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Treinamento resistido e o controle da obesidade: uma revisão sistemática

Entrenamiento resistido y control de la obesidad: una revisión sistemática

 

*Graduado em Licenciatura Plena em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina

Especialista em Fisiologia do Exercício: Prescrição de Exercício pela Universidade Gama Filho

**Especialista em Musculação e Condicionamento Físico pela Universidade Gama Filho

***Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva. Aluno do Mestrado Acadêmico

da Universidade Federal de Santa Catarina

Paulo Sérgio Cardoso da Silva* ***

paulinho_ppp@hotmail.com

Tiago Rodrigues de Lima* **

tiagopersonaltrainer@gmail.com

(Brasil)

 

 

 

 

Resumo

          A obesidade vem ganhando nas últimas décadas grande relevância dentre os problemas de saúde pública, atingindo tanto os países emergentes quanto os desenvolvidos. Visando o controle desta epidemia, a atividade física apresenta-se como um opção viável e saudável ao indivíduo, e vêm desmistificando novas metodologias de treinamento para a otimização destes resultados, dentre as quais encontra-se o treinamento resistido. O objetivo deste artigo é verificar as influências da metodologia do treinamento resistido sobre a obesidade. Esta revisão contemplou as publicações contidas nas bases de dados Pubmed, Scielo e Google Acadêmico, utilizando como chave de busca a combinação dos descritores "obesity", "resistance trainning", "weight loss" e "physical exertion", com suas transcrições para o idioma português e espanhol. Verificou-se que na maioria dos estudos que utilizavam o treinamento resistido como metodologia para a perda de peso, foi observado o aumento da massa magra, o aumento de força e a baixa no percentual de gordura, este último possivelmente decorrente do Excess Post Exercise Oxygen Consumption (EPOC). Contudo, esta revisão mostrou que a aplicação do treinamento resistido junto com outros tratamentos e metodologias pode ser benéfica para o controle desta epidemia, entretanto, faz-se necessárias mais publicações referenciando esta associação.

          Unitermos: Obesidade. Treinamento de resistência. Perda de peso. Esforço físico.

 

 
EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/

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Introdução

    O excesso de peso ou sobrepeso apresentado por grande parte da população mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS)39 é tido como um problema de saúde pública que pode acarretar inúmeras conseqüências de caráter físico, psicológico e social, sendo associada a um grande número de patologias não transmissíveis. Um dos grandes fatores para a alta incidência desta epidemia na população é a falta de atividade física24. Inatividade física relacionada ao baixo condicionamento físico tem sido considerado como fatores de risco para mortalidade prematura tão importantes quanto o fumo, a hipertensão arterial e a dislipidemia8. Para evitar o crescimento da obesidade, faz-se necessária adotar medidas profiláticas4.

    O treino de força ou treino resistido tem sido utilizado em larga escala no combate ao controle do peso corporal. Seus resultados apresentam-se positivos a saúde, favorecendo a manutenção do balanço energético favorável (imprescindível para a diminuição de peso e importante para melhora da composição corporal) e a preservação da massa magra quando da perda de peso15,30.

    Várias outras vantagens podem ser obtidas através da prática regular de exercício físico resistido, dentre elas o gasto calórico no momento da atividade; o aumento de massa muscular; a diminuição do percentual de gordura e a aumento nos níveis do Excess Post Exercise Oxygen Consumption (EPOC)10.

    Dessa forma, o objetivo do presente artigo é verificar qual a influência da metodologia do treinamento resistido sobre o controle da obesidade nos estudos contidos nas bases de dados Pubmed, Scielo e Google Acadêmico.

Metodologia

    Nesta revisão contemplou-se a análise das publicações contidas nas bases de dados Pubmed, Scielo e Google Acadêmico, utilizando como chave de busca a combinação dos descritores "obesity", "resistance trainning", "weight loss" e "physical exertion", com suas transcrições para o idioma português e espanhol. Todos os descritores estavam presentes no vocabulário controlado DeCS, adotado pela LILACS. Deu-se preferência para os estudos publicados nos últimos dez anos, sendo incluídos dois estudos anteriores a este marco temporal devido a sua relevância na temática abordada. Foram excluídos da análise artigos científicos que tratavam de outras metodologias de treinamento, que não a resistida. Totalizou-se, contudo, 11 artigos que relacionavam o treinamento resistido com o perfil lipídico e/ou perda de peso, expressas no Quadro1. Outras referências foram utilizadas como suporte aos conceitos relativos ao tema desta revisão.

