Sofrimento psíquico em mulheres brasileiras: uma revisão integrativa Sufrimiento psíquico en mujeres brasileñas: una revisión integrativa Psychic in women Brazilians suffering: an integrative review |
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*Enfermeira do CAPS ad. Mestre em História pela UNIMONTES. Especialista em Saúde da Família na Modalidade Residência Multiprofissional pela UNIMONTES; Especialista em Saúde Mental e Atenção Psicossocial. Montes Claros, Minas Gerais**Enfermeira. Especialista em Saúde da Família na Modalidade Residência Multiprofissional do HUCF/UNIMONTES. É professora titular da Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES) ***Psicóloga. Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mestre em Saúde Pública pela UFMG Atualmente é professora de educação superior da UNIMONTES ****Enfermeira. Mestranda Ciências da Saúde pela UNIMONTES. Especialista em Atenção Básica e Saúde da Família pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) |
Cynara Rodrigues Soares da Silva* Fabrícia Vieira de Matos** Rosângela Aparecida Silveira*** Isabelle Arruda Barbosa**** (Brasil) |
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Resumo Objetivando analisar o estado da arte das publicações brasileiras que abordam o sofrimento psíquico em mulheres, realizou-se uma revisão integrativa, cujas fontes foram pesquisas brasileiras publicadas em texto completo, disponibilizados integralmente online, que apresentavam no título e/ou no resumo os descritores: mulheres e sofrimento psíquico. Os resultados evidenciaram que o adoecimento psíquico feminino relacionou-se ao campo das vivências cotidianas, como os conflitos das relações conjugais, de trabalho e a violência de gênero. A infertilidade, o envelhecimento e as doenças crônicas, e as preocupações imagéticas corporais, são apontados como influenciadores do sofrimento psíquico. Para identificação deste tipo de sofrimento nas mulheres sugere-se o acolhimento do sujeito. Unitermos: Sofrimento psíquico. Mulheres. Saúde mental.
Abstract Aiming to analyze the state of the art of Brazilian publications that address the psychological distress in women, held an integrative review, whose sources were Brazilian research published in full text, fully available online, presenting the title and / or abstract descriptors: women and mental suffering. The results showed that female psychiatric illness related to the field of everyday experiences, such as conflicts of marital relationships, work and gender violence. Infertility, aging and chronic diseases, and concerns bodily imagery, are mentioned as influencers of psychological distress. To identify this kind of distress in women suggests the host of subject. Keywords: Psychological distress. Women. Mental health.
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EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires, Año 18, Nº 184, Septiembre de 2013. http://www.efdeportes.com/ |
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Introdução
A experiência do sofrimento psíquico é construída socialmente e traz em si a conformação dos valores e normas de uma determinada sociedade e época histórica. Pode ser entendido como algo extremamente individual, como a vivência de um conjunto de mal-estares no âmbito subjetivo. Trata ainda da experiência de cada um como sujeito no mundo, que expressa regularidades que são moldadas por uma dada configuração social (SANTOS, 2009).
Conforme o Relatório sobre a Saúde Mental no Mundo, realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2001, as mulheres se encontram numa condição de maior risco de desenvolver transtornos mentais, manifestando sofrimento psíquico.
O relatório aponta que os múltiplos papéis desempenhados pela mulher na sociedade contribuem para um aumento significativo da incidência de transtornos mentais e comportamentais. Considerando que as mulheres continuam com o fardo da responsabilidade que vem associado com os papéis de esposas, mães, educadoras e cuidadoras, tornando-se ao mesmo tempo uma parte cada vez mais essencial da mão-de-obra e, frequentemente, constituindo-se na principal fonte de renda familiar (OMS, 2001).
Na perspectiva de compreender a posição da mulher no contexto da morbidade em saúde mental, bem como ocorre sua inserção no cenário das pesquisas nesse eixo temático, surge o interesse para o desenvolvimento deste artigo, cujo objetivo foi analisar o estado da arte das publicações brasileiras que abordam o sofrimento psíquico em mulheres.
