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Análise da satisfação corporal de discentes 

do Ensino Médio da rede regular de ensino

Análisis de la satisfacción corporal de estudiantes de Escuela Media de la red pública de enseñanza

 

*Doutorando em Educação pela UNESP, campus Presidente Prudente

Mestre em Educação Física pela UNIMEP e professor no curso

de Educação Física da UNIESP – Campus Tupã, SP

**Graduanda do curso de Licenciatura em Educação Física da UNIESP – Campus de Tupã, SP

***Mestrando em Educação Física (Ciências do Exercício e do Esporte - UGF/RJ)

Robson Alex Ferreira*

Josimara Rufino**

José Nunes Silva Filho***

alexrreira@yahoo.com.br

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A saúde é um dos temas que compõe um conjunto de conteúdos da disciplina educação física no ambiente escolar. O professor ao possuir um conhecimento satisfatório relacionado à saúde pode e deve transmiti-lo junto aos seus alunos, podendo para isto inclusive usar de metodologias que contagiem a atenção dos discentes para que consigam absorver o conhecimento embutido na atividade levando-os á sua vida particular e a de pessoas próximas a ele. A insatisfação com a imagem corporal pode ser percebida facilmente dentro da sociedade, dado o aumento exagerado do número de diagnósticos de distúrbios alimentares e da busca insana e patológica por atividades físicas e cirurgias plásticas. Isso acontece na tentativa de deixar o corpo próximo a um molde estipulado pela sociedade como um padrão aceitável. O objetivo desta pesquisa foi analisar a satisfação corporal de estudantes do ensino médio, de uma escola pública de Luiziânia, no estado de São Paulo. Participaram deste estudo 99 discentes de ambos os sexos do ensino médio, com idade que se localizavam entre 16 a 21 anos. Para a coleta dos dados mensurou-se o Índice de Massa Corpórea (IMC) dado pela razão (peso/altura²) e a identificação da moda da silhueta ideal. Pode-se concluir de uma forma em geral que os adolescentes investigados estão insatisfeitos com seus corpos mesmo apresentando resultados que os classificam como estando com seus pesos ideais, o que demonstra que a percepção da imagem corporal difere com os dados apresentados pelo IMC.

          Unitermos: Imagem corporal. Discentes. Ensino Médio.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    A saúde é um dos temas que compõe um conjunto de conteúdos da disciplina educação física no ambiente escolar. O professor ao possuir um conhecimento satisfatório relacionado à saúde pode e deve transmiti-lo junto aos seus alunos, podendo para isto inclusive usar de metodologias lúdicas, divertidas, que contagiem a atenção dos discentes para que os mesmos consigam absorver o conhecimento embutido na atividade e possa levá-lo á sua vida particular e a de pessoas próximas a ele. Dentro dessas atividades, que tem como tema a saúde, deve-se estimular a troca de informações entre os próprios discentes, possibilitando que os mesmos se socializem entre si, discutindo e relacionando fatos que se relacionem com a saúde e a qualidade de vida de cada um deles.

    Os professores tais como formadores de opinião que de fato são, devem estar preparados para lidar com situações que envolvam a imagem corporal, os transtornos alimentares e de auto-imagem, tão presentes nos dias de hoje e que podemos classificá-los como subgrupos da saúde. A mídia em si, com suas várias ferramentas (televisão, rádio, internet, jornais, revistas) tem uma influência muito grande sobre as crianças e os adolescentes, ao se fazer presente em suas ocupações diárias. Como sugere Betti (2003, p. 37) “todos os dias os mesmos são bombardeados com informações acerca de seu corpo, nem sempre verídicas, e cabe ao professor, informá-los a maneira correta sobre a questão, pois se não forem esclarecidas, podem ocasionar implicações prejudiciais”.

    A saúde sempre esteve historicamente ligada com a educação física, embora essa ligação, a principio, se fizesse apenas pelo caráter biológico, onde indivíduos saudáveis eram considerados “melhores e mais capazes” do que outros e onde deficiências e anormalidades, tão normais e tratáveis nos dias de hoje, eram condenadas e excluídas da sociedade sem o menor pudor. Não estamos afirmando que estas exclusões se encerraram, afinal, ainda as vemos em nosso dia a dia, mesmo que camufladas em ações que tentam encobrir tais preconceitos e discriminações. Carvalho (2005, p. 161), destaca que “nós profissionais da educação física... não conseguiremos interferir no processo saúde-doença se não exercitarmos a interdisciplinaridade a fim de analisar e avaliar o que se pensa e se faz em saúde hoje, do ponto de vista coletivo, público e social”.

