A cidade e suas influências no ser humano La ciudad y sus influencias en el ser humano |
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*Mestre em Desenvolvimento Social pela Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes **Especialista em Enfermagem em Cardiologia e Docência do Ensino Superior pela Faculdade de Saúde e Desenvolvimento Humano Santo Agostinho de Montes Claros. Especialista em Saúde Pública pelas FIP-Moc ***Especialista em Docência do Ensino Superior pelo Instituto Superior de Educação – ISEIB, Certificação Green Belt (com ênfase em Estatística Descritiva e Inferencial – Metodologia “Seis Sigma”) |
Máximo Alessandro Mendes Ottoni* Ricardo Soares de Oliveira** Soraya Cavalcante Nunes Ottoni*** (Brasil) |
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Resumo Definir os termos cidade e urbano não é algo tão simples, pois existem diferentes estudos cujas opiniões divergem nesse sentido. O que se pretende neste trabalho é apresentar algumas características peculiares da cidade e do cidadão urbano, principalmente àquelas ligadas às grandes metrópoles, e que são moldadas e transformadas ao longo do tempo. Unitermos: Cidade. Urbanização. Influência.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 185, Octubre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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1. Introdução
O conceito de cidade, conforme Weber (1921), diz tratar-se de um local com alto grau de autonomia, onde a maioria dos habitantes sobreviveria da indústria e do comércio, e não da agricultura. Na definição de urbano, Wirth (1938) diz que somente o tamanho da comunidade não é capaz de defini-la como urbana. Porém, na definição de recenseamento, a cidade urbana seria uma comunidade com 2.500 habitantes ou mais, as demais, seriam consideradas como rural.
As características inerentes à cidade urbana moderna são mais facilmente percebidas nas grandes metrópoles, onde Wirth (1938) coloca que tais localidades influenciam nas idéias e práticas civilizatórias sendo, ao mesmo tempo, local de moradia e trabalho, controle econômico, político e cultural. O que não significa que essa “cidade moderna” seja totalmente distinta, visto que o processo urbanizatório trouxe o homem do campo para a cidade, juntamente com a sua cultura e costumes. Então, nos grandes centros, quanto mais habitada e heterogênea for a cidade, mais características do urbanismo essa terá, o que a torna em um pólo atrativo de pessoas oriundas de cidades menores, do campo, e até de outros países. Toda essa “mistura” seria responsável pelas transformações das culturas que, somadas a outros fatores, geram diversas questões sociais.
2. Desenvolvimento
Castells (1983) descreve que a sociedade urbana seria como um processo evolutivo, onde viria primeiro a sociedade agrária, posteriormente a industrial e, por fim, a sociedade urbana. Essa sociedade urbana teria um traço marcante: a liberdade. Tal liberdade, junto com as culturas diferentes que se incorporam, proporcionaria às cidades não a criação de algo novo, mas uma centralidade de criação, permitindo o surgimento de novas culturas. Singer (1973) comenta que essa aglomeração de culturas e pessoas permite uma maior divisão do trabalho, e a industrialização seria responsável por uma grande variedade de novos serviços.
Com a oferta de serviços, um bom número de migrantes são absorvidos pelo mercado de trabalho, mas ainda a oferta de força de trabalho é superior a demanda de empregos, o que faz com que o crescimento do salário real seja inferior à produtividade, ficando a maior parte dos lucros da produção com os donos do capital, e não distribuídos de forma eqüitativa.
Para Schwartzman (2004), no Brasil, por exemplo, existe uma economia moderna de um lado e, de outro, milhões de excluídos. Algumas correntes, segundo Singer (1973), acreditam que o processo migratório foi o responsável pela marginalização das cidades, mas que essa força de trabalho excedente é importante para a manutenção do sistema capitalista nos países desenvolvidos e nos países em desenvolvimento. Dessa exclusão, surgem comunidades no meio urbano, como as favelas, na qual consomem uma quantidade pequena de bens oriundos da economia.
Sobre o crescimento desequilibrado das cidades, Gouvêa (2002) expõe que um dos problemas é a falta de planejamento e, quanto mais afastados estão os bairros e distritos periféricos dos grandes centros, menores serão os investimentos sociais, culturais e econômicos. Uma possível solução para essa questão seria proporcionar maior autonomia para essas regiões marginalizadas, para que se possa ofertar melhor qualidade de vida aos seus moradores.