Este estudo se justifica ancorando-se no fato de que as descrições de situações de vida, de estudos de caso, a realização de pesquisas empíricas, auxiliam na compreensão do contexto em que se desenvolve o sofrimento psíquico que acometem as mulheres.
Espera-se que as informações reunidas possam, também, contribuir para o desenvolvimento de planos e ações voltados para a melhoria de vida e saúde deste grupo populacional.
Metodologia
Este é um estudo com coleta de dados realizado a partir de fontes secundárias, por meio de levantamento bibliográfico. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, cujo objetivo foi analisar o estado da arte das publicações brasileiras que abordam o sofrimento psíquico em mulheres. Neste estudo entende-se o estado da arte como o mapeamento das tendências e dimensões dos estudos de temáticas de relevância para o avanço da pesquisa científica, nas mais diversas áreas do conhecimento humano (FERREIRA, 2002).
O processo de desenvolvimento deste artigo foi norteado pelas seguintes etapas: inicialmente, foi definida a questão do estudo: como a produção científica brasileira aborda o sofrimento psíquico nas mulheres? Posteriormente, procedeu-se com a seleção das publicações extraídas da base de dados eletrônica; análise dos achados de acordo com os critérios de inclusão; análise e apresentação dos resultados.
Para o levantamento dos dados, foram utilizados os descritores mulheres e sofrimento psíquico na base de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS). Os critérios de inclusão considerados foram: publicações brasileiras indexadas sobre a temática, no formato de artigos científicos, que estivessem disponibilizados integralmente online e que apresentavam no título e/ou no resumo os descritores mulheres e sofrimento psíquico. O recorte temporal foi de 2006 até 2011. Os dados foram coletados no período de abril a maio de 2012.
Tanto a análise quanto a síntese dos dados extraídos dos artigos foram realizadas de forma descritiva, possibilitando observar, contar, descrever e classificar os dados, com o intuito de reunir o conhecimento produzido sobre o tema explorado na revisão (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).
Resultados e discussão
Foram identificadas com a pesquisa no banco de dados da BVS, 560 referências relacionadas aos descritores mulheres e sofrimento psíquico. Considerando somente os estudos em formato de artigos, o número total reduziu-se para 538 trabalhos, destes 94 se apresentavam com textos completos. O número de artigos de língua portuguesa, sendo todos produzidos no Brasil, foi de 51, das quais 12 continham no título e/ou resumo os descritores mulheres e sofrimento psíquico. Destes um artigo foi excluído por não tratar da relação sofrimento psíquico nas mulheres, mas como temas de análises independentes.
Os resultados obtidos são visualizados no Quadro 1 que se segue, na qual são identificados autores, títulos e ano de publicação dos artigos.
Quadro 1. Distribuição dos artigos incluídos na revisão integrativa
As áreas de conhecimento de destaque nas publicações dos 11 artigos referentes ao sofrimento psíquico nas mulheres incluíram: 55% nas áreas de psicologia e psiquiatria; 18% na área de saúde coletiva; 18% de enfermagem; 9% de clínica médica.
Com relação ao delineamento metodológico dos 11 artigos selecionados para o desenvolvimento deste estudo, 36% realizaram as pesquisas com abordagem quantitativa, 27% realizaram estudos de revisão, 18% utilizaram a pesquisa qualitativa e 18% dos artigos se constituíram de casos clínicos.
Quanto aos sujeitos dos estudos selecionados, excluindo os estudos de revisão, 57% foram pesquisas realizadas com mulheres e 42% tinham como amostra de estudo homens e mulheres. Considera-se importante saber qual é o lugar de fala desses sujeitos, desse modo, 71% investigações tiveram como sujeitos os usuários dos serviços de saúde, das seguintes instituições: Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Hospitais, no setor de Reprodução Humana; 14% das pesquisas utilizaram como indivíduos para amostra do estudo estudantes de uma Universidade; e 14% realizaram as pesquisas com os sujeitos em suas residências, no território.