    Guedes (2004 apud OLIVEIRA, 2008), identifica o conceito de saúde com uma multiplicidade de aspectos do comportamento humano voltados para o bem-estar físico, mental, social e espiritual, sendo fundamental apresentar evidências ou atitudes que procurem afastar ao máximo os comportamentos de risco. A mesma autora associa o conceito de saúde ao conceito de bem-estar, definindo que bem-estar implica a capacidade individual em viver com alegria e satisfação e poder oferecer significativos contributos à sociedade, logo representa também uma importante componente associada à qualidade de vida, sendo essencial para a manutenção da saúde positiva.

    Scherer et al (2010, p.199) afirma que a “imagem corporal pode ser definida como a formação multidimensional de uma figura que ilustra a imagem que uma pessoa tem de si própria, ou seja, a maneira pela qual essa pessoa enxerga sua forma corporal”, e com isso os sentimentos que vem atrelados a essa percepção.

    Morgado et al (2009, p. 206) afirma que “a insatisfação com a imagem corporal pode ser percebida facilmente dentro da sociedade, dado o aumento exagerado do número de diagnósticos de distúrbios alimentares e da busca insana e patológica por atividades físicas e cirurgias plásticas”. Isso acontece na tentativa de deixar o corpo próximo a um molde estipulado pela sociedade como um padrão aceitável. Para o autor ainda, essa ditadura da beleza, causa distúrbios de auto-imagem e de alimentação que passam a fazer parte da vida e da rotina de muitos indivíduos. “Na medida em que o mesmo demonstra insatisfação com o corpo que possui, ele tem tendência a procurar atingir o corpo ideal á custa do comprometimento da sua saúde”.

    O professor de educação física pode atuar na prevenção e pré-diagnóstico de transtornos alimentares e de auto-imagem em suas aulas. Discentes que sofrem desses males, na maioria das vezes, são introvertidos, arredios, não conversam muito e também não dão liberdade para ninguém. Dessa forma, este professor, com atividades e métodos específicos, baseados numa didática apropriada, deve procurar introduzir os discentes no ambiente construído em sala de aula, visando o ganho da confiança por parte dos mesmos e fazendo-os entender o quanto essas ações podem fazem mal. O professor deve estimulá-los a seguirem com uma vida saudável, longe de vícios e outros comportamentos nocivos à saúde, encorajá-los a buscar assistência especializada e deixar claro que nunca haverá exclusão, preconceito ou ridicularização nesse ambiente, para que os mesmos se sintam confortáveis e confiantes para dialogar.

    Os transtornos alimentares ou de ordem alimentar, de acordo com Oliveira e Hutz (2010, p. 02) são “quadros caracterizados por aspectos como medo mórbido de engordar, preocupação exagerada com o peso e a forma corporal, redução voluntária do consumo nutricional com progressiva perda de peso, ingestão maciça de alimentos seguida de vômitos...”.

    O Transtorno Dismórfico Corporal (TDC) “é um transtorno relacionado a preocupações com a aparência. Os critérios diagnósticos estabelecidos são: preocupação com um defeito imaginado na aparência, e mesmo que haja um mínimo defeito, a preocupação é extremamente acentuada”, o que acabando gerando um sofrimento significativo e/ou prejuízo no funcionamento da vida do indivíduo (MORIYAMA e AMARAL, 2007. p.14).

    O trabalho de diagnóstico, percepção e abordagem não é exclusivo do profissional de educação física. A saúde, além de ser um componente atuante da disciplina em questão, nunca deixou de ser um tema transversal, citado e defendido pelos Parâmetros Curriculares Nacionais e que, portanto, deve ser discutida por todas as outras disciplinas participantes do cenário educacional. O professor de educação física, pela proximidade, pode vir a ser o primeiro a desconfiar de algo, mas a opinião de outros professores é muito importante, pois trará à tona a veridicidade de tal opinião e o diálogo entre os mesmos pode culminar na melhor forma de abordagem e de como melhor lidar com o problema em questão.

    O objetivo desta pesquisa foi analisar a satisfação corporal de estudantes do ensino médio de uma escola pública de Luiziânia, no estado de São Paulo, Brasil.

Metodologia

    Este estudo constitui-se como uma pesquisa quantitativa, do tipo transversal, ex-post-facto (THOMAS e NELSON, 2002).

