociais de Espaço”, ministrada pelo Professor Dr. Antonio Dimas Cardoso, onde foi proposta uma abordagem cultural da cidade com reflexões teóricas, de práticas e técnicas, relacionadas ao ambiente urbano, a cidade e suas relações sociais.
Georg Simmel foi um sociólogo alemão, diplomado na Universidade de Berlim, que analisou o comportamento individual nas metrópoles em seu ensaio “As metrópoles e avida mental” publicado em 1903. Simmel se torna referência, no tocante aos problemas e enfrentamentos da cidade moderna e seus indivíduos. Influenciando a Escola de Chicago que inaugura um estilo de investigação propriamente das cidades. Em “As metrópoles e a vida mental”, Simmel aponta a relação dual entre metrópole e vida mental, abordando a essência da metrópole na intensificação da vida nervosa dos indivíduos.
A Escola de Chicago surge nos Estados Unidos, no Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago, fundada por Albion W. Small em 1910. O surgimento dessa escola tem ligação direta com a expansão urbana e demográfica que a cidade de Chicago sofria como resposta ao desenvolvimento industrial que era alvo. Assim, foram surgindo fenômenos sociais urbanos novos que acabaram se tornando objeto de pesquisa dos sociólogos da Escola de Chicago. Esses estudos, a cerca dos novos problemas sociais emergentes, estimularam a construção de um arcabouço teórico-conceitual inédito, além da inauguração de novos métodos de investigação sociológica. A Escola de Chicago e seu grande número de pesquisas sociais à cerca dos fenômenos sociais urbanos tem como representantes da primeira geração de autores a elaborar um programa de estudos da sociologia urbana: Albion W. Small; Robert Ezra Park; Ernest Watson Burgess; Roderick Duncan McKenzie e William Thomas. Logo depois se destacam os seguintes autores: Frederic Thrasher, Louis Wirth e Everett Hughes.
Robert Ezra Park, um dos fundadores da Escola de Chicago e autor de “A Cidade: Sugestões para a investigação do comportamento humano”, publicado em 1916, foi aluno de Simmel enquanto esteve na Europa. Afirmava ser fundamental uma pesquisa voltada para o urbano para que surgissem respostas que ajudariam a compreender melhor a cidade e os seus problemas. A cidade, na visão de Park, tem aspectos técnicos e dimensões morais que influenciam os seus habitantes. Park estuda a cidade a partir de uma Ecologia Humana, que leva em consideração os indivíduos inseridos no seu meio social urbano e busca compreender qual a relação o espaço físico e as relações sociais mantem com o modo e estilo de vida dos indivíduos. A cidade passa assim a ser vista como um laboratório social, e as analises sociológicas da cidade, levantamento de dados e informações sobre os modos de vida urbana, se dão pelo método empírico de fazer pesquisa.
Louis Wirth, membro da Escola de Chicago e autor de “O Urbanismo como modo de Vida” publicado em 1938, afirma que o marco da sociedade moderna está no crescimento das cidades, que a sociedade de folk (campo) contribuiu para a formação do caráter dos indivíduos típico do meio urbano e que é extremamente necessário um estudo sociológico que possa definir o modo de vida típico das grandes cidades. A cidade na visão de Wirth abarca as várias formas de associações humanas, e é o local onde os vários grupos convivem com diferentes etnias, costumes, tradições e idiomas no mesmo espaço.
Uma análise do fenômeno urbano na Escola de Chicago
Iniciemos a análise em “As Metrópoles e a Vida Mental”, de Georg Simmel.
Os problemas mais profundos da vida moderna decorrem da exigência por parte do individuo que visa preservar a autonomia e a individualidade da sua existência face a avassaladoras forças sociais da herança histórica, da cultura e da técnica da vida que lhe são exteriores. (...) A metrópole exige do homem, enquanto criatura discriminadora, uma quantidade diferente de consciência que aquela que lhe é exigida pela vida rural; aqui o ritmo da vida sensível e mental flui mais uniformemente, segundo um ritmo mais lento, feito sobretudo de hábitos. É assim que o caráter intelectualista da vida mental urbana se torna compreensível – em contraste com a vida das pequenas cidades, que assenta mais no sentimento e nas relações afetivas (SIMMEL, 1903, p.75-76).