Nos 11 estudos que constituem esta investigação, o adoecimento psíquico feminino assumiu certas regularidades, que se situam no campo das vivências cotidianas, quais sejam: relações familiares, especialmente, a relação conjugal, com o envolvimento das questões de gênero; a maternidade, com ênfase a impossibilidade de exercer a função de mãe, devido a infertilidade; a jornada de trabalho dupla; as preocupações imagéticas com o corpo e suas representações sociais; as consequências sociais, econômicas, familiares e físicas provenientes de situações crônicas, como o envelhecimento e/ou uma doença infecto contagiosa como HIV/AIDS.
Os autores dos artigos selecionados para o desenvolvimento deste estudo percebem o sofrimento psíquico como uma experiência inerente ao ser humano, caracterizado como algo difícil de expressar, descrever e comunicar ao outro. Por conseguinte, ele é simbolizado, significado e ressignificado nas relações interpessoais, alterado, possivelmente, conforme o avanço da idade, experiências de vida, convívio familiar e social (CAVALCANTE; SILVA, 2011).
A análise das investigações permitiu observar uma associação epidemiológica entre o desenvolvimento do sofrimento psíquico nas mulheres e as variáveis referentes às condições de vida, aspectos relacionados ao trabalho profissional e características sócio-demográficas, como baixo nível de renda e baixa escolaridade (LUDEMIR; MELO FILHO, 2002).
Diante do contexto subjetivo em que se encontra o sofrimento psíquico, Cavalcante e Silva (2011) defendem que é importante criar uma forma de expressão deste tipo de sofrimento, possibilitando uma apropriação discursiva, através do mal-estar que se torna singularizado, pois entre as apresentações das experiências ele pode representar uma queixa ou uma demanda.
A sexualidade compõe uma categoria que representa o sofrimento psíquico e reúne diversas expressões de angústia, tristeza, dor e desprazer. As experiências sexuais, referenciadas pelos estudos, restringem a sexualidade ao ato sexual, e na concepção das mulheres, relação sexual é obrigação, dor, ardor, incômodo, grosseria, desprazer (CAVALCANTE; SILVA, 2011).
Santos (2009) ressalta que o adoecimento psíquico feminino aponta também para a questão da repressão sexual, ou seja, da vigência de normas sociais que estabelecem uma dupla moral sexual, a qual “freia” a sexualidade feminina. As entrevistas com as mulheres solteiras demonstraram, em investigação realizada pela autora, que o exercício da sexualidade feminina parece não encontrar na sociedade contemporânea brasileira um espaço democrático.
Nas relações conjugais existem dinâmicas que se instauram e que refletem o jeito de ser de cada um, a subjetividade do casal, que nem sempre está vinculado aos sentimentos positivos, como o amor, o que pode subsidiar uma relação desgastante para ambos (CAVALCANTE; SILVA, 2011).
O casamento e a maternidade antecedem o adoecimento psíquico entre as mulheres que pertencem à geração mais velha e às camadas populares com baixa escolaridade. A violência de gênero esteve presente nas investigações e ocupa um lugar de relevância (SANTOS, 2009).
A violência contra a mulher se apresenta como uma forma de legitimação de poder do homem sobre a mulher, sendo por isso, denominada de violência de gênero. A violência de gênero é produto da organização social e está alicerçada nas desigualdades definidas a partir da construção do sujeito que se caracteriza como o adequado (ROCHA; ALMEIDA; ARAÚJO, 2011).
É possível citar alguns fatores: indicativos de violência em relacionamentos anteriores, dinâmica agressiva, isolamento, baixa capacidade de negociação do casal quanto aos aspectos conflitivos da relação, alcoolismo/drogadição, baixa auto-estima, sentimento de posse e ciúme exagerado, dentre outros (WILHELM; TONET, 2007).
Entre as mulheres, que sofrem violência, a vivência do adoecimento psíquico não as impede de desempenhar as prescrições tradicionais de gênero: às mulheres as atividades do contexto privado (maternidade e cuidados domésticos), aos homens as atividades públicas. A tarefa do cuidado socialmente atribuído às mulheres faz com que estas, mesmo enfermas, sigam cuidando do bom andamento da família (SANTOS, 2009).
