efdeportes.com

A influência da maturação biológica
no desenvolvimento motor em escolares

La influencia de la maduración biológica en el desarrollo motor en escolares

 

*Discente da Faculdade de Educação Física

do Centro Universitário Ítalo Brasileiro, UNIÍTALO

**Mestre em Biodinâmica do movimento Humano pela USP

Docente na Universidade Nove de Julho e Centro Universitário Ítalo Brasileiro

(Brasil)

Luciane Barbosa de Sena*

Maria Daiana Serafim*

Vanessa Luzia Barros de Andrade*

Viviane de Souza Silva*

Caio Graco Simoni da Silva**

lucianedogu@hotmail.com

 

 

 

 

Resumo

          Este estudo teve por objetivo verificar a influência da maturação biológica no desenvolvimento motor em crianças e adolescentes, pois fatores como idade biológica, maturação sexual e maturação óssea podem alterar o desempenho físico nas atividades escolares durante o período da puberdade. Para tal, foi realizada revisão literária de estudos sobre crescimento, desenvolvimento, maturação e Educação Física escolar. Os resultados deste estudo mostram ser essencial o professor de Educação Física atentar-se e entender os estágios de maturação em que seus alunos podem estar, para elaborar seu conteúdo de aulas de modo a atender adequadamente as necessidades do grupo, apontam algumas estratégias que o professor pode utilizar para o enriquecimento de suas aulas, e perspectivas de mudança na Educação Física escolar brasileira.

          Unitermos: Maturação; Desenvolvimento Motor; Adolescência; Educação Física escolar.

 

Abstract

          This study aimed to verify the influence of biological maturation in motor development in children and adolescents, because factors such as age, sexual maturation and biological maturation can change their physical performance in school activities during the period of puberty. To this purpose, was performed a literature review of studies about growth, development, maturation and Physical Education. The results of this study showed that it is essential to the physical education teacher to be attentive and to understand the stages of maturation in which their students may be, to prepare the content of the classes in order to adapt them to the needs of the group. And the results also suggest some strategies that the teachers can use to improve their lessons, and prospects changes in the Brazilian Physical Education.

          Keywords: Maturation; Motor Development; Adolescence; Physical Education.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/

1 / 1

Introdução

    Desde o nascimento até a conhecida idade adulta, os indivíduos passam por vários estágios de crescimento e desenvolvimento, resultando em um grau crescente de maturação, tendo como característica o processo evolutivo da espécie humana (GUEDES; GUEDES, 2000).

    Nota-se uma importante diferença entre idade cronológica e idade biológica de um indivíduo. A idade cronológica, definida pela data de nascimento, pode ser muito diferente da idade biológica, definida pelo estágio de maturação, por exemplo, duas meninas que tenham nascido na mesma data e ano, podem apresentar grandes diferenças, tanto físicas, quanto psicológicas (SIMÃO, 2008).

    Visto a afirmação de Guedes (2011) de que além de conhecer a idade cronológica do jovem, o estágio de maturação no qual o mesmo se encontra é de suma importância para o professor de Educação Física adequar o material e a atividade para trabalhar em aula. Desta forma, o presente estudo teve por objetivo descrever a influência da maturação biológica no desenvolvimento motor em adolescentes.

Crescimento

    Crescimento é um processo dinâmico resultante do aumento de número e tamanho das células. Determina alterações progressivas de altura e peso do corpo todo ou de partes e segmentos específicos (MATSUDO; PASCHOAL; AMANCIO, 1997; GUEDES, 2011). Este processo se inicia no momento da concepção, e perdura pelas duas primeiras décadas de vida (MALINA; BOUCHARD, 2002).

    No início do crescimento, ou seja, à partir do momento da concepção da gravidez, a alimentação da mãe influencia na nutrição do bebê. Fatores emocionais, vícios (tabagismo, alcoolismo) e o estilo de vida da mãe também serão responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento do feto. A má alimentação materna envolve prejuízos no desenvolvimento neurológico do feto, deficiência imunológica, seqüelas no crescimento pós-natal, na função de órgãos, produção de enzimas, retardo no crescimento intra-uterino, alterações do nível de glicemia e diabetes gestacional. A obesidade materna pode resultar em um aumento de lipogênese fetal e excesso de gordura, tornando o bebê obeso (NATHANIELSZ, 2002; VITOLO, 2008).

    Segundo Vitolo (2008) o crescimento na vida intra-uterina exerce importante efeito sobre a saúde na vida adulta, pois estudos apontam que a desnutrição durante a vida intra-uterina está correlacionada com o surgimento de doenças crônicas durante períodos mais tardios da vida como: doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e hipertensão.

