Como chamar a área do currículo que reflete sobre a cultura corporal humana: Educação Física ou Estudos da Cultura Corporal? ¿Cómo denominar a la asignatura
que reflexiona acerca de la cultura corporal |
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Licenciado em Educação Física pela Universidade Nove de Julho, UNINOVE Especializando em Ética, Valores e Cidadania na escola pela Universidade de São Paulo, USP Professor de Educação Física da Prefeitura Municipal de Santo André |
Oriel de Oliveira e Silva (Brasil) |
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Resumo As representações sociais (Moscovici) da Educação Física percebem esta área do currículo escolar como simples atividades físicas, recreativas ou esportivas que oferecem pouca ou nenhuma contribuição para a formação cultural do aluno. Tal fato se deve em grande parte à forte presença das concepções higienista, militarista e esportivista no âmago de sua história. Neste estudo, parte-se da premissa de que, como conseqüência disso, a concretização das abordagens críticas na prática pedagógica dos professores na escola tem sido dificultada. Supõe-se que essas representações sociais dificultam que o professor de Educação Física desenvolva sua prática pautando-se nessas novas concepções. Por isso, este artigo se propôs a provocar e iniciar reflexões e discussões sobre uma possível mobilização para revisão do nome do componente curricular Educação Física, visando ao favorecimento da consolidação das abordagens críticas na prática pedagógica dos professores da área. Considerando que hoje o nome Educação Física parece inadequado para expressar com exatidão a proposta que se tem para essa disciplina na escola – refletir sobre a cultura corporal da humanidade – torna-se emergente repensar sua nomenclatura. Este artigo sugere, então, uma mudança no nome daquilo que, hoje, é chamada de Educação Física. Tendo em vista que, atualmente, o objeto principal dessa área do conhecimento na escola é a reflexão acerca da cultura corporal da humanidade, este trabalho é finalizado propondo que a esse componente curricular lhe seja dado o nome de Estudos da Cultura Corporal. Unitermos: Representações sociais. Educação Física. Cultura Corporal. Estudos da Cultura Corporal.
Resumen Las representaciones sociales (Moscovici) de la Educación Física perciben esta asignatura del plan de estudios escolar como simples actividades físicas, recreativas o deportivas que ofrecen poco o ningún aporte a la formación cultural del alumno. Tal hecho se debe principalmente a la fuerte presencia de las concepciones higienista, militarista y deportivista en el núcleo de su historia. En este estudio, se parte de la premisa de que, como consecuencia de estas representaciones sociales, se dificulta la concretización de los abordajes críticos en la práctica pedagógica de los profesores de esta asignatura en la escuela. Se supone que tales representaciones dificultan que el profesor desarrolle su práctica basándose en estas nuevas pedagogías. Por ello, este artículo se propuso provocar e iniciar reflexiones y discusiones acerca de una posible movilización para la revisión del nombre de la asignatura Educación Física, buscando el favorecimiento de la consolidación de los abordajes críticos en la práctica pedagógica de los profesores del área. Teniendo en cuenta que hoy el nombre Educación Física parece no expresar con exactitud la propuesta que se tiene para esta asignatura en la escuela – reflexionar acerca de la cultura corporal de la humanidad – se hace necesario repensar su nomenclatura. Este artículo sugiere, entonces, un cambio en el nombre de aquello que hoy se llama Educación Física. Teniendo en cuenta que, actualmente, el objeto principal de esta área del conocimiento en la escuela es la reflexión acerca de la cultura corporal de la humanidad, este trabajo concluye proponiendo que a esta asignatura le sea dado el nombre de Estudios de la Cultura Corporal. Unitermos: Representaciones sociales. Educación Física. Cultura Corporal. Estudios de la Cultura Corporal.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
Pesquisas na área da Educação Física indicam significativa tendência de esta disciplina escolar ser percebida como mera prática de atividades físicas, esportivas ou recreativas sem vínculo com os objetivos do Projeto Político Pedagógico das escolas. Em outras palavras, evidenciam uma forte propensão de a população associar as aulas da Educação Física escolar a atividades sem nenhum valor para a formação do aluno.