Com relação à maternidade, a vivência da mesma, muitas vezes, é vista como algo naturalizado, que se dá de acordo com um instinto pré-programado, iniciando com a concepção e finalizando com a feliz experiência de interação do par mãe/bebê (AGUIAR; SILVEIRA; DOURADO, 2011). A infertilidade interrompe um projeto de vida pessoal e do casal, produzindo sofrimento psíquico. Para alguns, ter um filho é o principal objetivo de vida e, nesses casos, o sofrimento decorrente da infertilidade é maior (MONTAGNINI et al., 2009).
Entretanto, desde que se está imerso no mundo da linguagem, esta experiência está longe de ser algo da ordem natural, sendo essencialmente cultural. Nota-se que a experiência de ser mãe não é reproduzível, não segue parâmetros instintivos, nem sempre acontece de forma alegre, nem sempre acontece de forma sofrida, nem sempre ela acontece; mas irá se apresentar de forma única para cada sujeito (AGUIAR; SILVEIRA; DOURADO, 2011).
A partir deste campo, os artigos selecionados indicam a infertilidade como causadora de sofrimento psíquico em mulheres que não podem engravidar. A infertilidade, de acordo com Lanius e Souza (2010) agrega vários significados por sua característica polissêmica e mobiliza de modo singular cada sujeito que o inscreve em seu corpo, que é entendido como uma margem, uma fronteira entre o social e o sujeito.
Considerando os aspectos socioculturais que envolvem o contexto da infertilidade, há de se ressaltar que a mulher infecunda é excluída de uma ordem cultural que identifica feminilidade com maternidade e maternidade com reprodução biológica. Assim, a infertilidade não é apenas uma falha da natureza, mas algo que atenta contra a ordem estabelecida, fato questionador da veracidade das representações da feminilidade dominantes na cultura. O que promove a oposição entre a mulher-mãe e mulher-sexual (CUNHA et al., 2008).
Além das questões singulares, pensar a maternidade na contemporaneidade implica pensar também as características de nossa época. Os estudos selecionados apontam como o corpo, a mais primitiva morada do ser humano, é cada vez mais objeto de regulação social, tornando-se, frequentemente, um objeto persecutório, fonte de grandes angústias e sofrimento (NOVAES, 2009).
Inúmeros são os relatos, na mídia, na literatura leiga e científica acerca da importância da estética na sociedade contemporânea. Em uma sociedade imagética de espetáculo, com mais telas do que páginas, ocorre um bombardeamento, incessante, pelas mensagens que apontam para o valor da “boa e saudável aparência” (NOVAES, 2009).
Historicamente, a imagem de mulher se justapõe com a de beleza e, como segundo corolário, a de saúde, que se define na fertilidade e juventude (PERROT, 1984). A contemporaneidade, contudo, parece ter levado ao paroxismo tais representações. As imagens refletem corpos super trabalhados, sexuados, respondendo sempre ao desejo do outro, ou corpos medicalizados, lutando contra o cansaço, contra o envelhecimento ou mesmo contra a constipação (NOVAES, 2009).
Respira-se o ar obscuro e confuso daquilo que se convencionou chamar “pós- modernidade”. Tudo é rápido, prático, líquido. A tecnologia tece caminhos de aproximação enquanto, paradoxalmente, mantém as pessoas cada vez mais afastadas umas das outras. Vive-se a era da exposição, da divulgação profusa de seios, pernas, corpos, da hipersexualidade que se enviesa nas mais diferentes formas. Nesse contexto, a mulher se ressignifica em meio ao pano de fundo das contínuas transformações que têm configurado, de modo histórico, sobre seu papel na sociedade (AGUIAR; SILVEIRA; DOURADO, 2011).