    O crescimento em altura só ocorre enquanto as cartilagens dos ossos longos não se encerram e se fecham. O crescimento individual de um ser humano é predestinado pela genética do mesmo, entretanto fatores externos (fenótipo) como alimentação, atividade física, estímulos psicossociais e saúde pública podem influenciar de forma negativa, desde o nascimento até atingir dimensões máximas (MATSUDO; PASCHOAL; AMANCIO, 1997; GUEDES, 2011). Em condições normais, a altura é minimamente influenciada pelo fenótipo, entretanto, nas mesmas condições, o peso é altamente influenciado pelo ambiente. O excesso ou falta de peso, não é um fator de preocupação durante a adolescência, no entanto, a baixa estatura é um fator a ser observado (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

    Entre os 6 e 10 anos de idade, o crescimento na altura e peso são lentos, porém estáveis, sendo os meninos ligeiramente mais altos e mais pesados do que as meninas. Durante o surto de crescimento as meninas tendem a ser mais pesadas, até aproximadamente os 14 anos, quando esse ganho de peso começa a se estabilizar, em contrapartida, os meninos continuam ganhando peso até os 22 anos (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

    De acordo com Matsudo, Paschoal e Amancio (1997), o esporte colabora para a criança crescer o tamanho máximo que está determinado pela sua herança genética, e não crescer devido à atividade imposta pelo esporte. Pois, as ginastas consideradas baixas ou os nadadores considerados altos são escolhidos para esses esportes por suas características já notáveis em sua infância ou adolescência. O esporte afeta positivamente na aptidão física, na saúde, no percentual de gordura e no aumento de massa magra, mas isso não quer dizer que crianças sedentárias também não possa atingir sua altura máxima sem práticas de esportes, porém alcançarão sem os benefícios trazidos pela prática de exercícios físicos como a prevenção de doenças cardiorrespiratórias. Já em países subdesenvolvidos, a contribuição do esporte pode ser negativa, pois o comprometimento nutricional por deficiência energética, faz com que o organismo para gerar energia para atividade física, utilize proteína, o que poderá prejudicar o crescimento.

    Guedes (2011) afirma que a maioria das referências normativas sobre peso e altura adequados para cada idade foram elaboradas em comunidades de países desenvolvidos e de classes sociais elevadas, o que implica não ser adequado a outras comunidades de condições sócio-econômicas diferentes. Devido ao fenômeno de aceleração secular do crescimento, crianças e adolescentes dos países desenvolvidos ou em desenvolvimento tem tido taxa de crescimento superior ao esperado nesses últimos séculos. Por esse motivo recomenda que essas referências normativas sejam refeitas a cada 10 ou 15 anos. No Brasil, um aspecto que pesa sobre essas normas referenciais é que os estudos tem mais de 30 anos, podendo não ter mais validade.

    Segundo Malina e Bouchard (2002) e Guedes (2011) mesmo existindo vários métodos antropométricos, as medidas mais adequadas para se determinar a fase de crescimento são através da altura e peso, pois são pouco invasivas e fáceis de replicar.

Idade Cronológica x Idade Biológica

    Guedes (2011) afirma que idade cronológica é a idade definida pelo nascimento de um indivíduo determinado pela data do calendário civil. A idade biológica depende do relógio do estágio maturacional de cada indivíduo, com características qualitativa e quantitativa observadas pelo indicador biológico. Esse estágio maturacional não necessariamente coincide com a idade cronológica.

    De acordo com Simão (2008), a idade biológica assessora melhor os estágios de maturação, ou desenvolvimento da puberdade, através dos indicadores: idade do esqueleto; maturidade somática (física) ou idade morfológica e maturidade sexual ou idade sexual. Malina e Bouchard (2002) e Gallahue e Ozmun (2005) acrescentam ainda a idade dental, que apesar de não ser utilizada freqüentemente, é outro meio preciso determinar a idade biológica de um indivíduo.

    Segundo Guedes (2011), o controle do estágio maturacional é baseado na idade cronológica, na qual há um padrão esperado de comportamento maturacional para aquela idade, determinando se o jovem está adequado para o esperado em seu desenvolvimento, avançado ou atrasado.

    Devido aos jovens de mesma idade muitas vezes estarem em estágios maturacionais diferentes, as diferenças podem ser enormes: pode-se ver, por exemplo, dois jovens de 14 anos com uma diferença de altura de 23 cm e uma diferença de peso acima de 18kg, ou duas crianças de 10 anos de idade com a mesma altura, mas uma cresceu 60% da sua altura adulta final e a outra cresceu 70%. Também, uma garota de 11 anos pode ser mais alta e ter mais físico que um garoto de mesma idade (MALINA; BOUCHARD, 2002; SIMÃO, 2008).