O autor comenta também que existe um congestionamento crônico nas cidades. Tal congestionamento seria gerador de um alto custo econômico e social, produzindo baixa qualidade de vida à população. A concentração de investimentos nos grandes centros seria também uma estratégia política de gestores públicos, pois essa medida serviria para que se tornem mais visíveis as obras e ações dos dirigentes.
Singer (1973) complementa, dizendo que a cidade é a sede do poder dominante, onde há tomada de decisões, criação de leis, surgimento de novas tecnologias e tendências dentre outros. Mas tal “poder” não é auto-suficiente, pois o urbano depende do campo para a aquisição de alimentos. Haveria então uma troca de produtos rurais por produtos oriundos das cidades.
Referindo-se às relações sociais nos grandes centros, percebe-se que a solidariedade familiar, os vínculos de parentesco, de urbanidade e sentimentos comunitários são pouco visíveis (WIRTH, 1967). Para Singer (1973), esses laços são de fundamental importância para a vinda e integração do migrante à economia e à sociedade, pois são os seus conterrâneos que, muitas vezes, acolhem e encaminham essas pessoas ao mercado de trabalho.
De acordo com Simmel (1987), as constantes mudanças e o ritmo acelerado das grandes metrópoles provocam profundas mudanças nos seres humanos, como a especialização, a mudança de hábitos e costumes, as mudanças psicológicas, dentre outras. O mecanismo de proteção utilizado pelo morador das metrópoles seria tornar-se um ser mais “frio”, reagindo com a cabeça, e não com o coração.
O autor comenta que essa atitude intelectual transformaria o ser da cidade em algo lógico, com relações emocionais menos calorosas, tornando as relações afetivas em relações racionais. Como o dinheiro é o que move a metrópole, a mente desses cidadãos também se tornaria mais calculista e precisa, devido ao grande número e variedade de tarefas, que exige grande pontualidade.
Com essa infinidade de tarefas do cidadão urbano, há também uma variedade de serviços, em que a grande concentração de pessoas leva a um exército de reserva, passando esse indivíduo a necessitar de uma especialização cada vez maior, para que não possa ser facilmente substituído. Essa especialização, quase que forçada, faz com que, em alguns casos, a própria personalidade do ser desapareça, juntamente com os seus valores, espiritualidade e subjetividade, tornando-se então um ser altamente objetivo, individualista e calculista.
Egler (1998) comenta que a evolução da sociedade do trabalho a transforma em sociedade da comunicação, onde o espaço é alterado. As redes substituem edifícios por informação eletrônica, eliminando a importância da localização e reduzindo as necessidades espaciais.
Alguns exemplos dessa transformação seria que as pessoas podem trabalhar, acessar os serviços bancários e conversar com pessoas de outros países sem sair de casa. Mas tal tecnologia exige equipamentos e acesso, o que não é possível financeiramente a todas as pessoas. Então, o sistema informatizado geraria um novo tipo de exclusão: a exclusão digital.
Além da exclusão digital, novos problemas da “modernidade” seriam criados, como o monitoramento dos funcionários no uso das redes em empresas, provocando uma invasão da privacidade; os vírus que circulam pela Internet e provocam os mais diversos danos; os crackers que roubam senhas de cartões de crédito; as doenças provocadas pela utilização excessiva de computadores, dentre outros. (CASTELLS, 2003).
Autores dizem que a Internet é acusada de isolar o ser em comunidades virtuais, longe da convivência familiar e social, induzindo pessoas às fantasias distantes da realidade. Mas também é descrito que a comunicação por computador reforça a amizade entre as pessoas de status mais elevado. A Internet, os e-mails, as redes sociais e os telefonemas também seriam responsáveis por aumentar a interação e os contatos sociais.
Castells (2003) diz que usuários da Internet tendem a freqüentar mais eventos relacionados com a arte, apreciar mais literatura, filmes, além de assistir e praticar mais esportes que aqueles que não são usuários da Internet. Tais pessoas têm mais laços sociais fortes e fracos, além de maior conhecimento dentro e fora do bairro, em relação aos não usuários da Internet. Mas o autor reconhece que a Internet contribui para um novo formato de sociabilidade individualista, baseada em comunidades e rede, sendo mediada por computador.
