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A prática pedagógica do professor de Educação Física no 

currículo da Educação Infantil de 0 a 3 anos, na opinião

 dos professores da rede municipal de Criciúma, SC

La práctica pedagógica del profesor de Educación Física en el currículo de Educación 

Inicial de 0 a 3 años, según los profesores de la red municipal de Criciuma, SC

 

*Professora de Educação Física com habilitação em Licenciatura e Bacharelado

pela Universidade do Extremo Sul Catarinense - UNESC. Especialista em Educação Física

Escolar com Ênfase em Psicomotricidade e Jogos Cooperativos - CENSUPEG/ACIC

**Professores do Curso de Educação Física da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC

(Brasil)

Viviani Dias Cardoso*

Ana Lúcia Cardoso**

Victor Julierme Santos da Conceição**

victor@unesc.net

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo trata de compreender Concepções de Educação Física neste na Educação Infantil (0 a 3 anos), e os Princípios Curriculares da Educação Física neste ciclo de escolarização na rede municipal de Criciúma. A justificativa para a construção deste estudo está embasada na constatação que a participação da Educação Física no currículo da Educação Infantil é recente no município de Criciúma. Nesse sentido, o problema desta pesquisa: O que constitui o currículo da Educação Física na Educação Infantil de 0 a 3 anos na opinião dos professores de Educação Física da rede pública municipal de Criciúma - SC? A partir deste questionamento foi construído o seguinte objetivo: compreender como está constituído o currículo da Educação Física na Educação Infantil de 0 a 3 anos na opinião dos professores da rede municipal de Criciúma. O estudo foi caracterizado com descritivo de campo, e foram utilizados, como instrumentos de coleta de dados, a observação de um encontro da formação continuada da rede municipal de Criciúma e um questionário com 14 professores de Educação Física que atuam com Educação Infantil. A conclusão da pesquisa revela que na opinião dos professores da rede municipal de Criciúma, apresentaram uma compreensão contraditória sobre as teorias da educação, uma vez que apontaram uma abordagem desenvolvimentista como objetivo da Educação Física na Educação Infantil. A maioria dos docentes, porém, afirmou que adota uma tendência de Educação Física balizada na proposta crítico superadora, inexistente no documento curricular, cuja perspectiva geral adotada é a tendência Histórico-Crítica.

          Unitermos: Educação Infantil. Educação Física. Currículo.

 

Documento apresentado pelos professores da UNESC responsáveis pela formação continuada em EF da rede municipal de Criciúma 2009 e 2010.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O interesse em pesquisar a Educação Física na Educação Infantil surgiu devido aos registros apresentados pelos professores da rede pública municipal de Criciúma que realizam a formação continuada na rede. São apresentadas dificuldades nas formas de avaliação, conteúdos a serem trabalhos, metodologias de ensino, entre outros fatores do âmbito da Educação Infantil.

    Uma das discussões da Educação Física na Educação Infantil é que esta não pode seguir os mesmos programas do Ensino Fundamental da escola, onde há definições fechadas quanto ao conteúdo, tempo e espaço. Na Educação Infantil os professores precisam captar os saberes que os alunos já têm, devem ser mediadores no ensino, para as crianças ampliarem seu repertório cultural, e apropriarem-se do conhecimento significativo nas interações, e não um fim em si mesmo (SAYÃO, 2002).

    Pesquisar sobre o tema é uma verificação da recente participação da Educação Física neste ciclo de escolarização. Na região sul de Santa Catarina, podemos destacar o município de Criciúma, cuja rede de ensino, apenas em 2004, estabeleceu que a Educação Física faria parte da matriz curricular da Educação Infantil (RONCHI, 2004).

    O documento curricular para a rede municipal de Criciúma foi produzido em 2008. O documento apresenta fundamentação teórica para a educação e para a área da Educação Física. Nesse sentido, é importante buscarmos o lugar da Educação Física Infantil de 0 a 3 anos no documento, e, consequentemente, na prática pedagógica dos professores de Educação Física na Educação Infantil.

    Baseado nestes debates encontramos a Educação Física no currículo da Educação Infantil, debruçada na Perspectiva Histórico-Cultural, considerando que o processo de ensino aprendizagem do aluno está vinculado à cultura e as experiências vividas e experienciadas por ele. Neste caso o professor é mediador do conhecimento, enquanto o aluno é ser participante ativo de sua construção. Isto é, considera-se a história e a cultura de cada educando/a, permitindo que ele expresse e desenvolva seu aprendizado a partir do que conhece, para adquirir conhecimento mais aprimorado, por meio da mediação do docente ou interação com seu colega (DONATO; MACHADO; TASCA, 2008).