De acordo com Simmel, o citadino age mais com a mente que com o coração. O dinheiro e o intelecto estão diretamente relacionados, e é o valor de troca que dita quanto custa a qualidade e a particularidade da vida.
A natureza calculista do dinheiro trouxe para as relações dos elementos da vida uma nova precisão, uma certeza na determinação das igualdades e das desigualdades, uma ausência de ambiguidade nos acordos e nas convenções (SIMMEL, 1903, p. 79).
A vida impõe pontualidade, exatidão e capacidade de cálculos para que o individuo da vida urbana estabeleça uma relação intima com o dinheiro.
Não existe, porventura, uma manifestação psíquica tão incondicionalmente reservada à metrópole que o snobismo. Esta resulta, antes do mais, desses estímulos nervosos, caracterizados tanto pela mudança rápida como pela concentração estreita dos seus contrastes donde nos parece provir o aumento da intelectualidade própria da metrópole; é, pois, por este motivo que os indivíduos estúpidos, e desde logo sem grande via intelectual, não têm por hábito ser snobes (SIMMEL, 1903, p.81).
Simmel afirma que a “essência do snobismo é a indiferença face às diferenças das coisas”, ou seja, o significado e a diferença das coisas são vistas como vãs. E “este estado de espirito é o reflexo subjectivo fiel da economia monetária”. Para o individuo conservar a si mesmo e suas naturezas, custa a desvalorização do mundo objetivo em geral, o que é vista como uma atitude de reserva por parte do individuo.
Somos forçados a manter esta reserva, em parte, por este facto psicológico e, em parte, pelo direito à desconfiança que sentimos perante esses elementos fugazes da vida urbana; em consequência, é frequente não conhecermos sequer de vista aqueles que durante todo o ano são nossos vizinhos e é isso que faz com que tantas vezes pareçamos frios e sem coração aos olhos dos habitantes das pequenas cidades (SIMMEL, 1903, p.83).
Hoje em dia, num espírito espiritualizado e polido, o habitante da grande cidade é <livre> por contrastes com as insignificâncias e os preconceitos dos quais o habitante da pequena cidade é prisioneiro. Com efeito, a reserva e a indiferença mútuas que condicionam a vida psíquica dos grandes círculos nunca são mais fortemente sentidas, no que se refere às suas conseqüências para a independência do indivíduo, do que na densa multidão de uma metrópole, pois (...) o reverso dessa liberdade o facto de que em parte alguma nos sentimos mais sós e abandonados do que entre a multidão da grande cidade (SIMMEL, 1903, p.87).
Segundo Simmel, é engano afirmar que somente o tamanho do território e número de pessoas fazem da metrópole o locus da liberdade pessoal.
Este facto torna óbvio que a liberdade individual (...) não pode ser apenas compreendida num sentido negativo como simples liberdade de movimento e abolição dos preconceitos e de filistinismos mesquinhos; para ela, o essencial é que a particularidade e a incomparabilidade, que finalmente todo o ser humano possui em si, se traduzam na elaboração de um modo de vida (SIMMEL, 1903, p.88).
Nas cidades encontramos, em primeiro lugar, a divisão do trabalho, produzindo fenômenos extremos.
O desenvolvimento da cultura moderna caracteriza-se pela preponderância daquilo a que podemos chamar o espírito objetivo sobre o espirito subjectivo. Basta salientar que as metrópoles são as arenas reais desta cultura que superam em crescimento toda a vida pessoal. (SIMMEL, 1903, p.91)
Se tratando de “A Cidade: Sugestões para a investigação do comportamento humano no meio urbano”, Park inicia nos afirmando que a cidade mais que uma forma física ou artificial e sim um produto da natureza humana contido nas relações vitais das pessoas. Na sociedade urbana encontramos forças que agrupam e ordenam os indivíduos, e é justamente no esforço de isolar e analisar essas forças que surge a Ecologia Humana.
Todas as coisas que tendem a ocasionar a um mesmo tempo maior mobilidade e maior concentração de populações urbanas – são fatores primários na organização ecológica da cidade. (...) A cidade não é apenas uma unidade geográfica e ecológica; ao mesmo tempo é uma unidade econômica (...) baseia-se na divisão do trabalho. (...) A cidade é o habitat natural do homem civilizado. As nações, os Governos, a política e as religiões – todos se apoiam no fenômeno básico da existência humana, a cidade (PARK, 1916, p.30-31).