    Segundo Simão (2008) e Guedes (2011), essas informações sobre os estágios de maturação biológica, além da idade cronológica, são de fundamental importância para o profissional de Educação Física e Esporte, no momento do desenvolvimento de análises de atributos associados aos aspectos morfológicos e funcionais de indivíduos jovens.

Estirão de crescimento

    A fase conhecida como surto ou estirão do crescimento adolescente é o momento no qual a criança cresce demais, aparentemente de um dia para o outro. Este processo ocorre no final da infância, antes da maturação sexual (GALLAHUE; OZMUN, 2005). O estirão de crescimento dura aproximadamente quatro anos e meio. Em geral, os meninos iniciam o estirão de crescimento por volta de 11 anos de idade, chegam ao pico de velocidade de crescimento (ritmo anual máximo de crescimento) aos 13 anos e estabilizam a velocidade de crescimento aproximadamente aos 15 anos. As meninas, em geral, iniciam dois anos antes, por volta dos 9 anos de idade, atingindo o pico de velocidade aos 11 anos e estabilizando por volta dos 13 anos de idade (MALINA; BOUCHARD, 2002).

    A respeito da atividade esportiva em jovens, Simão (2008) alerta, durante o período de estirão de crescimento, jovens atletas podem estar correndo risco de lesão por causa do enfraquecimento relativo dos ossos, desequilíbrios musculares, a contração no músculo-tendão e o rápido crescimento dos músculos. De acordo com Matsudo, Paschoal e Amancio (1997) um dos principais problemas que chamam a atenção são os relacionados às epífisites. É uma inflamação que afeta as extremidades do osso ou os núcleos de crescimento daquela região, também chamada de doença ou dores do crescimento.

    Devido às doenças surgidas durante o estirão do crescimento, talvez seja necessário aos profissionais de Educação Física a modificação do programa de exercícios, dedicando no seu planejamento de aula a flexibilidade, corrigindo os desequilíbrios musculares ou diminuindo o volume e a intensidade dosciosando o seu planejamento de aula aorar anos ain da. cimento durante a puberdade exercícios (SIMÃO, 2008).

Desenvolvimento motor

    Segundo Guedes (2011), desde o nascimento finalizando somente ao morrer, o ser humano está em constante desenvolvimento tanto quantitativo como qualitativo, crescer e desenvolver é a principal função do nosso organismo nas duas primeiras décadas de vida. Por estarem associados ao processo, e por não existirem separadamente, crescimento e desenvolvimento são facilmente confundidos, porém, desenvolvimento significa o desenvolvimento dos órgãos e do organismo como um todo, enquanto crescimento caracteriza-se apenas pela proliferação e diferenciação das células do corpo humano.

    Segundo Fonseca (1988) é chamado de desenvolvimento motor uma alteração contínua no comportamento humano ao longo da sua existência que ocorre por meio de tarefas vivenciadas, da biologia do indivíduo e do ambiente em que ele está inserido. Num primeiro momento este desenvolvimento é principalmente biológico, ou seja, o desenvolvimento está intimamente ligado à diferenciação das células, para cada qual desempenhar uma determinada função no organismo. Em seguida o desenvolvimento entra no contexto comportamental, isto é, o desenvolvimento se interrelaciona, através das tarefas, com os elementos culturais do ambiente do indivíduo, caracterizando assim suas competências sociais, cognitivas, emocionais e também a personalidade (MALINA; BOUCHARD, 2002).

    A criança tem características distintas no desenvolvimento em cada idade e a aparição ou aquisição de determinados comportamentos motores tem importantes repercussões, pois cada nova aquisição influencia na anterior, tanto mental como motora, através da experiência e troca com o meio (FONSECA, 1988).

    Gallahue e Ozmun (2005) propõem um modelo que descreve as fases e estágios da seqüência de desenvolvimento de habilidades motoras. Este modelo é chamado de ampulheta e, segundo os autores, as faixas etárias para cada fase do desenvolvimento motor devem ser consideradas apenas como orientação geral, visto que os indivíduos freqüentemente desenvolvem-se em diferentes fases ao mesmo tempo, dependendo de seu ambiente e de sua genética. Isto é, uma criança pode estar numa fase avançada de desenvolvimento de habilidades manipulativas e ao mesmo tempo estar numa fase fundamental de desenvolvimento locomotor.

    Em relação aos aspectos de conduta e controle motor, segundo Fairbrother (2012), para ocorrer à aprendizagem motora, o professor deve dar especial atenção à individualidade do aprendiz. Considerar os aspectos idade, gênero, experiência anterior, nível de habilidade, capacidade para processar informação, peso, altura, aptidão física, motivação, habilidades mentais, lesões entre outros, para definir quais habilidades precisam ser ensinadas primeiro.