O estudo de Vieira (2006) concluiu que a Educação Física tem perdido prestígio enquanto componente curricular que contribui para o processo educativo. Essa disciplina na escola, segundo a autora, tem sido vista como simples atividade relaxante, recreativa, que promove descontração, em que os alunos podem liberar toda tensão acumulada ao longo das aulas em sala.
A representação social (Moscovici apud Alves-Mazzotti, 2008; Jodelet, 1990 e Moscovici, 1990 apud Sêga, 2000) que concebe a Educação Física como atividade sem importância para o processo de formação dos alunos no âmbito do currículo escolar também pôde ser verificada no estudo de Da Silva (2007). Em pesquisa que objetivava investigar o conceito que pais e responsáveis de alunos da cidade de Bauru tinham a respeito da Educação Física na escola, a autora concluiu, a partir de entrevistas com os sujeitos (pais de alunos) que vivenciaram a Educação Física escolar tradicional (militarista e esportivista, sobretudo), que no entendimento daquelas pessoas a Educação Física é um espaço principalmente para a atividade física e para a prática esportiva, sendo o professor, um treinador, instrutor ou orientador. O termo educador vinculado à figura do professor pouco apareceu na fala dos ouvidos.
Não param por aí as obras que apontam esse problema. Nessa mesma linha, o estudo de Rangel Betti (1999) também coloca que Educação Física e esporte têm sido compreendidos como a mesma coisa dentro da escola.
No campo prático, essas representações sociais da Educação Física interferem na prática pedagógica do professor. A comunidade escolar (pais, os próprios alunos, professores de outras áreas, secretários, inspetores, coordenadores e, sobretudo, diretores) concebendo a Educação Física como era percebida em tempos passados, inadmite que o docente dê, por exemplo, aulas em sala de aula ou outros espaços que não sejam a quadra, a não ser em dias de chuva ou quando os alunos não se comportam conforme as regras que lhes foram impostas. Outra ação inadmissível é pedir que os alunos façam lição de casa ou algum tipo de pesquisa.
Existe ainda hoje, portanto, uma forte tendência de a população associar a Educação Física escolar à prática de atividades físicas e esportivas que pouco estão atreladas ao processo de formação do alunado. Isso se deve, conforme Vieira (2006) e Da Silva (2007), à presença das concepções higienista, militarista e esportivista no percurso histórico da área.
Um fato grave é que não somente no âmbito da sociedade leiga essa representação social arcaica da Educação Física tem permanecido. No contexto da formação dos professores, essa idéia tradicional ainda contamina os cursos de licenciatura da área. O estudo de Silva et al (2013) constatou que inclusive a formação inicial dos professores de Educação Física ainda hoje, apesar de novos discursos terem surgido nas últimas décadas, sofre influências das idéias higienista, militarista, esportivista e recreacionista.
Nessa mesma linha, a pesquisa promovida por Osório et al. (2013) também causa preocupação. Os autores constataram que os estudantes do curso de Educação Física (os que foram ouvidos na pesquisa) percebem o professor como o animador, ou seja, aquele que se preocupa mais em envolver os alunos, exalar simpatia, do que em promover situações que possibilitem algum aprendizado.
Essa verificação confirma aquela idéia, presente no núcleo das representações sociais dos leigos, de que o professor de Educação Física não tem tanta importância para a formação do aluno e que suas aulas, portanto, não passam de atividades de descontração e relaxamento.
Como se vê, não se pode ignorar que, talvez, as consideráveis dificuldades de a Educação Física se concretizar como componente curricular responsável por tratar do estudo do patrimônio cultural corporal produzido pelo homem ao longo da história – Cultura Corporal – se devem às representações sociais que as pessoas têm da área. Afinal, na medida em que se fala de Educação Física, imediatamente os sujeitos - influenciados pela concepção ultrapassada que têm em relação a essa área - associam-na à disciplina escolar cujas aulas devem acontecer exclusivamente na quadra, com atividades físicas, recreativas e/ou esportivas. Assim, inviabilizam-se ações que visam à transformação (que tem ocorrido com certo sucesso no âmbito da literatura) da Educação Física no campo prático.