A vida urbana nos seus mais variados aspectos possuem aspectos fundamentais para atrair a atenção dos pesquisadores da sociedade. “Pretendemos com as observações que se seguem definir um ponto de vista e indicar um programa para o estudo da vida urbana” (PARK, 1916, p.31). Se tratando da planta da cidade e da organização social:
A verdade, entretanto, é que a cidade está enraizada nos hábitos e costumes das pessoas que a habitam. A consequência é que a cidade possui uma organização moral bem como uma organização física, e estas duas interagem mutuamente de modos característicos para se moldarem e modificarem uma a outra. É a estrutura da cidade que primeiro nos impressiona por sua vastidão e complexidade visíveis (PARK, 1916, p.32).
Quando se trata da planta da cidade existe um limite para que a estrutura e a ordem moral da cidade sejam alteradas. Fatores naturais e físicos do território da cidade que vão definir o esboço geral da planta urbana. As formas de associação mais simples e elementares na visão de Simmel se encontram na proximidade entre vizinhos, já que a vizinhança existe sem organização formal e no âmbito social e político. Ela é a menor unidade local. Em relação à organização industrial e a ordem moral da cidade, é a praça do mercado que possibilitou que a cidade moderna se fundasse, onde a competição pessoal seleciona cada individuo para uma tarefa especifica.
Todo dispositivo que facilita o comércio e a indústria prepara o caminho para uma nova divisão do trabalho e dessa forma tende posteriormente a especializar as tarefas nas quais o homem encontra suas vocações. A conseqüência desse processo é a quebra ou modificação da antiga organização social e econômica da sociedade, que se baseava em laços familiares, associações locais, na tradição, casta e status, e sua substituição por uma organização baseada em interesses ocupacionais e vocacionais (PARK, 1916, p.41).
A vocação e a divisão do trabalho produzem tipos vocacionais que se organizam em interesses comuns diferente da vizinhança é fundada na associação pessoal e laços comuns à natureza. Os sentimentos dos citadinos estão em consonância com seus preconceitos, e estes por sua vez podem estar relacionados a quais quer outros fatores. “O dinheiro é o principal artificio pelo qual os valores foram racionalizados e os sentimentos substituídos pelos interesses”.
A concentração da população em cidades, os mercados maiores, a divisão do trabalho, a concentração de indivíduos e grupos em tarefas especificas tem continuamente mudado as condições materiais de vida, e assim fazendo tem realizado reajustamentos a novas condições cada vez mais necessários (PARK, 1916, p.46).
A cidade, e especialmente a grande cidade, onde mais do que em qualquer outro lugar as relações humanas tendem a ser impessoais e racionais, definidas em termos de interesse e em termos de dinheiro, é num sentido bem real um laboratório para a investigação do comportamento coletivo (PARK, 1916, p.49).
A comunicação e os meios de transporte urbanos vêm sofrendo profunda transformação, assim como a organização social e industrial das cidades também têm se transformado. São perceptíveis as mudanças na distribuição populacional e na organização industrial, quando atentamos para a mudança de hábitos, sentimentos e caráter dos citadinos. Dessa forma, as influencias pessoais e suas mudanças, assim como as alterações no sentimento público, propiciaram o surgimento de um controle social.
A maioria de nossas instituições tradicionais, a igreja, a escola e a família, têm sido, sob as influências desintegrantes da vida citadina, grandemente modificada. A escola, por exemplo, tem assumido algumas das funções da família. Algo como um novo espirito de vizinhança e comunidade tende a se organizar em volta da escola e de sua solicitude pelo bem-estar físico e moral das crianças (PARK, 1916, p. 52).
É natural que os indivíduos que jamais se viram possam se encontrar e se misturar. Simmel chama a isso de segregação de classes vocacionais, onde é possível aos citadinos viver num isolamento como nas comunidades rurais antigas.
