Efeitos adversos desencadeados
pelo uso Los efectos negativos provocados por el uso de fármacos anorexígenos |
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* Discente de Fisioterapia da Associação Educativa do Brasil – SOEBRAS. Montes Claros, MG ** Discente de Nutrição da Associação Educativa do Brasil – SOEBRAS. Montes Claros, MG ***Enfermeiro da Unidade de Tratamento Intensivo Neonatal do Hospital Universitário Clementede Faria, Montes Claros. Docente do Curso de Graduação em Nutrição(Brasil) |
Ana Caroline de Almeida Cavalcante* Camila Guedes de Freitas** camilaguedesfreitas@hotmail.com Roberta Souto Santos** Tadeus Nunes Ferreira*** |
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Resumo Estudos tem demonstrado que o Brasil tem cerca de 38,6 milhões de pessoas com sobrepeso, o equivalente a 40,6% de sua população adulta. Desse total, 10,5 milhões são obesos. É provável que 200 mil pessoas morram anualmente, na América Latina, em decorrência das complicações da obesidade. Diante disto, discutem-se as melhores formas terapêuticas para controle da obesidade, principalmente devido ao desenvolvimento de novos medicamentos e propostas não farmacológicas de tratamento, sendo a reeducação alimentar e a prática regular de atividade física. Assim sendo, o objetivo do estudo foi verificar quais os efeitos adversos provenientes de medicamentos anorexígenos descritos pelos autores. Trata-se de um estudo de revisão literária, onde foram utilizados os seguintes descritores: efeitos adversos e anorexígenos; obesidade e anorexígenos. Após a busca inicial, o critério de inclusão e exclusão dos artigos pesquisados foi o recorte de tempo das publicações de 2008 a 2013, restando finalmente oito artigos para compor a amostra. Os artigos analisados demonstraram que o uso desses medicamentos podem desencadear diversos efeitos colaterais, tais como: Hipertensão Pulmonar Primária (HPP), Palpitações, Diarréia, Xerostomia, Constipação, Episódios Psicóticos, Insônia, Depressão, Disfunção Erétil, Dependência entre outros. Ainda que o tratamento farmacológico contra a obesidade mostre-se eficaz para o paciente devem-se considerar os riscos causados pelos seus efeitos adversos no momento da prescrição. Sendo que a alimentação adequada em todos os nutrientes e a pratica regular de atividade física são as melhores alternativas para se alcançar os objetivos do tratamento. Unitermos: Anorexígenos. Efeitos colaterais. Obesidade.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A partir da década de 80 o perfil nutricional da população mundial passou por modificações decorrentes da transição nutricional e desencadearam um desequilíbrio na ingestão e no gasto de calorias (ALVES et al., 2011). Neste cenário, a obesidade caracteriza-se como o excesso de calorias consumidas e armazenadas no tecido adiposo, associada também à inatividade física. Sendo considerada uma doença crônica que se tornou epidêmica, por se expandir rapidamente em todas as faixas etárias, esferas sociais e países desenvolvidos e em desenvolvimento, associada a fatores genéticos, ambientais e comportamentais (COSTA et al. 2011).
Segundo o levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em conjunto com o Ministério da Saúde, o Brasil tem cerca de 38,6 milhões de pessoas com sobrepeso, o equivalente a 40,6% de sua população adulta. Desse total, 10,5 milhões são obesos. É provável que 200 mil pessoas morram anualmente, na América Latina, em decorrência das complicações da obesidade. (CARNEIRO, JUNIOR e ACURCIO, 2008).
De acordo o relatório divulgado pela Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE), órgão subordinado a Organização Mundial de Saúde (OMS), aponta que houve um aumento de 500% no consumo de anorexígenos no Brasil desde 1998 (FELTRIN et al., 2009).