Resultados e discussão

Gasto energético e treinamento resistido

    O Gasto Energético Total (GET) corresponde ao gasto diário e é composto de três componentes: Taxa Metabólica de Repouso (TMR), Termogênese Induzida pela Dieta (TID) e Atividade Física (AF). A AF é o componente mais variável do GET, podendo ser aumentada em dez vezes em relação à taxa metabólica de repouso. A TMR é o custo energético para manter os sistemas funcionando no repouso, sendo o maior componente do gasto energético diário (60 a 80% do total)11. A TMR é afetada por diversos fatores, dentre eles o sexo, a idade, o estado nutricional e endócrino, e a composição corporal do indivíduo22.

    A intervenção via treinamento resistido, visa gerar aumentos na AF e na TMR. A AF aumenta de acordo com a própria atividade física praticada, seu volume e intensidade de treinamento. A TMR aumenta logo após a atividade, com o aumento dos níveis de catecolaminas, aumento da oxidação dos substratos e estimulação de síntese protéica. Esse efeito pode vir a durar de 3 horas a 3 dias de acordo com o tipo, duração e intensidade de exercício executado19,25,33.

    Através do treinamento resistido obtêm-se modificações agudas e crônicas no GET. As modificações agudas provêm do próprio gasto energético durante a atividade física e durante sua recuperação. Já as modificações crônicas são oriundas das alterações na TMR. O que possibilita essa alteração na TMR é o ganho de massa magra. A mensuração do GET durante o treinamento resistido encontra sua maior dificuldade no fato de que não há uma padronização nos protocolos de treinamento utilizados, bem como não se consideram os gastos energéticos pós exercício, o que dificulta a comparação entre treinamento resistido e aeróbio por exemplo16,26.

    Os exercícios resistidos proporcionam um gasto energético considerável após seu término, denominado EPOC (Excess Post Exercise Oxygen Consumption). O EPOC pode ter duração de 1 a 15 horas após o término da atividade7,38.

    A relação do EPOC, proporcionado pelo treinamento resistido, com a obesidade se dá pela perda de peso corporal, obtida através da atividade de alta intensidade. Esta gera maior ativação do sistema nervoso simpático, aumentando o metabolismo lipídico de repouso, uma vez que o substrato energético prevalente durante o exercício é o glicogênio16,19,38. Contudo, entende-se que, para o controle da obesidade, a atividade de alta intensidade facilite a oxidação lipídica o que resultará em melhor composição corporal. Essa melhora se dá através de uma melhor relação entre a massa magra e a energia gasta durante a execução da atividade, que contribui para a o aumento na GET do indivíduo, otimizando a perda de peso corporal adiposo16,27.

    Até 1998, o American College of Sports Medicine (ACSM)3 preconizava que um maior volume de treinamento era mais eficiente para o emagrecimento. Em 2001, o ACSM2 publicou um novo posicionamento sobre estratégias eficientes para a perda de peso e manutenção do peso ideal, considerando o treinamento resistido como uma importante ferramenta, em função do EPOC.

    A atividade contra resistência pode causar maior impacto sobre o EPOC durante sua recuperação devido aos componentes curtos que consideram a restauração dos estoques de ATP e fosfocreatina muscular; o restabelecimento do estoque de oxigênio sanguíneo e muscular; o aumento da FC e temperatura; os danos nos tecidos; a remoção do lactato e a alta atividade do sistema nervoso simpático. Nos componentes longos encontramos a ativação do metabolismo anaeróbio durante o exercício e a liberação dos hormônios: GH e cortisona27.

    Em um estudo de Burleson et al.9, que visava comparar o comportamento do EPOC entre a atividade aeróbia e anaeróbia com treinamento resistido, percebeu-se que na atividade aeróbia a duração do EPOC atingiu 30 minutos enquanto na anaeróbia a duração foi em torno de 90 minutos.

    Além dos benefícios do treinamento resistido no GET através do AF e TMR, Denzel e Young12 observaram influência sobre o TID. Em seu estudo, os indivíduos foram submetidos a uma única sessão de treino resistido e foi observado um aumento no TID de 73% do grupo exercitado em relação ao grupo controle. Apesar de parecer, pequena essa contribuição (33 kj/h) para o GET, deve-se considerá-la no controle ponderal, já que ao ser combinada com os outros benefícios do treinamento resistido, contribui para o aumento do GET, fundamental para a reversão do quadro de obesidade.