    Entra nessa esfera, conforme Mattos e Neira (2008), o professor de Educação Física que precisa oferecer uma educação integral aos seus alunos, para o seu desenvolvimento como um todo e não somente motor. Pois o desenvolvimento e a aprendizagem estão intimamente ligados dentro de um contexto cultural, ou seja, o processo de desenvolvimento é movido pelos mecanismos de aprendizado acionados externamente. Não devemos deixar apenas para as disciplinas intelectualistas a função de estimular a reflexão, pois nem sempre essas atribuem à teoria uma visão simbólica e/ou uma realidade física.

Maturação biológica

    Malina e Bouchard (2002) afirmam que, cada indivíduo tem um relógio biológico que regula o desenvolvimento de seu corpo como um todo. Para Machado e Barbanti (2007), a maturação é um processo que marca o início e o fim do desenvolvimento humano, o qual naturalmente deve ser contínuo até sua finalização na maturidade.

    O corpo de jovens que amadurecem precocemente tende a ser mesomórfico (ombros musculosos e mais largos) no caso dos meninos, ou endomórfico (quadris mais redondos e largos) no caso das meninas, ao passo que nos jovens tardiamente maduros o corpo tende a ser ectomórfico (delgados e altos). (SIMÃO, 2008).

    As crianças vão adquirindo mais equilíbrio, agilidade e coordenação a medida que vão crescendo, pois seu sistema nervoso vai se desenvolvendo. Isto indica que a prática de atividades ou habilidades podem melhorar até certo ponto, pois para o desenvolvimento integral dependerá da maturação completa do sistema nervoso, onde então ocorrem reações rápidas e movimentos habilidosos. A força é também influenciada por essa maturação (WILMORE; COSTILL; KENNEY, 2010).

    Para planejar e melhorar programas seguros e eficazes de treinamento na escola é importante entender a fisiologia do exercício relacionado ao desenvolvimento e os profissionais da área estarem informados sobre como o corpo da criança e do adolescente responde aos exercícios (RHEA, 2009; VAISBERG; MELLO, 2010). Os marcadores morfológicos, as características sexuais e a maturação esquelética podem auxiliar neste entendimento, para a utilização de exercícios adequados em aula (VAISBERG; MELLO, 2010).

Maturação sexual

    Segundo Vitolo (2008), através das mudanças biológicas determinadas pelo desencadeamento dos estímulos hormonais, se caracteriza a puberdade. Algum tempo após as primeiras modificações hormonais ocorre o aparecimento das transformações físicas da adolescência, apresentando as diferenças entre meninas e meninos, tais como o desenvolvimento das mamas, pêlos pubianos, maturação da genitália e transformações fisiológicas como o aumento dos hormônios estrogênio no sexo feminino e da testosterona no sexo masculino.

    Segundo Duarte (1993), Rhea (2009) e Gallahue e Ozmun (2005), a testosterona estimula o desenvolvimento sexual e muscular nos garotos. Pelo fato dos meninos produzirem aproximadamente dez vezes a quantidade de testosterona produzida pelas meninas, os níveis de massa muscular entre os meninos aumentam bastante durante e após a puberdade. As mulheres ganham quantidades maiores de tecido adiposo pelo o aumento do estrogênio circulante, devido a preparação da função de reprodução.

    Geralmente as meninas entram na puberdade dois anos mais cedo que os meninos. Meninas experimentam a menarca (primeira menstruação) em idades variadas. A idade da primeira menstruação é influenciada pela biologia feminina, assim como por fatores genéticos e ambientais, especialmente os nutricionais. A idade média da primeira menstruação tem declinado no último século, mas a razão dessa diminuição ainda é objeto de controvérsia (DUARTE, 1993; MATSUDO; PASCHOAL; AMANCIO, 1997; MAHAN; STUMP, 2008; SIMÃO, 2008). Meninas nascidas com pouco peso atingem a maturidade sexual ainda mais cedo e possuem estatura menor dos que os nascidos com peso normal (NATHANIELSZ, 2002).

    Nos garotos o principal indicador da puberdade é a primeira ejaculação, além do surgimento de pêlos pubianos, pêlos na face, engrossamento da voz e modificações no órgão genital (MATSUDO; PASCHOAL; AMANCIO, 1997; MALINA; BOUCHARD, 2002; GALLAHUE; OZMUN, 2005; MAHAN; STUMP, 2008; SIMÃO, 2008).

    No caso de atletas ou praticantes de exercícios físicos, a idade da menarca pode ser alterada, ocorrendo tardiamente, por motivo genético, nutricional, ambiental e por terem um percentual de gordura abaixo do normal para a menarca (DUARTE, 1993; MATSUDO; PASCHOAL; AMANCIO, 1997; GALLAHUE; OZMUN, 2005).

