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Caracterização do consumo alimentar e do perfil antropométrico

de atletas adolescentes de três diferentes modalidades esportivas

Caracterización del consumo alimentario y del perfil antropométrico
de deportistas adolescentes de tres diferentes modalidades deportivas

 

*Nutricionista, graduada pelo Centro Universitário São Camilo, Especialista em Fisiologia do Exercício pelo Instituto
de Ciências Biológicas (USP), Mestre em Ciências Aplicadas à Pediatria (UNIFESP)

**Nutricionista, graduada pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP)

Especialista em Fisiologia do Exercício (UNIFESP)

***Nutricionista, graduada pelo Centro Universitário São Camilo

****Nutricionista, especialista em Nutrição Hospitalar pelo HCFMUSP. Mestre em Nutrição Humana Aplicada (USP)
Doutora em Saúde Pública (USP), professora do Curso de Nutrição do Centro Universitário São Camilo
e da Universidade Presbiteriana Mackenzie

Vanessa Reis*

Carolina Sartori**

Nicoli Dártora***

Marcia Nacif****

nutricaoesportivaleopoldina@sesisp.org.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          Devido às singularidades da adolescência, a alimentação e nutrição exigem cuidados especiais, principalmente entre adolescentes atletas, pois as necessidades de energia e nutrientes estão elevadas a fim de suportar esse período de crescimento físico, maturação e gasto energético próprio do esporte. O objetivo deste estudo foi caracterizar atletas adolescentes quanto ao perfil antropométrico e consumo alimentar. Participaram atletas adolescentes integrantes das equipes de natação, pólo-aquático e vôlei de um clube da cidade de São Paulo. Foram aferidas as variáveis de peso, estatura, circunferências corporais (cintura e abdômen) e dobras cutâneas (bíceps, subescapular, tríceps, peitoral, axilar média, abdominal, panturrilha). O consumo alimentar foi analisado pela aplicação de um recordatório de 24 horas. Foram avaliados 42 atletas, com idade média de 16 anos. A média da porcentagem de gordura corporal estava adequada entre os atletas, 16,67% dos atletas de vôlei e natação, 33,33% dos de pólo aquático foram classificados com sobrepeso pelo IMC e 26,67% dos atletas do pólo aquático classificaram-se na faixa de obesidade. A média do consumo energético ficou abaixo do recomendado para os atletas de vôlei e do pólo aquático, atingindo somente as recomendações energéticas os atletas de natação. Fica evidente a importância de um nutricionista no acompanhamento de jovens atletas para a adequação do consumo alimentar de acordo com as necessidades específicas individuais.

          Unitermos: Atletas. Antropometria. Avaliação nutricional. Nutrição do adolescente.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A relação entre a alimentação e o desempenho esportivo merece destaque especial na adolescência, período em que as necessidades de energia e nutrientes estão elevadas, a fim de suportar o crescimento e o desenvolvimento físico, além do gasto energético próprio do esporte (ALMEIDA e SOARES, 2003; CAMPAGNOLO et al., 2008; TORAL et al., 2007; RIBEIRO et al., 2009).

    O consumo energético insuficiente pode levar a sérias implicações nestes indivíduos, como desenvolvimento de baixa estatura, atraso puberal, deficiência de micronutrientes, desidratação, irregularidade menstrual, alterações ósseas, maior incidência de lesões e maior risco de aparecimento de distúrbios alimentares (TORAL et al., 2007; GUERRA, 2004).

    Existe na área esportiva, o interesse em identificar quais características físicas estão associadas ao sucesso nas diversas modalidades esportivas. Neste sentido, parâmetros da composição corporal são amplamente utilizados a fim de alcançar o peso desejado em cada modalidade, otimizar a performance e avaliar os efeitos do treinamento (PRESTES et al., 2006).

    Desta forma, o presente trabalho teve como objetivo caracterizar, atletas adolescentes, de diferentes modalidades esportivas, em relação ao seu perfil antropométrico e de consumo alimentar.

Material e métodos

    O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário São Camilo sob nº 047/05 e todos os responsáveis legais pelos atletas assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

    Trata-se de um estudo transversal, no qual participaram os atletas adolescentes integrantes das equipes de natação, pólo-aquático e vôlei de um clube da cidade de São Paulo.