Sujeitos da pesquisa

    Participaram deste estudo 47 discentes do sexo feminino e 52 discentes do sexo masculino das três únicas séries do ensino médio de uma escola pública de Luiziânia/SP, com idade que se localizavam entre 16 a 21 anos.

Coleta de dados

    Para a coleta dos dados foram utilizadas duas formas de avaliação. A primeira delas mensurou o Índice de Massa Corpórea (IMC) dado pela razão (peso/altura²). Para a segunda avaliação os discentes responderam as seguintes perguntas usando como parâmetro a escala de silhueta: 

  1. Qual a silhueta que melhor representa a sua aparência física atual (corpo real)? 

  2. Qual a silhueta que você gostaria de ter (corpo que gostaria)? A escala de silhueta é composta por um conjunto de figuras humanas, numeradas de 1 a 9, representando desde indivíduos com extrema magreza (silhueta 1), progressivamente, até indivíduos com obesidade severa (silhueta 9).

Análise dos dados

    As medidas antropométricas de amostra foram descritas pela percentagem, seguida da identificação da tabela classificatória do IMC e da identificação da moda da silhueta ideal apontada pelos sujeitos, conforme proposta de Stunkard; Sorenson e Schlusinger (1983 apud LIMA et al, 2008).

Resultados e discussão

    O Índice de Massa Corporal das meninas identificou que 19,2% delas estão classificadas como desnutridas (abaixo do peso ideal). Para 72,4% esta classificação apontou que estas se encontram em estado de eutrofia (peso ideal). A classificação apontou sobrepeso em 4,2 delas e também 4,2% foram classificadas como obesas.

    A escala de silhueta identificou com as respostas que um número significativo de discentes do sexo feminino encontram-se insatisfeitas com o corpo, o que totalizou 85,1%. Deste total, 61,7% gostariam de ser mais magras, 23,4% gostariam de ser mais gordas e somente 14,9% delas estão contentes com o corpo que possuem.

    Percebe-se com os dados coletados que uma porcentagem elevada de meninas encontram-se com o peso ideal, no entanto, um número também significativo de porcentagem estampa uma insatisfação com o corpo.

    Foi realizado um estudo por Vasconcelos (1995 apud OLIVEIRA, 2008), com 1194 adolescentes do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 11 e os 17 anos, de grupos étnicos diferentes (caucasóides, negróides portuguesas e negróides cabo-verdianas). A autora verificou que as caucasóides apresentaram valores superiores na percepção do corpo como algo que se pode tocar, do corpo como veículo de ternura, de expressividade e de fonte de energia; as negróides portuguesas destacaram apenas a percepção do corpo como elemento de coragem ou audácia e por último entre as negróides cabo-verdianas os restantes itens tiveram maior destaque.

    Saikali et al. (2004 apud PORTO e LINS, 2009) citam em seus estudos que distorções cognitivas relacionadas à avaliação do corpo, são comuns em pessoas com transtornos alimentares, entre eles o pensamento bifurcado em que o indivíduo pensa em extremos com relação à sua aparência ou é muito crítico em relação à mesma; comparação injusta é quando o indivíduo compara sua aparência com padrões extremos; atenção seletiva focaliza um aspecto da aparência e erro cognitivo, o indivíduo acredita que os outros pensam como ele em relação à sua aparência, desta forma o indivíduo cria situações de mal estar consigo mesmo, e passa a focar sua auto-imagem, trazendo como conseqüência, a perda da sua sensibilidade social e profissional, abstraindo-se de alguma forma do mundo real.

    Segundo Williams (1983, apud OLIVEIRA, 2008), a percepção da imagem do corpo como uma entidade pequena ou grande, gorda ou magra, forte ou fraca, calma ou nervosa, é resultado das interações sociais que a criança experimenta e estabelece à medida que se desenvolve. Para considerar o seu corpo como “atrativo” ou “não atrativo”, “coisa que se olha”, ou “que não se olha”, “socialmente desejável” ou “não desejável”, a adolescente tem de se comparar com os outros ou com um determinado padrão de referência. As adolescentes têm como referência padrões morfológicos e de beleza, de grupos majoritários, e quando dessa comparação resulta uma grande diferença, surge um sentimento de desadaptação que se associa a uma distorção na percepção da imagem corporal.

    Pelo cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC), em se tratando dos meninos, 25% deles estão desnutridos (abaixo do peso ideal); 59,6% estão em estado de eutrofia (peso ideal); 11,5% tem sobrepeso e também 5,9% são obesos.