    É com base nessa perspectiva, que a Educação Física no município de Criciúma-SC, tem como objetivo:

    Isso significa estudar e ensinar a cultura corporal e suas inter-relações, visando oferecer aos professores de Educação Física subsídios necessários para o desenvolvimento de seu trabalho pedagógico de maneira competente, crítica, ética, e, principalmente, mais humanista. A Proposta Curricular de Criciúma está estruturada, atrelada a estes fatores, servindo de referência e apoio para a docência neste município, dos/as novos/as professores/as ingressantes, e para aqueles que já construíram uma caminhada nesta Rede Pública de Ensino.

    Assim, a Educação Física compreende que as concepções de homem, corporeidade e o jogo devem ser referências para seu trabalho pedagógico, baseadas na perspectiva Histórico-Cultural (DONATO; MACHADO; TASCA, 2008). Ou seja, o homem (ser humano) é concebido como um ser inacabado, que se desenvolve conforme as transformações socioculturais em que está inserido.

    Dado exposto contribuiu para a construção do seguinte objetivo de estudo que é compreender como se constituí a prática pedagógica do professor de Educação Física no currículo da Educação Infantil de 0 a 3 anos, na opinião dos professores da rede municipal de Criciúma.

Metodologia

    Com a intenção de estudar a opinião dos professores da rede municipal de Criciúma-SC sobre a sua prática pedagógica no Currículo da Educação Física na Educação Infantil de 0 a 3 anos, optou-se por um modelo de pesquisa descritivo de abordagem qualitativa.

    A pesquisa foi organizada da seguinte forma: inicialmente, por meio da Secretaria de Educação de Criciúma-SC, foi solicitada a relação dos professores que atuam com a Educação Física na Educação Infantil de 0 a 3 anos neste município, juntamente com a relação das escolas onde atuavam. Neste contato, foi definido, por sugestão da coordenadora de Educação Física da Secretaria, para que o instrumento fosse aplicado em um encontro para formação continuada, organizada pela Secretaria Municipal de Educação, com todos os professores da rede.

    No processo de seleção dos professores participantes, entramos em contato com todos os professores de Educação Física da rede municipal de Criciúma-SC, que participaram da reunião de início de ano do programa de formação continuada do município. Neste sentido, Molina Neto (2010) observa que participação espontânea dos participantes, prioriza a vontade própria do sujeito em contribuir com o desenvolvimento da temática pesquisada, apoiado pela iniciativa em aceitar o convite para responder as questões do instrumento. Dos 17 professores presentes na reunião de formação continuada, 14 aceitaram responder o instrumento, dois informaram que o enviariam por e-mail, mas não o fizeram, e um se recusou a participar da pesquisa.

    O instrumento selecionado para a coleta de dados foi o questionário, que para Lakatos; Marconi (2001) é um instrumento elaborado por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem entrevistador. Foram elaboradas 17 perguntas: seis questões fechadas, seis questões abertas e cinco questões mistas. Além deste instrumento, foi utilizado um caderno de registro durante a permanência na reunião de formação continuada dos professores. Neste caderno foram anotadas as falas dos professores de Educação Física participantes da atividade, que apareceram com maior relevância sobre o tema da pesquisa.

    Após o recolhimento dos instrumentos respondidos, os dados foram tabulados para construção das categorias de análise. Estas são apresentadas levando em consideração a frequência de respostas e debatidas com a literatura que embasa a concepção de Educação Física para a Educação Infantil, apresentada nos documentos oficiais da Secretaria Municipal de Educação. A primeira categoria trata da caracterização dos professores participantes da pesquisa; a segunda aborda sobre o trabalho pedagógico dos professores de Educação Física; e a terceira discute as concepções de ensino dos professores de Educação Física na Educação Infantil.

O que pensam as professoras e os professores

    As primeiras quatro perguntas realizadas no questionário para coleta de dados deste trabalho teve o objetivo conhecer as principais características dos professores participantes da pesquisa.

    Quanto ao gênero e faixa etária, o primeiro questionamento mostra que 09 (64%) professoras e 05 (36%) professores compuseram o quadro de sujeitos participantes da investigação. A faixa etária dos entrevistados é de 02 professores entre 20 e 30 anos, 06 professores entre 30 e 40 anos e 05 totalizando os professores que têm entre 40 e 50 anos de idade. Piccelli (2002) faz um resgate do histórico da Educação Infantil no Brasil: foi criada após a Revolução Industrial, objetivando atender aos filhos das mulheres que trabalhavam fora. Ao perceber esta nova necessidade, a legislação, em 1920 decretou que junto às fábricas, deveria existir “Escolas Maternais”, nas quais, prioritariamente, as mulheres atenderiam aos filhos dos funcionários. Portanto, é comum observar que a maioria dos docentes que atuam na Educação Infantil são do gênero feminino. Esta concepção de ser “cuidador” além de educador atravessa a própria forma de ver o Trabalho Pedagógico na Educação Infantil. Um exemplo disso é a fala de um dos professores observada durante a formação continuada: “Eu nunca trabalharia com a Educação Infantil, pois tenho a visão que este é um trabalho para as mulheres, porque elas possuem o instinto maternal e os devidos cuidados para com crianças pequenas”.