Treinamento de resistido e a obesidade

    Tanto o exercício resistido quanto o aeróbio promovem benefícios substanciais em fatores relacionados à saúde e ao condicionamento físico, incluindo a maioria dos fatores de risco da síndrome metabólica13,32.

    O exercício resistido é um potente estímulo para aumentar a massa, força e potência muscular, podendo ajudar a preservar a musculatura, que tende a diminuir devido à dieta, maximizando a redução de gordura corporal23. Além disso, seu potencial em melhorar a força e resistência muscular pode ser especialmente benéfico para as tarefas do cotidiano, podendo facilitar a adoção de um estilo de vida mais ativo em indivíduos obesos sedentários2.

    De acordo com um posicionamento do ACSM2, o treinamento resistido ou treinamento de força vêm sendo cada vez mais usado em programas de condicionamento físico para adultos, pois vêm a promover inúmeros benefícios à saúde. Muitos estudos indicam que a melhora dos níveis de força muscular diminuem a prevalência de sintomas da síndrome metabólica, ao qual a obesidade está inserida20.

    Segundo o ACSM3, ao prescrever-se o treinamento resistido, obtém-se uma valiosa ferramenta para o tratamento da obesidade. Isso ocorre porque o treinamento resistido promove o aumento da força e resistência muscular localizada, melhorando a qualidade de vida do indivíduo1,21.

    O ACSM1 preconiza, em outro posicionamento, que o treinamento resistido em adultos jovens deve seguir uma progressão gradual, onde devem haver um seqüenciamento da execução de exercícios de modo a utilizar-se inicialmente os exercícios multiarticulares e posteriormente os monoarticulares. Quanto à intensidade, defendeu os de maior intensidade antes dos de menor intensidade.

    Ao tratar no nível de cada indivíduo, a literatura sugere que as cargas de treinamento para os iniciantes tenham uma intensidade correspondente a 8-12 repetições máximas (RM), de 50 a 70% da carga máxima (13 a 15 na escala de Borg), realizadas com oito a 10 exercícios que trabalhem todos os grandes grupos musculares. Nos indivíduos idosos (50 a 60 anos) esse início se dá com repetições entre 10 a 15 RM. Para os indivíduos intermediários e avançados as repetições variam entre 1-12 RM de forma periodizada, sendo ainda enfatizada maiores intensidades de treinamento (1-6 RM), com um descanso médio de 3 minutos e velocidades moderadas de contração (1-2 segundos na fase concêntrica e 1-2 segundos na fase excêntrica da contração muscular). A freqüência de treinamento para iniciantes e intermediários deve ser de 2-3 vezes e para avançados de 4-5 vezes semanais com um dia de descanso no meio da semana1,11,14,16,39.

    A realização de maior número de séries (duas a três) elevará o gasto energético da sessão de exercício, podendo aumentar o benefício da atividade para indivíduos com obesidade e síndrome metabólica. Com isso, recomenda-se que iniciem com uma série e, após adaptação, aumentem para duas e posteriormente três séries11. Esse aumento no volume influenciará no aumento da TMR, sugerindo um maior gasto calórico16,38.

    Verificando estudos de intervenção que relacionaram o treinamento resistido com a composição corporal, desenvolveu-se o quadro 1, que apresenta a amostra em cada estudo, seguido da duração da intervenção, o método avaliativo usado e o efeito da intervenção.

Quadro 1. Estudos relacionando treinamento resistido com perda de peso

Autor / Ano / Revista

Amostra

Duração da intervenção / Avaliação

Efeito da intervenção

SANTOS et al. 36, 2002.
Revista Brasileira de Ciências e Movimento.

16 homens entre 20 e 25 anos

12 semanas; composição corporal

Aumento do peso corporal e da massa magra. Não houve diminuição de gordura corporal.

SCHMITZ et al. 37, 2003.
International Journal of Obesity

60 mulheres entre 30 e 50 anos

6 meses; avaliação da
composição corporal e
Peso corporal

Baixa significativa no percentual de gordura corporal e aumento de massa magra.

POLITO et al. 31, 2010.
Revista Brasileira de Medicina do Esporte.

14 homens

12 semanas; composição corporal e exame sanguíneo.

Aumento de forca e diminuição no ∑ das dobras cutâneas.

NASCIMENTO29, 2004.
Boletim Educação Física

13 homens com mais de 50 anos de idade

12 semanas; peso gordo pré
e pós-treinamento

Diminuição significativa no peso gordo pós-treinamento em relação ao peso gordo pré-treinamento

PRABHAKARAN et al. 34, 1999.
British Journal Sports Medicine.