Diante disto, discutem-se as melhores formas terapêuticas para controle da obesidade, principalmente devido ao desenvolvimento de novos medicamentos e propostas não farmacológicas de tratamento. Uma das formas de alcançar o déficit energético e reduzir o peso corporal é limitar a ingestão calórica total da dieta, associada à atividade física regular, que além de elevar o gasto energético melhora a atividade cardiovascular e respiratória. Somente na impossibilidade de adesão a essa abordagem clínica, particularmente nos casos mais graves, seria justificada a utilização de drogas anorexígenas, que deve ocorrer pelo menor tempo possível. Devido ao seu alto potencial para causar dependência e pelos efeitos adversos acarretados, o uso de anorexígenos não é recomendado em tratamentos que ultrapassem 8 a 12 semanas (BARCELLA e MONTANARI, 2008).
O uso de fármacos na terapia da obesidade é indicado em casos de pacientes com o Índice de Massa Corporal (IMC) maior que 30 ou com IMC acima de 27 associados a patologias e com histórico dietético e exercício físico inadequados. No Brasil, os principais fármacos anorexígenos disponíveis são os derivados de β-feniletilamínicos, ou anfetamínicos, como: anfepramona (dietilpropiona), femproporex e sibutramina. Além desses, há o mazindol que é uma imidazolina (NEGREIROS et al., 2011).
A anfetamina teve seu uso intensificado durante a Segunda Guerra Mundial devido suas propriedades psicotrópicas e estimulantes que faziam com que os soldados permanecessem em estado de alerta e combatiam a fadiga. Estas são derivadas das feniletilaminas, que possuem estruturas químicas semelhantes à adrenalina. Os medicamentos provenientes β-feniletilamínicos e o mazindol atuam inibindo a recaptação de noradrenalina e dopamina das terminações nervosas, aumentando sua sinalização noradrenérgica e dopaminérgica. Esses fármacos não agem apenas diminuindo o apetite, mas atuam como estimulante central e no sistema cardiovascular, causando estado de hiperexitabilidade, insônia, taquicardia, aumento da pressão arterial e dilatação da pupila. Em caso de uso abusivo a cardiotoxicidade pode se manifestar como infarto agudo do miocárdio (IAM), cardiomiopatia, arritmia ou espasmo vascular (OLIVEIRA et al., 2010).
A sibutramina inicialmente foi desenvolvida para tratamento da depressão, porém descobriu-se pouca eficácia no tratamento deste transtorno psiquiátrico. Posteriormente, ensaios clínicos descobriram seus efeitos moderadores de apetite e atualmente é a droga mais utilizada nos Estados Unidos da América para redução de peso. Esta droga age bloqueando a recaptação de serotonina, noradrenalina e, em menor grau, de dopamina nas sinapses nervosas. E com isso aumenta a sensação de saciedade que como conseqüência reduz a ingesta alimentar, bem como estimula a termogênese que contribui para a perda de peso. Havendo a estimulação dos receptores de serotonina no núcleo paraventricular do hipotálamo ocorre redução do consumo de alimentos gordurosos, sendo mediada principalmente pelo receptor serotoninérgico 5-HT2C (BARCELLA e MONTANARI, 2008).
Além desses moderadores de apetite referidos acima, em 26 de abril de 2007 a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) aprovou a comercialização do rimonabanto, que é um medicamento que promove a perda de peso tendo ação antagônica do receptor humano CB1 pertencendo à família dos pirazóis. O sistema canabinóide endógeno possui dois receptores canabionóides (CB1 e CB2), sendo o CB1 encontrado no sistema nervoso central e tecidos periféricos (adipócitos, pâncreas, intestino, fígado e músculo) e o CB2 encontra-se em células imunológicas. O rimonabanto por ser um antagonista do receptor CB1 diminui o estimulo exagerado do sistema canabinóide endógeno em nível central e periférico, contribuindo para a redução da ingesta alimentar, controlando a secreção hormonal dos adipócitos, aumentando a saciedade e como conseqüência promovendo a perda ponderal. Ensaios clínicos revelaram que o uso desse medicamento pode induzir efeitos colaterais psiquiátricos, tais como a depressão e a ansiedade (MOREIRA e CRIPPA, 2009).