Partindo da premissa de que são essas representações sociais que o público tem o principal entrave para a concretização da mudança que tanto se deseja para essa disciplina na escola, torna-se pertinente fazer alguns questionamentos: será que o nome Educação Física exprime com precisão a proposta que se tem hoje para essa disciplina? Será que a substituição do nome Educação Física, por outro que expresse com mais exatidão a quê esta área do conhecimento se propõe na escola atualmente, não favoreceria a concretização das abordagens críticas na prática pedagógica dos professores de Educação Física? Será possível uma efetiva mudança na prática se o nome Educação Física continuar sendo usado para denominar a área responsável por promover a reflexão sobre a cultura corporal humana?
Este estudo ganha relevância na medida em que consideramos que poucos autores direcionam suas pesquisas para essa questão da nomenclatura da área, algo que pode ser crucial em uma sociedade estereotipadora, que compreende determinado fenômeno baseada em pré-conceitos e rótulos equivocados.
Assim, o presente artigo objetivou provocar e iniciar reflexões e discussões sobre uma possível mobilização - que vise ao favorecimento da consolidação das abordagens críticas na prática pedagógica dos professores de Educação Física - para a revisão do nome desse componente curricular.
2. Método
Este estudo foi realizado por meio de pesquisa bibliográfica (Lakatos, 2001). Foram consultados livros e artigos científicos que tratam de temas como: representação social (Alves-Mazzotti, 2008; Oliveira, 2004; Rangel, 1993; Sêga, 2000; Xavier, 2002); representações sociais sobre a Educação Física (Da Silva, 2007; Osório et al, 2013; Vieira, 2006); e abordagens pedagógicas críticas da Educação Física (Coletivo de Autores, 1992; Souza Júnior et al, 2011) .
3. Pesquisa bibliográfica
3.1. A Teoria das Representações Sociais (TRS) de Serge Moscovici
Neste estudo, a Teoria das Representações Sociais proposta por Serge Moscovici, psicólogo romeno naturalizado francês, foi adotada como referência para tratar das representações sociais da Educação Física.
De acordo com Oliveira (2004), a TRS de Moscovici teve como ponto de partida o conceito de representações coletivas, proposto anteriormente por Émile Durkheim. A partir da idéia deste pensador, Moscovici elaborou a TRS, que tem como eixo central o entendimento de que todo objeto como, por exemplo, uma pessoa, um grupo de pessoas, uma instituição ou um fato, está sujeito a percepções, considerações, valorações, julgamentos realizados pela sociedade, enfim, está fadado a ser alvo de representações construídas socialmente.
Então, dado que a Educação Física se trata de um objeto (uma área do currículo escolar), ela está constantemente submetida a processos de construções de representações sociais.
3.2. A transformação no campo teórico da Educação Física
A Educação Física, como sabemos, sofreu, ao longo de sua história, influências de concepções que ignoravam o homem como ser sociocultural. Percebendo o aluno como um organismo somente (BRASIL, 1998), portanto preocupada, unicamente, com o desenvolvimento de capacidades fisiológicas e técnicas, vinculou, à sua filosofia, ações exclusivamente práticas, ignorando a abordagem de teorias no contexto de seu ensino na escola.
A partir da década de 80 do século passado, iniciou-se um movimento de renovação na área e, nesse contexto, surgiram novas propostas, as quais superavam o modo limitado como se entendia o homem, na medida em que o concebiam não só como organismo, mas também como corpo, como ser sociocultural (BRASIL, 1998).
Desde então, obras importantes, que sofreram influências desse novo ideal de Educação Física, foram publicadas na literatura. Tais publicações tinham, em seu núcleo, a presença de conhecimentos oriundos das ciências humanas, em especial da Sociologia e da Filosofia.
De acordo com Silva et al (2013), os cursos de Educação Física passaram a adotar essa nova proposta para a formação de seus professores, pelo menos no discurso. O currículo dos cursos passou a incluir o estudo de áreas das ciências humanas, principalmente da Filosofia e da Sociologia (GARCES, 2012).
Darido e Brouco (2010), ao investigarem as bibliografias de concursos para Professor de Educação Física nas regiões sul e sudeste do país, concluíram que as obras que tratam das abordagens críticas da área, bem como de conteúdos de caráter sociocultural, nos últimos anos apareceram com destaque nas bibliografias que basearam as provas.