    Questionamos os professores sobre a formação continuada, 11 (79%) professores responderam que possuem especialização, destes, 02 professores possuem sua especialização em Educação Física Escolar, 01 em Fisiologia do Exercício e 01 em Treinamento Esportivo. Ainda, 02 professores responderam que possuem especialização em Educação Inclusiva, 03 em Educação Física e Saúde, 01 em Controle e Avaliação, 01 em Metodologia e Prática Interdisciplinar de Ensino e 01 no Ensino da Educação Física. Os números totalizam 06 especializações na área das Ciências Humanas e Sociais e 05 na área de Ciências Naturais e Biológicas. Sobre isso, buscou-se saber qual o período de formação inicial.

    Observamos que 06 dos participantes concluíram o curso entre 1989 e 2000, 02 concluíram a graduação entre 2000 e 2009, e 06 professores não responderam o ano de sua formação. Um dos motivos plausíveis para o número de especializações dos professores se dividirem nas áreas das Ciências Naturais e Biológicas é que até a década de 90 a matriz curricular da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC era plena. E somente a partir de 2005 foi modificada para a matriz curricular específica da Educação Física, havendo a divisão entre Licenciatura e Bacharelado.

    Quando perguntados sobre com qual faixa etária os professores de Educação Física preferem trabalhar na Educação Infantil, 03 (20%) responderam que preferem atuar com crianças de 0 a 2 anos de idade, justificando por ser um desafio descobrir como trabalhar com esta faixa etária. Somente 01 (7%) professor assinalou a opção entre 3 e 4 anos, por entender que é nesta idade que os alunos começam a participar das aulas de Educação Física. A maioria dos professores 11 (73%) responderam que preferem atuar com crianças de 05 anos, alegando que com essa faixa etária conseguem desenvolver seus objetivos, podendo avaliar os alunos, além do fato de as crianças conseguirem ter mais feedback com os professores. Essa preferência pode ser justificada na fala de uma das professoras da formação continuada, que afirma que “as crianças maiores compreendem mais as brincadeiras, “conteúdos” que são desenvolvidos em suas aulas”. Sayão (2002) alerta que a Educação Física na Educação Infantil não pode seguir os mesmos programas do Ensino Fundamental da escola, onde há definições fechadas quanto ao conteúdo, tempo e espaço. Este, provavelmente, é um dos aspectos que interfere na preferência pela clico de escolarização que atua.

    Quando questionados sobre quanto tempo atuam como professores de Educação Física na Educação Infantil, 06 professores responderam que atuam há apenas um ano, 02 responderam que trabalham há dois anos, 02 professores assinalaram a opção entre três e cinco anos. 02 professores assinalaram a opção entre seis e oito anos, e 02 professores responderam que trabalham com a Educação Infantil há mais de nove anos.

    Com estas informações é possível perceber que a maioria dos professores atua a um ano na Educação Infantil com a Educação Física. Um dos fatores para isso, segundo Ronchi (2004) deve-se à recente participação da Educação Física nesta área de ensino. No município de Criciúma, foco da pesquisa, a Educação Física consolidou-se em 2004, tornando-se parte da matriz pedagógica da Educação Infantil.

    Ao procurar saber se a graduação desses professores participantes da pesquisa contribuiu com o seu trabalho na Educação Física com a Educação Infantil de 0 a 3 anos de idade. Assim, 02 professores responderam que a graduação os auxiliou no trabalho docente, mas não justificaram. Já 05 professores alegaram que sua graduação não auxiliou sua docência na Educação Infantil enquanto professor de Educação Física, pois os materiais teóricos e práticos são voltados para crianças de faixas etárias maiores, não atendendo à necessidade do ciclo de ensino desta pesquisa. Contudo, 01 professora respondeu que a contribuição para trabalhar com essa faixa etária foi o curso de magistério, enquanto outra professora disse que foi sua graduação em Fisioterapia. Em geral, 07 professores relataram que sua graduação ajudou em parte o seu trabalho na Educação Física com crianças de 0 a 3 anos, uma vez que tiveram a parte teórica, mas, sem a especificidade nessa faixa etária. Este distanciamento entre teoria e prática é bastante comum, ou seja, o modelo de formação inicial voltado ao conteúdo técnico ainda aparece distanciado das realidades escolares. Por este motivo, a Educação Física precisa rever a matriz curricular, ampliando o espaço da área da Educação Infantil com crianças de 0 a 3 anos. Lembrando que, a graduação dos professores que participaram da pesquisa não são recentes, o que revela que o currículo dessa área de ensino pode ter sofrido modificações satisfatórias referentes à Educação infantil de 0 a 3 anos.