Sobre a violência urbana, Sena et al (2013) comenta que há um crescimento desenfreado no Brasil, sendo que os centros urbanos são locais propícios para isso. Tal questão pode desencadear problemas de saúde mental e emocional, chegando, em casos mais críticos, ao desenvolvimento do Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), que é um transtorno de ansiedade intensa, causado por trauma vivenciado e lembranças dolorosas dos eventos ocorridos.
A autora diz ainda que, devido aos altos índices de violência verificados nos grandes centros urbanos, o medo está sempre presente na vida das pessoas. Traumas sofridos e não superados, quando manifestado por um tempo mais longo, pode ocasionar doenças mais graves, comprometendo a qualidade de vida.
Essa violência reflete diretamente na vida das pessoas e nos seus hábitos e costumes, principalmente nos grandes centros, pois muitas delas tomam precauções, como evitar certos locais em horários noturnos; utilização de cercas elétricas e câmeras de segurança nas casas e prédios residenciais; evitar locais aglomerados ou regiões ermas; não falar com estranhos, dentre outras.
Muitos autores também citam outras questões que são peculiares dos grandes centros urbanos, como a poluição; a carência de assistência hospitalar; o transporte coletivo precário; os engarrafamentos de trânsito; o desemprego; o uso de drogas ilícitas. Todos esses problemas, assim como tantos outros, são comuns nos grandes centros urbanos, e variam conforme os países ou regiões nas quais as cidades se encontram.
3. Considerações finais
Em suma, as grandes cidades, em especial as metrópoles, têm grande participação nas mudanças ocorridas nas pessoas, a começar pela mudança de localidade, quando o homem sai do campo e vai para a cidade, ocasionando uma mistura de culturas. Esse homem entra em contato com a marginalização, com o desemprego, e com um sistema de trabalho totalmente diferenciado, onde os laços afetivos e de parentescos são menos visíveis. Esse sistema exige uma grande especialização do trabalho, o que faz com que o ser precise se tornar racional e lógico, para que consiga se sobressair e sobrevier em meio ao elevado contingente populacional.
A transformação da sociedade do trabalho em sociedade da comunicação é como um processo evolutivo que, novamente, interfere na configuração do trabalho e nas relações sociais. As distâncias são alteradas e as necessidades espaciais reduzidas devido ao uso das redes informatizadas. Nessa comunicação virtual, muitos são excluídos por não terem acesso ao sistema, mas aqueles que estão inseridos são transformados por uma nova realidade, onde trabalhos, amizades e relações sociais são, muitas vezes, intermediados pela tecnologia de informação.
O medo também é uma constante em muitos dos grandes centros. A preocupação excessiva com a segurança e com a vida urbana, juntamente com os traumas vividos, provocam mudanças nos hábitos e costumes dos citadinos e, muitas vezes, são responsáveis por uma infinidade de doenças.
Referências
CASTELLS, M. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003.
CASTELLS, M. A questão urbana. [Tradução de: Arlete Caetano]. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
EGLER, T. T. C. Ciberespaço: novas formas de interação social. Sociedade e Estado, v. XIII, n.1, 1998.
Gouvêa, I. A Civilização Urbana e seus Problemas. Revista Assentamentos Humanos, Marília, v. 4, n. 1, p. 11-16, 2002.
SCHWARTZMAN, S. As causas da pobreza. Rio de Janeiro, Editora da Fundação Getúlio Vargas, 2004.
SENA, J. A., et al. O transtorno de estresse pós-traumático e a violência urbana. Cadernos de Graduação - Ciências Biológicas e da Saúde Fits. Maceió, v. 1, n. 2. p. 21-33, 2013.
SIMMEL. G. A Metrópole e a Vida Mental. In: VELHO, O. G. (org.) O fenômeno urbano. Ed. Guanabara, Rio de Janeiro,1987.
SINGER, P. Economia política da urbanização. Editora Brasiliense e CEBRAP. São Paulo: 1973.
WEBER, M. Conceito e categorias da cidade. In: VELHO, O.G. (org). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1967.
WIRTH, L. O urbanismo como modo de vida. In: VELHO, O.G. (org). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 1967.
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