É possível, assim, dizer que, pelo menos no âmbito da teoria, houve significativa transformação.
3.3. A dificuldade em consolidar essa transformação na prática: representações sociais como fator principal
De acordo com Da Silva (2007), ficou evidente, em sua pesquisa, que a sociedade (mais especificamente os pais) concebe a Educação Física com base na visão construída ao longo da história de que essa disciplina na escola está admitida para a prática de atividades físicas e esportivas. Ou seja, estabelece uma relação entre Educação Física e prática esportiva e atividade física.
Fato que corrobora essa constatação é a estrutura esportivizada do espaço onde ocorrem as aulas de Educação Física nas escolas.
Segundo Rangel Betti (1999), a quadra é tida como a sala de aula do professor. Conforme a autora, existe no espaço escolar a idéia de que as aulas de Educação Física devem acontecer somente nesse local, pois está estruturado de acordo com os padrões esportivos.
Todas essas representações dificultam o trabalho do professor inovador na realidade prática, pois, ao tentar propor novos modos de compreender o mundo, a sociedade, a educação e a Educação Física, e realizar uma prática pedagógica pautada nas novas tendências pedagógicas da área, é duramente criticado pela comunidade escolar, sobretudo pela coordenação pedagógica e pelo corpo gestor.
Rosa e Krug (2009, p. 1) falam sobre esse problema. Segundo os autores,
“A educação física na escola tem alguns conceitos já formados, pré-estabelecidos, por parte de educadores da área e de outras áreas, de pais e educandos, sobre sua prática pedagógica e conhecimentos que devem ser explorados/desenvolvidos nesta disciplina e até mesmo a forma de fazê-los [...]”.
E continuam, colocando que:
“[...] Essa “cultura educacional”, desenvolvida e fomentada na educação física escolar, por alguns professores da área é, por vezes, responsável por alguns conflitos entre educadores, que ao pensarem de forma diferenciada não exploram “essa cultura” em suas aulas, gerando em alguns contextos escolares a falta de reconhecimento da disciplina, devido a não adotar essa concepção essencialmente prática. Vale aquela prática que produz indivíduos aptos a competirem em uma ou mais modalidades esportivas, de modo a representarem à escola na qual estão inseridos. Essa visão restrita direcionada para o esporte, para a formação de atletas, ou aquela visão enfocada no “fazer pelo fazer”, passada para a sociedade em geral, levam a uma compreensão equivocada do sentido pedagógico que a disciplina deve ter no referido contexto”.
O estudo de Silva et al (2013) também verificou essa tendência de associar Educação Física à prática esportiva e à atividade física. No entanto, o mais grave é que, segundo o que foi concluído pelos autores, essa representação social arcaica de Educação Física tem sido verificada não só entre o público leigo, mas também entre boa parcela dos estudantes da Educação Física escolar.
Seguindo esse raciocínio, Osório et al (2013) expõem que os acadêmicos do curso de Educação Física concebem o professor da área como o sujeito responsável mais pela animação, descontração e recreação dos alunos, do que pela criação de situações que favoreçam algum aprendizado para o aluno.
Dessa forma, vemos como é nítida a tendência de associação entre Educação Física e a prática esportiva e de atividades físicas. E isso acontece, como apontam Vieira (2006) e Da Silva (2007), por causa da considerável presença e influência das concepções higienista, militarista e esportivista na história da Educação Física.
Por fim, considerando os fatos que os autores consultados, sobretudo Rosa e Krug (2009), trazem à tona, não se pode ignorar que a dificuldade de consolidação das pedagogias críticas da Educação Física na prática pedagógica dos professores pode ser provocada pelas representações sociais acerca da área.
3.4. Considerações sobre a reflexão concernente à cultura corporal como foco central da Educação Física atual
Em 1992, foi publicado no Brasil, pela editora Cortez, o livro Metodologia do Ensino de Educação Física, produzido pelo Coletivo de Autores. Tal obra, considerada revolucionária por propor novas idéias, passou, desde então, a ser considerada uma das principais referências para as formações inicial e continuada dos professores de Educação Física escolar (SOUZA JÚNIOR ET ALLI, 2011).