    Para caracterizar o perfil antropométrico dos atletas, foram utilizados os dados da consulta inicial destes indivíduos. As seguintes medidas foram aferidas, conforme descrito por Nacif e Viebig (2011): peso, estatura, circunferências corporais (cintura e abdômen) e dobras cutâneas (bíceps, subescapular, tríceps, peitoral, axilar média, abdominal e panturrilha).

    Os atletas foram pesados em balança digital da marca Plenna, com precisão de 100g e capacidade de 150 kg. Para a estatura, foi utilizado estadiômetro da marca Sanny, fixado à parede e com precisão de 0,1cm. As circunferências corporais foram aferidas com o auxílio de fita métrica metálica com precisão de 0,1 cm. Já para as medidas de dobra cutânea, utilizou-se o adipômetro científico da marca Cescorf com divisão de 0,1 mm.

    Para o cálculo da porcentagem de gordura corporal foi utilizada a equação específica para crianças e adolescentes de Slaugther el al. (1988), e a classificação foi feita conforme Deuremberg et al. (1990).

    O consumo alimentar foi analisado pela aplicação de recordatório de 24 horas, que foi avaliado pelo software para cálculo de dietas AVANUTRI versão 6.0.3. Foram calculados os valores de energia provenientes dos carboidratos (CHO), proteínas (PTN) e lipídios (LIP). Os valores de macronutrientes foram comparados às recomendações propostas pela Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte (2009).

    Calculou-se a média do gasto energético basal (GEB) e as necessidades energéticas totais (NET) utilizando o método da FAO/OMS (1985) e Aisworth (1993), respectivamente.

    A análise descritiva dos dados foi feita pelo cálculo de medidas resumo (média e desvio padrão) e tabelas de contingência. A análise das diferenças de médias das variáveis de interesse, segundo as modalidades esportivas, foi realizada utilizando-se o teste t de Student. Adotou-se valores de p<0,05.

Resultados e discussão

    Foram avaliados 42 atletas do sexo masculino, sendo 6 praticantes de natação, 18 de pólo aquático e 18 de vôlei. A idade média da amostra foi de 16± 1,7 anos.

    A tabela 1 mostra o perfil antropométrico das 3 modalidades, expressos em valores de medida central e de dispersão.

Tabela 1. Características antropométricas dos atletas. São Paulo, 2013

    Os atletas do pólo aquático apresentaram percentual de gordura corporal significativamente maior que as outras modalidades. Como não há dados na literatura sobre a modalidade para fins comparativos, os valores podem ser utilizados como referência para outros estudos. Comparamos o perfil antropométrico com o encontrado em atletas de outras modalidades coletivas estudadas.

    Já os que apresentaram menor valor de gordura corporal foram os nadadores, valores estes bem abaixo do encontrado no estudo de Campagnolo et al. (2008), em que os atletas de natação apresentaram um percentual de gordura de 20,4 ± 5,1% e IMC de 19,4 ± 2,1 kg/m2. No estudo de Prestes et al. (2006), na mesma faixa etária, o valor encontrado para a gordura corporal foi de 17,38 ± 5,39%. Entretanto, para os dados de peso e IMC, os valores encontrados foram bem semelhantes ao do nosso estudo.

    No estudo de Campagnolo et al. (2008), a média do percentual de gordura corporal para atletas do vôlei foi de 22,4 ± 4,1. Em relação ao IMC, o valor encontrado foi de 20,3 ± 2,7 kg/m2, valores estes também acima da média encontrada no presente estudo.

    Ainda com relação ao percentual de gordura corporal, pôde-se verificar que 11,1% dos atletas do vôlei apresentaram baixa porcentagem de gordura e o mesmo número de atletas foi classificado como tendo gordura corporal moderadamente alta. Já nos atletas de natação, foi visto que 25,0% estavam com gordura corporal abaixo do adequado, com atletas dentro da classificação “excessivamente baixa”. Por fim, para os atletas de pólo aquático, os resultados foram distintos, pois observou-se que a maior parte dos atletas foram classificados como “adequado” mas, com desvio para “moderadamente alto” e “alto”.