    Buscamos verificar na opinião dos professores, qual é o objetivo da Educação Física na Educação Infantil. Sobre isso, 07 professores responderam que o objetivo é desenvolver as capacidades da criança, como a psicomotricidade e a coordenação motora; 04 professores responderam que o principal objetivo da Educação Física nessa idade é a interação e socialização do aluno com o meio em que vive; 01 professor respondeu que o objetivo é proporcionar à criança momentos de recreação; 01 professor menciona que o objetivo da Educação Física é possibilitar a cultura corporal do movimento; 01 professor respondeu que o objetivo da área da Educação Física é desenvolver o movimento e conhecimento de pegar nas crianças entre 0 a 3 anos. Estes dados revelam que os professores estão uma confusão quanto o conteúdo e as atividades realizadas, ou seja, confusos entre a teoria e a prática pedagógica.

    Comparando essas respostas com os objetivos estabelecidos nos Princípios Curriculares do município de Criciúma, percebemos aproximações no que tange ao desenvolvimento motor e à socialização da criança. Revelando uma dicotomia na própria proposta curricular, haja vista que, ao mesmo tempo em que defende uma concepção Histórico-Crítica, a proposta também aponta como objetivos o desenvolvimento motor e a socialização da criança.

Concepções de ensino dos professores de Educação Física para a Educação Infantil

    Quanto à perspectiva teórica que fundamenta a atuação dos professores, observamos que 02 professores desenvolvem a psicomotricidade em suas aulas. Dos professores que participaram da investigação, 01 aplica o desenvolvimento e aprendizagem motora, enquanto 02 justificaram que suas aulas são baseadas na tendência de recreação, e 04 professores desenvolvem em sua atuação embasados na cultura corporal do movimento. Além das opções sugeridas no questionário, encontramos 01 professor afirmando que a tendência desenvolvida em suas aulas é a de exploração de materiais, 01 professor usa a tendência mais adequada de acordo com o dia, e 01 professor assinalou todas as alternativas.

    Percebemos que os professores indicam contradições no que se refere às tendências pedagógicas, pois não compreendem as bases teóricas que sustentam a prática educativa na Educação Física, demonstrando uma confusão no desenvolvimento suas aulas conforme o currículo da rede municipal de Criciúma no que se refere à orientação geral do documento – histórico-cultural.

    Para tanto, o Grupo de Estudos Ampliados de Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina (1996) explica que a psicomotricidade traz, desde a sua gênese, uma ideia de movimento como suporte das aprendizagens de “cunho cognitivo”. O movimento, nesse caso, serve de recurso pedagógico, visando o sucesso da criança em outros campos do conhecimento, baseando-se em padrões de movimentos e testes para o ensino do processo de aprendizagem. Já a teoria desenvolvimento/aprendizagem motora, reforça o modelo esportivo, visando o desenvolvimento motor e das habilidades motoras de acordo com as fases de desenvolvimento.

    Outra concepção que surge na Educação Física na Educação Infantil é a recreação, que segue uma linha pedagógica de atividades espontâneas. A criança escolhe uma atividade, de acordo com seu interesse, sem que haja qualquer finalidade, fazendo dessa prática um modelo de lazer informal, no qual os professores tornam-se apenas “babás”.

    Em contraposição às concepções citadas anteriormente, surge, de acordo com Sayão (2002), uma Educação Física que considera a expressão corporal (Cultura Corporal do Movimento) uma forma de linguagem, que manifesta a cultura infantil por meio do movimento, constituindo a especificidade da Educação Física na Educação.

    As próximas perguntas tinham o objetivo de saber, na opinião dos professores, o que constitui o currículo da Educação Física na Educação Infantil de 0 a 3 anos. Desse modo, os professores foram questionados sobre o conhecimento em relação à proposta Curricular da rede municipal de Criciúma, SC. Das respostas, 13 professores responderam que sim, enquanto apenas 01 alegou que não conhece a proposta. A partir deste descrição, buscamos compreender em que tendência pedagógica de Educação Física para a Educação Infantil está fundamentada a proposta curricular da rede municipal de Criciúma. As informações mostram que 06 professores apontaram a tendência Crítico-superadora, 05 professores responderam que é a tendência Histórico-Cultural que fundamenta a proposta curricular, 02 professores assinalaram todas as alternativas, e 01 professor não respondeu a pergunta.