24 mulheres, entre 20 e 34
anos.

14 semanas; avaliação da
composição corporal e exames de sangue.

Baixa significativa no percentual de gordura.

PRADA et al. 35, 2009.
Educação Física em Revista.

12 mulheres entre 60 e 74 anos

8 semanas; avaliação da composição corporal.

Não houve redução significativa no percentual de gordura corporal dos participantes do estudo.

MOURA; LUNARDI; ZINN28, 2004.
Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano.

9 homens entre 17 e 26 anos

3 dias; peso hidrostático,
densidade corporal e
% de gordura

Treinamento resistido com pesos não altera de forma aguda o peso hidrostático (PH), densidade corporal (DC) e percentual de gordura (%G).

BATISTA; BARBOSA6, 2006.
Movimentum - Revista Digital de Educação Física.

24 homens entre 18 e 30 anos

10 semanas; avaliação antropométrica.

Treinamento com pesos contribui de forma positiva na redução de percentual de gordura corporal e aumento da massa magra.

BALLOR et al. 5, 1988.
American Journal Clinic and Nutrition.

40 mulheres entre 31 e 35 anos

8 semanas; composição corporal, peso corporal e radiografia de membros superiores.

A adição de exercício resistido a um programa de restrição calórica e’ mais efetivo do que quando comparado apenas a dieta.

HUNTER et al. 17, 2002.
Medicine Science Sports Exercise

26 indivíduos, entre 61 e 77 anos, sendo 12 do sexo feminino e 14 do sexo masculino.

25 semanas; tomografia computadorizada, análise de tecido abdominal subcutâneo e densitometria óssea.

Diminuição significativa de tecido adiposo nas mulheres submetidas ao treinamento resistido.

IBANEZ; IZQUIERDOM; ARGUELLES18, 2005.
Diabetes Care.

9 homens,entre 63 e 69 anos

16 semanas; tomografia computadorizada.

Diminuição da gordura corporal.

    Após uma breve meta-análise, identificou-se nos estudos relacionados no quadro 1 um “n” total de 247 indivíduos, sendo destes, 90 homens (36,4%) e 157 mulheres (63,6%). A média de duração das intervenções (considerando que um mês tem 4 semanas), foi de 101 dias, ou seja 14,4 semanas de duração. Utilizaram-se várias ferramentas e procedimentos para aferição e coleta dos dados, dentre eles: avaliação antropométrica (n=9), peso hidrostático (n=1), exames de sangue e lactato (n=2), tomografia computadorizada (n=2), radiografia (n=1) e análise de tecido (n=1).

    Os resultados obtidos foram na maioria dos estudos: o aumento da massa magra, proveniente do trabalho muscular oferecido pela metodologia de treinamento em questão; o aumento de força, proveniente da adaptação neuromuscular e da própria hipertrofia e a baixa no percentual de gordura, em função do gasto energético durante a atividade e ao EPOC, exceção feita à 3 estudos que não obtiveram redução significativa nesses índices. Houve ainda uma melhora no gasto calórico do indivíduo, quando comparado apenas à dieta. Os gastos energéticos oriundos do aumento da TMB não foram apontados possivelmente em função do curto período de intervenção. Dois estudos tiveram maior duração (25 e 28 semanas), mas não mensuraram esses índices.

Conclusões

    Embora ainda não definitivamente consolidado, a aplicação do treinamento resistido junto com outros tratamentos e metodologias pode ser benéfico para o controle da epidemia da obesidade. Diante da relevância do tema e dos desafios ao tratamento desta doença, a prática regular de atividade física por meio do treino resistido, popularmente conhecido como musculação, representa uma intervenção não farmacológica e benéfica para estes pacientes trazendo inúmeras vantagens.

    Dentre os benefícios no controle da obesidade tem-se o aumento do gasto calórico, seja durante o exercício (AF), logo após (EPOC), ou muito após (aumentos na TMB). Os estudos relataram, além disso, aumentos na massa magra, nos índices de força e boa associação com outras metodologias como as dietas.

    Contudo há a necessidade de novos estudos controlados para se aferir com mais precisão quais índices são atingidos na aplicação dessa intervenção aos pacientes obesos e com que intensidade isso se dá. Inclui-se nessa precisão a capacidade de podermos diferenciar as calorias gastas em cada um dos mecanismos descritos: atividade física; excess post exercise oxigen consumption (EPOC) e taxa metabólica basal (TMB). Além disso, sugere-se mais estudos evidenciando a associação do treinamento de força no controle da obesidade.

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