    Nas meninas, aproximadamente dois anos após a menarca, ocorre a maturidade sexual, representada pelo amadurecimento dos óvulos. Nos meninos, a maturidade sexual é marcada pela produção de espermatozóides vivos, por volta dos 13 a 16 anos de idade (GALLAHUE; OZMUN, 2005).

    Segundo Malina e Bouchard (2002) e Villar e Zuhi (2006), a prática de atividade física na adolescência é muito valiosa para o bom desenvolvimento, pois possibilita um equilíbrio entre os domínios físico, psicológico e social. Entretanto necessita da atenção do professor de Educação Física na época da puberdade, pois os adolescentes praticantes de atividades físicas sofrem sérios riscos de passarem por controles e avaliações incorretas, além de prescrições inadequadas de exercícios, por serem confundidos como adultos em miniatura, sendo que nessa época várias mudanças em nível de corpo interno e externo estão ocorrendo.

Maturação óssea

    Para saber o grau de maturação óssea de uma criança o método utilizado é a realização de raio x do pulso e da mão. Ao utilizar esse método dá para observar a extensão de sua ossificação que pode ser chamado de “idade óssea”. Os ossos do crânio e das mãos amadurecem mais cedo e as pernas continuam se desenvolvendo até a metade da adolescência, esse desenvolvimento é completo aos 18 anos (MALINA; BOUCHARD, 2002; SHAFFER, 2009). De acordo com Shaffer (2009) as meninas ao nascer estão 6 semanas a frente dos meninos em nível de maturidade óssea, mas aos 12 anos as meninas chegam a 2 anos a frente.

    Segundo Malina e Bouchard (2002) as crianças que adquirem maturação esquelética precocemente, tendem a ter ganhos de força e desempenho motor superiores a crianças com maturação esquelética tardia.

    Em resposta a estímulos de exercícios, há indícios de que o período mais oportuno para a deposição de tecido ósseo e força dos ossos é o da pré-puberdade, não tendo efeito sobre o comprimento. São bem variáveis as idades em que os ossos do corpo completam a ossificação, geralmente a fusão óssea começa na pré adolescência. Meninas alcançam a maturidade óssea completa alguns anos antes dos meninos (WILMORE; COSTILL; KENNEY, 2010). Por essa razão, o desempenho de um trabalho adequado dos professores de Educação Física nesse período é de sumária importância com atividades que colaborem a favor do bom desenvolvimento dos ossos.

Aspectos psicológicos da maturação

    Machado e Barbanti (2007) relatam que alterações psicológicas são fortes indícios da passagem da infância para a adolescência e mesmo a puberdade sendo a base para essa progressão não deve ser considerada sinônimo desta passagem.

    Para Mahan e Stump (2008) o crescimento físico na puberdade transforma o corpo de um adolescente para sua forma adulta, porém o desenvolvimento social e emocional é retardado. As associações entre a aparência, as ações e a forma que agem, levam os adultos a pensarem que o adolescente não está agindo de acordo com a idade. Essa rebeldia dos adolescentes é uma manifestação de busca pela independência e senso de autonomia.

    Para Shaffer (2009), geralmente as meninas passam a se preocupar muito com a aparência pelo fato de estarem crescendo e engordando, tendo uma imagem corporal negativa no período da adolescência. Mesmo tendo tamanho e medidas equilibradas podem tentar esconder suas formas utilizando-se de má postura, usando roupas largas ou fazendo dietas inviáveis. Já os meninos têm uma imagem corporal mais positiva, aceitando o aumento de peso e, muitas vezes, nem percebem as mudanças físicas que estão ocorrendo.

Aptidão física

    Dentro das áreas da atividade física e da saúde, a aptidão física é entendida como a capacidade de realizar trabalhos musculares de forma satisfatória, sendo que quando relacionada à saúde é compreendida pelas capacidades físicas: resistência cardiorrespiratória, força, resistência muscular e a flexibilidade. A aptidão física é determinada por alguns fatores como: nível habitual de atividade física, dieta e hereditariedade. Pode-se dizer que, quanto maior for o nível de atividade física no dia-a-dia de uma pessoa, melhor será a sua condição física (MATTOS; NEIRA, 2008).

    A prática regular de atividade física e a manutenção do grau apropriado de aptidão física correspondem a benefícios à saúde e prevenção de doenças (MATTOS; NEIRA, 2008; FARIAS, 2010). Para haver uma melhora na aptidão e os seus benefícios, as atividades devem ser aplicadas de acordo com a condição física, idade e gênero (FARIAS, 2010).