O papel da mulher na sociedade se modificou de modo significativo quando ela passou a ocupar o mercado de trabalho, o que promoveu o aumento das pressões impostas a elas devido à expansão de seus papéis, muitas vezes em conflito. O sofrimento humano é inerente ao processo laboral, conforme Souza et al. (2007), devendo-se compreender suas causas para modificá-lo e reorganizar o processo de trabalho, e os estudos que privilegiam a relação entre estresse e trabalho ressaltam a importância e centralidade do trabalho na vida dos trabalhadores, ora favorecendo a saúde ora a doença.
Considerando as características do trabalho, a mulher tem sido identificada em sofrimento ao vivenciar conflitos relacionados à tentativa de consolidar e conciliar o trabalho doméstico e o trabalho profissional. Algumas características do trabalho doméstico, como a monotonia, a repetitividade e a desvalorização são apontadas como desencadeantes do sofrimento nas mulheres; e o fato de ter de realizar, com eficiência, o trabalho profissional e os cuidados familiares se transformou em um fardo físico e psíquico para elas (ECKERDT, 2010).
A saúde da mulher pode ser comprometida por alterações físicas e psíquicas que são inerentes a condição humana, mas que para elas o modo de experimentar é diferente, como é o caso do envelhecimento. Leal e Lopes (2006) identificaram em sua pesquisa que um dos agravos mais frequentes nas idosas é o sofrimento psíquico.
Segundo os estudos que compõem a amostra do presente artigo, as mudanças corporais, previstas no processo de envelhecimento, impactam a autoimagem feminina e potencializam o sofrer psíquico. As mulheres, ao envelhecer, experimentam uma situação de dupla vulnerabilidade, com o peso somado de dois tipos de discriminação: ser mulher e ser idosa (CAVALCANTE; SILVA, 2011).
Neste contexto de discriminação, surge ainda a mulher doente, especialmente, se a doença possui um alto espectro social como a AIDS (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida). A representação social da AIDS ainda continua muito carregada de preconceitos.
No que se refere à confrontação com o tema da morte e aos sentimentos descritos pela vivência de ser portadora do vírus da AIDS, muito frequentemente, estão relacionados às características de estados melancólicos. Tristeza profunda, sentimentos de vazio, auto-estima muito baixa, recriminações pessoais e relatos ligados à ambivalência em relação ao desejo de continuar vivendo foram alguns dos conteúdos que mais apareceram nos relatos (VERAS, 2007).
Diante do exposto, a respeito do sofrimento psíquico nas mulheres, que permeia pelas experiências do cotidiano, pelo modo de levar e vivenciar a vida, os autores defendem nas suas investigações o acolhimento, a escuta dessa mulher, que de algum modo possui uma demanda a ser expressa. Cuidar do sofrimento psíquico é ouvir além do discurso manifesto, é ler nas entrelinhas o pedido de ajuda. As dores físicas se confundem com as dores psíquicas (CAVALCANTE; SILVA, 2011).
Considerações finais
Os achados apresentados nesta revisão demonstram que o estado da arte das publicações brasileiras sobre o sofrimento psíquico nas mulheres se encontra relacionado às experiências cotidianas vivenciadas por elas, das quais é possível extrair os produtos das relações e da presença do sujeito no mundo.
A noção do gênero como categoria de análise surge como essencial para o entendimento da mulher no contexto contemporâneo, na qual além das atividades do âmbito privado, ser esposa, mãe e cuidadora; ela se insere no espaço público, especialmente, no mercado de trabalho, como destaca Santos (2009).
Os pesquisadores dos estudos selecionados evidenciaram que o sofrimento psíquico possui múltiplas expressões, com destaque para fala, para a linguagem, por isso, o acolhimento da mulher com a escuta daquilo que ela tem a expressar é indicado como um modo que viabiliza a manifestação do sofrimento psíquico, que pode estar silenciado em respostas medicamentosas para os sintomas e queixas presentes em seu discurso.
A pesquisa encaminha para uma reflexão acerca da realização de investigações que atentem para saúde da mulher para além da ideia orgânica de constituição da pessoa, situando-a no contexto de sujeito inserido nos contextos social e cultural, que diante das questões relativas ao gênero precisam ser entendidas na construção da atenção à Saúde Mental.
Referências
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