    Percebemos que os professores apontam a tendência histórico cultural, esta que embasa a perspectiva geral da proposta curricular, mas não apontam para uma tendência específica da Educação Física. A maioria dos professores apontam a proposta crítico-superadora. Na parte específica da Educação Física, no entanto, o documento curricular de Criciúma traz uma opção desenvolvimentista. O que demonstra que conforme questionados, os professores podem conhecer a proposta, porém não compreendem a mesma.

    Com base nesses dados, observamos uma dicotomia entre as respostas, uma vez que na pergunta anterior a maioria dos professores alegaram conhecer a Proposta Curricular de Criciúma, e na pergunta subsequente somente um terço dos docentes acertaram que a Educação Física na Educação Infantil no currículo da rede municipal de Criciúma é baseada na Perspectiva Histórico Cultural, voltada para as ciências humanas e sociais.

Considerações finais

    No processo de construção das considerações nos preocupamos em resgatar o objetivo principal desta pesquisa: Compreender como se constituí a prática pedagógica do professor de Educação Física no currículo da Educação Infantil de 0 a 3 anos, na opinião dos professores da rede municipal de Criciúma. Assim, uma primeira e interessante conclusão é a de que a maioria dos docentes atuantes na rede municipal de Criciúma possuem pouco tempo de serviço na Educação Física na Educação Infantil com crianças de 0 a 3 anos, o que sustenta a ideia de que a participação da Educação Física nessa área de ensino é recente. Isso significa, também, que a experiência na docência infantil e sua obrigatoriedade dentro da Educação Física estão em processo de desenvolvimento.

    A pesquisa apontou que os docentes possuem um entendimento sobre a Educação Infantil balizado por uma visão de criança que, segundo Simão (2006), é compreendida por meio da psicologia do desenvolvimento e pela biologia. É concebido o desenvolvimento igualitário em todas as crianças, desconsiderando os aspectos culturais, sociais, econômicos, religiosos, e outros que influenciam o desenvolvimento da criança.

    Entendemos que o objetivo da Educação Física na Educação Infantil de 0 a 3 anos é desenvolver as capacidades, por meio da psicomotricidade e coordenação motora. Comparando os objetivos estabelecidos nos Princípios Curriculares do município que Criciúma e aqueles descritos pelos professores, compreendemos que existe uma aproximação, pois aparecem em ambos o desenvolvimento motor e a socialização da criança. Isso, de certa forma, revela uma dicotomia na própria proposta curricular, que ao mesmo tempo em que defende uma concepção Histórico-Crítica, aponta, como objetivos da área específica, aspectos relacionados a uma abordagem tradicional.

    Um aspecto interessante e que chamou a atenção é o de que os docentes participantes da pesquisa apresentaram uma compreensão contraditória sobre as teorias da educação, uma vez que apontaram como objetivo da Educação Física na

    Educação Infantil uma abordagem tradicional, sendo que a maioria afirmou que adota uma tendência de Educação Física balizada na proposta crítico-superadora. Essa tendência não se encontra na proposta curricular, que em sua perspectiva geral aborda a tendência Histórico-Crítica, enquanto que, na parte específica da Educação Física, a proposta é desenvolvimentista.

    Assim, concluímos que, na opinião dos professores da rede municipal de Criciúma, o que constitui o currículo da Educação Física na Educação Infantil de 0 a 3 anos é a tendência Crítico-Superadora. Sabe-se, agora, que essa proposta não fundamenta o documento curricular, remetendo-nos a indagar por que o currículo aborda na orientação geral uma tendência voltada para as ciências sociais, e na parte específica da Educação-Física aponta uma tendência desenvolvimentista?

    Esse estudo contribui para a compreensão sobre como o docente pode interligar a teoria com a prática, sempre fazendo menção a ela por meio da avaliação das aulas com os registros, já que as palavras expressam o que acontece e o que pretendemos em nossas aulas. Assim, o professor verifica se está seguindo a mesma linha que a tendência visa desenvolver. E para isso, o documento curricular, eixo norteador do docente na unidade escolar, deve estar coerente com as propostas críticas, de maneira que toda a comunidade escolar possa compreendê-lo e utilizá-lo em sua prática pedagógica.

Referências

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EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 185 | Buenos Aires, Octubre de 2013
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