Metodologia
O presente artigo trata-se de uma revisão sistemática da literatura, feita através das bases de dados disponíveis na Biblioteca Virtual em Saúde, no ano de 2013. Com o levantamento de revisão das literaturas especificas foram encontrados doze artigos publicados, disponíveis na base de dados LILACS (Literatura Científica e Técnica da América Latina e Caribe) e Scielo (Scientific Electronic Library Online). Utilizaram-se os seguintes descritores: efeitos adversos e anorexígenos; obesidade e anorexígenos. Após a busca inicial, o critério de inclusão e exclusão dos artigos pesquisados foi o recorte de tempo das publicações de 2008 a 2013, restando finalmente oito artigos para compor a amostra.
Resultado e discussão
Os medicamentos anfepramona, femproporex e o mazindol possuem semelhanças no seu mecanismo de ação, efeitos clínicos e adversos bem como nas contraindicações. Essa similaridade é proveniente ao aumento da biodisponibilidade da noradrenalina, adrenalina e dopamina, que estimulam o sistema nervoso central e o sistema nervoso periférico – aumento do tônus simpático. Sendo este aumento responsável pelo efeito anorexígeno, toxicidade sistêmica e contraindicações (BARCELLA e MONTANARI, 2008; FELTRIN et al., 2009).
Os efeitos adversos mais freqüentes desses medicamentos estão relacionados aos sistemas cardiovascular, gastrointestinal e nervoso, a citar: elevação da pressão arterial, taquicardia, palpitações, xerostomia, constipação, náuseas, vômitos, insônia, agitação, ansiedade, cefaléia e vertigem. No glaucoma, o uso dessas substâncias é contraindicado, devido o aumento da pressão ocular e da diminuição da drenagem do humor aquoso (OLIVEIRA et al., 2010). Além disso, os fármacos mazindol e derivados de β-feniletilamínicos induzem a tolerância, podendo causar dependência física e psíquica, característica que torna esses medicamentos proscritos por um tempo prolongado e para as pessoas com histórico de dependência química (NEGREIROS et al., 2011).
Os fármacos derivados da β-feniletilamina e o mazindol são contraindicados durante a gestação, lactação e em crianças com idade inferior a doze anos, como também em casos de doenças cardiovasculares sintomáticas (insuficiência coronariana, aterosclerose avançada, insuficiência cardíaca), hipertensão arterial grave, transtornos psiquiátricos, epilepsia, e uso simultâneo com inibidores do monoaminoxidase (IMAO). As dosagens de anfepramona utilizadas para o tratamento da obesidade variaram entre 25 e 75mg por dia, a dose habitual de uso do fenproporex é de 20 a 40mg por dia e já a dose empregada de mazindol é de 1 a 3mg por dia (CARNEIRO, JUNIOR e ACURCIO, 2008).
As doses de sibutramina utilizadas para o tratamento da obesidade variaram de 1 a 30mg por dia, sendo 5, 10 e 15mg, as doses mais freqüentemente usadas. Os principais efeitos adversos desencadeados ocorrem no sistema cardiovascular, a saber: arritmias, palpitações, taquicardia, elevação da freqüência cardíaca, lipotímia, formas não fatais de infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral. Porém podem também causar efeitos adversos nos sistemas gastrointestinal e respiratório e no sistema nervoso central, tais como: náuseas, vômitos, xerostomia, constipação, obstrução nasal, rinussinusite, faringite, ansiedade, insônia, irritabilidade, convulsões, alterações de humor, cefaleia, entre outros. A sibutramina é contraindicada em casos de HAS severa, uso de IMAO, enfermidades cardiovasculares sintomáticas, glaucoma, história de dependência química, arritmia cardíaca, gravidez, Crianças menores 12 anos, epilepsia, insuficiência renal, insuficiência hepática e transtornos psiquiátricos (NEGREIROS et al., 2011).
As doses de rimonabanto utilizadas para o tratamento da obesidade variaram entre 5 e 20mg por dia. Dentre os efeitos adversos mais freqüentes em pacientes que fazem uso do rimonabanto estão: fadiga, ansiedade, vômitos e humor depressivo. Ensaios clínicos comprovaram que o uso desse medicamento em pacientes obesos podem provocar efeitos ainda mais graves como morte, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e aumento na incidência de suicídio (). As contraindicações são nos casos de gravidez e lactação, menores de 18 anos, doenças renais e hepáticas, doenças neurológicas, transtorno depressivo e uso de medicamentos psiquiátricos (FELTRIN et al., 2009; MOREIRA e CRIPPA, 2009).