As cidades grandes sempre foram o cadinho de raças e de culturas. A partir das interações sutis e vívidas de que têm sido os centros, surgem as novas variedades e os novos tipos sociais. (...) A cidade mostra em excesso o bem o mal da natureza humana. Talvez seja este fato, mais do que qualquer outro, que justifica a perspectiva que faz da cidade um laboratório ou clinica onde a natureza humana e os processos sociais podem ser estudados conveniente e proveitosamente (PARK, 1916, p.67).
Em “O urbanismo como modo de vida”, Wirth afirma que o marco da modernidade está no crescimento das grandes cidades e na concentração dos indivíduos em agregados irradiando ideais e praticas. Mas ao se tratar do “urbano”, do marco do mundo urbano na sociedade contemporânea, devemos levar em conta fatores além dos de grandes números populacionais.
O crescimento das cidades e a urbanização do mundo é um dos fatos mais notáveis dos tempos modernos. (...) Essa mudança de uma sociedade rural para uma predominantemente urbana que se verificou no espaço de tempo de uma só geração em áreas industrializadas como nos EUA e no Japão foi acompanhada por alterações profundas e em praticamente todas as fases da vida social. São essas modificações e suas ramificações que solicitam a atenção do sociólogo para o estudo das diferenças entre o modo de vida rural e urbano. (WIRTH, 1938, p. 98)
Não devemos esperar encontrar variação abrupta e descontínua entre tipos de personalidades urbana e rural. A cidade e o campo podem ser encarados como dois pólos em relação aos quais todos os aglomerados humanos tendem a se dispor. (WIRTH, 1938, p.99)
Para uma definição de cidade, pautada na sociologia, é necessário um olhar sociológico para cidade que atente para as inter-relações nelas existente. Definir urbanismo requer algo mais que considerações feitas a partir de números, requer entender o modo de vida urbano além dos limites da cidade, desenvolvimento tecnológicos de transporte e comunicação. A urbanização diz respeito a uma conjunto de fatores que diferenciam o modo de vida associado ao crescimento das cidades e as mudanças no sentido desses modos de vida.
Entretanto, o fato de que a comunidade urbana se distingue por um grande agregado e uma concentração de população relativamente densa, dificilmente poderá ser ignorado ao se definir cidade. (...) são sociologicamente relevantes ate o ponto em que operam como fatores condicionantes da vida social (WIRTH, 1938, p.102).
É na construção de uma tipologia da cidade que leva em consideração o tamanho, localização, idade e etc., que podemos dar forma e classificar as comunidades urbanas.
Podemos esperar que os fatores predominantes da cena urbano-social variem de acordo com o tamanho, densidade e diferenças no tipo funcional das cidades. Além do mais, podemos inferir que a vida rural levará a marca do urbanismo, à medida que sofre a influência das cidades através de contato e comunicação. (...) o urbanismo não está confinado a tais localidades, mas manifesta-se em graus variáveis onde quer que cheguem as influências das cidades (WIRTH, 1938, p.103).
Para fins sociológicos, uma cidade pode ser definida como um núcleo relativamente grande, denso e permanente, de indivíduos socialmente heterogêneos. Com base nos postulados que essa definição tão pequena sugere, poderá ser formulada uma teoria sobre o urbanismo à luz dos conhecimentos existentes, relativos a grupos sociais (WIRTH, 1938, p.104).
Teorizar o urbanismo requer do sociólogo a consciência de que o seu problema central está em desvendar as formas de ação e organização social oriundos dos diversos agrupamentos, permanentes ou não, com grande número de indivíduos. O urbanismo estará fortemente acentuado nos locais onde a densidade populacional for maior e a comunidade for mais heterogênea. Assim, como as práticas e instituições são mutáveis, o modo de vida urbano também é. Podendo ser perpetuado sob condições diferentes das de sua origem. Assim Wirth acha necessário fazer algumas considerações sobre o tamanho do agregado populacional, densidade e heterogeneidade no tocante à teoria do urbanismo.
O caráter da cidade e as relações entre o indivíduos sofrerão alterações conforme o número de habitantes de determinada comunidade aumentar. O que também faz com que cada vez menos os indivíduos daquela comunidade, conheçam uns aos outros
Numa comunidade composta de grande número de indivíduos que não se conhecem intimamente e cujo número é excessivo para se reunirem num só lugar, torna-se necessário efetuar a comunicação por meios indiretos e articular interesses individuais por um processo de delegação (WIRTH, 1938, p.110).