    Segundo Gallahue e Ozmun (2005) os profissionais de Educação Física não devem considerar as crianças como adultos em miniatura que podem desempenhar atividades estressantes, fisiológica e psicológicamente. As crianças são imaturas quanto a seu desenvolvimento, sendo necessário elaborar atividades apropriadas a seus níveis de desenvolvimento particulares.

Capacidades físicas

    Para Darido e Souza Junior (2007) as qualidades que fazem parte de nosso corpo, essenciais para uma vida ativa e saudável são denominadas de capacidades físicas. Capacidades físicas são ações musculares e processos motores que produzem qualquer movimento voluntário da musculatura esquelética associadas à formação corporal e técnica de movimento. De acordo com Barbanti (2001) e Mattos e Neira (2008) podem ser citadas como capacidades físicas: a resistência aeróbia, resistência anaeróbia, força, resistência muscular e flexibilidade.

Resistência cardiorrespiratória ou aeróbia

    Resistência cardiorrespiratória é a capacidade do corpo de suportar exercício prolongado com emprego de grandes grupos musculares. Está relacionada com o sistema cardiovascular e respiratório, nos quais os dois em conjunto têm a função de ajustar e recuperar o corpo dos esforços do exercício, podendo ser chamada também de resistência aeróbia (MATOS; NEIRA, 2008; WILMORE; COSTILL; KENNEY, 2010).

    Mattos e Neira (2008), corroborando com Villar e Zuhi (2006), afirmam que é importante a contextualização do tema de atividade aeróbia, com os jovens estudantes, pois uma boa resistência cardiorrespiratória adquirida pela atividade aeróbia freqüente é sinal de saúde, visto que melhora a irrigação do sangue, alivia a hipertensão e, diminui a freqüência cardíaca, o peso corporal, o tamanho das células adiposas e a insulina circulante além de fornecer a sensação de bem estar melhorando o estado psicológico do praticante.

Resistência anaeróbia

    A capacidade de executar uma atividade com alta intensidade e curta duração é denominada resistência anaeróbia. Os esforços anaeróbios dentro das modalidades esportivas compreendem os saltos, arremessos, lutas, velocidade. Com a variedade de trabalho anaeróbio podem ser desenvolvidas as qualidades físicas: força, resistência muscular e flexibilidade (MATTOS; NEIRA, 2008).

    As crianças têm enorme gasto energético devido a atividades explosivas praticadas no cotidiano, sendo assim a produção de energia anaeróbia é importante para o seu desenvolvimento e está presente em maiores quantidades do que a energia aeróbia, de intensidade moderada e que se estendem por períodos mais longos (MALINA; BOUCHARD; 2002; VAISBERG; MELLO, 2010).

    Como benefícios do trabalho anaeróbio há uma ação sobre a musculatura cardíaca (hipertrofia cardíaca) e obtenção de energia imediata para a contração muscular (MATTOS; NEIRA, 2008).

Força

    Segundo Mattos e Neira (2008) e Foss (2010), força é definida como a tensão que um músculo ou um grupo muscular exerce contra uma resistência em um esforço. Mattos e Neira (2008) afirmam que a força é considerada dinâmica (isotônica e/ou isocinética), quando existe um encurtamento das fibras musculares aproximando e afastando os segmentos, como, por exemplo, subir e descer escadas. E é considerada estática (isométrica), quando empregando a força não há movimento, por exemplo, ao empurrar uma parede.

    Segundo Wilmore, Costill e Kenney (2010) a força aumenta conforme ocorre ganho da massa muscular. Também, em crianças pré-púberes pode ocorrer aumento de força com treinamento de força devido a fatores neurológicos, sem necessariamente haver mudança no volume muscular. As mudanças hormonais durante a puberdade, em meninos, também colaboram para esse aumento de força.

    De acordo com Rhea (2009) embora existam pesquisas para demonstrar que pode ser utilizado com segurança e que há processos de adaptação, o treinamento de força para crianças ainda é muito discutido. Um planejamento com programas adequados são, portanto essenciais para garantir a eficiência do exercício e a segurança da criança. Os melhores exercícios de treinamento de força em crianças são com o próprio peso corporal, que podem ser benéficos pois, se aplicados corretamente desenvolvem aptidão muscular, aumentam a coordenação, o equilíbrio e a flexibilidade diminuindo o risco de lesões. Porém podem também gerar uma sobrecarga no sistema neuromuscular se utilizados em excesso, visto que, crianças precisam de um volume menor de exercícios e mais tempo para recuperação. Mattos e Neira (2008) completa o exposto por Rhea (2009) afirmando que, o professor deve propor atividades nas quais sejam utilizados os diferentes tipos de contrações musculares (isotônica, isocinética e isométrica).