Devido o elevado risco de desencadearem reações adversas como apresentado, os derivados anfetamínicos, são altamente considerados proscritos (OLIVEIRA et al., 2010).
O aumento da obesidade está relacionado com o aumento do consumo dos fármacos anorexígenos, e por isso a ANVISA adotou medidas para o controle do uso e prescrição desses medicamos, através da RDC nº58, de 5 de setembro de 2007. Dentre essas medidas a ANVISA restringiu a comercialização da sibutramina, incluindo-a na lista de medicamentos sujeitos a receita tipo “B2” e proibiu definitivamente a venda do rimonabanto (MOREIRA e CRIPPA, 2009).
Conclusão
Conclui-se que os medicamentos anorexígenos além de inibirem o apetite e promoverem a perda de peso podem acarretar diversos efeitos colaterais, tais como dependência química, depressão, insônia, insuficiência cardiorrespiratória, HAS severa entre outros.
O aumento do consumo desses medicamentos está diretamente relacionado com a elevação dos índices de obesidade, bem como pela busca do padrão de beleza imposto pela sociedade. Sendo que os principais anorexígenos consumidos no Brasil são os derivados de β-feniletilamínicos, ou anfetamínicos, como: anfepramona (dietilpropiona), femproporex e sibutramina. Além desses, há o mazindol e o rimonabanto.
De forma geral, os mecanismos de ação destes medicamentos atuam inibindo o apetite, promovendo a saciedade e/ou aumentando a termogênese, promovendo assim a redução de peso.
Ainda que o tratamento farmacológico contra a obesidade mostre-se eficaz para o paciente, já que a redução do peso diminui os riscos de doenças cardiovasculares e síndromes metabólicas além de contribuir para o aumento da autoestima e melhora na qualidade de vida, devem-se considerar os riscos causados pelos seus efeitos adversos no momento da prescrição. Sendo que a alimentação adequada em todos os nutrientes e a pratica regular de atividade física são as melhores alternativas para se alcançar os objetivos do tratamento.
Referências
ALVES FR et al. Binômio desnutrição e pobreza: uma meta a ser vencida pelos países em desenvolvimento. Rev Baiana de Saúde Pública, v. 35, n. 3, p. 744-757, jul-set, 2011.
BARCELLA CC; MONTANARI T. O uso de complexos emagrecedores por mulheres em idade reprodutiva e suas implicações na gravidez. Rev Reprod Clínica, v. 3, n. 23, p.104, jul-set, 2008.
CARNEIRO MFG; JUNIOR AAG; ACURCIO FA. Prescrição, dispensação e regulação do consumo de psicotrópicos anorexígenos em Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 8, p.1763-1772, ago, 2008.
COSTA MO et al. Prevalência de sedentarismo, obesidade e doenças cardiovasculares em freqüentadores do CEAFIR. Rev Bras Cardiol, v. 3, n. 1, p. 22-26, jan-jun, 2011.
FELTRIN et al., Medicamentos anorexígenos – Panorama da dispensação em farmácias comerciais de Santa Maria (RS). Rev. Saúde, Santa Maria, vol. 35, n 1, p 46-51, 2009.
MOREIRA FA. CRIPPA JAS. Os efeitos colaterais psiquiátricos do rimonabanto. Rev Bras Psiquiatr, v. 31, n. 2, jun, 2009.
NEGREIROS IIF et al., Perfil dos efeitos adversos e contraindicações dos fármacos moduladores do apetite: uma revisão sistemática. Rev Soc Bras Alim Nutri, v. 36, n. 2, p. 137-160, agosto, 2011.
OLIVEIRA FB et al., Infarto agudo do miocárdio após uso de anfepramona. Rev Bras Cardiol, v. 6, n. 23, p. 362-364, 2010.
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