A escala da silhueta identificou que a maioria dos meninos está insatisfeito com o corpo (69,2%). Destes, 34,6% gostariam de ser mais magros, 34,6% gostariam de ser mais gordos e 30,8% deles estão contentes com o corpo que possuem.

    Percebe-se também com os dados coletados que uma porcentagem elevada dos adolescentes do sexo masculino encontram-se com o peso ideal, no entanto, um número também significativo de porcentagem estampa uma insatisfação com o corpo.

    Cohane e Pope (2001 apud PORTO e LINS, 2009), realizaram uma revisão sobre aspectos relacionados à imagem corporal em indivíduos do sexo masculino. Em termos gerais, a revisão indicou que alterações de imagem corporal no sexo masculino, ao contrário do que se pensava, são quadros relativamente comuns e diferem do padrão de distorção tipicamente feminino. As mulheres apresentam níveis bem maiores de insatisfação que os homens e descreve sempre corpos mais magros como objetivo, incutindo a cultura do corpo feminino magro semelhante ao das modelos. No caso dos homens, há aqueles que seguem o padrão feminino, mas a maioria considera um corpo mais musculoso como representação da imagem corporal masculina ideal, em que se tornam mais torneados e atraentes na visão geral das pessoas.

    Os nossos corpos são vitimizados por políticas de saberes, que nos identifica, classificam, recalcam, estigmatizam, formando e deformando as imagens que temos nós e dos outros. O Homem está constantemente a experienciar momentos de aprovação social, o que leva a que viva o seu corpo não à sua maneira, mas sim conforme as regras estabelecidas pela sociedade, e pelo modelo estético padronizado comercialmente (RUSSO, 2005, apud OLIVEIRA, 2008).

Conclusões

    Pode-se concluir de uma forma em geral que os adolescentes investigados estão insatisfeitos com seus corpos mesmo apresentando resultados que os classificam como estando com seus pesos ideais. O que demonstra que a percepção da imagem corporal variou com os dados apresentados pelo IMC. Chama-nos a atenção também o elevado percentual de adolescentes que foram classificados como desnutridos.

    A comunidade escolar e em especial o professor de educação física, pela proximidade do contato com os alunos envolvendo a cultura corporal de movimento deve estar atento a temática envolvendo a imagem corporal, para que possa por meio de suas concepções, construir saberes que favoreçam as percepções e compreensões que conduzam seus alunos a busca da qualidade de vida ideal.

Referências bibliográficas

  • BETTI, M. Imagem e ação: a televisão e a Educação Física escolar. In: BETTI, Mauro (org.). Educação Física e Mídia: novos olhares outras práticas. São Paulo: Hucitec, 2003.

  • GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

  • LIMA et al. Conjunto de silhuetas para avaliar a imagem corporal de participantes de musculação. Arq Sanny Pesq Saúde 1(1): 26-30, 2008.

  • MORGADO, et al. Análise dos Instrumentos de Avaliação da Imagem Corporal. Fit Perf J. Mai/Jun, 2009.

  • MORIYAMA, J. S.; AMARAL, V. L. A. R. Transtorno dismórfico corporal sob a perspectiva da análise do comportamento. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva. Vol. IX, nº 1, 2007.

  • Oliveira, T. Obesidade, Actividade Física e Percepção da Imagem Corporal na Adolescência. Porto: T. Oliveira. Dissertação de Licenciatura apresentada à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, 2008.

  • OLIVEIRA, L. L.: HUTS, C. S. Transtornos Alimentares: o papel dos aspectos culturais no mundo contemporâneo. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 15, n. 3, p. 575-582, jul./set. 2010.

  • PORTO, A. A.; LINS, R. G.. Imagem corporal masculina e a mídia. EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Nº 132, 2009. http://www.efdeportes.com/efd132/imagem-corporal-masculina-e-a-midia.htm

  • SCHERER, F. C. et al. Imagem corporal em adolescentes: associação com a maturação sexual e sintomas de transtornos alimentares. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 59, n. 3, p.198202, 2010.

  • STUNKARD, A.J.; SORENSON, T.; SCHLUSINGER, F. Use of the Danish Adoption Register for the study of obesity and thinness. In S.S. Kety, L.P. Rowland, R.L. Sidman, & S.W. Matthysse (Eds.) The genetics of neurological and psychiatric disorders. New York: Raven. p. 115-120, 1983.

  • THOMAS, J. R.; NELSON, J. K. Método de Pesquisa em atividade física. 3ª Ed. 2002.

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