Em casos de concentração populacional num espaço limitado também encontraremos aspectos sociológicos relevantes na analise da cidade.
A densidade, pois, reforça o efeito que os números exercem sobre a diversificação dos homens e de suas atividades e sobre o aumento da complexidade da estrutura social. (...) Conforme sugeriu Simmel, o contato físico estreito de numerosos indivíduos produz necessariamente a mudança nos meios através dos quais nos orientamos em relação ao meio urbano, especialmente em relação aos nossos concidadãos. Tipicamente, nossos contatos físicos são estreitos, mas nossos contatos sociais são distantes (WIRTH, 1938, p.111).
Wirth afirma que os controles formais são necessários na medida em que os indivíduos não estabelecem laços sentimentais e/ou emocionais fortes, tendenciando sempre para a concorrência, engrandecimento e exploração.
A interação social entre uma tamanha variedade de tipos de personalidades num ambiente urbano tende a quebrar a rigidez das castas e a complicar a estrutura das classes e portanto induz a um arcabouço mais ramificado e diferenciado de estratificação social do quem sociedades mais integradas (WIRTH, 1938, p.113).
Os indivíduos, na tentativa de equilibrar casa, trabalho, renda e receita, e também no anseio em manter juntas as organizações, tornam as relações intimas e/de amizade cada vez mais difíceis.
Segundo Wirth, a relação entre a teoria do urbanismo e a pesquisa sociológica está baseada nas variáveis: número, densidade do agrupamento e grau de heterogeneidade do complexo urbano como abordagem sociológica das características da vida urbana; que por sua vez propiciará uma explicação densa sobre as diferenças das cidades e seus variados tamanhos.
Ao tratar do urbanismo na perspectiva ecológica o autor afirma que “nunca dantes tantos povos de traços diversos, como é o caso das nossas cidades, foram aglomerados em contato físico tão estreito como nas grandes cidades da América” (WIRTH, 1938, p.117). Já ao tratar do urbanismo como forma de organização social, Wirth afirma que:
Os traços característicos do modo de vida urbano tem sido descritos sociologicamente como consistindo na substituição de contatos primários por secundários, no enfraquecimento dos lações de parentesco e no declínio do significado social da família, no desaparecimento da vizinhança e na corrosão da base tradicional da solidariedade social (WIRTH, 1938, p.117).
Conclusão
Podemos perceber que uma característica clara nos dois autores da Escola de Chicago, Wirth e Park, é a forma como as relações sociais são abordadas frente a uma Economia Monetária típica da cidade grande. É inegável também a necessidade de entender os aspectos geográficos físicos da cidade para chegar a uma analise dita sociológica do lugar onde as relações são estabelecidas. A relação dependente que o individuo tem com o comércio é definida e define a vocação, a especialização e divisão do trabalho na sociedade.
A forte influencia de Simmel na obra de Wirth está perceptível quando o autor importa de Simmel aquilo que ele considera ser o que causa o surgimento de uma conduta “snobe” na grande cidade, que é o tom de reserva e a impessoalidade em que as pessoas se encontram. O diferencial em Wirth está em encarar o rural e urbano como complementares e não excludentes entre si. Simmel, Park e Wirth como pioneiros da Sociologia Urbana propuseram uma diferenciação em pensar as várias cidades existentes, especificamente a cidade urbana, que é caracterizada não só por aspectos físicos e dimensionais, mas principalmente pelos aspectos sociais, pela crescente divisão do trabalho, valorização da economia monetária e mobilidade dos indivíduos no campo das relações sócio espaciais.
Referências bibliográficas
Park, Robert. A cidade: sugestões para a investigação do comportamento humano no meio urbano. In Velho, Octávio Guilherme (org.). O fenômeno urbano. Guanabara: Rio de Janeiro, 4ª ed., p. 26 a 67, 1987.
Simmel, Georg. As metrópoles e a Vida Mental. In Fidelidade e Gratidão e Outros Textos. Relógio D’Água: Lisboa, p.75 a 94, 2004.
Wirth, Louis. O urbanismo como modo de vida. In Velho, Octávio Guilherme (org.). O fenômeno urbano. Guanabara: Rio de Janeiro, 4ª ed., p. 90 a 113, 1987.
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