Resistência muscular

    Segundo Mattos e Neira (2008) a capacidade de executar quantidades de movimentos acima de 25 repetições na ausência do oxigênio como fonte energética, é chamada de resistência muscular localizada (RML). Wilmore, Costill e Kenney (2010) complementam que a resistência muscular também é a capacidade de manter uma contração estática. Mattos e Neira (2008) ainda afirmam que para haver uma recuperação muscular suficiente é preciso ter aproximadamente 48 horas de repouso obtendo a melhora da RML.

    A RML aumenta juntamente com o aumento de força e por alterações do metrabolismo e da circulação sangüínea local (WILMORE; COSTILL; KENNEY, 2010). Segundo Mattos e Neira (2008) os benefícios que podem ocorrer com a RML são melhoria do condicionamento físico, da estética e da qualidade física. Esse contexto pode ser bem trabalhado pelo professor de Educação Física em suas aulas com um projeto de atividades de ginástica localizada, motivando seus alunos com os futuros benefícios pela prática de atividade física.

Flexibilidade

    Existem dois tipos de flexibilidade denominadas estática e dinâmica. A flexibilidade estática é a amplitude do movimento ao redor de uma articulação. A dinâmica é a oposição ou resistência de uma articulação ao movimento (FOSS; KETEYIAN 2010).

    A idade, gênero e fatores ambientais podem influenciar a flexibilidade. Conforme o indivíduo envelhece, seus músculos, tendões e tecido conjuntivo tendem a encurtar, ocorrendo a calcificação de algumas cartilagens, diminuindo assim a amplitude de movimento (ACKLAND et al., 2011). Embora a flexibilidade tenda a diminuir com a idade, a perda parece ser minimizada para aqueles que se mantém ativos. Outros fatores que podem afetar a flexibilidade em um individuo são peso corporal, proporção corporal, lateralidade dominante, aquecimento, atividades e hora do dia (ALTER, 2001).

    Anatomicamente, para Alter (2001) e Malina e Bouchard (2002) as mulheres têm um corpo com maior amplitude de flexibilidade em todas as idades, devido as diferenças pélvicas entre homens e mulheres, sendo mais aparente essa diferença durante o período do estirão do crescimento e da maturação sexual.

    Segundo Foss e Keteyian (2010) para a realização de certas tarefas a flexibilidade é muito importante, inclusive para a saúde em geral e aptidão física. Os atletas que possuem um grau satisfatório de flexibilidade têm menos riscos de lesões musculares. Sendo os exercícios de alongamento, os melhores exercícios para adquirir flexibilidade.

    Segundo Mattos e Neira (2008) os alongamentos podem ser feitos independente da idade ou da flexibilidade, pode ser aplicado respeitando as diferenças individuais, podendo ser praticado a qualquer hora. Além de serem agradáveis no cotidiano podem atingir os seguintes benefícios: prevenção de lesões, preparação para atividades, desenvolvimento da consciência corporal, ativa a circulação, reduz tensões musculares e benefícios para coordenação motora. Na escola é recomendado que o professor de Educação Física aplique exercícios de alongamento até na mesma na sala de aula.

Educação Física Escolar

    Conforme Darido (2008), para disseminar a raiz tecnicista, esportivista e biologista, em meados de 1970, várias abordagens com relação à Educação Física escolar surgem, nos quais várias ainda atuam e tem em comum o dissabor a esta Educação Física mecanicista.

    Galatti e Paes (2006) relatam que nos dias atuais a Educação Física está com um abrangente leque de opções de abordagens pedagógicas para a metodologia escolar. De acordo com Darido (2008) dessas opções, as mais utilizadas pelo do professor de Educação Física são a abordagem desenvolvimentista direcionada para crianças de 4 a 14 anos, proposta por Go Tani em 1988 no qual defende que o movimento é o principal meio e fim, ou seja, a as aulas de Educação Física priorizam a aprendizagem do movimento através de atividades diversificadas e complexas.

    Com intuito da Educação Física Escolar expressar seus objetivos, conteúdos, metodologias de ensino e processo de avaliação, o professor de Educação Física deve ampliar seu conteúdo. Deixar de transmitir conteúdos da cultura (esportes, danças, lutas, jogos, entre outros) apenas como técnicas corporais e utilizar essas ferramentas para que os alunos compreendam seu corpo (seu desenvolvimento físico e sua maturação biológica), e suas formas de expressão. Pois as experiências motoras vividas na infância proporcionam aprendizagens principalmente relacionadas às descobertas corporais e aos usos que se pode fazer do corpo nas diferentes situações e contextos sociais (MELO, 2006).