No núcleo dessa nova proposta, mais conhecida como Crítico-Superadora, o estudo da cultura corporal aparece como objeto central da Educação Física na escola, sendo seu principal objetivo refletir sobre essa cultura e, a partir disto, promover, a partir do ponto de vista da classe trabalhadora, uma problematização, uma leitura e uma transformação da realidade social (SOUZA JÚNIOR ET ALLI, 2011).
Mais precisamente, essa abordagem é diagnóstica, judicativa e teleológica, na medida em que constata e lê os dados da realidade social, interpreta-os através de julgamentos que se dão a partir dos interesses de determinada classe, e, por fim, posiciona-se politicamente, atuando sobre a realidade social (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
O professor de Educação Física é então, nessa perspectiva, um ser político, que tem claro - para si - para quê e para quem sua prática pedagógica está direcionada (COLETIVO DE AUTORES, 1992).
Baseada no marxismo, e na idéia do materialismo dialético de Karl Marx, essa pedagogia concebe o homem como ser histórico. Igualmente, considera a cultura corporal da humanidade como um produto construído ao longo do tempo e, assim, propaga a noção de historicidade e provisoriedade do ser humano e das coisas que ele constrói.
A tematização dos conteúdos da cultura corporal (jogo, esporte, dança, luta, ginástica) aparece como sua estratégia de ensino (COLETIVO DE AUTORES, 1992; ROSSA; MARQUES, 2010).
De acordo com o Coletivo de Autores (1992, p. 29), as aulas de Educação Física baseadas na proposta da abordagem crítico-superadora podem ocorrer em diferentes espaços: “[...] a quadra ou o campo para o jogo, a sala de aula para a reflexão pedagógica sobre ele, o recreio para uma "pelada", um campeonato para constatar os dados, identificar as classificações, as generalizações, etc.”.
Dessa forma, percebemos que a maneira como a Educação Física é entendida e abordada, segundo a pedagogia crítico-superadora, rompe com a tradição de as aulas acontecerem única e exclusivamente na quadra. Isto porque, seu caráter deixa de ser alienante e passa a ser politizante.
Há, ainda, outras abordagens, como a crítico-emancipatória e a dos PCN's, que propõem a cultura corporal como objeto central da Educação Física, e, por isso, aulas que não necessariamente devem acontecer no espaço da quadra.
4. Considerações finais
Partindo da premissa de que as representações sociais sobre a Educação Física estariam atuando como principal empecilho para a consolidação das abordagens pedagógicas críticas no campo prático, o presente estudo se propôs a provocar e iniciar reflexões e discussões sobre uma possível mobilização para a revisão do nome do componente curricular Educação Física, mobilização esta que se voltaria para favorecer a consolidação das abordagens críticas na prática pedagógica dos professores da área.
Os autores consultados apontaram que, de fato, as representações sociais vinculam a Educação Física a atividades físicas e esportivas - muito por causa da presença das concepções higienista, militarista e esportivista no histórico da área - que pouco ou nada têm a oferecer para o processo de formação cultural do aluno. Isso se torna mais preocupante na medida em que tais representações também são perceptíveis entre os estudantes do curso de licenciatura da área.
No entanto, não se pode dizer ainda (nem seria possível através somente deste estudo, mesmo porque não era seu objetivo) que são realmente essas representações um impedimento para que práticas pedagógicas pautadas nas abordagens críticas aconteçam e se firmem no cotidiano das escolas. Para sabê-lo, far-se-iam necessárias pesquisas mais complexas.
Por isso, é preciso direcionar mais estudos e discussões sobre essa questão. Afinal, será que o nome Educação Física traduz de modo exato a proposta que essa área do currículo escolar tem para a formação dos alunos? Será que não poderíamos pensar em outra nomenclatura que exprimisse com mais precisão a proposta que essa disciplina tem atualmente?
Este artigo se finaliza sugerindo a alteração do nome do componente curricular que trata da reflexão da cultura corporal da humanidade, chamado hoje de Educação Física, para Estudos da Cultura Corporal.
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