    A tabela 2 mostra a classificação do estado nutricional segundo o % de gordura, conforme proposta de Deuremberg et al. (1990).

Tabela 2. Estado Nutricional de atletas de acordo com gordura corporal. São Paulo, 2013

    Para os dados de ingestão alimentar, destaca-se que a média do consumo calórico para as modalidades do vôlei e do pólo aquático estão consideravelmente abaixo da média recomendada (VET). Somente nos atletas da natação encontrou-se valores aproximados entre o consumo e as necessidades de energia (tabela 3).

Tabela 3. Caracterização do consumo alimentar entre as modalidades. São Paulo, 2013

    No estudo de Campagnolo et al. (2008), verificou-se que entre a adequação da ingestão dietética de atletas adolescentes de quatro modalidades esportivas, a natação foi o grupo que apresentou maior média de consumo de energia (2666,00 kcal/dia) com diferença de aproximadamente 1000 Kcal/dia das demais modalidades. No mesmo estudo, que também analisou o vôlei, a ingestão média para esta modalidade foi de 1761 Kcal/dia.

    No estudo de RIBEIRO et al (2009), que verificou o perfil alimentar de atletas adolescentes nadadores, a média de ingestão calórica foi de 2.632,89 Kcal, sendo que a média das necessidades estimadas para estes nadadores era de 3.223,90 Kcal. No mesmo estudo, também foi observado que a média do percentual de consumo de carboidratos, proteínas e lipídios, foi de respectivamente, 51,64%, 47,67% e 12,72%.

    Estima-se que a ingestão de carboidratos correspondente a 60 a 70% do aporte calórico diário atenda à demanda de um treinamento esportivo. Para otimizar a recuperação muscular recomenda-se que o consumo de carboidratos esteja entre 5,0 e 8,0 g/kg de peso/dia (SBME, 2009). Em relação à g/Kg de peso/dia, somente os nadadores tiveram o consumo adequado. Porém, se fossemos comparar com o que a OMS recomenda de carboidratos (55 a 70%) em relação ao VET, somente a natação se enquadraria como adequado. Dietas com baixo valor de carboidratos podem comprometer o desempenho físico. Estoques elevados de glicogênio muscular produzem maior reserva energética para atividades aeróbicas e anaeróbicas, resultando em maior resistência e retardando o surgimento da fadiga (ALMEIDA e SOARES, 2003).

    A Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte recomenda que para aqueles que tem por objetivo aumento de massa muscular, a ingestão de proteínas deve ser de 1,6 a 1,7 g/Kg de peso/dia, e para os esportes nos quais o predomínio é a resistência, 1,2 a 1,6 g/Kg. Os atletas devem ser conscientizados de que o aumento do consumo protéico na dieta além dos níveis recomendados não leva aumento adicional da massa magra.

    As necessidades protéicas de um atleta são maiores do que as de um indivíduo sedentário, devido ao reparo de lesões induzidas pelo exercício nas fibras musculares, ao uso de pequena quantidade de proteína como fonte de energia durante a atividade e ao ganho de massa magra (GUERRA, 2004).

    Um adulto necessita diariamente de cerca de 1 g de gordura por kg/peso corporal, o que equivale a 30% do valor calórico total (VCT) da dieta. A contribuição dos lipídeos para o desempenho da atividade física é somente como energia de reserva (ALMEIDA e SOARES, 2003). Dentre os resultados encontrados, verificamos valores de lipídeos dentro do recomendado para as três modalidades esportivas.

Conclusão

    Fica evidente a necessidade da participação de um nutricionista no acompanhamento de atletas de esportes de alto rendimento para a adequação de consumo alimentar de acordo com as necessidades específicas do esporte, sem contar a importância de uma equipe técnica envolvida cuja finalidade é a complementação dos conhecimentos para o desempenho efetivo e para o sucesso do atleta adolescente.

    Vale ressaltar a importância que os estudos trazem para a comunidade científica, a fim de colaborar para o desenvolvimento de maiores estudos que permitem que o profissional da saúde se estruture cada vez mais para o atendimento do público descrito.

Referências

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