    Mattos e Neira (2008) defendem que devido a grande incidência de adolescentes obesos e com possibilidades de problemas cardiovasculares, deve-se rever a educação voltada à aptidão física e saúde. Mas a elaboração de aulas voltadas ao condicionamento físico não determinam a solução dos milhares de questionamentos com relação às aulas de Educação Física escolar, pois a sociedade esta mais ativa, participativa, questionadora, conhecedora dos seus direitos, contando diariamente com os meios de comunicação para ficarem informados de tudo o que acontece no mundo, o desafio do educador de preparar aulas coerentes e envolventes é enorme. Daí a importância de desenvolver este trabalho, buscando na literatura evidências de como o professor de Educação Física pode produzir aulas eficazes e eficientes dentro do planejamento escolar.

Professor

    De acordo com Freitas e Costa (2000) devido a Educação Física representar o movimento corporal, dá ao professor de Educação Física autonomia de aprendizagem e criação, tornando isso um diferencial diante das outras disciplinas. Cabe ao professor de Educação Física procurar explorar todas as possibilidades de aprendizado que o movimento corporal oferece, além de criar a expectativa do aluno de buscar maiores conhecimentos sobre suas posturas corporais, pois as aulas de Educação Física são um momento privilegiado para novas experiências motoras.

    Segundo Fairbrother (2012) o professor de Educação Física deve, sempre que possível estabelecer metas de aprendizagem com o aluno, pois quando o aluno é envolvido nesse processo, aumenta sua motivação para a prática. Deve-se definir metas de curto e longo prazo,que foquem no progresso do aluno, ao invés de estabelecer metas que o aluno ainda não possa atingir, ou seja, um reforço negativo. Para atingir este objetivo, Fairbrother (2012), em acordo com Rhea (2009) salienta a importância da utilização de demonstrações para auxiliar a instrução da atividade, sugerindo ainda a utilização de vídeos. As instruções devem ser objetivas e breves, correspondendo às ações específicas que o aluno deve fazer.

    De acordo com Mattos e Neira (2008) cabe ao professor de Educação Física no ensino fundamental fornecer ao aluno todo o acervo de linguagem corporal através do esporte, das lutas, das ginásticas e das atividades rítmicas para que no ensino médio ocorra a continuação desses aprendizados através de gestos e movimentos, táticas e técnicas aperfeiçoadas. Caracterizando a necessidade de saberem fazer uma leitura do mundo, entendendo e compreendendo o movimento, que ao assistir a um jogo, por exemplo, sejam capazes de compreender e interpretar aquilo que está sendo mostrado, preparando assim esses jovens para a inclusão no mercado de trabalho como cidadãos autônomos, participativos, críticos e formadores de opinião.

    Alicerçado nos conceitos que já foram visto em relação ao desenvolvimento do individuo, não é recomendado se ater apenas aos aspectos biológicos do crescimento e da maturação. Nesse sentido, os aspectos decorrentes em relações com o meio ambiente e as experiências vivenciadas pelo individuo, devem ser um aspecto considerado. Com isso em mente, o ensino deve se associar com as funções filogenéticas (evolução humana), onde o desenvolvimento depende da maturação e com as funções ontongenéticas (vivências), onde o desenvolvimento depende das experiências vividas pelo individuo (GUEDES; GUEDES, 2000).

Considerações finais

    Com objetivo de identificar quais estratégias o professor deve tomar ao entrar no ambiente escolar e trabalhar com crianças em diversos estágios maturacionais, realizou-se revisão literária dos principais estudos relacionados à maturação biológica e Educação Física escolar.

    O professor deve estar atento ao fato de que crianças com maturação precoce tendem a serem maiores do que as de maturação tardia, e ter melhor desempenho em atividades físicas.

    O desenvolvimento motor ocorre em crianças e adolescentes em ritmos diferentes, fortemente influenciados pela maturação de suas estruturas biológicas, fisiológicas, cognitivas e sexuais. O professor deve oferecer sempre novos estímulos para que o aluno possa desenvolver suas capacidades motoras da melhor maneira possível.

    Apesar de não ser complexo obter informações específicas quanto às características do crescimento, composição corporal e desempenho motor, há dificuldade em fazer um melhor acompanhamento dos indivíduos, havendo uma análise superficial, sem continuidade adequada.

    Mesmo sabendo que o programa pedagógico da Educação Física nas escolas acompanham os alunos desde a sua iniciação nas primeiras séries até o final da escolarização, o problema está no desencorajamento de novas propostas de programas alternativos para essa área, como estudos longitudinais visando o acompanhamento do desenvolvimento e maturação do jovem, que envolvam a Educação Física escolar com o âmbito maturacional da criança e do adolescente, pois toda a literatura encontrada relacionada à educação se prende apenas na pedagogia e na didática de ensino.

Referências

Outros artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
Búsqueda personalizada

EFDeportes.com, Revista Digital · Año 18 · N° 185 | Buenos Aires, Octubre de 2013
© 1997-2013 Derechos reservados